12/10/2010
A luta pela cura
Dr. Dráurio Barreira, médico sanitarista epidemiologista, Coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde falou sobre o tratamento da tuberculose no Curso "Tratamento Diretamente Observado – TODO Tuberculose", durante o 62º CBEn.
O Dr. Dráurio Barreira falou aos participantes do Congresso sobre o quadro da tuberculose no Brasil. De acordo com ele, a tuberculose vem numa discreta trajetória de queda e o caminho para que esta queda continue são os programas de descentralização no controle da tuberculose no país. “A enfermagem luta para que as ações desse controle se concentrem e estejam onde está população mais carente, pois é onde a doença se manifesta”, afirmou.
Mesmo em lugares onde há uma cobertura excelente de Programas de Saúde da Família existe a detecção de casos de tuberculose, como por exemplo no estado do Piauí, onde toda a estrutura do estado é voltada para o hospital Getúlio Vargas, que é o local para onde os pacientes são encaminhados. Dráurio lembra que há a questão do ato médico, que vem comprometendo seriamente os problemas da saúde pública, ao deixar que uma determinada categoria profissional tome a iniciativa acerca da doença e centralize demais seus procedimentos de tratamento.
O epidemiologista cita a questão dos aspectos mundiais: anualmente são 9,2 milhões de doentes. De acordo com ele, a doença tem pouca visibilidade e mata mais jovens e adultos do que qualquer doença infecciosa. Um terço da humanidade é portadora do bacilo de Koch. Nos 80% dos casos de tuberculose, dentro de uma lista de vinte e dois países, o Brasil se encontra em 19º da lista, sem muita esperança de sair desta colocação com rapidez.
A tuberculose no Brasil afeta muito mais homens do que mulheres, e a faixa mais afetada é na idade produtiva entre os 40 e 50 anos, em pessoas de menor renda, com menos escolaridade e nos pretos e pardos, sendo que a taxa de mortalidade também é maior nos homens. A queda da mortalidade por tuberculose no país ainda está sendo investigada. O maior dos desafios é a redução da taxa de abandono e a descentralização é premissa básica para se atingir essa meta.
Dráulio Barreira informou que a Organização Mundial da Saúde está organizando uma estratégia (STOP TB) pautada nos componentes para controlar a co-infecção TB/HIV e na contribuição para o fortalecimento do SUS, fortalecimento da expansão do TDO com qualidade e o controle da tuberculose em populações vulneráveis. “A resposta nacional para a expansão do TDO está pautada no compromisso financeiro e político, na descentralização das ações de controle, nas mudanças no esquema de tratamento e no Tratamento Diretamente Observado (TDO) sendo que o maior desafio é diminuir o abandono e aumentar a taxa de cura”, completou o médico.
Os sistemas de tratamento são, dentre muitos, a ampliação do sistema gratuito e com controle de qualidade, a integração ao SUS, a participação ativa da sociedade civil e dos órgãos de controle social bem como a criação de grupos de trabalho de Tuberculose/HIV. Também estão em pauta os sistemas centralizados para aquisição de medicamentos com menor preço e maior poder de aquisição.
O palestrante enfatizou que é necessário envolver outros setores na questão da tuberculose como o Ministério das Cidades, o Ministério do Desenvolvimento Social além de se articular com o Congresso nacional para garantir benefícios sociais. “Além do envolvimento da área governamental também deverão ser envolvidos os setores não governamentais com as organizações sociais” completou. Para finalizar, Dr. Dráurio lembrou que os maiores desafios para o tratamento da TB são manter a priorização política de tuberculose, melhorar o sistema de informação, expandir o TDO com qualidade, controlar a co-infecção TB/HIV, manter a descentralização com a ampliação de acesso e a expansão de cobertura para toda a rede básica e aumentar a cura de 72% para mais de 85%.