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6713127 | ATRIBUIÇÕES DO PRECEPTOR NO CONTEXTO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA E COMUNIDADE | Autores: Lucilene Gama Paes ; Tatiane Pereira de Souza |
Resumo: **Introdução: **O Sistema Único de Saúde (SUS), desde a sua constituição, assume a competência de ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde, no caminho de um novo modelo tecnoassistencial, buscando romper com a atenção curativa, a segregação em especialidades e centralização do cuidado no âmbito hospitalar. Nesta perspectiva de mudança do perfil dos trabalhadores do SUS, instituiu-se os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (RMS), cujo objetivo principal é oportunizar na pratica, para profissionais já graduados, a busca de novos conhecimentos e a reflexão sobre o fazer. Esse processo é guiado pela figura do preceptor, trabalhador do SUS, que agora assume mais essa importante função pedagógica. Dessa forma, questiona-se: como agregar a função de preceptor em meio a todas outras responsabilidades do serviço? Como conciliar isso? Quais métodos utilizar? Como me portar diante do residente? Qual será exatamente a minha função? **Objetivos: **Elencar atribuições do preceptor no contexto de ensino-serviço na Atenção Primária em Saúde (APS). **Descrição metodológica: **Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, guiada pelas nossas dúvidas enquanto trabalhadoras do SUS e preceptoras de enfermagem. Para tal, realizou-se uma pesquisa nas bases de dados, Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Incluíram-se artigos no idioma português e inglês, publicados entre os anos 1991 e 2015, que abordaram a temática da preceptoria na Residência Multiprofissional em Saúde da Família na APS e em outros serviços de saúde. **Resultados: **Identificou-se que umas das primeiras atribuições do preceptor é a de intermediar a inserção e socialização dos residentes no ambiente de trabalho, é ele quem vai apresentar o local e as pessoas que integrarão o processo de trabalho do residente. Além disso, constatou-se que ensinar, orientar, dar suporte, desenvolver habilidades práticas e compartilhar experiências, incluem-se como atribuições para a preceptoria1. O preceptor tem o papel de estreitar a distância entre a teoria e a prática, onde o profissional mais experiente, auxilia o residente a adquirir as competências necessárias para aquela especialidade. Tem um papel de professor, mesmo sem a formação para tal2. Nesta função, evidencia-se a necessidade de estabelecer relações pedagógicas, que conduzam a aprendizagem prática do residente. Espera-se que a relação entre o preceptor e residente seja horizontal, que o ato de pensar e de construir hipóteses seja estimulado, desvelando-se nesta relação, a importância do trabalho coletivo3. Neste sentido, é importante estar aberto, valorizando o que o residente traz enquanto conhecimento teórico, considerando sua bagagem pregressa A relação se horizontaliza quando o preceptor não é nem pretende ser a voz da verdade, o que abre espaço para o desenvolver de críticas de forma amorosa e cuidadora, mas de forma efetiva, considerando os aspectos trazidos pelo residente, possibilitando o reconhecimento crítico do seu próprio aprendizado. Na perspectiva de construção do conhecimento no coletivo, não se deve esperar que o residente memorize conceitos em saúde, mas que desenvolva a capacidade de acessar as informações certas para cada situação. Ao preceptor não é exigido o conhecimento total, mas sim promover espaços para a busca do conhecimento, sempre apoiando o caminho do residente, andando lado a lado, como um facilitador. Levando em consideração que o preceptor também é entendido como professor, que por sua vez também é entendido como mestre, podemos citar algumas características deste último: o genuíno mestre consiste em permitir que o discente chegue a tornar-se “o que ele é”, que possa desenvolver a sua autonomia, as suas tendências mais singulares4. Ser Preceptor quer dizer ser modelo, mas não o único molde. Cada um deve ser estimulado a encontrar o seu próprio caminho, sua própria forma de desempenhar sua função, de acordo com os princípios da sua profissão. Um formador, nesta perspectiva, é um modelo de ética, de estética, de política, de seriedade frente ao conhecimento científico e da cultura em geral. É, também, um modelo prático de didática e de profícua performance técnico-pedagógica. Mais, paradoxalmente, um modelo para ser superado, não para ser copiado. Como corolários teriam discípulos que poderão ultrapassar a última “tentação” que consiste em sujeitar-se ao preceptor, imitá-lo e tentar copiar as suas atitudes, adotar piamente as suas teorias, tomando esse mestre como um espelho, como modelo rígido com o qual irão mimetizar-se. Por essas razões, ao encontrar um mestre tão singular, cada residente, irá perdê-lo, abandoná-lo. Por isso, “formar” não consiste apenas em capacitar de forma fria e técnica: transmitir conteúdos, ministrar aulas e lançar notas4. Um genuíno mestre é o que promove encontro educativo, em que se torna possível pensar sobre a existência, a cultura, sobre aquilo que é essencial: o acolhimento e cuidado do outro, gerando sempre novos pensares e sentires, de forma conjunta. É preciso entender que o conhecimento está sempre em construção e em questionamento, sem a perspectiva de verdades absolutas, tanto para o preceptor quanto para o residente. A dúvida sobre a prática é sempre o ponto de partida para a aprendizagem, e sua resolução consiste em processo criativo, produzido pela relação residente – usuário - preceptor, considerando a co-produção da saúde e sua compreensão e desconstruindo a disjunção objeto-sujeito3. Distancia-se desta forma do modelo onde o residente atua no considerado trabalho físico e repetitivo, e o preceptor ao trabalho intelectual e de reflexão. **Conclusão: **Entendemos que o “ser modelo” é grande parte da função de preceptor, e talvez a mais difícil. Além disso, aproximar o residente do mundo real, onde as dificuldades do trabalho são efetivamente vivenciadas, seguindo uma postura ética e científica, orientá-lo a pensar no sujeito na sua singularidade, inserido numa sociedade, numa família que constantemente vivencia desencontros, manter um sentimento de empatia e responsabilidade social. Tudo isso, tendo o preceptor como referencia, aliado as estratégias de ensino e oportunidades que o serviço proporciona faz do preceptor não a “imagem-objetivo”, mas sim um modelo a ser superado pelo residente. **Contribuições/Implicações para Enfermagem: **Um preceptor consciente da sua responsabilidade quanto à formação de novos profissionais, munido de recursos adequados, promove o fortalecimento da Enfermagem, formando profissionais com maior consciência do seu papel frente as necessidades de saúde do território, visando melhor cuidado ao usuário, bem como profissionais com maior autonomia clinica e um atendimento mais resolutivo.
Referências: 1. Backes DS, Schwartz E. Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem: desafios e conquistas do ponto de vista gerencial. Rev. Ciência, Cuidado e Saúde, 2005 maio/ago; 4(2):182-8.
2. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM. RESOLUÇÃO. COFEN – 358/2009: Sistematização da Assistência de Enfermagem e a Implementação do Processo de Enfermagem. Brasília: Copyright, 2009.
3. Marinelli NP, Silva ARA, Silva DNO. Sistematização da Assistência de Enfermagem.Revista Enfermagem Contemporânea. 2015 Jul./Dez; 4(2):254-63.
4. Ferreira EB, Pereira MS, Souza ACS, Almeida CCOF, Taleb AC. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva para a autonomia profissional. Rev. Reme. 2016 jan-fev;17(1):86-92. |