Discurso da Presidente da ABEn Nacional – Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca
Sejam muito bem vindos, queridos participantes dos nossos eventos
Meus sinceros agradecimentos aos convidados que abrilhantam nossos eventos
Meu grande abraço e agradecimento especial à Comissão Organizadora destes eventos
Meu reconhecimento e apreço por Curitiba que nos recebe de braços abertos.
Coube-me a honra de ser a primeira a falar neste evento e vou ousar dar um nome para esta minha fala: Por quem os sinos dobram? Construindo uma ponte para o futuro.
Nós, da Associação Brasileira de Enfermagem, a entidade que vem construindo a enfermagem brasileira desde os seus primórdios até nossos dias,neste momento, dia 13 de novembro de 2018, precisamos parar para refletir sobre os pilares éticos que alicerçam a nossa construção histórica, ou seja, os pilares que vêm sustentando a produção do cuidado de enfermagem e, por conseguinte,prática e a ciência da enfermagem que todos compartilhamos: respeito, solidariedade, dignidade humana, compaixão, ou seja, os valores éticos dos direitos humanos que nos dão a base para “cuidar de todos, indistintamente”.
Conforme disse o nosso mestre de cerimônia, este 70O Congresso Brasileiro de Enfermagem abordará “O processo de cuidar como centralidade da enfermagem”. Há dois anos, decidimos que seria oportuno e adequado refletir mais uma vez, num congresso, este tema que para nós nunca se esgotará que é o cuidado de enfermagem. Assim, convido vocês para que durante a conferencia inaugural de hoje e no desenvolvimento da programação dos três próximos dias, procurem pinçar, recolher, levantar, identificar e iluminar elementos que confirmam os pilares éticos do cuidar. Atentem para isto, pois eles serão a nossa salvaguarda para ultrapassar os dias de tormenta que se avizinham para o Brasil e, por que não, para o mundo.
Ao final dessa jornada, que esta reflexão possa abrir caminhos para compreendermos, afinal, “Por quem os sinos dobram”.
Por quem os sinos dobram é o título de uma obra literária publicada em 1940 de autoria do escritor norte americano Ernest Hemingway.Hemingway usa, como referência, sua experiência pessoal como participante voluntário da guerra civil espanhola. Faz uma análise ácida, com críticas à atuação extremamente violenta das tropas que dizimaram cidadãos e soldados de ambos os lados. No entanto, acima de tudo, o livro tratada condição humana e invoca o absurdo da guerra, mormente a guerra civil, travada entre irmãos. Conclui: "quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da mesma humanidade".
Para compreender melhor a obra e sua mensagem à humanidade, vou recorrer a um texto de José Saramago, escritor português contemporâneo, apresentado no encerramento do Fórum Social Mundial 2002, em Porto Alegre. No texto, Saramago se refere de maneira brilhante ao princípio da Justiça, pilar ético da Eqüidade: “Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da Igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém, aquele sino dobrava melancolicamente a finados e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém na aldeia se encontrasse em vias de passamento [em vias de morrer]. Saíram, portanto, as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, os homens deixaram a lavoura e, em pouco tempo, estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. ‘O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino’, foi a resposta do camponês. ‘Mas então não morreu ninguém?’, disseram os vizinhos, e o camponês respondeu: ‘Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta’. Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de lugar os marcos dos limites de suas terras, metendo-se para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão e, finalmente, resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à proteção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (a todos) ... a morte da Justiça...
Se Saramago conta que os sinos dobram porque morreu a Justiça, qual seria a resposta de Hemingway, para a pergunta” Por quem os sinos dobram”. Sua resposta, como já disse, foi “Eles dobram por ti”, porque quando "quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da mesma humanidade".
Parafraseando Hemingway ou se ele fosse enfermeiro, diria: Quando sofre uma pessoa, sofremos todos, pois todos fazemos parte da mesma humanidade.
Levando em conta o que coloquei no início desta fala e as condições objetivas da sociedade brasileira hoje, pergunto: Por quem os sinos dobram? Se não cuidarmos dos nosso pilares éticos, os sinos dobrarão por nós, pela enfermagem, pela democracia, pela dignidade de cada brasileira, de cada brasileiro.
Portanto, a palavra da Associação Brasileira de Enfermagem neste momento histórico é vamos resistir à morte da Justiça, vamos resistir à morte da solidariedade, da dignidade humana e da democracia. Vamos resistir. A ponte para o nosso futuro se chama RESISTÊNCIA!!!
ASSIM, DECLARO ABERTOS O 70O CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM, O 6º Seminário Nacional de Diretrizes de Enfermagem na Atenção Básica em Saúde e o 5º Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem.
Discurso da Presidente da ABEn Paraná – Denise Faucz Kletemberg
Cumprimento minha caríssima Presidente Nacional da ABEn, Professora Dra. Rosa Godoy e, em seu nome, cumprimento as autoridades que compõem esta mesa;
Cumprimento as Diretoras da ABEn Nacional, todos os Presidentes e Diretores das Seções da ABEn e, especialmente, as Diretoras da ABEn Paraná;
Cumprimento minha amiga Simone Peruzzo, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná;
Cumprimento minhas colegas dirigentes de escolas e serviços de enfermagem;
Cumprimento os caríssimos alunos dos cursos de enfermagem, em especial, os que são monitores do nosso evento;
Prezados familiares e amigos, sejam todos bem-vindos!
O Paraná teve o privilégio de sediar o Congresso Brasileiro de Enfermagem em 1962, 1974, 1991 e 2001, e ao pleitear a realização de sua septuagésima edição, assumimos com a ABEn a responsabilidade de congregar dois outros eventos de singular relevância para a entidade e para a Enfermagem brasileira: o sexto Seminário Nacional de Diretrizes de Enfermagem na Atenção Básica de Saúde - SENABS e o quinto Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem – CLAHEn.
Para dar conta deste desafio, mobilizamos toda a Enfermagem paranaense, que se dedicou de forma extraordinária a esta organização. Esperamos corresponder às expectativas da ABEn Nacional, dos nossos parceiros e dos congressistas.
O tema “Processo de cuidado como centralidade da Enfermagem” foi escolhido por ser o cuidado o conceito central da disciplina de enfermagem e considerado caracterizador de nossa prática profissional. Nossas atividades são desenvolvidas “para” e “com” os indivíduos, ancoradas no conhecimento científico, habilidades, pensamento crítico e criatividade para promover, manter ou recuperar a saúde e a dignidade humana.
Entendido não só como da profissão enfermagem, mas que tem na enfermagem a centralidade. Cuidado que vem se modificando historicamente na nossa profissão, passando de um cuidado de abnegação e caridade para um cuidado solidário. Um cuidado de empatia, de compromisso, de se empoderar e empoderar o outro.
Cuidar que comporta quatro dimensões distintas, mas complementares: a assistência, cuidado direto, orientado por planejamento e competência; a pesquisa que fundamenta cientificamente este cuidado; a educação, que qualifica para o cuidado; e a gestão, que estabelece ações que favorecem a implantação das outras dimensões.
Cuidado que está fundamentado em referenciais teóricos, incessantemente buscados pela categoria, no desenvolvimento e aplicabilidade de Teorias de Enfermagem, que direcionam o raciocínio clínico e embasam o desenvolvimento do Processo de Enfermagem, resultando em prescrição individualizada e eficaz para o tratamento e reabilitação dos agravos e promoção da saúde.
Cuidar também pressupõe adotar os preceitos da bioética, da humanização e da resolutividade esperadas pela população, rompendo a visão segmentada, biologicista do ser humano e compreendendo sua complexidade e individualidade.
Esta multidimensionalidade do cuidado, na nossa profissão, impele para a união epistemológica das Ciências Naturais e Sociais, refletida na amplitude temática de nossas pesquisas e vivências práticas, a qual vislumbramos ao propor o tema do 70° Congresso Brasileiro de Enfermagem. Assim, se faz necessária a discussão do cuidado na nossa prática, aliando cientificidade e arte, pois cuidar é inerente à condição humana, mas o cuidado de enfermagem é profissional.
Para esta discussão, o evento foi organizado em sete conferências, nove mesas redondas, quatro talk shows, cinco seminários, que possibilitarão discussões de temas fundantes de nossa profissão como: estruturação de políticas públicas, Sistema Único de Saúde, Ética e a Bioética, História da Enfermagem, bem como o cuidado nas diversas especialidades e no processo de cuidar no curso da vida. Nesta perspectiva, teremos a IV Mostra Nacional de Experiências Exitosas em Enfermagem em Atenção Primária à Saúde e o Espaço Araucária com a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e em Defesa da Vida.
Também contaremos com a socialização do conhecimento dos nossos pares, com a realização de 24 cursos e apresentação de 2.914 trabalhos científicos, que espelharão as experiências de enfermeiras, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, bem como de alunos de graduação e pós-graduação que apresentarão seus estudos, tão necessários a formação com qualidade. E também inúmeras reuniões técnico-científicas, entre elas, o Fórum Nacional de Editores de Revistas Científicas de Enfermagem.
A organização dos três eventos contou com a participação incansável de profissionais que não pouparam esforços para que fossem viabilizados. Em nome da Associação Brasileira de Enfermagem Seção Paraná, meu profundo agradecimento a Maria Goretti David Lopes, Marcia Regina Cubas e Verônica Azevedo Mazza que compõem o Comitê Gestor e coordenam as Comissões de Infraestrutura e Finanças e de Temas, que são a sustentação desta organização. Agradeço ainda, a Dona Ceni Terezinha Glinski, nossa colaboradora, e a Sarah Lossano, nossa estagiária na ABEn Paraná.
Agradeço a cada colega que participou de sub-comissão, pois por meio do trabalho de todas, conseguimos concretizar estes eventos. Não poderia deixar de citar e agradecer as Instituições de Ensino que apoiaram este processo: a Universidade Positivo, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Centro Universitário Autônomo do Brasil, Faculdades Pequeno Príncipe, Faculdade Dom Bosco, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Maringá e a Escola de Saúde Pública do Paraná.
Dedico especial agradecimento à Organização Pan-Americana de Saúde, que nos traz o PALTEX (Programa Ampliado de Livros de Textos e Materiais Instrumentais), e o apoio institucional do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná, da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, da Prefeitura Municipal de Curitiba, da Prefeitura de Foz do Iguaçu, da CAPES e do CNPq.
Agradeço principalmente a você, Congressista, e olha que são muitos. Temos mais de 4.000 inscritos, que confiaram e acreditaram na proposta de discutirmos o processo de cuidar e se propuseram a compartilhar conosco suas experiências e conhecimentos, nesta grande confraternização experienciada anualmente nos nossos Congressos Brasileiros de Enfermagem.
Convido todos os congressistas que visitem nossas atrações turísticas ambientais, nossos parques: Jardim Botânico, Bosque do Papa, Tanguá, Barigui, Bosque do Alemão, dentre outros, bem como um passeio à nossa cultura, como o Bairro Santa Felicidade, o Largo da Ordem, o Museu Oscar Niemeyer, Teatro Guaíra, e nossa agitada vida noturna com inúmeros restaurantes e bares. Indicamos também a viagem de trem a Morretes e Paranaguá, o Parque Vila Velha e a maior atração natural do estado: as Cataratas de Foz do Iguaçu.
Em nome da Enfermagem paranaense, dou as boas-vindas aos congressistas e desejo que o septuagésimo Congresso Brasileiro de Enfermagem seja instrumento de construção de saberes e de oportunidades de socialização das experiências entre todos nós.
O Paraná sente-se honrado em receber a Enfermagem brasileira e recorre ao pensamento do seu poeta Paulo Leminski: “Isso de ser exatamente o que se é, ainda vai nos levar além”.
Sejam muito bem-vindos à Terra das Araucárias, à terra vermelha e do “leite quente”.
Obrigada!
Denise Faucz Kletemberg