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7147131 | ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E GESTÃO DO CUIDADO A PACIENTES COM VENTILAÇÃO MECÂNICA: DESAFIOS DOS ESTUDANTES FRENTE A ESSA REALIDADE | Autores: Amanda Santos Cabral ; Charles Alberto Teixeira Filho ; Sabrina Regina Martins ; Camila Vicente ; Neide da Silva Knihs |
Resumo: **Introdução: **O suporte ventilatório caracteriza-se por um método de ofertar a substituição total ou parcial da ventilação pulmonar através de um ventilador mecânico. Tal suporte é indicado para pacientes com deficiência na troca de gases efetiva e/ou na ventilação pulmonar, causadas por traumas, patologias que acometem o pulmão, coração ou após cirurgias de grande porte. O enfermeiro como profissional de saúde é responsável por elaborar intervenções que almejem a melhoria das funções corporais do paciente, o que inclui identificar, diagnosticar e interver em prol de uma ventilação pulmonar adequada e uma troca de gases eficaz. Por esse motivo, espera-se que tal profissional esteja constantemente à beira do leito do paciente grave, avaliando-o, a fim de identificar precocemente alterações na sua condição clínica e interver para evitar complicações (1). Um estudo australiano, prospectivo, de corte, com duração de três meses e que visava revelar a atuação de enfermeiros intensivistas na gestão da ventilação mecânica (VM), revelou que de 3.986 ajustes realizados em ventiladores mecânicos, 67% foram feitos por enfermeiros. O estudo teve como amostra 474 pacientes admitidos nas unidades de terapia intensiva de um hospital escola australiano e revelou ainda que os enfermeiros realizavam ajustes de volume corrente (VC), fração de oxigênio inspirada (FiO2), pressão inspiratória, frequência respiratória (FR), tempo inspiratório e fluxo inspiratório (2). No Brasil, a realidade vivenciada pelo profissional enfermeiro é outra. Um estudo desenvolvido em nosso país, o qual tinha como objetivo identificar o conhecimento de enfermeiros sobre a ventilação mecânica, concluiu que existia um distanciamento desse profissional da VM, associado a falta de conhecimento e ao fato da VM estar sendo conduzida por outros profissionais, como médicos e fisioterapeutas (3). **Objetivo: **Relatar a experiência de estudantes de enfermagem na assistência de enfermagem e na gestão e monitorização da VM durante atividades práticas no estágio supervisionado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital do sul do Brasil. **Descrição metodológica: **O estágio supervisionado II, etapa obrigatória para a conclusão do curso de graduação em enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina, conta com uma carga horária de 486h, sendo 60% dessa carga horária cumprida pelo estudante em ambientes hospitalares de clínica médico-cirúrgica e 40% em setores hospitalares de livre escolha do estudante. O objetivo do estágio supervisionado é preparar o estudante para a vida profissional, inserindo-o em uma realidade de saúde e estando sob supervisão direta de um enfermeiro supervisor. As atividades desenvolvidas incluem a aplicação do processo de enfermagem nos pacientes admitidos no serviço, a realização de procedimentos técnicos privativos e não privativos do enfermeiro, avaliação do cuidado de enfermagem e ações de administração e de gestão do serviço escolhido. O grupo em questão, composto por quatro alunos, optou por realizar sua carga horária de 40% em uma UTI de um hospital universitário do sul do país. A unidade admite pacientes de pós-operatório imediato de grandes cirurgias, grandes queimados e pacientes com descompensação clínica de um ou mais sistemas, tais como choque, sepse e insuficiência respiratória. O estágio compreendeu um total de 196h para cada um dos quatro estudantes. Durante a vivência, uma das atividades que compreendeu o estágio foi a monitorização da mecânica respiratória e troca da gasosa dos pacientes sob VM, realizada através da gasometria arterial diária e pelo registro da modalidade ventilatória e seus parâmetros em uma folha de registro específica do serviço. Contudo, durante o período de estágio, foi possível perceber que essa atividade acabava por ser realizada pelo profissional da fisioterapia e secundariamente aos médicos, distanciando os enfermeiros dessa decisão. Sabe-se que a VM é uma tecnologia complexa e que exige atuação multiprofissional para benefícios do paciente, sendo essa uma atividade de fundamental importância no cenário da assistência de enfermagem a pacientes críticos. O enfermeiro como agente dessa assistência e como gestor desse cuidado à beira do leito deve tornar esse ajuste como cuidado em seu plano de trabalho diário, pois é o primeiro a chegar até o paciente e identificar complicações reais ou potenciais no paciente. Nesse contexto, os acadêmicos optaram por realizarem um acompanhamento mais próximo dos pacientes mecanicamente ventilados. Para isso, o grupo de estudantes decidiu realizar rondas de monitoramento a cada duas ou quatro horas (dependendo da gravidade do cliente) em todos os pacientes mecanicamente ventilados. Durante as rondas os estudantes avaliavam o VC, o pico de pressão inspiratória realizada pelo paciente, a comparação da FiO2 programada com a saturação de oxigênio obtida pela oximetria de dedo e a realização de esforço respiratório pelo paciente. Além das rondas, os estudantes diariamente obtinham os valores de pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e a pressão parcial de gás carbônico arterial (PaCO2). Com esses dados em mão eram calculadas as relações PaO2/FiO2 e PaCO2/FR para se chegar aos valores de FiO2 e FR ideais para os pacientes em uso de VM. **Resultados: **Durante as rondas realizadas pelos estudantes foi possível observar que os pacientes muitas vezes encontravam-se assincronicos com o ventilador ou com seus parâmetros ajustados inadequadamente. Muitos pacientes realizavam ciclos espontâneos diferentes ao longo do dia, que estavam associados com o aumento ou diminuição da sedação ou períodos de sono e repouso, portanto, o seu esforço respiratório era diferente alterando o VC realizado ao longo do dia para mais ou menos do que seria ideal para o paciente. No ajuste da FiO2, diversas vezes foram encontrados pacientes que estavam com a FiO2 em valores maiores do que necessário, observados pela oximetria de pulso, onde mantinham 100% e na relação PaO2/FiO2 calculada através das gasometrias arteriais. Já as pressões inspiratórias nos pacientes ventilados a pressão quase sempre estavam inadequadas, mostrando-se elevada e gerando um VC muito maior do que o paciente precisava de acordo com seu peso predito e a PaCO2 observada na gasometria arterial. **Conclusão: **A experiência vivenciada pelos estudantes mostrou que o enfermeiro é o primeiro a chegar à beira do leito e identificar complicações e alterações no quadro do paciente grave. Dessa forma, fica visível a importância do enfermeiro em compreender o funcionamento da VM no organismo e a conquista de autonomia para ajustar o ventilador em prol de melhores resultados em saúde. Quando o enfermeiro negligencia a VM, deixando-a apenas sob responsabilidade de fisioterapeutas e médicos, o paciente será prejudicado, pois uma VM mal programada leva a assincronias ventilador-pacientes, barotraumas causados por excesso de VC e/ou pressão inspiratória e toxicidade por excesso de oxigênio. Tais complicações apresentadas podem prolongar o tempo de VM, dificultar o desmame e, consequentemente, aumentar os custos hospitalares, devido à maior permanência na UTI. **Implicações para enfermagem: **A vivência dos estudantes permitiu apontar uma lacuna na prática de enfermagem nos ambientes de cuidados intensivos. Evidenciou-se após a experiência que os pacientes críticos modificam sua condição a todo o momento, necessitando de profissionais capacitados a identificarem e manejarem essas circunstâncias. O enfermeiro, como profissional que detém esses conhecimentos torna-se um importante protagonista na monitorização e gestão da VM, porém, é fundamental que este obtenha conhecimentos sobre esta temática para aplicar na prática clínica. Além disto, de todos os profissionais da saúde o enfermeiro é o que está mais próximo do paciente, possibilitando uma avaliação efetiva que prevenirá danos aos pacientes.
Referências: 1- Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Aaltman DG, The PRISMA Group. Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. Traduzido por: Taís Freire Galvão e Thais de Souza Andrade Pansani; retro-traduzido por: David Harrad. Epidemiol. Serv. Saúde, 335 Brasília, 24(2): abr-jun 2015. Disponível em: www.prisma-statement.org.
2- Ganong LH. Integrative Review of Nursing Research. Res Nursing Health, 1987. Febr; 10(1):1-11
3- Camargo RAA, Gonçalves AE, Góes FSN, Nakata CY. Peireira, MCA. Avaliação da formação do técnico de enfermagem por enfermeiros da prática hospitalar. Rev Min Enferm. 2015. out/dez; 19(4): 951-957.
4- Kletemberg DF, Vieira M, Bertocini JH, Padilha MI, Borenstein MS. O fascínio da ciência na área da Saúde (1960-1990). In: Padilha, M.I.; Borenstein, M.S.; Santos, I. (Org.) Enfermagem: história de uma profissão. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2011. (p.295-334)
5- Duarte CG, Lunard VL, Silveira RS, Barlem ELD, Dalmolin GL. Sofrimento moral do enfermeiro docente de cursos técnicos em enfermagem. Rev Bras Enferm [Internet]. 2017;70(2):301-7. DOI: http://dx.doi.org/ 10.1590/0034-7167-2016-0185. |