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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 7033798

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7033798

A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM COMO ESTRATÉGIA DE CONSOLIDAÇÃO DE COMPETÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM

Autores:
Ricardo Otávio Maia Gusmão

Resumo:
**Introdução:** O processo social e complexo da Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) tem impactado em uma profunda transformação na prática dos cuidados em saúde mental e na formação profissional em enfermagem. Essas transformações direcionam para modificações na concepção do processo saúde-adoecimento, no modelo teórico e técnico-assistencial que são referenciais para as práticas dos profissionais; na reorientação do arcabouço jurídico e universo de práticas e valores culturais na saúde mental(1). As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem não definem as competências em saúde mental, sendo esta função das Escolas por intermédio dos Projetos Políticos Pedagógicos. No Brasil, não há consenso sobre a regulamentação de competências específicas do enfermeiro especialista em saúde mental. Como resultado, há ausência de delimitação das competências, o que dificulta a prática profissional de enfermagem no campo(2). Existe, no entanto, certa concordância dos docentes de enfermagem em saúde mental de que o ensino deva ser orientado pelos princípios da RPB(2).  Além disso, mais que uma especialidade, a enfermagem de saúde mental é também um conhecimento indispensável ao enfermeiro generalista. Assim, como estratégia para a formação profissional em enfermagem, no campo da saúde mental, tem-se o desafio de consolidar a RPB. A formulação da proposta de formação profissional em saúde mental deve considerar o redirecionamento das práticas e efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde; a integralidade da atenção como elemento fundamental do cuidado; e a construção de uma práxis crítica que atue considerando a complexidade do processo de trabalho(1). As ações de enfermagem em saúde mental estão inseridas num contexto complexo que demandam competências específicas. A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), por meio da implementação do Processo de Enfermagem (PE) é um recurso importante para identificação dos fenômenos de interesse da prática profissional em busca da Reabilitação Psicossocial. Assim, condizente com as políticas públicas, evidencia-se a indispensabilidade que na formação profissional em enfermagem haja o desenvolvimento de competências específicas de enfermagem em saúde mental. De modo que, estas competências com base na SAE devam ser, um aspecto relevante na formação profissional de enfermagem(2). **Objetivo: **Relatar a experiência de um docente da disciplina enfermagem em saúde mental acerca da SAE e implementação do PE como estratégia de consolidação de competências da área na formação profissional em enfermagem na saúde mental. **Descrição Metodológica: **Trata-se de um estudo descritivo na modalidade de relato de experiência. A experiência a ser relata aconteceu no segundo semestre de 2017, sendo parte integrante das atividades de ensino desenvolvidas por um docente na disciplina de enfermagem em saúde mental no 5° período do curso de graduação em enfermagem de uma Universidade de Minas Gerais. A atividade constituiu-se de 25 horas/aulas práticas, realizadas em cinco encontros na Atenção Primária à Saúde (APS). A atividade englobava a realização de reunião entre docente, discentes e profissionais da equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) para identificação e estratificação de casos de sofrimento e transtornos mentais do território. A seguir, os casos identificados como prioritários foram alvo de consulta de enfermagem durante as atividades práticas. E por fim, a participação no matriciamento em saúde mental para construção dos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS).  **Resultados:** No momento inicial, foi retomado o diagnóstico local do território e seus dados epidemiológicos. Através da análise da Ficha-B de saúde mental, os casos identificados pela equipe foram discutidos e estratificados em transtornos mentais comuns, graves severos e persistentes, orgânicos, usuários vulneráveis socialmente, usuários de álcool e drogas em situação de risco. Após a identificação prévia dos casos, os usuários foram agendados para consulta de enfermagem. Aos impossibilitados de ir ao serviço, as visitas domiciliares foram agendadas para a realização das consultas. Em relação a SAE e implementação do PE no contexto da prática em saúde mental na APS, optou-se pela teoria das Relações Interpessoais de Enfermagem de Hildegard Peplau, cujo foco é o estabelecimento do Relacionamento Terapêutico (RT). O RT resulta de uma série de interações planejadas e elaboradas em conjunto com o cliente e sua família considerando-os como sujeitos ativos do processo, com foco em suas necessidades e singularidades e não na doença. Seguiu-se as etapas do PE, apoiando a prática clínica na escuta e comunicação terapêutica. Para a primeira etapa do PE, consulta de enfermagem, elaborou-se um instrumento, sustentado pela teoria das Relações Interpessoais de Enfermagem, em que três sistemas foram contemplados, além de anamnese e exame clínico completo. O sistema pessoal (dados demográficos, motivo pela procura do serviço, crescimento e o desenvolvimento, visão de si e percepção do estado de saúde atual). O sistema interpessoal (informações sobre tratamento terapêutico realizado, atividades preferidas; padrões de comunicação e socialização; exame das funções psíquicas, história de vida e do sofrimento). Por fim, o sistema social (a interação do usuário com a família e comunidade, com quem reside, relacionamentos interpessoais e atividades cotidianas). No desenvolvimento das etapas de diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem, classificações / taxonomias de enfermagem podem ser utilizadas. Em relação a classificação / taxonomia de enfermagem, optou-se pela Classificação Internacional da Prática de Enfermagem (CIPE). Após a realização das consultas de enfermagem, o terceiro momento consistiu-se na participação do matriciamento em saúde mental. O apoio matricial em saúde mental consiste na atuação interdisciplinar do campo psicossocial com enfoque nas diferentes áreas da saúde. Na realidade da prática, ocorreu a participação nas reuniões entre os profissionais da ESF e especialistas da Saúde Mental (psiquiatria, psicologia e enfermeiro da saúde mental) para discussão dos casos atendidos, construção do PTS e sua implementação. **Conclusão: **A atividade de ensino foca no desenvolvimento de competências específicas de enfermagem em saúde mental, na integração ensino-serviço-comunidade como estratégia para a formação profissional em enfermagem e consolidação da SAE. Para o ensino de saúde mental operar as transformações apontadas pela RPB é necessário realizar rupturas com o modelo hegemônico em saúde, atuando no modelo de promoção em saúde e modelo psicossocial, sendo a APS o cenário ideal para constituição de novas competências. A competência para atuar mediante uma clínica ampliada foi realizada centrando-se as ações nas necessidades dos sujeitos por intermédio dos relacionamentos terapêuticos estabelecidos por meio da escuta terapêutica e implementação do PE. Mediante o uso da CIPE, evidenciou-se a construção de competências específicas de enfermagem e sua valorização enquanto ciência. Por meio do apoio matricial em saúde mental, foi possível desenvolver competências do trabalho em equipe e interdisciplinar contribuindo para ampliação da clínica. **Contribuições/ implicações para a enfermagem**: Acredita-se que este estudo poderá colaborar para a formação profissional em enfermagem produzindo reflexão da SAE, por meio da implementação do PE, como estratégia de consolidação de competências em saúde mental, já que há uma carência de estudos sobre a temática.


Referências:
1. Ximenes VL, Nery SI. Nomenclatura de diagnóstico e intervenções de enfermagem pela CIPE em consulta ambulatorial ás puérperas. Revista Interdisciplinar UNINOVAFAPI. 2012; 5(3): 71-76. 2. Vieira F, Bachion MM, Salge AKM, Munari DB. Diagnóstico de enfermagem da Nanda no período pós-parto imediato e tardio. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010; 14(1): 83-9. 3. Herdman T. (Org.). Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2015-2017. Porto Alegre: Artmed, 2015.