Discursos

Discurso de Abertura da Presidente Nacional da ABEn

Excelentíssima Senhora Professora Doutora Sonia Acioli, Vice Presidente deste evento, na pessoa de quem cumprimento todas as autoridades da mesa e do plenário. Cumprimento também as componentes da Seção Rio de Janeiro da ABEn, desde já reconhecendo sua dedicação e esforço para a concretização deste evento.

Excelentíssima Senhora Professora Doutora Maria Itayra Coelho de Souza Padilha, coordenadora nacional do evento e Diretora do Centro de Estudos e Pesquisas da ABEn Nacional, na pessoa de quem cumprimento a Diretoria da ABEn Nacional.

Excelentíssima Senhora Professora Doutora Márcia de Assunção Ferreira, Coordenadora da Subcomissão de Temas e Documentação, na pessoa de quem cumprimento toda a Comissão Organizadora do 20o SENPE e 1o SINPE. Cumprimento cada membro, individualmente, e também os diferentes conjuntos que conformaram a grande equipe que preparou minuciosamente cada detalhe para cumprirmos nossa finalidade de estar aqui, incluindo monitores, membros de comissões, apoiadores, colaboradores, patrocinadores.

Caríssimas e caríssimos abenistas, participantes do nosso evento. Obrigada por estarem aqui acreditando que este evento poderá lhes proporcionar novos desafios, conhecimentos e experiências.

Bom dia, Rio de Janeiro!

Na qualidade de Presidente Nacional da Associação Brasileira de Enfermagem, antes de qualquer coisa, quero aqui ressaltar algumas palavras que  me parecem essenciais serem ditas neste momento solene.

A primeira delas é Gratidão, esse sentimento que é uma dádiva daqueles que reconhecem uma ação ou um benefício recebido, sentimento que compartilha boas energias e emoções. Gratidão é a forma mais generosa e simples de retribuir. A gratidão ocorre sempre que somos surpreendidos por situações ou coisas agradáveis. Etimologicamente, a palavra gratidão vem do latim e significa gratia. Sua definição significa graça ou agradável, ou seja, reconhecer a graça alcançada. Gratidão é um forte sentimento que simboliza o sentir-se grato.

É muito mais abrangente e profundo que dizer obrigado, que tem como significados ligar, amarrar e obrigar. Neste momento, sinto uma profunda gratidão por estar aqui compartilhando com vocês o mais importante evento de pesquisa da enfermagem brasileira, na sua vigésima edição.

A Associação Brasileira de Enfermagem existe há 93 anos e há mais de quatro décadas, especificamente a partir de 1963, ano da defesa da primeira tese de enfermagem no país, luta pela construção da “ciência de enfermagem”, tendo em vista formar pesquisadores para produzir conhecimentos que possam subsidiar uma assistência de enfermagem digna que visa à melhoria da qualidade de vida e saúde da população. Me compraz ressaltar também que, pela primeira vez, este Seminário de Pesquisa em Enfermagem rompe as nossas fronteiras e passa a ser de âmbito internacional, ousando debater seu temário com pesquisadores de vários países da América Latina e Europa, não só na condição de expositores mas de seminaristas, revendo juntos as questões que se nos apresentam sobre o tema, em especial no contexto inóspito que estamos vivendo no Brasil, em várias áreas, incluindo a da produção do conhecimento.

Realmente, como diz o velho ditado, no Brasil, hoje, “o mar não está prá peixe”. A cada dia recebemos mais e mais pancadas que podem arrefecer as nossas vontades e até mesmo nos contaminar com o derrotismo que costuma ser vigente em tempos de crise – econômica, social, ética, de valores, dos costumes – crise esta que nos últimos anos não nos tem dado trégua. Para todo lado que se olha, ainda mais se falando em construção da ciência e do conhecimento, a situação está crítica.

Em relação às verbas para pesquisa, por exemplo, faço minhas as palavras do Presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) Prof. Mario Neto Borges que, em Carta Aberta à População, intitulada “A ciência brasileira está em risco”, já no final de 2018, alertava: “A Ciência, Tecnologia e Inovação são ferramentas fundamentais para o país e o impulso a esses setores é firme alavanca para o desenvolvimento sustentável com lastro: cada real que se destina à pesquisa científica e cada minuto que se permite à inteligência e à criatividade brasileiras exercitarem a busca por soluções, nos mais diferentes campos, vão sempre render frutos e benefícios para o País. Hoje, o Brasil tem investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento da ordem de 1,2% do seu Produto Interno Bruto, o que (...) é muito pouco. Para que possa alcançar novos potenciais e realizar diferentes objetivos, o Brasil precisa ampliar esse percentual para ao menos 2% de seu PIB. Neste contexto (...), o CNPq alerta para as limitações orçamentárias impostas ao órgão para o exercício de 2019, a serem mantidos os valores previstos no Projeto de Lei Orçamentária Anual para o próximo ano. Se, em 2018, o CNPq pôde contar com recursos da ordem de R$ 1,2 bilhão, em 2019, a previsão de R$ 800 milhões poderá limitar ações diversas como o lançamento de editais de pesquisa, contratações de novos projetos e outras iniciativas. Uma perda da ordem de R$ 400 milhões. (...) o “encolhimento” dos recursos disponíveis afeta sobremaneira o sistema brasileiro de pesquisa científica... e por aí vai.

O que ocorreu em relação a isto? Não só os recursos do CNPq e outros órgãos financiadores de pesquisa encolheram, como outras medidas restritivas vêm sendo impostas, com grave risco para a formação do capital intelectual do país, como o corte de 30% das verbas para as universidades federais, além de outras iniciativas semelhantes. Infelizmente, o risco não é só para a ciência como para a formação, em especial de terceiro e quarto graus. Não que o demais níveis estejam sendo preservados, pois o seu desmonte começou muito mais atrás e continua de maneira inexorável.

Já em junho de 2018, a Associação Brasileira de Enfermagem juntou-se a 46 outras entidades num manifesto contra o cancelamentos de recursos que já haviam sido aprovados pelo Congresso Nacional, por meio da Medida Provisória 839/2018 do Governo Temer. À época, os tais novos cortes atingiram instituições e programas fundamentais para o futuro do país e a qualidade de vida de sua população em pelo menos 8 itens. Alertava para que “a ausência de uma agenda de desenvolvimento nacional e as políticas que priorizam a remuneração do capital financeiro penalizam setores essenciais do país e o condenam a uma crise permanente, ao aumento da desigualdade econômica e social e a um papel marginal no cenário internacional.” E os cortes só fizeram se agravar. Poderíamos citar aqui inúmeras outras iniciativas governamentais do chamado “ajuste de contas para caber no orçamento” que têm prejudicado sobremaneira as áreas essenciais como saúde e educação, sempre às custas de políticas que penalizam a maioria da população, sem mexer na geração de lucro e na multiplicação do capital das camadas mais privilegiadas. Todas as políticas de ajuste têm obedecido à lógica do acúmulo de capital, em detrimento da melhoria da qualidade da vida, da educação, da saúde.   

Mas o que isto tem a ver com a enfermagem e com este evento?

Essa realidade tem tudo a ver com o que pretendemos discutir aqui, que a construção da ciência e do conhecimento em enfermagem, especialmente como recurso essencial para a assistência à população. Por que? Porque enquanto prática social, a enfermagem se constrói e acontece dentro de uma dada realidade, da qual não podemos nos esquecer nem por um átimo, quando discutimos mesmo os seus aspectos mais técnicos. Estes cortes agravarão em muito a já existente crise da saúde que se materializa na precariedade não só da assistência mas das condições de trabalho e da formação profissional, com destaque para a enfermagem, já que constitui o maior percentual de pessoal da área da saúde. Ou seja, se a coisa já está ruim, pode ficar ainda pior...

O que quero ressaltar com essa desgraceira toda? Que temos motivos e mais motivos para ficar desmotivados e afetados pelo derrotismo? Sim, é óbvio! Cada má notícia para a saúde e para a enfermagem, afeta, sem dúvida, cada um e cada uma de nós. Por mais que tenhamos dentro de nós o fogo da esperança em dias melhores, não há fogo quem resista a tanto gelo. Às vezes chegamos a ter a sensação de que a cada alvorecer seremos brindados com mais uma desgraça. Será? Será que a vida é assim tão cartesiana e previsível que nada pode ser mudado? Fosse assim, já não existiria mais realidade...

Pois eu lhes digo que, ao contrário de nos deixar levar pela onda derrotista que propala a destruição de tudo o que nos resta, nós podemos e vamos acreditar que no verso da crise, sempre existe a semente da transformação. A crise em si, por mais destrutiva que seja, contém o germe da mudança da realidade, quer gostemos ou não, quer esperemos ou não. O que precisamos é encontrar esta semente na seara do nosso discernimento, plantá-la na terra fértil da nossa força, para que ela cresça e provoque o surgimento da nova realidade que tanto desejamos. O adubo e a água podemos buscar no conhecimento e nas experiências que trazemos na bagagem.

Porém, não basta a água e a terra fértil para que a semente germine e liberte a planta que ela contém. É preciso sol, luz e calor. Por isso, para germinar a semente da transformação que há na crise, precisamos proporcionar encontros, precisamos da energia que é gerada nesses encontros para que a transformação germine e aconteça. A própria física nos ensina o poder da energia.

E é isto que quero ressaltar nesta abertura. Que este evento seja pleno de bons e profícuos encontros, que gerem muita energia para fazer florescer a tão sonhada realidade diferente da que temos hoje. Que a força desta energia nos mova para acumular esperança e crença na possibilidade de construção de um mundo melhor. A palavra de ordem, neste momento, é parte do tema deste evento: resistir é preciso. Principalmente resistir a perder a esperança!

Desejo um bom e feliz evento a todas e todos nós.

 

Alcântara G. A enfermagem moderna como categoria profissional: obstáculos à sua expansão na sociedade brasileira. Ribeirão Preto, 1963. Tese (Cátedra) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. 

 



20° Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem - SENPE e o 1º Seminário Internacional de Pesquisa em Enfermagem – SINPE
com o tema central “Ciência da Enfermagem: Resistir é Preciso”

Inicialmente gostaria de cumprimentar a todos os que vieram celebrar conosco a abertura do 20° Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem - SENPE e o 1º Seminário Internacional de Pesquisa em Enfermagem – SINPE.

  1. Representando o Magnífico Reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Prof.º Dr. Ruy Garcia Marques, o Diretor do Centro Biomédico Prof. Dr. Mário Sérgio Carneiro 
  2. Excelentíssima Presidente da Aben Nacional – Prof.ª Dra. Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca
  3. Excelentíssima Diretora da Faculdade de Enfermagem da UERJ– Prof.ª Dra Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza 
  4. Excelentíssimo Secretário Estadual de Saúde – Prof. Dr. Edmar José Alves dos Santos
  5. Excelentíssima Deputada Federal – Benedita da Silva 
  6. Excelentíssima Deputada Estadual – Enfermeira Rejane de Almeida 
  7. Excelentíssima Diretora Nacional do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem Prof.ª Dra Maria Itayra Coelho de SouzaPadilha
  8. Excelentíssima Coordenadora da subcomissão de temas e documentação Prof.ª Dra Márcia de Assunção Ferreira, aqui representando a área da Enfermagem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
  9. Excelentíssima Prof.ª Cândida Caniçali Primio aqui representando a Prof.ª Dra Cristina Parada coordenadora da área da Enfermagem da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES  
  10. Presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro - Enf.ª Mônica Armada
  11. Presidente do Conselho Regional de Enfermagem – Enfª Ana Lucia Telles
  12. Executiva Nacional dos Estudantes – Kainan Carlos Machado  

Prezados colegas da diretoria da ABEn RJ Gestão 2016-2019, conselho fiscal e membros dos comitês estudantis.

Prezadas colegas enfermeiras, enfermeiros, técnicos e auxiliares, Diretores de Escolas de Enfermagem, Representantes de unidades acadêmicas, docente assistenciais e estudantes.

 

É com alegria que em momento de ataques às universidades, à saúde e à educação públicas e, em especial, a ciência e tecnologia, estejamos sediando o maior evento de pesquisa em Enfermagem do Brasil em uma universidade pública, na nossa UERJ! Sejam todos bemvindos ao Rio, que persiste maravilhoso e a resistente UERJ!

Planejar e construir esse seminário em período de tantas dificuldades no Rio e no Brasil não foi tarefa fácil. Mas, compusemos comissões com guerreiras e guerreiros que transformaram o 20 SENPE em realidade. 

A ousadia de trazer como tema central “Ciência da Enfermagem: Resistir é Preciso”, foi acolhida pela Rede ABEn e também, pelo Brasil, já que temos 1.301 inscritos.

Estaremos discutindo desde o panorama mundial, à política de desenvolvimento nacional e internacional da ciência e seus reflexos na enfermagem, o movimento da ciência aberta, as experiencias na pesquisa e financiamento, os desafios da publicação científica com integridade, considerando as vulnerabilidades sociais, sustentabilidade, diversidade regionais e impactos sociais nas novas agendas para as prioridades de pesquisa. E, por fim os enfrentamentos da ciência em tempos de crise. 

Quero lembrar que a Enfermagem como prática social pressupõe produzir conhecimentos que apoiem, reorientem e transformem as práticas de cuidado.

Nesse sentido, ressalto a importância da Enfermagem nas várias formas como desenvolve o trabalho em saúde como parte fundamental do cuidado de enfermagem. Lembro que estamos falando de um conjunto enorme de trabalhadoras e trabalhadores de enfermagem no universo das práticas de saúde. 

Portanto, falar dos desafios da Pesquisa em Enfermagem para a construção de práticas competentes, éticas e com equidade, significa reconhecer e valorizar o SUS, significa desenvolver práticas de cuidado que considerem as diferenças e desigualdades sociais. Para isso, é preciso que possamos nos fortalecer como cidadãos, como trabalhadoras e trabalhadores com direitos sociais, políticos e que possamos acreditar que juntos somos fortes.

Para isso é fundamental:

A defesa do SUS, dos direitos humanos, e em especial, do direito à saúde;

A defesa do ensino e da formação de qualidade em nível médio e superior, assim como na educação permanente;

A Enfermagem é cuidado, mas é também luta e certamente as boas lutas favorecem as boas práticas, e o bom cuidado! 

Como nos ensinou Paulo Freire: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (...) Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.”

Que o 20 SENPE possa nos instigar a conhecer, anunciar novidades e apoiar na construção de profissionais de enfermagem mais fortes, solidários, éticos e competentes!

 

Obrigada!




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