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Resumo: 6217881

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6217881

CURRÍCULO, PODER E CONTROLE NA PERSPECTIVA BERNSTEINIANA – O CURRÍCULO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UFPEL ORIENTADO PELAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS

Autores:
Michele Mandagara de Oliveira ; Afra Suelene de Sousa ; Vanda Maria da Rosa Jardim

Resumo:
CURRÍCULO, PODER E CONTROLE NA PERSPECTIVA BERNSTEINIANA – O CURRÍCULO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UFPEL ORIENTADO PELAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS _Afra Suelene de Sousa_[1]__ Maria Cecília Lorea Leite[2] Michele Mandagará de Oliveira[3] Vanda Maria da Rosa Jardim[4] Introdução: Este trabalho tem como foco de estudo a análise de um modelo curricular do ensino superior, o do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, à luz do referencial teórico-metodológico de Basil Bernstein1. Ao trabalhar as categorias de análise poder e controle, Bernstein1 procura traduzir quais os princípios que regulam a consciência, bem como quais as possibilidades de sua mudança relativamente as relações de transmissão e comunicação na escola. Entende-se que este referencial pode servir como fonte problematizadora de diferentes estruturas de currículo, e desta forma, enfrentar os desafios que implicam pensar a produção, a reprodução e a mudança cultural, bem com as arenas de conflito e os espaços existentes nestes contextos. Bernstein1, entende que existem duas formas de organização curricular: o currículo de coleção e o currículo de integração. Estes modelos de análise se diferenciam pelo nível de especialização, vale dizer que nos modelos de coleção, as fronteiras são bem demarcadas, tendendo a um isolamento entre os conhecimentos transmitidos, enquanto que nos currículos do tipo integração, predomina uma ideia centralizadora, no qual as fronteiras entre o conhecimento são tênues, tendendo a possibilitar a comunicação e a aproximação entre os diversos campos especializados. O objetivo principal deste estudo configura-se na análise do currículo do Curso de Enfermagem da UFPel, embasada no referencial teórico de Bernstein1. Descrição metodológica: Decidiu-se pela abordagem de Estudo de Caso por ser considerada uma investigação detalhada e exaustiva de poucos, ou de um único objeto, fornecendo conhecimentos profundos2. Os dados foram coletados a partir de situações reais, com objetivo de explicar, explorar ou descrever fenômenos atuais inseridos em seu próprio contexto. Lançou-se mão de entrevistas, documentos e observação de cenários de aprendizagem. Resultados: O processo de mudança curricular do Curso de Enfermagem se constituiu em um verdadeiro campo de disputas, de lutas, de negociação entre segmentos da comunidade acadêmica. Considera-se que as arenas de conflito e os campos de disputa potencializaram a mudança realizada no currículo do Curso de Enfermagem, influenciada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais3 que assumiam a perspectiva de integração e que se constituía em integrar o fazer dos atores envolvidos, as disciplinas e os conteúdos, até então fortemente separados, o que, de acordo com Bernstein1, por fortes fronteiras. Dessa forma, o currículo e as ações pedagógicas foram programados com outra perspectiva de organização, sob um processo produzido e realizado em uma arena em forte tensionamento e conflitos de interesse. Contatou-se que o currículo do Curso de Enfermagem está sendo operacionalizado por todos os professores, e, sendo assim, verifica-se que as relações de poder e controle estão tendentemente diluídas, já que boa parcela da comunidade acadêmica se apropriou das práticas pedagógicas desse currículo. Estas constatações se devem ao fato de que, como bem afirmou Bernstein1, as relações de poder e controle se traduzem nos termos classificação e enquadramento  poderão variar de forte a fraco dependendo como as vozes e as mensagens são percebidas. Nos currículos de integração as relações de poder e controle são mais tênues, já que há uma possibilidade de discursos entre agentes ou práticas. O currículo do Curso de Enfermagem da UFPel4, colocado em ação no ano de 2009, se constitui em um currículo que apresenta elementos que se aproximam de uma perspectiva crítica, que prioriza práticas pedagógicas comuns, que exigem trabalho coletivo, diálogo, negociação entre os professores, entre professores e alunos, e entre alunos e alunos. Percebe- se que esse currículo proporcionou, aos sujeitos da ação educativa, elementos para que realizassem uma reconfiguração dos históricos papéis atribuídos aos professores e aos alunos. Numa relação mais horizontal, que inclui responsabilidades partilhadas, fruto de uma relação pessoal e afetiva forte a qual Bernstein1 designa de solidariedade orgânica pessoal, em que facilitador, juntamente com os alunos, vai encontrando as regras e os controles existentes nessa relação. Nele encontram-se as estruturas do tipo integração, onde as linhas são mais tênues, as relações menos hierarquizadas, uma comunicação mais fluída e com espaços mais pluralizados. Esta forma de organização parece tender a um aprimoramento democrático, e, de acordo com Bernstein1, apresenta um potencial para a mudança nas práticas pedagógicas e consequentemente na formação do educando. Nesta investigação, os dados enfatizaram que o discurso pedagógico emanado do currículo em ação no Curso de Enfermagem da UFPel é reconhecido, pelos sujeitos participantes, como capaz de promover mudanças na formação do profissional enfermeiro. Redefiniu-se sua posição na prática de enfermagem, prevalecendo a ideia de formação numa ótica mais crítica, reflexiva sobre as ações de saúde. A constituição do Enfermeiro precisa atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde, assegurando a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento. Conclusão: A partir do estudo, compreende-se que um currículo se constrói por meio de conflitos, lutas de interesses e posições, que todo currículo deve ser analisado como um espaço perpassado por relações de poder, constituídas em momentos históricos e sociais específicos, que refletem diferentes interesses5. Depreende-se, a ideia de que o currículo se estabelece em espaços de disputas e poder frente aos saberes que o constituem nas suas especificidades, o que foi evidenciado no decorrer da análise dos dados. Frente à análise do currículo do curso em questão, pareceu predominar a visão de que a produção de uma dinâmica diferenciada da tradicional vinculou-se à possibilidade de desenvolvimento de um currículo mais aberto e flexível, com inter-relação entre aspectos teóricos e práticos, portanto, na perspectiva da integração e da interdisciplinaridade, como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Enfermagem. Nesse sentido, percebe-se que o currículo analisado pode produzir contribuições relevantes para pensar o processo de construção dos currículos dos cursos de Enfermagem numa perspectiva de um novo modelo de ensino em que prevaleçam práticas pedagógicas docentes que priorizem relações horizontais. Descritores: Currículo – Práticas Pedagógicas – Enfermagem O trabalho se vincula ao tema 1: Diretrizes Curriculares Nacionais e desafios contemporâneos da formação em Enfermagem **Referências** 1. Bernstein B. _A estruturação do discurso pedagógico: classe, códigos e controle_. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. 2. Yin R K. _Estudo de caso:_ Planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2010. 3. Brasil. Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 03 de 07 de novembro de 2001. Institui as diretrizes curriculares nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem e dá outras providências. In: Disponível em: . Acesso em: 05 out. 2007. 4. UFPel. Universidade Federal de Pelotas. Curso de Enfermagem. _Projeto Político Pedagógico_. Pelotas, RS, UFPel, 2009. 5. Lopes AC, Macedo E. (Orgs.). _Disciplinas e integração curricular:_ história e políticas. Rio de Janeiro: DP&A;, 2002. * * * [1] Enfermeira, Doutorado em Educação, Professora associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. afrasus@uol.com.br [2] Pedagoga, Doutorado em Educação, Professora associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas [3] Enfermeira, Doutorado em Enfermagem, Professora associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas [4] Enfermeira, Doutorado em Enfermagem, Professora associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas


Referências:
1. Brasil, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Diretrizes curriculares para o curso de graduação em enfermagem. Res. CNE/CES n°3. 2001. 2. UNIVALI. Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem – período 2014-2015. Itajaí: UNIVALI, 2015. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 4.279. Estabelece as diretrizes para organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, dezembro de 2010.