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9958138 | DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM EM FAMILÍAS DE MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE | Autores: Sheila Coelho R. V. Morais ; Kelly Dafne Pessoa Lourenço ; Francisca Márcia Pereira Linhares ; Tatiane Gomes Guedes ; Maria da Penha Carlos de Sá |
Resumo: INTRODUÇÃO: O Brasil hoje é o quarto país com maior população carcerária do
mundo, tanto em termos relativos, quanto absolutos, com 607,7 mil presos.
Dentro deste contexto, tem-se observado que o crescimento da população
carcerária feminina tem sido maior que a masculina. A população carcerária
feminina cresceu 698% no Brasil em 16 anos. **N**o ano 2000, havia 5.601
mulheres cumprindo medidas de privação de liberdade. Em 2016, o número saltou
para 44.721. Apenas em dois anos, entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016,
houve aumento de 19,6%, subindo de 37.380 para 44.7211. A mulher é vista como
a principal cuidadora no ambiente doméstico, o centro do equilíbrio emocional,
a responsável por mediar e promover uma boa convivência interpessoal e também
pela organização da casa e de todo o ambiente familiar. Porém, pouco se sabe
sobre a rede social familiar, a afetividade das mulheres presas, as
consequências da prisão para os filhos, como as famílias se organizam e como
são os papéis e as influencias dessas mulheres na economia doméstica. A
família é considerada a unidade primária do cuidado, é no contexto familiar
que experiências são vivenciadas, valores e crenças cultivadas e construídas
influenciando deste modo na formação pessoal e social de seus membros. É
durante os momentos de crise e de dificuldades que a família se torna entidade
primordial na superação dos problemas, contando com a participação ativa dos
seus membros através da partilha e somando empenhos para superar o
acontecimento que está afetando a vida dos mesmos. É importante o enfermeiro
dentro de suas atribuições identifique os diagnósticos de enfermagem das
famílias de mulheres em privação de liberdade. Na busca desta finalidade,
optou-se utilizar o Modelo de Avaliação Familiar de Calgary (MAFC)2 que
possibilita uma visão ampliada do sistema familiar, incluindo as relações
internas e externas, fortalezas e fragilidades. O estudo contribuirá com a
disponibilização de subsídios para o planejamento de uma assistência adequada
as mulheres em privação de liberdade e suas famílias. OBJETIVO: Identificar os
diagnósticos de enfermagem segundo American Nursing Diagnosis Association
Internacional (NANDA-1) apresentados em famílias de mulheres privadas. METODO:
Estudo descritivo, exploratório, transversal com abordagem quantitativa
realizado na Colônia Penal Feminina do Recife (CPFR) que tem capacidade para
204 detentas, porém abriga atualmente uma média de 800 mulheres distribuídas
35 celas, sendo uma destinada às gestantes, uma destinada à triagem e três ao
berçário. A maioria das celas tem, em média, 12 m². Participaram do estudo 12
mulheres cumprindo pena em regime fechado ou semi aberto. Foram excluídas
aquelas mulheres não autorizadas pela direção do presídio a sair da cela por
representar risco para os pesquisadores. A coleta de dados foi realizada por
meio de uma entrevista individual conduzida por um roteiro sistematizado a
partir do MAFC. As entrevistas foram realizadas no local, dia e horário
estabelecido pela direção da CPFR. O MAFC é uma estrutura multidimencional que
possui três categorias principais: estrutural, desenvolvimento e funcional2.
Os diagnósticos de enfermagem foram identificados usando o raciocínio
diagnóstico segundo o modelo de Risner3 que segue as seguintes etapas: análise
dos dados, agrupamento dos dados em padrões/domínios e rotulação dos
diagnósticos. Inicialmente foi realizada manualmente uma listagem de todos os
problemas apresentados e posteriormente os problemas foram agrupados em dados
convergentes de acordo com os domínios estabelecidos pela NANDA-20174. Os
diagnósticos foram elencados inicialmente pela aluna de Iniciação Cientifica e
posteriormente validados por duas pesquisadoras expertises na área. O presente
estudo está em consonância com a Resolução nº 466/12, o projeto foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal de Pernambuco com o nº do CAAE 15834613.8.0000.5208. A
instituição concedeu a autorização para a realização do estudo por meio de uma
Carta de Anuência. RESULTADOS: quanto ao perfil sócio demográfico das mulheres
em privação de liberdade que participaram do estudo, a maioria tem idade entre
23 a 35 anos de idade, são solteiras, tem filhos, possuem ensino médio
incompleto, sem profissão e o principal delito cometido foi, o trafico de
drogas. Os diagnósticos de relacionados a família mais frequentes foram:
Processos Familiares Disfuncionais, Maternidade Prejudicada, Processos
Familiares Interrompidos, Risco para Vinculo Prejudicado, Relacionamento
Ineficaz, Desempenho de Papel Prejudicado, e Disposição para Processos
Familiares Melhorados. O diagnóstico de Processos Familiares Disfuncionais
está dentro do domínio de papéis e relacionamento e da classe 2 de relações
familiares e esteve presente 9 vezes entre as 12 mulheres. A NANDA o define
como: “as funções psicossociais, espirituais e fisiológicas da unidade
familiar estão cronicamente desorganizadas, levando ao conflito, à negação de
problemas, à resistência a mudanças, à resolução ineficaz de problemas e uma
série de crises auto perpetuadas”4. As características definidoras mais
frequentes para este diagnóstico foram o abuso de drogas, a violência física e
verbal, comunicação prejudicada e a incapacidade de aceitar ajuda. O segundo
diagnóstico mais frequente foi a Maternidade Prejudicada que tem como: “é
incapacidade do cuidador primário de criar, manter ou recuperar um ambiente
que promova o ótimo crescimento e desenvolvimento”4. Este diagnóstico foi
caracterizado pelo relato de abandono dos filhos, comportamento agressivo com
os filhos e ambiente doméstico inseguro. Observou-se que as dificuldades
existentes dentro do contexto familiar vêm de um histórico de pais ausente e
negligentes com os filhos. O terceiro diagnóstico mais frequente foi
Processos Familiares Interrompidos que tem por definição: “a mudança nos
relacionamentos e/ou no funcionamento familiar”4. Apesar de a prisão ser a
principal causa para este diagnóstico, muitas mulheres referiram que mesmo
antes da prisão já existiam problemas nas relações familiares causadas pela
violência intra familiar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O encarceramento afasta a
mulher de sua família, amigos e seu convívio social aumentando. Os
diagnósticos aqui elencados indica que o encarceramento pode trazer
consequências desastrosas nas relações familiares. Devido a complexidade das
relações, principalmente no contexto da família de mulheres em privação de
liberdade, faz-se necessário mais estudos sobre a temática para avaliar o
impacto do encarceramento a curto, a médio e em longo prazo quanto aos
processos familiares. CONTRIBUIÇÕES PARA ENFERMAGEM: Dentro deste contexto o
enfermeiro, como integrante das equipes de saúde, precisa estar habilitado
para lidar com questões ligadas a este cenário. Nessa perspectiva, dentro da
formação do enfermeiro deve ser abordado aspectos relacionados as condições de
saúde e as relações familiares da população carcerária.
Referências
1. BRASIL, INFOPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Brasília: Departamento Penitenciário Nacional-Ministério da Justiça, 2016. Disponível em: Acesso: 07.02.2018.
2. Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. São Paulo (SP): Roca, 2002.
1. RISNER, PB. Diagnosis: analysis and synthesis of data. In: GRIFFITH-KENNEY, J.W.; CHRISTENSEN,P.J. _Nursing Process application of theories, frameworks, and models._ 2. ed. St. Louis, Mosby. 1986a. p.124-51.
2. HERDMAN, T. H.; KAMITSURU, S. NANDA Internacional Diagnósticos de Enfermagem: Definições e Classificações 2015-2017. Porto Alegre: Artmed, 2015.
Descritores: família, prisão, enfermagem
**TEMA 3: Processo de Enfermagem: referenciais teórico-metodológicos, raciocínio clínico e sistemas de linguagem padronizada**
Referências: 1. Frello AT, Carraro TE. Contribuições de Florence Nightingale: uma revisão integrativa da literatura. Esc Anna Nery. 2014; 17(3):573-9.
2. Martins DF, Benito LAO. Florence Nightingale e as suas contribuições para o controle das infecções hospitalares. Universitas. 2016; 14(2):153-66.
3. Bousso RS, Poles K, Cruz DALM. Conceitos e teorias na enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(1):144-3.
4. Sousa MFG, Santos ADB, Monteiro AI. O processo de enfermagem na concepção de profissionais de Enfermagem de um hospital de ensino. Rev Bras Enferm. 2013; 66(2):167-73.
5. Carvalho EC, Oliveira-Kumakura ARS, Morais SCRV. Raciocínio clínico de enfermagem: estratégias de ensino e instrumentos de avaliação. Rev Bras Enferm. 2017; 70(3):690-6. |