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9604156 | EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO EM SAÚDE MENTAL | Autores: Marina Mazzuco de Souza ; Michelle Almeida de Aguiar ; Bibiana Kozorosky Palmeiro ; Juliana Dal Ongaro ; Patrícia Bitencourt Toscani |
Resumo: **Introdução: **O tripé formado pelo ensino, pesquisa e extensão constitui o eixo fundamental da Universidade Brasileira e não pode ser compartimentado. Essas funções merecem igualdade em tratamento por parte das instituições de ensino superior, que, do contrário, violarão o preceito legal. Assim, considerando as relações duais, a articulação entre o ensino e a extensão aponta para uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea, mas necessita, sobretudo, da pesquisa, responsável pela produção do conhecimento científico. Por sua vez, se associados o ensino e a pesquisa, ganha-se terreno em frentes como a tecnologia, por exemplo, mas se incorre no risco de perder a compreensão ético-político-social conferida quando se pensa no destinatário final desse saber científico (a sociedade). Enfim, quando a (com frequência esquecida) articulação entre extensão e pesquisa exclui o ensino, perde-se a dimensão formativa que dá sentido à universidade1. Destaca-se que as universidades comunitárias são universidades prestadoras de serviços públicos, de interesse coletivo, sem fins lucrativos, sendo um novo modelo de universidade, diferente das instituições estritamente particulares2. Nesse sentido, entende-se que este tripé ensino-pesquisa-extensão deve retroalimentar-se no sentido de se fortalecerem entre si e ao mesmo tempo contribuir com a comunidade e com o aprendizado. Ressalta-se que na enfermagem a extensão possui grande potência enquanto estratégia de ensino, pois possibilita ao estudante vivenciar situações cotidianas do enfermeiro, bem como refletir sobre estas ações e ressignificar o aprendizado, de forma contextualizada. Da mesma forma a extensão também proporciona a vivência dos estudantes nos serviços de saúde proporcionando reflexões e inquietações da prática que poderão se transformar em pesquisas. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem, deve-se assegurar a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino crítico, reflexivo e criativo, que possibilite estimular a socialização do conhecimento produzido, bem como buscar desenvolver no estudante as atitudes e os valores orientados para a cidadania e para a solidariedade3, bem como com a estrutura e organização dos serviços de saúde mental. Nesse sentido cabe relembrar as mudanças de processo de trabalho, bem como de assistência à saúde que a reforma psiquiátrica proporcionou. Destaca-se que a reforma psiquiátrica é um processo político e social complexo, que tem um compromisso ético-político, que preconiza o cuidado do usuário por meio do respeito à sua singularidade e reinserção social, além do cuidado humanizado.** Objetivo: **Relatar a experiência, como docente de nível superior, na inserção e acompanhamento de estudantes de enfermagem em atividades de projetos de extensão universitária vigentes na universidade. **Descrição Metodológica:** Trata-se de um relato de experiência acerca da inserção e do acompanhamento de estudantes em atividades de extensão dos projetos “Estratégias para o empoderamento de usuários do Centro de Atenção psicossocial I: exercendo a cidadania”, e “Grupo de Gestão Autônoma de Medicamentos (GAM)”, os quais são realizados no Centro de Atenção Psicossocial I (CAPS) de um município da região centro oeste do Rio Grande do Sul. Esses grupos ocorreram nas terças-feiras, sendo o grupo de empoderamento quinzenalmente pela tarde, com a presença de familiares e o grupo GAM semanalmente pela manhã. Os estudantes participaram das atividades no período de práticas da disciplina Enfermagem Psiquiátrica, nos meses de setembro a novembro de 2017, e alguns permaneceram participando posteriormente. **Resultados:** Quanto as atividades do projeto “Estratégias para o empoderamento de usuários do Centro de Atenção psicossocial I: exercendo a cidadania”, os estudantes puderam vivenciar os encontros quinzenais com usuários e familiares, onde foi discutido o processo histórico da psiquiatria, bem como a Reforma Psiquiátrica sob a Lei 10.216 de 2001 que dispõe sobre os direitos das pessoas com transtornos mentais no Brasil. Outra atividade foi a exibição do documentário “Em nome da razão”. Este documentário retrata a história da atenção à saúde mental no Hospital Psiquiátrico de Barbacena-MG e o modo de tratamento utilizado antes da Reforma Psiquiátrica para com os usuários. Em seguida houve espaço para reflexões, alguns usuários expuseram suas percepções, indignações e também experiências vivenciadas em internações e nos serviços substitutivos (CAPS). Também foi exibido o documentário “Dos loucos e das rosas” no qual este possibilitou observar as mudanças que ocorreram em Barbacena-MG após a Reforma Psiquiátrica, o que permitiu a visualização da autonomia e reinserção social dos usuários. Neste mesmo dia, partiu por parte dos usuários a ideia de realizar uma carta para o prefeito do município reivindicando por melhorias na unidade. Por meio destas ações os estudantes puderam perceber o quanto os espaços grupais são potentes nos serviços de saúde mental. Da mesma forma vivenciar os usuários trazendo suas experiências de internação, possibilitou aos estudantes reflexões acerca do cuidado humanizado. Ainda foi possível perceber que os estudantes ficaram admirados com as reivindicações dos usuários, bom como com as estratégias pensadas para resolver as necessidades reivindicadas, como a idealização de uma carta para o prefeito municipal. No que se refere as atividades do grupo GAM , destaca-se que o mesmo propõe ferramentas concretas para enfrentar as práticas de saúde mental que dependem tanto do mundo da Medicina (medicalização). A GAM busca que as pessoas que usam psicofármacos sejam mais críticas com o seu uso, que conheçam melhor seus medicamentos e bem como seus efeitos desejados e não desejados. Busca, ainda, que conheçam quais são seus direitos e que saibam que podem decidir se aceitam ou recusam as diferentes propostas de tratamento. Assim, a GAM possibilita a escuta e discussões sobre o uso de medicamentos e suas implicações na vida das pessoas, estratégias que possibilitem a qualidade de vida e saúde. Durante o exercício de participação do grupo GAM, os estudantes puderam discutir sobre medicamentos e a interferência na vida dos usuários, bem como as estratégias para manter ou melhorar a saúde. Ainda puderam perceber o quanto o cuidado não pode ser centralizado em uma figura somente, principalmente tendo em vista que o usuário é corresponsável pelo seu cuidado. Os estudantes perceberam que a GAM também traz a discussão sobre autonomia, o que consequentemente em vários momentos do grupo reforça o empoderamento do usuário sobre sua própria vida e desejos. Nesta perspectiva, as ações de extensão possibilitam a disseminação, para a comunidade, do conhecimento que é originado nos centros universitarios, com uma relação harmoniosa entre a universidade e sociedade5. **Conclusão: **A inserção de discentes, em ações de extensão possibilitaram a percepção da potência dessas atividades, com o intuito de fortalecer o tripé constituído pelo ensino, pesquisa e extensão. Para o ensino, destaca-se a importância na formação de enfermeiros mais críticos e reflexivos quanto as suas práticas e a sua inserção na sociedade moderna. **Contribuições/ Implicações para a Enfermagem:** A saúde mental, área específica de atuação da enfermagem, por vezes traz ao estudante muitos receios, medos, advindos por vivências pessoais ou mesmo imaginárias devido ao processo histórico desta área. As atividades de extensão nestes serviços possibilitam a desmistificação de conceitos, bem como a formação de um enfermeiro que ultrapasse as barreiras dos pré conceitos estabelecidos pela sociedade, com maior habilidade de escuta, comunicação e relacionamento terapêutico, bem como com olhar crítico sobre as ações e cuidados em saúde nesta área.
Referências: Referências: 1.
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perspectiva dos enfermeiros: uma abordagem metodológica na teoria fundamentada. Rev
Gaúcha Enferm. 2012;33:174–81. 2. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução no 358 de
2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do
Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado
profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília, DF, 15 out. 2009. 3.
Cavalcante RB, Otoni A, Bernardes MFVG, Cunha SGS, da Silveira Santos C, da Silva PC.
Experiências de sistematização da assistência de enfermagem no Brasil: um estudo bibliográfico. Rev Enferm UFSM. 2011;1(3):461–471. 4. Gonçalves MRCB, Spiri WC,
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