E-Pôster
7815214 | Estudantes de graduação em enfermagem e a ocorrência de Sofrimento Moral | Autores: Edison Barlem ; Simoní Saraiva Bordignon ; Jamila Geri Tomaschewski Barlem |
Resumo: **Introdução **O sofrimento moral (SM) em estudantes ocorre quando não exercem sua autonomia, declinando da resolução de um problema moral, devido à sua posição hierárquica e à preocupação com as avaliações docentes. Dessa forma, é relevante explicitar que os estudantes enfrentam problemas morais próprios no ambiente de formação em que estão inseridos, podendo revelar o enfrentamento de circunstâncias dúbias relacionadas ao exercício da autonomia, da ética e da moral. Nessa perspectiva, elucidar as situações que causam SM nos estudantes de graduação em enfermagem, nos ambientes de formação, poderá fornecer uma descrição das fragilidades universitárias e refletir diretamente na defesa e valorização do próprio estudante, como na qualificação da sua formação. Os estudantes, do mesmo modo que profissionais enfermeiros, ao testemunharem circunstâncias de prestação de cuidados e comportamentos antiéticos, incompatíveis com seus valores, princípios e padrões aprendidos durante sua formação acadêmica, percebem o SM, validando e justificando a necessidade de investigar sua ocorrência em outras configurações, como a academia. **Objetivos: **Analisar o sofrimento moral e sua relação com variáveis sociodemográficas e acadêmicas, em estudantes de graduação em enfermagem de diferentes universidades do Brasil**. Método**: Trata-se de um estudo quantitativo com delineamento transversal. A amostra foi constituída por 499 estudantes, submetidos à aplicação da Escala de Sofrimento Moral para Estudantes de Enfermagem (ESMEE). O estudo foi realizado em três universidades localizadas no Brasil – Dois cursos pertencem a universidades públicas, e um a uma universidade privada. Os participantes desse estudo foram estudantes de cursos de graduação em enfermagem, de três universidades brasileiras, matriculados da primeira à última série. Os critérios para a inclusão dos participantes se restringiram a ser estudante do curso de graduação em enfermagem das universidades selecionadas, ter disponibilidade e interesse em responder ao instrumento. A coleta de dados foi realizada no período de 1 de novembro a 20 de dezembro de 2015, por meio de visitas às diferentes turmas dos cursos de graduação em enfermagem das universidades selecionadas. A ESMEE foi validada previamente contendo 41 itens, apresentando duas escalas Likert de sete pontos, uma medindo a intensidade de SM, a qual variava de 0 (nenhum) a 6 (para sofrimento muito intenso), e a outra medindo a frequência com que as situações que geram SM ocorrem, a qual variou de 0 (nunca) a 6 (frequente). Em relação à caracterização da amostra, foram inseridos, na página inicial do instrumento, itens para preenchimento do estudante, relativos à universidade; semestre/série atual; sexo; idade; estado civil; reprovação anterior; ano de ingresso no curso; formação anterior; atividade remunerada. O instrumento apresentava, também, na página inicial, um texto introdutório, onde era explicitada a definição de SM e a forma de preenchimento. Os seis constructos obtidos correspondem a diferentes situações que o estudante de enfermagem pode vivenciar no ambiente de formação acadêmica e que podem gerar SM, sendo: C1-Comprometimento da dimensão ética do cuidado ao usuário, C2-Condições institucionais inadequadas para o ensino do cuidado ao usuário C3-Práticas docentes autoritárias, C4-Falta de competência do docente, C5-Desrespeito à dimensão ética da formação profissional e C6-Opção profissional. A análise dos dados foi realizada a partir do software estatístico SPSS (_Statistical Package for Social Sciences_) versão 22.0. Os resultados referentes à amostra estudada foram submetidos a diferentes tipos de análises: estatística descritiva e teste de associação. **Resultados: **A amostra foi constituída por 499 estudantes de enfermagem: 384 de universidades públicas e 115 de universidade privada; 232 estudantes estavam matriculados entre o sexto e o décimo semestre, 56,3% nunca reprovou em alguma disciplina e 57,7% ingressou no curso nos últimos três anos. Dentre os estudantes, 440 (88,2%) eram do sexo feminino. Com relação à idade, obteve-se uma média correspondente a 24,8 anos, variando entre 17 e 60 anos, sendo 22 anos a moda de idade entre os participantes. A maioria dos acadêmicos era solteira, 387 (77,6%). Verificou-se também que a maioria dos estudantes afirmava não trabalhar 389 (78%) e, do restante, (13,4%) relatavam trabalhar na área da saúde. Ainda, 110 estudantes (22%) referiram ter formação anterior e desses 99 (19,8%) como técnicos/auxiliares de enfermagem. Do teste de associação realizado, algumas correlações importantes foram identificadas, com índice de significância ao nível de 5%. Através do Teste T, buscando encontrar diferenças significativas entre os grupos de dados, verificou-se que os estudantes com menos de 25 anos de idade apresentam correlações significativas entre SM e o constructo C6-Opção profissional. Já os estudantes das séries finais identificaram maiores média de SM em geral e em cinco constructos, exceto o constructo C6. Em relação à formação anterior, os estudantes que eram técnicos de enfermagem apresentaram menor nível de SM geral e em dois constructos: C1-Comprometimento da dimensão ética do cuidado ao usuário e C3-Práticas docentes autoritárias, em relação aos estudantes que tinham formações prévias em outras áreas. Ainda, os estudantes que reprovaram, uma ou mais vezes, apresentaram índices maiores de intensidade de SM em dois constructos: C3-Práticas docentes autoritárias e C6-Opção profissional, comparados aos estudantes que nunca reprovaram. **Conclusão**: Os estudantes de graduação em enfermagem, de três universidades brasileiras, referiram uma maior média de SM no constructo C2- _Condições institucionais inadequadas para o ensino do cuidado ao usuário._ Ainda os estudantes que referiram maiores níveis de SM tiveram como características demográficas e acadêmicas estarem matriculados nas séries finais do curso, não terem como formação anterior o curso auxiliar/técnico de enfermagem, e estarem matriculados em uma universidade federal. Em relação aos constructos que podem gerar SM no ambiente acadêmico, o_ Comprometimento da dimensão ética do cuidado ao usuário _foi destacado por estudantes das séries finais da graduação em enfermagem e que não tinham como formação anterior auxiliar/técnico de enfermagem maior SM. O constructo_ Práticas docentes autoritárias_ obteve relação significativa também com estudantes que reprovaram uma ou mais vezes; _Condições institucionais inadequadas para o ensino do cuidado ao usuário e Falta de competência do docente _obtiveram maior correlação entre estudantes das séries finais e de universidades federais; no constructo _Desrespeito à dimensão ética da formação profissional,_os estudantes das séries finais da graduação em enfermagem evidenciaram maiores médias de SM; assim como no constructo _Opção profissional,_ por estudantes com menos de 25 anos, que reprovaram uma ou mais vezes e matriculados em universidades federais. **Contribuições/implicações para a Enfermagem **Nesse contexto, é possível concluir que, ao problematizar situações que geram SM no âmbito acadêmico, demonstra-se preocupação com o futuro da profissão enfermagem, uma vez que os estudantes de enfermagem representam esse futuro. Assim, atentar, valorizar e discutir problemas e conflitos éticos e morais, percebidos no período de graduação acadêmica, é uma oportunidade de criar alternativas para mudanças necessárias, como o enfrentamento do SM, condizente com uma atuação crítica e ativa da profissão enfermagem, comprometida com uma realidade educacional e de saúde norteada pelo respeito à vida dos usuários, estudantes e profissionais.
Referências: RABELO, Lísia; GARCIA, Vera Lúcia. Role-Play para o Desenvolvimento de Habilidades de Comunicação e relacionais. Revista Brasileira de Educação Médica. n. 39, v. 4, p.586 – 596; 2015. Disponível em: |