SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518

Homenagens

Irmã Cacilda Hammes - (Ottillie Hammes): 1929-2017

Compilado a partir de biografia publicada na Revista Brasileira de Enfermagem (REBEN) publicada em 2009 mar-abril; 62(2): 240-5 e do In Memoriam publicado na Revista Eletrônica de História Enfermagem e Saúde – HERE número 2017-1 vinculada a ABEn

Irmã Cacilda, assim gostava de ser chamada, nasceu Ottillie Hammes, no dia 23 de julho de 1929 em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul (RS). Em 1944 idealizou a vida religiosa para sua trajetória e iniciou seus estudos no Colégio São Miguel da Congregação Divina Providência. Já em 1946 passou a estudar no Colégio Coração de Jesus onde conclui seu aspirantado. Passou a ser chamada então “Irmã Cacilda”, em 8 de janeiro de 1949.

Em 1953, formou-se enfermeira na Escola Louise de Marillac, no Rio de Janeiro. Em 1956, retorna a Florianópolis e assume como primeira Enfermeira da Maternidade Carmela Dutra.

Ao romper com o instituído e estabelecer o ideal da enfermagem apreendido na formação, Irmã Cacilda cria a primeira Escola de Auxiliares de Enfermagem Madre Benvenutta, implanta a Associação Brasileira de Enfermagem – Seção Santa Catarina em 1962, sendo sua primeira Presidente.

O empoderamento  da Enfermagem catarinense, abriu espaços de participação e gestão nas instituições de saúde e de  formação de enfermagem  da época. Essa foi uma grande conquista da qual Irmã Cacilda teve importante participação.

Irmã Cacilda permaneceu na Escola de fevereiro de 1958 a 1964, quando foi transferida para o Hospital Infantil Edith Gama Ramos, tendo assumido, por aproximadamente um ano, a Chefia do Serviço de Enfermagem.

Irma Cacilda em 1978 funda com mais 58 Irmãs a Ordem Fraternidade Esperança, trabalho que desenvolveu até seus últimos dias com comunidades carentes, rurais, pesqueira, periféricas e indígenas. Também coordenou   por muitos anos até 1992, a Pastoral da Saúde na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, onde implementou a saúde comunitária no Estado de Santa Catarina.

A participação de Ottillie Hammes (Irmã Cacilda), como profissional por aproximadamente 40 anos e heroína invisível, contribuiu inegavelmente e de forma muito particular para o desenvolvimento da profissão da Enfermagem em Florianópolis e no Estado de Santa Catarina. A profissionalização se fez em primeiro lugar por uma mudança de postura dos profissionais, pois ao se formar e retornar ao Estado, Irmã Cacilda rompeu com normas rigidamente estabelecidas e inadequadas. Estas não estavam de acordo com o ideal da enfermagem.

O reconhecimento pelo seu papel destacado na formação e desenvolvimento da enfermagem catarinense e brasileira, evidenciada nas homenagens   que recebeu, nos  seus últimos anos de vida (ABEn, UFSC, ALESC  entre outras).

Mulher vibrante, competente, disciplinada   edificou a Enfermagem catarinense com cientificismo, com amplitude de competências e participando no empoderamento  político da profissão. 

Irma Cacilda na memória e no coração, uma honra a todos os que tiveram sua companhia e a oportunidade de aprender com sua existência. A fortaleza da Irma Cacilda esteve sempre na pertinência de seu caráter traduzido em sua notável delicadeza.

Guardamos sua imagem como uma cidadã e profissional de Enfermagem admirável, visionária e revolucionária no seu posicionamento profissional e   em seus ideais de amorosidade, justiça e da dignidade do cuidar em Enfermagem

Que sua alma e sua luz continue a iluminar sempre a Profissão de Enfermagem.

 

Que descanse em paz...

 

Foto: Irmã Cacilda Hammes

Fonte: arquivos da ABEn-SC, 2018

 

Enfermeira Josete Luzia Leite: 1934 - 2018

A profícua carreira da Enfermeira Josete Luzia Leite, iniciando como pedagoga e enfermeira para coroar como Professora Emérita da Universidade Federal do Estado do Rio de janeiro (UNIRIO), foi exercida com alegria, característica considerada marcante do seu jeito de ser.

Graças a um grupo de pesquisadores, suas conquistas, desafios e superações estão descritas em um artigo publicado na HERE, importante periódico da Associação Brasileira de Enfermagem, cujo nicho central é a história da enfermagem. Não poderia ser diferente pois Josete é parte importantíssima da história da enfermagem brasileira[1].

Nessa singela homenagem que lhe é prestada pela ABEn, neste evento – 16º SENADEn e 13º SINADEn - é importante ressaltar algumas nuances da sua trajetória profissional.

Conforme descrito no artigo citado anteriormente, a alagoana Josete nasceu em 16 de fevereiro de 1934. Muito precocemente, aos 16 anos de idade, foi autorizada pelo pai a ir a Recife estudar enfermagem. Pelo seu gosto iria para Rio de Janeiro, estudar na “mais famosa Escola de Enfermagem, a Anna Nery”. Graduou-se em enfermagem em 1955, tendo concomitantemente se especializado em administração e organização hospitalar. Cursou ainda administração aplicada à enfermagem e bacharelado em pedagogia, licenciatura em pedagogia e terapia intensiva, esta última no Rio de Janeiro. Fez mais especializações e na década de 1970 concluiu o doutorado. Em 1975, obteve o título de livre-docente.

No início da carreira trabalhou no SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), como bolsista e neste período teve a oportunidade de ser voluntária na área hospitalar, na neurocirurgia.  Houve uma mudança radical na sua vida, a partir desta experiência. Nas palavras dela:

“Ela virou para mim e disse: ‘No SESP você não vai!’. Eu disse: ‘Você não pode me dizer isto, eu assinei um compromisso’. Ela disse: ‘Não, você não vai, você vai ficar aqui na escola, ensinando até quando você quiser, até uns dois anos no mínimo e depois se você quiser continuar, mas você é muito nova, não vai para o SESP’. Disse-me que no SESP tinha que andar de burro, de cavalo, de canoa e eu era muito nova e ela não ia deixar. Fiquei intrigada com aquilo, porque ela disse que eu não podia ir, aí depois perguntei para a Diretora da Escola se aquela pessoa podia fazer aquilo, e ela disse: ‘Essa pessoa é dona Maria Rosa Souza Pinheiro[2], que é superintendente do SESP (choro copioso)’. Fiquei na escola três anos, depois eu vim para o Rio.... eu me emociono muito em falar dessa senhora, rezei muito por ela na sua doença, coisas da vida....(choro intenso)... nada é por acaso... Ela nunca soube quem fui.”( colaboradora)

 

Pequena notável, mesmo discriminada em diversos concursos de ingresso por ser nordestina e não ter feito os estudos nas escolas da Região Sudeste, a Enfermeira Josete jamais se deixou abalar.

No trabalho nas escolas de enfermagem, especialmente na Universidade Federal Fluminense, onde fez toda a carreira, além do Hospital do Servidor do Estado (RJ), teve oportunidade de iniciar as práticas da enfermagem em centros de terapia intensiva e de transplante cardíaco. Publicou livros sobre a enfermagem nos transplantes cardíacos, o que também provocou conflitos com a equipe médica porque não tinha coautoria.

Além de enfermeira docente e assistencial, a nossa homenageada foi atuante na área administrativa acadêmica, ocupando a Pró-reitoria de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, da qual se aposentou em 1999. Mesmo aposentada, sua trajetória não terminou, foi colaboradora e docente permanente do Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro. Além da docência, assistência e pesquisa, a Professora Emérita Josete Luzia da Silva foi membro ativo de entidades de classe, destacando-se como Diretora do CEPEn - ABEn e fazendo parte da Diretoria do COREn-RJ, numa época bastante conturbada dessa entidade.

Não tivesse a enfermagem brasileira pessoas do quilate da Professora Josete Luzia Leite, provavelmente estaríamos todos nós como profissionais de, no máximo nível médio. Além disso, nem teríamos ideia dos desafios paradigmáticos da pesquisa em Enfermagem, só para citar um exemplo do seu legado.

Seu passamento foi uma perda irreparável para a Enfermagem Brasileira! Mas onde quer que você esteja, Josete, receba nossas saudações e agradecimentos! Que o amor que você dedicou a nós todas e à enfermagem a acompanhem durante toda a eternidade. E que descanse merecidamente abrigada nos braços do Divino!

Foto: Enfermeira Josete Luzia Leite

008edcbf-b586-40d8-867c-06a8e247621d

Fonte: arquivos da UNIRIO, 2018

 

[1] Gregório-Neto J, Freitas GF, Bonini BB, Silva GC A da, Silva SSBE da, Porto FR.  Josete Luzia Leite: opção e trajetória na enfermagem brasileira.

[2] Para quem não conheceu a Dona Maria Rosa Sousa Pinheiro, ela foi por 24 anos Diretora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, tendo sido reconhecida pela Universidade de São Paulo como “Notório Saber”.

 

Enfermeira Victoria Secaf: 1932 -2018

Professora Doutora Victória Secaf, com ênfase no “c” de Victoria, graduou-se, em 1958, na primeira turma da recém-criada Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Foi docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, de 1959 a 1963. Ingressou como docente na Escola de Enfermagem da USP em 1973, junto ao Departamento de Orientação Profissional (ENO). Concomitantemente à docência, trabalhou como enfermeira em instituições hospitalares ligadas à Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo e ao antigo INAMPS. Fez Mestrado e Doutorado em Enfermagem na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, concluindo respectivamente em 1977 e 1987.

Foi a primeira presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo. Especialmente nas décadas de 1970 e de 1980 fez parte continuamente da ABEn Seção São Paulo, tendo sido Presidente na Gestão 1972-1976. Mais recentemente, foi a primeira tesoureira da recém-criada Academia Brasileira de História da Enfermagem - ABRADHENF.

A enfermagem brasileira e especialmente a paulista e paulistana têm muito a agradecer à Professora Victoria Secaf pelos seus ensinamentos, pela sua tenacidade e alegria de compartilhar as formas de superação dos desafios, principalmente os ligados à escrita e à divulgação científicas.

Esperamos que do seu descanso, na sombra do Divino, olhe para a Enfermagem compartilhando a sua força com os que restam aqui batalhando pela profissão!

Obrigada, Professora e Enfermeira Victoria Secaf, missão cumprida!

 

Foto– Enfermeira Victória Secaf

Fonte: Academia Brasileira de História da Enfermagem, 2018





Senaden - Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem
© Todos os direitos reservados a ABEn
Adaltech