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7838844 | SISTEMATIZAÇÃO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA PARTURIENTES: ESTUDO DESCRITIVO DA AMBIÊNCIA NO ATENDIMENTO PERINATAL HOSPITALAR | Autores: Aldira Samantha Garrido Teixeira ; Anna Christina de Almeida Porreca ; Helen Campos Ferreira ; Stephanea Marcelle Boaventura Soares |
Resumo: Anna Christina de Almeida Porréca[1]
Helen Campos Ferreira[2]
Aldira Samantha Garrido Teixeira[3]
Stephanea Marcelle Boaventura Soares[4]
A implicação da ambiência no atendimento à mulher e família para o trabalho de
parto e parto tem sido temática atual, pois sabe-se da existência de dois
ciclos rondando tal processo: um positivo que refere ser a atitude da mulher –
aceitar, aproveitar e relaxar e outro negativo no qual ela apresenta – medo,
dor e tensão1. Considerando que cada mulher tem seu contexto sociocultural,
subjetividade e singularidade, os profissionais que dela cuidam no trabalho de
parto, parto e nascimento devem reconhecer tais premissas. Contudo, percebe-se
no cotidiano da assistência obstétrica hospitalar desvalorização da ambiência
de recepção e de bem-estar da parturiente e família. Na qualidade de
preceptora da Residência de Enfermagem Obstétrica da Universidade Federal
Fluminense REO/UFF há cinco anos, responsável pela qualificação profissional
em Centro de Parto Normal, mediando cuidados de enfermagem e sistematização
desse cuidado junto a clientela, observa-se que o preparo da ambiência e a
manutenção dela para assegurar o desenvolvimento fisiológico do parto ainda é
um desafio assistencial. Sobre esse aspecto, o Ministério da Saúde2 em 2006
lança o conceito de ambiência na saúde como o tratamento dado ao espaço físico
entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais que
deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana. Ao adotar o
conceito de ambiência para a arquitetura nos espaços da saúde, atinge-se um
avanço qualitativo no debate da humanização dos territórios de encontros do
Sistema único de Saúde, cuja compreensão vai além da composição técnica,
simples e formal dos ambientes, passando a considerar as situações que são
construídas neles e a partir deles. Essas situações se dão em determinados
espaços e num tempo, vivenciadas por uma grupalidade - um grupo de pessoas com
seus valores culturais e relações sociais. Assim, objetiva-se formar e
qualificar profissionais que valorizem a ambiência na saúde, de maneira
sistematizada. No município do Rio de Janeiro, no Estado do RJ, desde 2010 o
Projeto Cegonha Carioca vem desenvolvendo diretrizes para a enfermagem
obstétrica na busca de sistematização qualificada para a sociedade. Nessa
perspectiva, o Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, primeiro da cidade com foco
na saúde da mulher, foi inaugurado em Bangu, zona oeste do RJ, cenário da
REO/UFF atendendo mulheres de risco habitual no Centro de Parto Normal com n=
1988 partos até 2015, com 340 partos / mês, em média, sendo que 70 a 80% desse
total são atendidos por enfermeiras obstétricas. Preserva-se humanização,
singularidade e cidadania na resolutividade da atenção obstétrica no
atendimento à mulher e família, porém ainda se desafia o _habitus_
profissional no que se refere a ambiência. A maioria das mulheres teme o
parto, pois o associam a dor excessiva, solidão, abandono e submissão de seu
corpo, constrangimento e mutilação. Boa parte delas entende que é um evento
mais inseguro por causa dos mitos que envolvem tempo de trabalho de parto,
circulares de cordão, rompimento de membranas amnióticas, vendo risco de
perderem suas vidas e de seus bebês ou de não conseguirem por incapacidade de
seus corpos. Em 2008 o MS amplia o conceito de ambiência apresentando três
eixos: O espaço que visa à confortabilidade focada na privacidade e
individualidade dos sujeitos envolvidos, valorizando elementos do ambiente que
interagem com as pessoas (cor, cheiro, som, iluminação, morfologia...), e
garantindo conforto aos trabalhadores e usuários3. O que possibilita a
produção de subjetividades por meio da ação e reflexão sobre os processos de
trabalho e o usado como ferramenta facilitadora do processo de trabalho,
favorecendo a otimização de recursos, o atendimento humanizado, acolhedor e
resolutivo. O foco desse relato de experiência centra-se nesse último eixo,
compreendendo que a qualificação de enfermeiros obstétricos tem que ser
sistematizada também nesse aspecto. Inicialmente, ainda que empiricamente,
diagnosticamos quais falhas eram percebidas pela equipe que recebe a
parturiente e família: falta de acolhimento, falta de respeito à
singularidade, ausência de consenso dos aspectos atitudinais profissionais e
de ferramentas assistenciais que nos permitam distinguir as necessidades das
parturientes e família, já que a rede assistencial não tem efetiva comunicação
entre as unidades de pré-natal e a maternidade. Dessa forma, cada atendimento
é construído em relações inicias, numa empatia4 desencadeada ao longo da
assistência, num vinculo forçado para assegurar o mínimo de qualidade
assistencial. Num segundo momento, estabeleceu-se escuta ativa, adequações nas
tecnologias de cuidados que são apresentadas, construídas e consentidas e
depois experenciadas (escalda-pés; banho morno de aspersão; mobilidade
pélvica; aromas, uso de equipamentos, alimentação e hidratação, uso de óleos
essenciais, massagens...). E, finalmente, permite-se a liberdade de movimentos
e respeito ao fisiologismo da mulher e, nesse aspecto, muito se tem a
refletir: sons inadequados, atitudes violentas, desrespeito ao fisiológico
corporal, puxos dirigidos, proibições de alimentação e hidratação e abandono
ainda que momentâneo, são práticas vivenciadas por algumas mulheres. Por esse
motivo trabalha-se na qualificação profissional o sentido do nascer prazeroso
com atenção sistematizada de ações de enfermagem5. Estabeleceu-se: a luz de
penumbra, a escuta atenta, o controle do corpo biológico pelo partograma
consentido e compartilhado, o uso de equipamentos e de tecnologias de cuidados
em corresponsabilidade com a mulher e sob a compreensão do familiar, registro
continuo do desenvolvimento do parto e atitude de silencio e respeito para que
o neocortex seja liberado em sua plenitude e favoreça a parturição. Tem-se na
formação atitudes e habilidades com ênfase nos procedimentos e por esse motivo
experimentamos o raciocínio clinico de sensação, percepção, histórico da
mulher, inspeção e exame obstétrico, diagnostico de enfermagem e desfecho com
_feedbacks _em processo avaliativos formativos na formação qualificada de
profissionais. O registro dos indicadores demonstra dos partos realizados em
2015 utilizou-se penumbra em 1650 deles e, em 731 o uso da música. A
desconstrução da ambiência fria, sem significado para a parturiente e
desconfortável para seu bem-estar vem sendo alterada no processo de trabalho
com ferramentas facilitadoras de otimização de recursos e de atendimento
humanizado, acolhedor e resolutivo. Conclui-se que mesmo priorizando a atenção
humanizada há necessidade de formar e qualificar profissionais que primem pelo
acolhimento propiciando valorização da ambiência em saúde, sistematizando as
ações e analisando os indicadores de qualidade da atenção obstétrica oferecida
para assegurar cidadania, subjetividade e singularidade.
Descritores: Parto humanizado; salas de partos; ambiente de Trabalho
[1] Enfermeira, Especialista em Enfermagem Obstétrica, discente do Mestrado
Profissional em Ensino em Saúde, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso
Costa da Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ e-mail:
[annaporreca@hotmail.com](mailto:annaporreca@hotmail.com).
[2]Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Coordenadora da Residência em Enfermagem
Obstétrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade
Federal Fluminense e Docente do Mestrado Profissional em Ensino em Saúde,
Niterói/RJ.
[3] Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Subcoordenadora da Residência em
Enfermagem Obstétrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da
Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ.
[4] Enfermeira, Especialista em Enfermagem Obstétrica, discente do Mestrado
Profissional em Ensino em Saúde, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso
Costa da Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ
Referências: Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. e-SUS AB Atenção Básica: Sistema com Coleta de Dados Simplificada: CDS. Brasília, DF: Editora do Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 marc. 2018 |