12/10/2010
Mesa discute as condições de trabalho e segurança do profissional da Enfermagem
Professores apontam dados sobre a preocupante realidade do enfermeiro e as conseqüências para a saúde dele e do paciente.
Plantões constantes, jornadas noturnas e remuneração inadequada foram pontos destacados da rotina do profissional da Enfermagem pelos debatedores da Mesa Redonda “Condições de trabalho e segurança do profissional” que aconteceu hoje no 62º CBEn. Professores de São Paulo e da Bahia foram convidados para analisar o contexto atual e apontar caminhos para melhoria na qualidade trabalhista.
A professora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), Raquel Raponi Gaidzinski, aponta o profissional como protagonista do sistema de saúde. “O que dá vida ao sistema é o trabalhador”, diz, “e prestar atenção a ele é aumentar também a qualidade de atendimento do paciente”. Um estudo realizado no Canadá mostra que uma produtividade de 85% na jornada de trabalho é a ideal para manter a satisfação e retenção do profissional, “enquanto acima disso, há grande queda na qualidade de assistência ao paciente e elevação de custos”.
O que precisa mudar
A segunda debatedora da Mesa, Telma Dantas Teixeira de Oliveira, professora da Universidade Católica da Bahia, acredita que o trabalho realizado por equipes multidisciplinares, a formação e educação permanente do enfermeiro e a regulação do trabalho em saúde, são pontos importantes para trazer melhorias à rotina do profissional. “O setor de saúde usa intensivamente equipamentos de tecnologia de ponta, mas há poucos registros de inovações tecnológicas de organização, gestão e relações de trabalho”, diz Telma.
Para a professora, é preciso se preocupar com as especificidades atuais enfrentadas pelo enfermeiro, como a subutilização dos horários de refeição, inexistência de locais adequados para descontração e renda incompatível com as responsabilidades. “Essas formas de trabalho e de contratação levam à precarização de direitos do trabalhador”, conclui.
Concordando com ambas debatedoras, a professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Maria Helena Palucci Marziale, brinca com o clima de praia de Florianópolis e afirma: “A onda da segurança do trabalhador tem a mesma altura que a onda da segurança do paciente”. A professora acredita no papel do enfermeiro como ator social que deve buscar colocar em prática a Política Nacional de Segurança do Trabalhador de Enfermagem. “Quantos de vocês, quando contratados, são avisados dos riscos que enfrentarão?” perguntou.
Maria Helena compara a realidade atual com estudos da década de 50 que apontam o contexto do enfermeiro – remuneração inadequada, dificuldade de ascensão na carreira, trabalho em domingos e feriados sem compensação adequada e longa jornada de trabalho. “Vimos pela fala de Raquel e Telma que muito pouco mudou”, lamenta. Mas é enfática ao lembrar aos presentes seus direitos. “Todo enfermeiro deve conhecer a Norma Regulamentar NR32 para poder exigir”, afirma.