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8937598 | O CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL PARA
FORMAÇÃO CONTEMPORÂNEA: REVISÃO INTEGRATIVA | Autores: Ricardo Otávio Maia Gusmão |
Resumo: **Introdução:** No final da década de 1970, iniciou-se o movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) caracterizada pela reestruturação do modelo assistencial em saúde mental com a implantação da Estratégia de Atenção Psicossocial (EAPS). Dentre seus princípios destacam-se a noção de território, interdisciplinaridade e intersetorialidade, promoção da autonomia dos usuários, reabilitação psicossocial e a desinstitucionalização(1). A efetivação deste processo ocorreu com a aprovação da lei 10.216 de 2001. Em 2011, a portaria 3088 instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Em 2003, o Ministério da Saúde implanta a Política Nacional de Humanização (PNH) que possui como diretrizes a valorização da dimensão subjetiva, coletiva e social em todas as práticas de atenção à saúde; o fortalecimento do trabalho interdisciplinar; apoio à construção de redes comprometidas com a produção de saúde e de sujeitos; autonomia e protagonismo coletivo e a valorização da ambiência, com organização de espaços saudáveis e acolhedores(1). Destaca-se que nos primórdios da enfermagem psiquiátrica, o modelo de tratamento era asilar. As práticas desenvolvidas constituíam-se na vigilância constante dos portadores de sofrimento mental com foco na doença e medicalização. Assim, a partir da RPB e PNH, muitos são os desafios contemporâneos para a formação profissional em Enfermagem, tendo em vista à necessidade de redirecionamento da prática e do modelo teórico de formação em saúde mental. **Objetivo:** Identificar na literatura a caracterização do cuidado clínico de enfermagem em saúde mental no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira e Humanização da Assistência para formação profissional em enfermagem na contemporaneidade. **Descrição Metodológica: **Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. O levantamento das publicações indexadas foi realizado via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As estratégias de busca envolveram o cruzamento, na língua portuguesa, dos seguintes descritores: humanização da assistência, saúde mental, enfermagem, enfermagem psiquiátrica e psicanálise. Os critérios de inclusão adotados foram artigos completos disponíveis eletronicamente, no idioma português e que apresentassem pertinência ao tema. **Resultados: **Foram encontradas 75 publicações, sendo que 16 atenderam aos critérios de inclusão. Oito publicações foram extraídas da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e oito da Base de Dados em Enfermagem (BDENF). Das publicações 6 (37,5%) provia da região do Sudeste do Brasil. A maioria (n=9; 56,25%) dos estudos foi publicado em periódicos com classificação Qualis B2. Houve predomínio (n=11; 68,75%) de estudos qualitativos. A partir dos resultados, o tema e objetivo do estudo foram discutidos através de três categorias. Na categoria a humanização da assistência e seus imbricamentos sobre o cuidado de enfermagem na saúde mental, verifica-se que as atuais políticas públicas corroboram para uma assistência humanizada de enfermagem no campo da saúde mental. A partir da RPB, a desinstitucionalização dos portadores de sofrimento mental consolida uma substituição dos manicômios por serviços de saúde mental de base comunitária, priorizando-se a reinserção social, autonomia e o convívio familiar do indivíduo (1). O cuidado de enfermagem se reorienta por uma postura ética que respeite os direitos dos usuários. Enfatiza-se que os enfermeiros em seus diversos cenários de atuação, com destaque à Atenção Primária à Saúde (APS), são convocados a se responsabilizarem pelo cuidado em saúde mental(2). A categoria estratégias de cuidado no campo da saúde mental: incorporando novas tecnologias, evidencia que várias estratégias e novas tecnologias de cuidado, construídas em articulação com as políticas públicas no campo da saúde mental, devem ser incorporadas pela enfermagem em suas práticas clínicas. A complexidade do objeto na saúde mental exige uma abordagem integral(2). A realização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e do Processo de Enfermagem (PE) consolidam-se como estratégias fundamentais para qualificação do cuidado realizado a indivíduos, família e comunidade em situações de sofrimento psíquico(1). O trabalho em rede, as articulações intersetoriais, o uso da interdisciplinaridade e do trabalho em equipe incluem-se como indicações clínicas do campo da atenção psicossocial à prática de enfermagem(1). Além disso, destaca-se o contato e o acolhimento estabelecidos com a escuta terapêutica, como estratégias de organização do processo de trabalho com vista à criação do projeto terapêutico de cuidado singular(2). As oficinas terapêuticas visam o resgate da subjetividade e autonomia dos usuários. Por fim, a ambiência, como estratégia preconizada pela PNH, é um fator estruturante do processo terapêutico por favorecer a promoção da interação e criação de vínculos com os usuários(2). Já na categoria o cuidado clínico de enfermagem: resgatando a subjetividade, destaca-se que a interdisciplinaridade tem colaborado para a prática de enfermagem na saúde mental por meio da psicanálise, possibilitando a ampliação da clínica através do resgate da subjetividade criando uma nova perspectiva de cuidado(3). Alguns conceitos e ferramentas psicanalíticas contribuem para o cuidado de enfermagem, com destaque à escuta, a categoria de sujeito e a construção do caso clínico. A partir da escuta, a palavra é dita explicitando os mecanismos psíquicos implicados no processo de adoecimento articulando-se o sofrimento com a história de vida do sujeito(3). Há um deslocamento do cuidado em seu formato prescritivo para uma abordagem na qual o cliente visto como sujeito participa do processo de elaboração de suas necessidades de cuidados mediante a construção do caso clínico. O processo de incorporação da dimensão subjetiva no atendimento clínico do enfermeiro envolve o estabelecimento da transferência e do relacionamento terapêutico promovendo a humanização da assistência(2-3). **Conclusão:** Conclui-se que o cuidado clínico de enfermagem em saúde mental, visando à humanização da assistência deve considerar os preceitos da RPB e da PNH na contemporaneidade. As estratégias do campo da atenção psicossocial devem ser incorporadas ao cuidado de enfermagem como indicações importantes para sua formação e inovação clínica. Sobre o núcleo de conhecimento, a SAE e o PE configuram-se como fundamentais. Por sua vez, o recurso à interdisciplinaridade tem colaborado com a enfermagem na saúde mental por meio da psicanálise para a ampliação da clínica. Sugere-se a incorporação desses referenciais teóricos nas diretrizes curriculares de formação profissional em enfermagem e em suas práticas de cuidado. **Contribuições/ implicações para a enfermagem**: Acredita-se que este estudo poderá contribuir para o cuidado de enfermagem em saúde mental, além de colaborar para a formação profissional em enfermagem contemporânea produzindo uma reflexão acerca das diretrizes curriculares nacionais e o campo da saúde mental, promovendo uma ruptura dos pensamentos deixados pela história da psiquiatria centrados na ideia de exclusão e periculosidade. Assim, o novo olhar sobre esses sujeitos, favorece uma prática com cuidado científico e humanizado de enfermagem.
Referências: 1. NANDA-Internacional. Diagnóstico de Enfermagem da NANDA: definições e classificações. Porto alegre: Artmed, 2015.
2. Brasil, Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Diário Oficial da União, 2013.
3. Aires AP, et al. Consumo de alimentos industrializados em pré-escolares. 2011. Porto Alegre: Revista da AMRIGS., 55(4): 350-355. |