E-Pôster
9932872 | CONSTRUÇÃO CURRICULAR INTERDISCIPLINAR: UMA REFLEXÃO DA PRÁTICA | Autores: Silmara da Costa Maia ; Verônica Gesser |
Resumo: **CONSTRUÇÃO CURRICULAR INTERDISCIPLINAR: UMA REFLEXÃO DA PRÁTICA**
_Silmara da Costa Maia1_
Verônica Gesser2
**Introdução:** Falar atualmente de currículo, requer necessariamente discutir primeiramente seus paradigmas, dilemas, dicotomias, tendo em vista as imensas mudanças propostas, incialmente por educadores e posteriormente por portarias, resoluções, as quais estão certamente envolvidas em questões mercadológicas, políticas e principalmente de poder. Uma das mudanças propostas é a questão da interdisciplinaridade no ensino superior, a qual ainda não é uma realidade nacional, nem tão pouco regional, mesmo já sendo discutida e “empregada” por alguns cursos superiores, há mais de 20 anos. Alguns entraves e limitações estão inseridos neste contexto, os quais abarcam questões políticas, financeiras e metodológicas. Quando se analisa currículo numa perspectiva tradicional, evidenciava-se como uma questão simplesmente técnica, ou melhor, o foco era discutir as melhores e mais eficientes formas de organizar os conhecimentos e saberes dominantes, tornando as teorias neutras, científicas ou desinteressadas. Com o passar dos tempos, na perspectiva crítica, o currículo se tornaria mais complexo, pois o currículo começava a ser arquitetado como um campo ético e moral, já evidenciando as relações de poder, identidade e saber, ou seja, desloca o destaque dos conceitos meramente pedagógicos de ensino e aprendizagem para os conceitos de ideologia e poder. Já na perspectiva pós-crítica o poder e o conhecimento não se opõem, mas são mutuamente dependentes, implicando em enfatizar as conexões entre significação, identidade e poder. Assim, currículo envolve processos de desenvolvimento de quem queremos ser, considerando conscientemente identidade e poder1. É unanime aos educadores considerar currículo como articulador de conteúdos a serem ensinados e aprendidos, envolvendo experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos, bem como os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais, elaborando os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino e os processos de avaliação. Todos estes aspectos pautam-se nas relações sociais que aderem ao cenário em que os conhecimentos se ensinam e se aprendem. Desta forma, a história das reformas curriculares demonstra a necessidade de flexibilizar as escolas, definir e integrar conteúdos, construir novas competências, possibilitar maior interação entre o mundo do trabalho, estabelecendo influência no controle, tanto das atividades curriculares como de seus efeitos. **Objetivo: **refletir sobre a construção curricular interdisciplinar e sua implementação. **Metodologia:** esta reflexão foi feita pela busca de fundamentação filosófica, a partir de uma pesquisa bibliográfica-documental, bem como de artigos relacionados aos temas interdisciplinaridade e currículo. **Resultados**: Uma das mudanças necessárias implicaria na superação da fragmentação e especialização do conhecimento. Isto porque, a interdisciplinaridade necessita de mudanças causadas pela tendência positivista, cujas raízes são o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade, sendo influenciados por Galileu, Descartes, Newton, entre outros2. Pode-se destacar cinco princípios que subsidiam uma prática docente interdisciplinar, estes envolvem humildade, coerência, espera, respeito e desapego3. Para tanto esta formação envolve princípios, estratégias e intervenções pautadas em concepções que não se adquire de uma hora para outra, de forma individual ou descontextualizada de uma realidade. Esta atitude necessita ser concomitante e complementar, exigindo um alto grau de amadurecimento intelectual e prático, utilizando um processo reflexivo, não apenas abstrair, mas sim, ir além do simples nível de abstração, mas transcender a pura relação teórico-prática linear. Necessita aceitar seus limites, saber que existe o momento de retroceder e avançar várias vezes, de acertar e errar e de recomeçar. A questão não é negar o velho, negar o velho e substituí-lo pelo novo, é um princípio oposto a uma atitude interdisciplinar3. Não se pode deixar de identificar que novos movimentos, foram gerados por movimentos anteriores, é óbvio que se deve analisa-los em todas as suas potencialidades3. Este ir e vir, faz parte do processo e não deve ser negado, esta ambiguidade faz parte de um processo pedagógico. A maior problemática envolvendo a interdisciplinaridade relaciona-se a imposição realizada a partir do século XX, com as diretrizes curriculares, as quais apontam para a necessidade de uma formação interdisciplinar dos profissionais. Esta necessidade, iniciou-se com o pensamento sistêmico, o qual reorganizou um sistema constituído por partes que apresentam propriedade essenciais que surgem a partir de relações em comum, substituindo a velha noção mecanicista de função presente na fisiologia. É a forma de buscar a totalidade, facilitando a compreensão das conexões, interações existentes no conjunto de relações estabelecidas entre o todo e as partes, entre ações e retroações, explicitando, inclusive, a organização que dá forma ao sistema4. Implica em pensar diferentes diálogos, a circulação de informações, de forma aberta, sem pressupostos anteriormente aceitos como verdade, o que facilita a dinamicidade dos processos, identificando a complexidade dos fatos. Este pensamento nas organizações educacionais, apontam para a existência de inúmeras tendências curriculares, considerando que a aprendizagem e vida já não mais se separam. Esta complexidade constitui-se uma relação interdependente entre as partes e o todo, entre o todo e as partes, para tal necessita-se recompor o todo para reconhecer as partes4. Assim, as disciplinas contemplam saberes, dependendo de como engrena-se estes saberes, pode-se gerar um _“status interdisciplinar”_. O conceito de interdisciplinaridade, encontra-se diretamente ligado ao conceito de disciplina, onde a interpenetração ocorre sem a destruição básica às ciências conferidas. Contudo, torna-se necessário diferenciar integração e interdisciplinaridade. Integração refere-se a um aspecto formal da interdisciplinaridade, o que significa que é compreendido como uma forma de organizar as disciplinas, que pode ou não alcançar a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade é uma atitude que pode ser desenvolvida, aplicada, ou melhor interiorizada na integração curricular, o que significa que para o alcance da interdisciplinaridade utiliza-se a integração3. Isto não significa simplesmente uma junção ou aproximação de disciplinas, necessita uma ação de interação entre saberes. Talvez esta seja uma das maiores dificuldades de sua implementação, tendo em vista a necessidade de interiorização destas atitudes, tanto por parte do corpo docente, como do discente, haja visto que ambos são participes ativos do processo. O que significa uma interação entre docentes, discentes e saberes. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **a designação [currículo integrado](http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/curint.html "Próprio verbete [1º ocorrência] - clique para voltar ao topo" ) tem sido utilizada como tentativa de envolver uma maior abrangência do conhecimento e de facilitar maiores momentos de interdisciplinaridade na sua construção. Assim, a integração coloca as disciplinas numa perspectiva relacional, promovendo maior integração de saberes. Quando se refere à formação de um indivíduo profissional, esta integração possibilita maior acolhimento às necessidades de mudanças deste no mundo do trabalho, incorporando a realidade vivenciada na prática. Ressalta-se que está ideia deve ser construída e aceita coletivamente, proporcionando coerência da proposta. No trabalho pedagógico, o método de exposição deve restabelecer as relações dinâmicas e dialéticas entre os conceitos, reconstituindo as relações que configuram a totalidade concreta da qual se originaram, de modo que o objeto a ser conhecido revele-se gradativamente em suas peculiaridades próprias2.
Referências: 1.Conselho Nacional de Educação (BR). Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n° 3, de 7 de novembro de 2001. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Brasília-DF; 2001 [citado 2016 jun 10]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf. 2.Bittencourt GKGD, Crossetti MGO. Critical thinking skills in the nursing diagnosis process. Rev Esc Enferm USP. 2013 [cited 2016 Jun 10]; 47(2):341-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n2/en_10.pdf. 3.Riegel F, Crossetti MGO Referenciais teóricos e instrumentos para avaliação do pensamento crítico na enfermagem e na educação Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017 4.Facione PA, Gittens CA. Think Critically. Boston: Pearson; 2016. 5. Facione PA, Crossetti MGO, Riegel F Pensamento Crítico Holístico no Processo Diagnóstico de Enfermagem Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(3):e75576 doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2017.03.75576. |