Imprimir Resumo


SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 9958138

E-Pôster


9958138

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM EM FAMILÍAS DE MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

Autores:
Sheila Coelho R. V. Morais ; Kelly Dafne Pessoa Lourenço ; Francisca Márcia Pereira Linhares ; Tatiane Gomes Guedes ; Maria da Penha Carlos de Sá

Resumo:
INTRODUÇÃO: O Brasil hoje é o quarto país com maior população carcerária do mundo, tanto em termos relativos, quanto absolutos, com 607,7 mil presos. Dentro deste contexto, tem-se observado que o crescimento da população carcerária feminina tem sido maior que a masculina. A população carcerária feminina cresceu 698% no Brasil em 16 anos. **N**o ano 2000, havia 5.601 mulheres cumprindo medidas de privação de liberdade. Em 2016, o número saltou para 44.721. Apenas em dois anos, entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, houve aumento de 19,6%, subindo de 37.380 para 44.7211. A mulher é vista como a principal cuidadora no ambiente doméstico, o centro do equilíbrio emocional, a responsável por mediar e promover uma boa convivência interpessoal e também pela organização da casa e de todo o ambiente familiar. Porém, pouco se sabe sobre a rede social familiar, a afetividade das mulheres presas, as consequências da prisão para os filhos, como as famílias se organizam e como são os papéis e as influencias dessas mulheres na economia doméstica. A família é considerada a unidade primária do cuidado, é no contexto familiar que experiências são vivenciadas, valores e crenças cultivadas e construídas influenciando deste modo na formação pessoal e social de seus membros. É durante os momentos de crise e de dificuldades que a família se torna entidade primordial na superação dos problemas, contando com a participação ativa dos seus membros através da partilha e somando empenhos para superar o acontecimento que está afetando a vida dos mesmos. É importante o enfermeiro dentro de suas atribuições identifique os diagnósticos de enfermagem das famílias de mulheres em privação de liberdade. Na busca desta finalidade, optou-se utilizar o Modelo de Avaliação Familiar de Calgary (MAFC)2 que possibilita uma visão ampliada do sistema familiar, incluindo as relações internas e externas, fortalezas e fragilidades. O estudo contribuirá com a disponibilização de subsídios para o planejamento de uma assistência adequada as mulheres em privação de liberdade e suas famílias. OBJETIVO: Identificar os diagnósticos de enfermagem segundo American Nursing Diagnosis Association Internacional (NANDA-1) apresentados em famílias de mulheres privadas. METODO: Estudo descritivo, exploratório, transversal com abordagem quantitativa realizado na Colônia Penal Feminina do Recife (CPFR) que tem capacidade para 204 detentas, porém abriga atualmente uma média de 800 mulheres distribuídas 35 celas, sendo uma destinada às gestantes, uma destinada à triagem e três ao berçário. A maioria das celas tem, em média, 12 m². Participaram do estudo 12 mulheres cumprindo pena em regime fechado ou semi aberto. Foram excluídas aquelas mulheres não autorizadas pela direção do presídio a sair da cela por representar risco para os pesquisadores. A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista individual conduzida por um roteiro sistematizado a partir do MAFC. As entrevistas foram realizadas no local, dia e horário estabelecido pela direção da CPFR. O MAFC é uma estrutura multidimencional que possui três categorias principais: estrutural, desenvolvimento e funcional2. Os diagnósticos de enfermagem foram identificados usando o raciocínio diagnóstico segundo o modelo de Risner3 que segue as seguintes etapas: análise dos dados, agrupamento dos dados em padrões/domínios e rotulação dos diagnósticos. Inicialmente foi realizada manualmente uma listagem de todos os problemas apresentados e posteriormente os problemas foram agrupados em dados convergentes de acordo com os domínios estabelecidos pela NANDA-20174. Os diagnósticos foram elencados inicialmente pela aluna de Iniciação Cientifica e posteriormente validados por duas pesquisadoras expertises na área. O presente estudo está em consonância com a Resolução nº 466/12, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco com o nº do CAAE 15834613.8.0000.5208. A instituição concedeu a autorização para a realização do estudo por meio de uma Carta de Anuência. RESULTADOS: quanto ao perfil sócio demográfico das mulheres em privação de liberdade que participaram do estudo, a maioria tem idade entre 23 a 35 anos de idade, são solteiras, tem filhos, possuem ensino médio incompleto, sem profissão e o principal delito cometido foi, o trafico de drogas. Os diagnósticos de relacionados a família mais frequentes foram: Processos Familiares Disfuncionais, Maternidade Prejudicada, Processos Familiares Interrompidos, Risco para Vinculo Prejudicado, Relacionamento Ineficaz, Desempenho de Papel Prejudicado, e Disposição para Processos Familiares Melhorados. O diagnóstico de Processos Familiares Disfuncionais está dentro do domínio de papéis e relacionamento e da classe 2 de relações familiares e esteve presente 9 vezes entre as 12 mulheres. A NANDA o define como: “as funções psicossociais, espirituais e fisiológicas da unidade familiar estão cronicamente desorganizadas, levando ao conflito, à negação de problemas, à resistência a mudanças, à resolução ineficaz de problemas e uma série de crises auto perpetuadas”4. As características definidoras mais frequentes para este diagnóstico foram o abuso de drogas, a violência física e verbal, comunicação prejudicada e a incapacidade de aceitar ajuda. O segundo diagnóstico mais frequente foi a Maternidade Prejudicada que tem como: “é incapacidade do cuidador primário de criar, manter ou recuperar um ambiente que promova o ótimo crescimento e desenvolvimento”4. Este diagnóstico foi caracterizado pelo relato de abandono dos filhos, comportamento agressivo com os filhos e ambiente doméstico inseguro. Observou-se que as dificuldades existentes dentro do contexto familiar vêm de um histórico de pais ausente e negligentes com os filhos.  O terceiro diagnóstico mais frequente foi Processos Familiares Interrompidos que tem por definição: “a mudança nos relacionamentos e/ou no funcionamento familiar”4. Apesar de a prisão ser a principal causa para este diagnóstico, muitas mulheres referiram que mesmo antes da prisão já existiam problemas nas relações familiares causadas pela violência intra familiar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O encarceramento afasta a mulher de sua família, amigos e seu convívio social aumentando. Os diagnósticos aqui elencados indica que o encarceramento pode trazer consequências desastrosas nas relações familiares. Devido a complexidade das relações, principalmente no contexto da família de mulheres em privação de liberdade, faz-se necessário mais estudos sobre a temática para avaliar o impacto do encarceramento a curto, a médio e em longo prazo quanto aos processos familiares. CONTRIBUIÇÕES PARA ENFERMAGEM: Dentro deste contexto o enfermeiro, como integrante das equipes de saúde, precisa estar habilitado para lidar com questões ligadas a este cenário. Nessa perspectiva, dentro da formação do enfermeiro deve ser abordado aspectos relacionados as condições de saúde e as relações familiares da população carcerária. Referências 1. BRASIL, INFOPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Brasília: Departamento Penitenciário Nacional-Ministério da Justiça, 2016. Disponível em: Acesso: 07.02.2018. 2. Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. São Paulo (SP): Roca, 2002. 1. RISNER, PB. Diagnosis: analysis and synthesis of data. In: GRIFFITH-KENNEY, J.W.; CHRISTENSEN,P.J. _Nursing Process application of theories, frameworks, and models._ 2. ed. St. Louis, Mosby. 1986a. p.124-51. 2. HERDMAN, T. H.; KAMITSURU, S. NANDA Internacional Diagnósticos de Enfermagem: Definições e Classificações 2015-2017. Porto Alegre: Artmed, 2015. Descritores: família, prisão, enfermagem **TEMA 3: Processo de Enfermagem: referenciais teórico-metodológicos, raciocínio clínico e sistemas de linguagem padronizada**


Referências:
1. Frello AT, Carraro TE. Contribuições de Florence Nightingale: uma revisão integrativa da literatura. Esc Anna Nery. 2014; 17(3):573-9. 2. Martins DF, Benito LAO. Florence Nightingale e as suas contribuições para o controle das infecções hospitalares. Universitas. 2016; 14(2):153-66. 3. Bousso RS, Poles K, Cruz DALM. Conceitos e teorias na enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2014; 48(1):144-3. 4. Sousa MFG, Santos ADB, Monteiro AI. O processo de enfermagem na concepção de profissionais de Enfermagem de um hospital de ensino. Rev Bras Enferm. 2013; 66(2):167-73. 5. Carvalho EC, Oliveira-Kumakura ARS, Morais SCRV. Raciocínio clínico de enfermagem: estratégias de ensino e instrumentos de avaliação. Rev Bras Enferm. 2017; 70(3):690-6.