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6219787 | PSICODINÂMICA DO TRABALHO NA INVESTIGACÃO DO TRABALHO DA ENFERMAGEM EM SERVIÇOS DE MEDICINA NUCLEAR | Autores: Francine Gelbcke ; Franciele Vargas ; Gerusa Ribeiro ; Andrea Huhn ; Juliana Almeida Coelho de Melo |
Resumo: **Introdução:** A Medicina Nuclear (MN) é uma área da radiologia que utiliza fontes emissoras de radiação ionizante não seladas, essencial no diagnóstico e terapia de diversas patologias**1**, o qual é um campo de trabalho já estabelecido para os profissionais da enfermagem. **Objetivo:** Compreender a organização e o processo de trabalho da enfermagem em serviços de medicina nuclear (SMN) utilizando os preceitos da psicodinâmica do trabalho (PT). A PT, desenvolvida por Dejours, busca compreender a relação subjetiva do trabalhador com o trabalho. **Descrição metodológica:** Trata-se de pesquisa qualitativa fundamentada teoricamente e metodologicamente pela PT de Dejours**2**, a qual seguiu todas as etapas estipuladas pela literatura específica da área. A pesquisa foi realizada em dois serviços de medicina nuclear localizados no sul do Brasil, sendo um serviço público com vínculo estadual e outro totalmente privado. Os sujeitos pesquisados foram todos os profissionais ativos nos dois serviços no período de realização da pesquisa, compondo uma amostra de 12 profissionais, dos quais 03 são enfermeiros e 09 são técnicos em enfermagem. A amostra compreende o coletivo de trabalhadores _ad hoc_, que vivenciam juntos o processo de trabalho, composta pelo coletivo homogêneo (em relação à categoria profissional) e pelo coletivo heterogêneo (quanto à organização do trabalho). A coleta dos dados aconteceu por meio da observação não participante em todos os turnos de trabalho, entrevistas individuais e entrevistas coletivas, essas com temas emergentes das observações e entrevistas individuais. Para tratamento e análise dos dados utilizou-se a técnica do discurso do sujeito coletivo (DSC), que busca reconstruir um único discurso que contemple a representação coletiva sobre determinado fenômeno. Os dados foram organizados e interpretados com o auxílio do software QualiQuantSoft®. **Resultados: **Foram apresentados em três categorias: “Contexto dos serviços de medicina nuclear”, “Processo de trabalho da enfermagem em MN” e “Trabalho real e prescrito nos serviços de MN”. A força de trabalho da enfermagem em serviços de medicina nuclear mostra-se majoritariamente feminina, com carga horaria distinta entre os dois serviços, sendo que no serviço público os profissionais trabalham com carga horária de 24 horas semanais em respeito a lei dos profissionais das técnicas radiológicas, mesmo que não exista uma legislação que trate da redução da carga horária dos profissionais da enfermagem que atuam em serviços onde há exposição à radiação ionizante na sua práxis1. Os dois serviços possuem a figura do enfermeiro gestor, que possui funções de planejamento, organização e supervisão das atividades de enfermagem, porém, muitas vezes estes profissionais precisam realizar ações assistenciais. A inexistência de um posto de enfermagem nos locais de pesquisa é um ponto relevante e que acaba prejudicando o desenvolvimento das ações dos profissionais. Além disso, não há uma hierarquização bem definida, de forma que os técnicos em enfermagem realizam suas funções seguindo as orientações dos médicos, enfermeiros e profissionais da radiologia, tornando seu trabalho mecanizado e faltando-lhe espaço para refletir sobre sua prática no SMN. Evidenciou-se um ponto importante sobre ações de cuidado da enfermagem a assistência prestada aos pacientes, estes que são os principais indicadores da profissão. Essa é uma questão bastante relevante na prática da MN, já que o paciente torna-se a fonte emissora de radiação ionizante, portanto, o profissional deve direcionar os cuidados prestados em vista da proteção radiológica, sem, no entanto, abster-se da atenção e cuidado com o mesmo. Neste contexto, o profissional da enfermagem precisa realizar adaptações no seu processo de trabalho. A organização do trabalho da enfermagem nos SMN inclui a gestão da agenda, a orientação ao paciente, a punção e ingestão do radiofármaco, a liberação do paciente, a orientação e o monitoramento pós procedimento3. Estas atribuições demonstram a importância da enfermagem nos SMN, ao mesmo tempo em que visualiza-se, na prática dos serviços, a fragmentação do processo de trabalho da enfermagem, visto que nem sempre o profissional que dá início ao atendimento é o mesmo que o finaliza, dificultando a integralidade do cuidado com o paciente, outro princípio importante para a profissão. **Conclusão:** A pesquisa constatou a falta de treinamento dos profissionais, mesmo havendo a obrigatoriedade deste, por parte dos serviços, pautada na legislação. Dessa forma, os profissionais precisam aprender na prática como se desenvolve o processo de trabalho. Da mesma forma, as prescrições que englobam o trabalho em MN são bastante rigorosas em nome da segurança do trabalhador, porém, existe a dificuldade de se alcançar a qualidade respeitando escrupulosamente o que é prescrito, fazendo-se necessário criar uma adaptação no processo de trabalho, a qual envolve o aumento da exposição às cargas de trabalho, potencializando o desgaste do trabalhador. Por isso, é importante que o trabalhador faça uso das questões subjetivas que permeiam o seu trabalho, utilizando-se de ferramentas como o conhecimento sobre a especialidade e a gestão de enfermagem. Assim, tornar-se-á possível a reflexão sobre aquilo que está prescrito bem como do trabalho real aplicado à prática, além de potencializar a quebra de padrões pré estabelecidos focados na produtividade, estimulando o cuidado integral ao usuário sem desrespeitar as particularidades dos SMN. **Contribuições para a Enfermagem: **Para alcançar essa realidade, é necessário uma maior compreensão sobre os instrumentos de trabalho com foco no objeto de trabalho – o ser humano. O trabalho prescrito nessa especialidade mostra-se distante do trabalho real, principalmente pelo excesso de normas e orientações que envolvem o uso da radiação ionizante. Dessa forma, o conhecimento, por meio da educação permanente, aliado à gerência de enfermagem participativa e colaborativa são estratégias importantes para aproximar o trabalho real do trabalho prescrito.
Referências: 01. Gesser, Veronica; Ranghetti, Diva Spezia. O currículo no ensino superior: princípios epistemológicos para um design contemporâneo. Revista e-curriculum, São Paulo, v.7 n.2 Agosto, 2011.
02. Gadotti, Moacir. Interdisciplinaridade: atitude e método. São Paulo: Instituto
Paulo Freire. www.paulofreire.org>. Acesso em: 26 dez. 2006.
03. Fazenda, Ivani. Dicionário em construção: interdisciplinaridade / (org.). - 2. ed. - São Paulo: Cortez, 2002
04 Morin, Edgar. Educação e complexidade, os sete saberes e outros ensaios.
São Paulo: Cortez, 2005 |