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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 6019767

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6019767

PREDIÇÃO DE RISCO E INCIDÊNCIA DE OLHO SECO EM PACIENTES CRÍTICOS

Autores:
Diego Dias de Araújo ; Andreza Werli-alvarenga ; Daniel Vinícius Alves Silva

Resumo:
**Introdução:** Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são normalmente internados pacientes em elevada situação de gravidade clínica. Na maioria das vezes estes pacientes estão sedados, em coma, com Ventilação Mecânica (VM), uso de diversos medicamentos e mecanismos de proteção ocular comprometidos(1-2).  Como consequência os pacientes se tornam suscetíveis ao olho seco. A disfunção do filme lacrimal, conhecida como olho seco, é uma alteração multifatorial das lágrimas e superfície ocular que resulta em sintomas de desconforto, distúrbios visuais e instabilidade do filme lacrimal, com danos potenciais à superfície ocular(3). O diagnóstico de enfermagem de risco de olho seco é definido como "risco de desconforto ocular e danos à córnea e conjuntiva devido à quantidade reduzida ou qualidade de lágrimas para umedecer o olho"(4). Há carência na literatura de estudos que confirmem olho seco em pacientes internados em UTIs. Encontrou-se um trabalho(1) relacionado ao problema em pacientes críticos, porém, tratava-se da prevenção de olho seco, não tendo como objetivos específicos a identificação de incidência e fatores de risco do problema. Justifica-se a presente pesquisa pela necessidade de conhecimento do problema olho seco, determinação de sua incidência e fatores de risco em pacientes críticos e, assim, implementar práticas baseadas em evidências científicas, para prevenção e tratamento deste acometimento identificado em pacientes internados em UTIs. Ressalta-se que, não foram identificados estudos que abordassem especificamente o problema, embora a NANDA-I(4) tenha aprovado o Diagnóstico de Enfermagem de risco de olho seco na edição de 2012-2014. **Objetivo:** Estimar a incidência de olho seco, identificar os fatores de risco e estabelecer modelo de predição de risco para seu desenvolvimento, em pacientes adultos, internados em unidade de terapia intensiva de um hospital público. **Descrição Metodológica:** Trata-se de um estudo de coorte concorrente, realizado em uma UTI de pacientes adultos, de um hospital público e de ensino, em Belo Horizonte, Minas Gerais.  O cálculo do tamanho amostral foi realizado utilizando-se a fórmula de população infinita. Na estimação da amostra considerou-se a população infinita, grau de confiança de 95%, margem de erro de 6,5% e proporção de interesse de 55,1% na incidência de lesões na córnea do tipo puntacta(2), resultando em um cálculo de amostra mínima de 225 pacientes. Os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a 18 anos, não apresentar olho seco no momento da admissão, permanecer internado na UTI por, no mínimo, 24 horas, consentimento para participação da pesquisa ou ter sua participação autorizada pelo responsável, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A população alvo desta pesquisa constituiu-se por 258 pacientes internados na UTI entre março e junho de 2014. Da população de 258 pacientes, oito foram excluídos pois seus familiares não permitiram a participação no estudo, um por ser menor de idade e outros 19 por possuírem o diagnóstico olho seco no momento da admissão na unidade. Assim, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, contou-se na amostra um total de 230 pacientes. Para coleta de dados, utilizou-se um instrumento de avaliação para admissão, no qual foram incluídas informações sociodemográficas, clínicas e fatores de risco para o desenvolvimento de olho seco. A coleta de dados foi realizada todos os dias da semana pelo enfermeiro pesquisador, até que o paciente desenvolvesse desfecho, recebesse alta da UTI, fosse transferido ou evoluísse ao óbito. Para avaliação do volume lacrimal foi utilizado o teste de Schirmer I e para avalição corneana o teste de fluoresceína. Os dados foram analisados por estatística descritiva, bivariada, com análise de sobrevida e multivariada, com regressão de Cox.  O estudo está em conformidade com a Resolução 466/12, que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e obteve parecer favorável sob o protocolo CAAE - 15616313.4.0000.5149. **Resultados:** Entre os 230 pacientes, 122 apresentaram olho seco. A incidência global de olho seco foi, portanto, de 53% no período do estudo. A maioria (55,7%) era do sexo masculino, média de idade de 59 anos (DP ± 19,2), mediana de 62 anos, com variabilidade mínima de 18 anos e máxima de 97 anos. O tempo médio, determinado para o aparecimento de olho seco, foi de 3,5 dias. Na análise bivariada obteve-se variáveis que apresentaram significância estatística (p=0,25) com o tempo até a ocorrência de olho seco. Foram elegíveis para análise multivariada 40 variáveis, das quais, 30 apresentaram significância estatística (p<0,05). No modelo de predição de risco (análise multivariada), dentre os fatores demográficos e clínicos identificados, as variáveis independentes que impactaram, de forma significativa e conjunta, para o tempo para ocorrência de olho seco foram: O2 em ar ambiente (HR = 0,34; IC 95% 13%; 87%; p=0,025), piscar os olhos mais de cinco vezes por minuto (HR=0,25; IC 95% 57%; 86%; p<0,001) (fatores de menor risco) e presença de doença vascular (HR= 1,56; IC 95% 1,03; 2,38; p=0,037) (fator de maior risco). **Conclusão:** A partir dos resultados encontrados, é possível verificar que o olho seco em pacientes internados em UTIs de adultos é um achado comum e exposto a um conjunto de fatores de risco internos e externos que podem colaborar para o aparecimento do problema. Após análise bivariada e etapa de ajuste da análise multivariada, dentre os fatores demográficos e clínicos identificados, os que permaneceram como melhores preditores para o fenômeno em estudo foram: O2 em ar ambiente, piscar os olhos mais de cinco vezes por minuto e presença de doença vascular. Reconhecer precocemente os fatores de risco para o olho seco e, consequentemente, adotar medidas preventivas, certamente reduzirá a probabilidade de alterações da superfície ocular em pacientes criticamente enfermos. Recomenda-se a investigação dos fatores de risco descritos na NANDA-I e que não puderam ser validados em função do perfil da amostra estudada, como: estilo de vida, história de alergias, lentes de contato, fatores ambientais e local onde mora. **Contribuições/ implicações para a enfermagem:** Acredita-se que, este trabalho poderá contribuir para reflexão sobre a relevância do problema de olho seco em pacientes críticos e não críticos, além de maior conscientização e valorização da importância do cuidado ocular em pacientes internados em UTIs de adultos, sendo um aspecto fundamental para assistência de enfermagem de maior qualidade.


Referências:
1.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 2 Almerindo FS. Análise comparativa sobre os papéis desempenhados por enfermeiros que atuam em enfermagem psiquiátrica e em saúde mental [monografia]. Santo André: Graduação em Enfermagem, Universidade do Grande ABC; 2002. 3 Duarte MLC. Olschwsky A. Fazeres dos enfermeiros em uma unidade de internação psiquiátrica de um hospital universitário. Rev. Brasileira de Enfermagem, 2011, vol.64, n.4, p.698-703.