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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 8090400

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8090400

A PERCEPÇÃO DE CORPO ENVELHECIDO NA PERSPECTIVA DO IDOSO: UMA COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA

Autores:
Luciane Almeida ; Paulo Roberto Haidamus de Oliveira Bastos

Resumo:
O corpo é um dos temas mais discutidos na contemporaneidade, e cada vez mais tem sido objeto de estudo nas áreas de ciências sociais, humanas e de saúde. Diante da história do corpo humano e do movimento de sua construção e reconstrução, sabemos que esse corpo vivencia transformações relacionadas ao tempo, à temporalidade, e que vão além do sistema físico, biológico. Sendo assim, independente da forma como as pessoas envelhecem, sabe-se que estão acompanhadas de perdas somáticas e psicossociais, e estas podem levar à diminuição do grau de satisfação com o próprio corpo, influenciando negativamente na percepção da pessoa idosa sobre sua autoimagem. O corpo consome a si mesmo como imagem, pela importância dada ao belo, jovem e saudável, visto que os modelos atuais, exaltado e padronizado pela nossa sociedade, desvalorizam o envelhecimento, não percebendo o valor social da velhice. Diante de tais aspectos, sabe-se que historicamente, em especial no mundo ocidental, constrói-se uma imagem do idoso que, na maioria das vezes, é permeada por preconceitos quanto às perdas, transformação da imagem, porém, o idoso também constrói uma imagem de si, e esta é singular, individual, refletindo na realização da corporeidade, visto que, ela se coloca nessa maneira de repensar o corpo. Nos utilizamos de um olhar filosófico para a compreensão deste fenômeno, pois, acreditamos que a filosofia nos permite interpretar o mundo de diversas maneiras, ousando buscar também possibilidades de modificá-lo, apresentando na voz dos idosos, os significados atribuídos para compreensão de seus corpos no mundo.  Esta pesquisa teve por objetivo compreender a percepção de corpo envelhecido na perspectiva do idoso relacionada à autoimagem na velhice. A Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty (Merleau-Ponty, 2011) foi o referencial teórico-filosófico elegido e o enfoque metodológico qualitativo utilizado teve por centralidade a análise de estrutura do fenômeno situado. Os participantes do estudo foram quatorze idosos, com 60 anos ou mais, sendo doze mulheres e dois homens, independentes quanto à classificação da capacidade funcional, em condições de verbalização, capacidade cognitiva preservada e, participantes de grupos de convivência localizados no município de Rondonópolis-MT. Para as classificações funcionais, utilizou-se o Index de Katz e Escala de Lawton e Brody e, para classificação cognitiva, o Mini Exame do Estado Mental. Os dados foram coletados entre os meses de agosto de 2015 à janeiro de 2016, por meio da realização de entrevista aberta e individual. A apreensão do fenômeno, segundo a trajetória metodológica, consistiu em três momentos: descrição, redução e compreensão fenomenológica. Para compreensão dos depoimentos, realizou-se a análise ideográfica e nomotética. O estudo foi realizado de acordo com os preceitos éticos e legais vigentes necessários à realização de pesquisas com seres humanos, determinados na Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (Brasil, 2012) e foi desenvolvido após parecer favorável, de número 1.151.093, emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Esta pesquisa é parte dos resultados da tese de doutorado intitulada “A corporeidade do idoso na dimensionalidade do viver: uma compreensão fenomenológica” desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e apoiada pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) por meio de concessão de bolsa de estudos. Dos resultados emergiu-se a categoria** Percepção de Corpo Envelhecido**, na qual revelaram-se três temas. _O corpo do idoso como objeto diante da imagem corporal_ evidenciou as alterações senescentes do envelhecimento como significação do corpo envelhecido. Ter um corpo envelhecido para o idoso, traz a percepção da velhice diante do mundo como algo difícil, pois, no pensamento ocidental o corpo está fundado na visão cartesiana do dualismo corpo/alma, corpo/mente e corpo/consciência. Demais alterações inerentes ao envelhecimento, como diminuição da força e flexibilidade muscular, alterações cognitivas, raciocínio lento e lapsos de memória também foram reveladas. As rememorações dos idosos quanto ao corpo ainda jovem, a que fenomenologicamente chamamos de corpo habitual, traz significações ao corpo envelhecido, revelando um novo modo de olhar e perceber seu corpo atual. Revelou-se que o corpo envelhecido se apresenta em desarmonia com a mente, exemplificado pelas transformações visíveis e sensíveis ocorridas no aspecto físico, em descompasso com o pensamento ativo sobre a velhice. O cansaço físico, aparecimento de doenças crônicas e outras limitações impostas pela senescência, de alguma maneira, interferem na vida do idoso e na relação com seu mundo. O tema _O corpo do idoso como sujeito da percepção_ revela um corpo que percebe, afastando a ideia de subjetividade como cogito e a ideia de corpo como objeto considerando que, para Merleau-Ponty, o sujeito da percepção é o corpo. Destaca-se o corpo ativo, participativo e que enfrenta de maneira positiva as situações adversas, vivendo com saúde, autonomia, manutenção da independência funcional e preservando habilidade cognitiva e atividades laborais na velhice. Essa percepção se faz presente por meio do esquema corporal, expressando suas subjetividade e corporeidade na velhice. O corpo envelhecido também foi revelado pela necessidade de cuidados, estes trazendo significados ao corpo envelhecido enquanto sujeitos da percepção, visto que estão situados no mundo, no tempo e espaço, por meio do esquema corporal. O tema _O corpo do idoso como ser sexuado _apresentou a afetividade expressada na velhice. O corpo do idoso foi significado como ser sexuado a partir do momento no qual põe-se a existir pelo desejo por outrem. As significações dadas aos corpos envelhecido, sejam elas de um corpo objeto, sujeito da percepção ou o corpo como ser sexuado perpassam e se integram para construir e ressignificar o corpo envelhecido no mundo. Compreender a percepção de corpo envelhecido para o idoso nos permitiu pensar o ser humano em sua autonomia e intersubjetividade, numa visão global de homem. A ampliação da consciência da corporeidade no processo de envelhecimento na perspectiva da construção da imagem corporal na velhice é relevante no atendimento ao idoso independente, pois, compreendendo melhor a vivência do outro, torna-se possível uma interação significativa com ele. Deste modo, os resultados da presente investigação promove a ampliação de espaços de diálogo que estimulem os idosos a pensar sua existência enquanto sujeitos, autores de suas histórias e significações no mundo e, a partir desta experiência, promover o encontro das necessidades de saúde, das questões sociais e culturais relacionadas ao envelhecer, fomentando, assim, a participação ativa dos idosos na sociedade, enquanto sujeitos livres e cidadãos de direitos. Acreditamos também que tal conhecimento contribui para que educadores e profissionais de saúde fundamentem estratégias interdisciplinares voltadas para o atendimento às necessidades de saúde desse segmento específico da população, a partir da compreensão da corporeidade na perspectiva da autoimagem, contribuindo para a formação acadêmica mais humanizada e oportunizando integração ensino-serviço- comunidade, visando uma assistência integral a esta fatia da população de significativa importância para a sociedade brasileira.


Referências:
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