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9890032 | IMPLICAÇÕES DO CUIDADO SEGURO COM MEDICAMENTOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL | Autores: Larissa Nascimento Ribeiro ; Bianca da Costa Vieira ; Pattrícia da Rosa Damiani ; Marli Terezinha Stein Backes ; Márcia Guimarães Alcântara |
Resumo: **Introdução:** Em 2013 o Ministério da Saúde instituiu a Portaria MS/GM nº 529 que estabelece um conjunto de protocolos que devem ser elaborados e implantados nas instituições de saúde. Estes protocolos estabelecem condutas para a prática da higienização das mãos, prescrição segura de medicamentos, segurança na administração de medicamentos, identificação do paciente, segurança no uso de materiais, prevenção de quedas e lesões por pressão(1). Entre os eventos adversos evitáveis, especialmente, no período mais crítico da vida de um recém-nascido, ou seja, na primeira semana de vida (período neonatal precoce) destacam-se o manejo de cateter central de inserção periférica e os erros de cálculo de dosagem de medicamentos prescritos(2). Estudo quantitativo, descritivo e retrospectivo com o objetivo de analisar eventos adversos e outros incidentes que não causaram danos em recém-nascidos notificados no Sistema de Notificações para a Vigilância Sanitária (NOTIVISA), entre 2007 a 2013 verificou que foram notificados 355 incidentes, dos quais, 233(65,6%) foram relacionados a medicamentos, 118(33,3%) a artigos médicos, e 4 (1,1%) a equipamentos médicos(2). Assim, quanto ao uso de medicamentos, os incidentes relacionam-se, em primeiro lugar, à dosagem incorreta (38%)(3). **Objetivo**: compreender as implicações do cuidado seguro com medicamentos na unidade de terapia intensiva neonatal relacionadas ao uso de medicamentos. **Descrição metodológica: **Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa. O método utilizado foi a _Grounded Theory_, versão de Corbin e Strauss(4). O estudo seguiu os princípios da amostragem teórica. A coleta e análise de dados foram realizadas concomitantemente entre julho de 2015 a dezembro de 2016, em duas maternidades públicas de dois hospitais de grande porte, ou seja, na maternidade do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina, denominada neste estudo de M1, pertencente à rede federal, e na Maternidade Carmela Dutra, denominada M2, que integra a rede estadual de saúde do estado de Santa Catarina. Ambas estão localizadas em Florianópolis/SC, no sul do Brasil, e são responsáveis pelo atendimento público na área. Realizou-se 29 entrevistas em profundidade com profissionais da saúde e gestores das maternidades públicas referidas acima. A análise de dados foi realizada através do processo de codificação aberta, axial e integração, fases distintas, complementares e integradas. Na análise dos dados também foi utilizado o mecanismo analítico denominado paradigma, preconizado por Corbin e Strauss(4), como instrumento facilitador, que envolve um esquema organizacional que ajuda reunir e ordenar sistematicamente os dados, e a classificar as conexões emergentes. Para atender aos critérios éticos da pesquisa, foram consideradas as recomendações da Resolução No 466/2012(5), a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina Parecer nº 1.148.080 (CAAE: 43112415.5.0000.0121), a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Maternidade Carmela Dutra de Florianópolis/SC, Parecer nº 1.158.569 (CAAE: 43112415.5.3001.0114) e das Instituições onde a pesquisa foi realizada. Também foi considerada a autorização dos participantes por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os participantes serão identificados neste estudo pela letra P (participante) seguida de um número arábico correspondente à ordem em que foram entrevistados. **Resultados**: este estudo mostrou que os principais erros relacionados ao uso de medicamentos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) são referentes à dose, via de administração, tempo de administração, intervalos, interações medicamentosas, entre outros. No que se refere à dose, foi mencionado que a equipe médica erra muito no cálculo das dosagens de medicamentos prescritos, especialmente, em relação à superdosagem de medicação, tanto na UTIN como na pediatria, onde as doses utilizadas são bem fracionadas, e fazem com que um erro de cálculo, quando ocorre, pode levar à administração de uma dose de medicamento até dez, cem ou mil vezes maior do que deveria ser. Para amenizar e/ou evitar essa situação foi sugerido que o profissional enfermeiro revise a prescrição médica, bem como, faça o recálculo da dose dos medicamentos prescritos, embora esta última não seja a sua função. No presente estudo foi mencionada uma comparação entre erros cometidos pela equipe de enfermagem e pela equipe médica em uma UTIN de uma das instituições incluídas neste estudo. No caso da equipe de enfermagem, após a ocorrência de um evento adverso relacionado à infusão da nutrição parenteral, esta buscou corrigir o erro e “aprender a lição”, e passou a adotar novos processos de trabalho. Já no caso da equipe médica, após a ocorrência de um evento adverso relacionado à superdosagem de medicamento que causou intoxicação e posterior óbito em um paciente, não foi feito nada para mudar o processo de trabalho. Neste sentido, este estudo indica que quando acontece um evento adverso este deve servir para corrigir a situação que o produziu, ou seja, é necessário aprender com os erros para evitar que estes continuem a acontecer. Também pode-se inferir que a equipe de enfermagem parece ter mais facilidade de admitir que errou em comparação à equipe médica. Nessa direção, a equipe de enfermagem foi mencionada como fundamental na segurança do paciente, especialmente, pelo comprometimento para evitar erros como os de superdosagem de medicação nos casos quando questiona o médico para recalcular a dose prescrita quando esta está errada. Foi apontado que quando um paciente vai a óbito por consequência de um erro relacionado ao uso de medicamento, isto devasta a equipe como um todo, não só o médico que prescreveu o medicamento, mas também quem o administrou. Entretanto, também evidenciou-se que, normalmente, quando um erro acontece a equipe fica atenta por um curto período de tempo, e depois acaba se esquecendo de dar a devida atenção ao problema, seja por conta da carga horária de trabalho ou falta de funcionários que também afetam a segurança e a qualidade da assistência ao paciente. Foi destacado também que o sistema de conferência da prescrição médica de medicamentos por parte da enfermagem antes da administração dos referidos medicamentos ainda é precário e que esta situação ocorre no mundo todo e continuará acontecendo sempre caso não seja criado um sistema de segurança para que isto não aconteça. Dessa maneira, o estudo reforça a necessidade da existência de mecanismos de proteção do paciente para não se ficar só na impressão ou no “achismo” de que “o que está prescrito está diferente”. Para tanto, uma estratégia apontada foi a identificação do paciente com pulseira que contenha código de barras com o nome e número do paciente, de maneira que o profissional, ao utilizar um leitor óptico, confere a identificação para ter certeza que se trata do paciente certo que deve receber a medicação devida. **Conclusão**: O presente estudo possibilitou ampliar a compreensão sobre a segurança do paciente na UTIN relacionada ao uso de medicamentos, visando a qualidade da atenção neonatal. Constatou-se que os mecanismos de proteção do paciente para aumentar a segurança relacionada ao processo de medicação na UTIN ainda são frágeis e precisam ser aperfeiçoados. Para tanto, algumas medidas foram destacadas para reduzir e prevenir erros relacionados a esse processo, sendo que para tanto os profissionais de enfermagem foram apontados como fundamentais. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **é imprescindível a implementação de uma cultura de segurança do paciente na UTIN, especialmente, em relação ao processo medicamentoso, que deve ser incorporado por todos os envolvidos e não ser apenas uma atitude pontual quando um erro acontece.
Referências: 1. Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES Nº 3 de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Brasília(DF): Conselho Nacional de Educação; 2001.
2. Martins JA et al. A experiência clínica simulada no ensino de enfermagem: Retrospectiva histórica. Acta Paulista de Enfermagem [Internet]. 2012 [acesso em 01 mar 2018];25(4): 619-25.
3. Eppich W, Howard V, Vozenilek J, Curran I. Simulation-based team training in healthcare. Simulation in Healthcare [Internet]. 2011 [acesso em 01 mar 2018];6(7):14-9.
4. Collen M et al. Standards of Best Practice: Simulation Standard I: Terminology. Clinical Simulation in Nursing [Internet]. 2013 [acesso em 01 mar 2018];9(65):3-11. |