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8090400 | A PERCEPÇÃO DE CORPO ENVELHECIDO NA PERSPECTIVA DO IDOSO: UMA COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA | Autores: Luciane Almeida ; Paulo Roberto Haidamus de Oliveira Bastos |
Resumo: O corpo é um dos temas mais discutidos na contemporaneidade, e cada vez mais
tem sido objeto de estudo nas áreas de ciências sociais, humanas e de saúde.
Diante da história do corpo humano e do movimento de sua construção e
reconstrução, sabemos que esse corpo vivencia transformações relacionadas ao
tempo, à temporalidade, e que vão além do sistema físico, biológico. Sendo
assim, independente da forma como as pessoas envelhecem, sabe-se que estão
acompanhadas de perdas somáticas e psicossociais, e estas podem levar à
diminuição do grau de satisfação com o próprio corpo, influenciando
negativamente na percepção da pessoa idosa sobre sua autoimagem. O corpo
consome a si mesmo como imagem, pela importância dada ao belo, jovem e
saudável, visto que os modelos atuais, exaltado e padronizado pela nossa
sociedade, desvalorizam o envelhecimento, não percebendo o valor social da
velhice. Diante de tais aspectos, sabe-se que historicamente, em especial no
mundo ocidental, constrói-se uma imagem do idoso que, na maioria das vezes, é
permeada por preconceitos quanto às perdas, transformação da imagem, porém, o
idoso também constrói uma imagem de si, e esta é singular, individual,
refletindo na realização da corporeidade, visto que, ela se coloca nessa
maneira de repensar o corpo. Nos utilizamos de um olhar filosófico para a
compreensão deste fenômeno, pois, acreditamos que a filosofia nos permite
interpretar o mundo de diversas maneiras, ousando buscar também possibilidades
de modificá-lo, apresentando na voz dos idosos, os significados atribuídos
para compreensão de seus corpos no mundo. Esta pesquisa teve por objetivo
compreender a percepção de corpo envelhecido na perspectiva do idoso
relacionada à autoimagem na velhice. A Fenomenologia da Percepção de Maurice
Merleau-Ponty (Merleau-Ponty, 2011) foi o referencial teórico-filosófico
elegido e o enfoque metodológico qualitativo utilizado teve por centralidade a
análise de estrutura do fenômeno situado. Os participantes do estudo foram
quatorze idosos, com 60 anos ou mais, sendo doze mulheres e dois homens,
independentes quanto à classificação da capacidade funcional, em condições de
verbalização, capacidade cognitiva preservada e, participantes de grupos de
convivência localizados no município de Rondonópolis-MT. Para as
classificações funcionais, utilizou-se o Index de Katz e Escala de Lawton e
Brody e, para classificação cognitiva, o Mini Exame do Estado Mental. Os dados
foram coletados entre os meses de agosto de 2015 à janeiro de 2016, por meio
da realização de entrevista aberta e individual. A apreensão do fenômeno,
segundo a trajetória metodológica, consistiu em três momentos: descrição,
redução e compreensão fenomenológica. Para compreensão dos depoimentos,
realizou-se a análise ideográfica e nomotética. O estudo foi realizado de
acordo com os preceitos éticos e legais vigentes necessários à realização de
pesquisas com seres humanos, determinados na Resolução 466, de 12 de dezembro
de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (Brasil, 2012) e foi desenvolvido
após parecer favorável, de número 1.151.093, emitido pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS). Esta pesquisa é parte dos resultados da tese de doutorado intitulada
“A corporeidade do idoso na dimensionalidade do viver: uma compreensão
fenomenológica” desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Saúde e
Desenvolvimento na Região Centro-Oeste, Faculdade de Medicina, Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e apoiada pela CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) por meio de concessão de bolsa
de estudos. Dos resultados emergiu-se a categoria** Percepção de Corpo
Envelhecido**, na qual revelaram-se três temas. _O corpo do idoso como objeto
diante da imagem corporal_ evidenciou as alterações senescentes do
envelhecimento como significação do corpo envelhecido. Ter um corpo
envelhecido para o idoso, traz a percepção da velhice diante do mundo como
algo difícil, pois, no pensamento ocidental o corpo está fundado na visão
cartesiana do dualismo corpo/alma, corpo/mente e corpo/consciência. Demais
alterações inerentes ao envelhecimento, como diminuição da força e
flexibilidade muscular, alterações cognitivas, raciocínio lento e lapsos de
memória também foram reveladas. As rememorações dos idosos quanto ao corpo
ainda jovem, a que fenomenologicamente chamamos de corpo habitual, traz
significações ao corpo envelhecido, revelando um novo modo de olhar e perceber
seu corpo atual. Revelou-se que o corpo envelhecido se apresenta em desarmonia
com a mente, exemplificado pelas transformações visíveis e sensíveis ocorridas
no aspecto físico, em descompasso com o pensamento ativo sobre a velhice. O
cansaço físico, aparecimento de doenças crônicas e outras limitações impostas
pela senescência, de alguma maneira, interferem na vida do idoso e na relação
com seu mundo. O tema _O corpo do idoso como sujeito da percepção_ revela um
corpo que percebe, afastando a ideia de subjetividade como cogito e a ideia de
corpo como objeto considerando que, para Merleau-Ponty, o sujeito da percepção
é o corpo. Destaca-se o corpo ativo, participativo e que enfrenta de maneira
positiva as situações adversas, vivendo com saúde, autonomia, manutenção da
independência funcional e preservando habilidade cognitiva e atividades
laborais na velhice. Essa percepção se faz presente por meio do esquema
corporal, expressando suas subjetividade e corporeidade na velhice. O corpo
envelhecido também foi revelado pela necessidade de cuidados, estes trazendo
significados ao corpo envelhecido enquanto sujeitos da percepção, visto que
estão situados no mundo, no tempo e espaço, por meio do esquema corporal. O
tema _O corpo do idoso como ser sexuado _apresentou a afetividade expressada
na velhice. O corpo do idoso foi significado como ser sexuado a partir do
momento no qual põe-se a existir pelo desejo por outrem. As significações
dadas aos corpos envelhecido, sejam elas de um corpo objeto, sujeito da
percepção ou o corpo como ser sexuado perpassam e se integram para construir e
ressignificar o corpo envelhecido no mundo. Compreender a percepção de corpo
envelhecido para o idoso nos permitiu pensar o ser humano em sua autonomia e
intersubjetividade, numa visão global de homem. A ampliação da consciência da
corporeidade no processo de envelhecimento na perspectiva da construção da
imagem corporal na velhice é relevante no atendimento ao idoso independente,
pois, compreendendo melhor a vivência do outro, torna-se possível uma
interação significativa com ele. Deste modo, os resultados da presente
investigação promove a ampliação de espaços de diálogo que estimulem os idosos
a pensar sua existência enquanto sujeitos, autores de suas histórias e
significações no mundo e, a partir desta experiência, promover o encontro das
necessidades de saúde, das questões sociais e culturais relacionadas ao
envelhecer, fomentando, assim, a participação ativa dos idosos na sociedade,
enquanto sujeitos livres e cidadãos de direitos. Acreditamos também que tal
conhecimento contribui para que educadores e profissionais de saúde
fundamentem estratégias interdisciplinares voltadas para o atendimento às
necessidades de saúde desse segmento específico da população, a partir da
compreensão da corporeidade na perspectiva da autoimagem, contribuindo para a
formação acadêmica mais humanizada e oportunizando integração ensino-serviço-
comunidade, visando uma assistência integral a esta fatia da população de
significativa importância para a sociedade brasileira.
Referências: 1. Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro ACM, Leite RCBO. A situação social do idoso no Brasil: uma breve consideração. Acta Paul Enferm. 2005;18(4):422-6. 2. Lima WG, Nunes SFL, Alvarez AM, Valcarenghi, RV, Bezerra MLR. Principais diagnósticos de enfermagem em idosos hospitalizados submetidos às cirurgias urológicas. Rev Rene. 2015 jan-fev; 16(1):72-80. 3. North American Nursing Diagnosis Association International. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificações 2015-2017. Porto Alegre: Artmed; 2014. 4. Pompeo DA, Rossi LA, Galvão CM. Revisão integrativa: etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta Paul Enferm. 2009; 22(4):434-8. Araújo DD; Carvalho RLR, Chianca TCM. Diagnósticos de enfermagem identificados em prontuários de idosos hospitalizados. Invest. educ. enferm. 2014; 32(2):. 5. Takahashi J; Saheki Y; Gardim S. O que é PICO e PICo? 2015. In: Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta”; EEUSP. Acesso: 10/05/2016. Disponível: http://www.ee.usp.br/site/. |