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Resumo: 6018591

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6018591

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS AO ENFERMEIRO DE EDUCAÇÃO

Autores:
Camila Caroline Szpin ; Ana Paula Hermann

Resumo:
INTRODUÇÃO As competências profissionais e os diferentes domínios que a compõem têm sido objeto de múltiplas definições e interpretações desde que foram propostos pela primeira vez, em 1973, por David McClelland¹. Atualmente, uma das definições mais reproduzidas é a de Le Boterf, que considera competência um saber agir responsável, que é reconhecido pelos outros e que implica saber como mobilizar conhecimentos, recursos e habilidades em determinada esfera profissional². Mais atribuído à área de administração, o termo competência foi se popularizando entre as profissões de saúde à medida que países desenvolvidos focaram suas políticas de atenção à saúde em assuntos relacionados à qualidade do cuidado e à segurança do paciente, e passaram a adotar a educação baseada em competências como estratégia de desenvolvimento profissional³. No Brasil, a criação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, fez com que diversas instituições de saúde iniciassem programas de educação permanente em enfermagem, com vistas a promover transformações nas práticas do trabalho através da interseção entre o aprender e o ensinar na realidade dos serviços4. Por sua formação pedagógica, enfermeiros de educação podem ser considerados os mais indicados a comandar este tipo de programa. Entretanto, ainda que existam cursos de pós-graduação destinados a habilitá-los, pouco se sabe sobre as competências necessárias para a atuação destes profissionais. Reconhecendo a relevância do tema e o protagonismo destes profissionais frente ao desenvolvimento da equipe de enfermagem, no ano de 2016 a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma lista com as competências essenciais do enfermeiro de educação, denominada _“Nurse Educator Core Competence”_ 5 (NECC), que engloba aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores esperados destes profissionais, buscando a melhoria da educação em enfermagem e consequentemente a da qualidade dos serviços de saúde. OBJETIVO E DESCRIÇÃO METODOLÓGICA Esta publicação ainda não apresenta tradução e adaptação cultural para a Língua Portuguesa, o que dificulta o acesso ao estudo e a aplicação deste conhecimento nos países em que este é o idioma nativo. Com o intuito de compreender as competências essenciais à prática profissional de enfermeiros de educação, realizou-se esta pesquisa qualitativa exploratória, em que buscou-se abordar uma temática, que apesar de sua relevância e atualidade, ainda é pouco discutida em nível nacional. Para seu desenvolvimento foi realizada uma leitura crítica do NECC, explorando cada uma das fases percorridas em sua construção. Durante a análise do documento, também foram captados alguns desafios relacionados à prática profissional do enfermeiro de educação. Tais desafios estão retratados no desfecho deste estudo juntamente com as potenciais contribuições do NECC para a qualificação de enfermeiro de educação no Brasil. RESULTADOS O NECC foi construído pela OMS e seus parceiros, através de um processo consultivo desenvolvido em quatro etapas: revisão de literatura, pesquisa global Delphi, validação e integração. Na primeira etapa, foi revisado um grande número de publicações sobre o assunto, incluindo documentos de políticas globais e literaturas de conselhos e associações profissionais, que culminou na descrição preliminar de 28 competências. Na segunda etapa, a técnica Delphi foi utilizada para que especialistas avaliassem as competências identificadas através da revisão de literatura. Na primeira rodada foi construído um instrumento de pesquisa online no aplicativo LimeSurvey 1.92+, onde 13 especialistas classificaram seu nível de concordância com cada uma das 28 competências listadas, utilizando uma escala do tipo Likert de seis pontos. Com base nas classificações e comentários dos participantes algumas competências foram revistas, outras excluídas e incluídas. As 49 competências aprovadas foram distribuídas em 13 domínios e deram origem a um novo questionário LimeSurvey. Da segunda rodada participaram 71 especialistas, dos quais 36 responderam ao questionário de forma integral. Os participantes demonstraram consenso geral sobre a maioria das competências elencadas e apontaram a necessidade de um trabalho adicional para refinar a apresentação das competências e classificá-las em “essenciais” e “não essenciais” para o desempenho profissional do enfermeiro de educação. A terceira etapa consistiu na validação do quadro de competências resultante da pesquisa Delphi. Esta fase envolveu 10 países e 21 especialistas, que avaliaram as competências entre outros quesitos, quanto a relevância, clareza, abrangência e adaptabilidade. Os especialistas validaram todas as competências descritas, sugerindo ainda, que algumas delas fossem agrupadas, o que resultou na redução de 5 domínios. Por fim, a quarta etapa integrou os conhecimentos, habilidades e atitudes de cada domínio cognitivo, com o intuito de facilitar a compreensão das competências e propiciar o desenvolvimento de programas educacionais mais abrangentes. A versão final do _“Nurse Educator Core Competence”_ foi publicada pela OMS no ano de 2016 (ISBN 9789242154962). O documento é composto por oito domínios cognitivos: 1- teoria e princípios da educação de adultos; 2- projeto e implementação de currículo; 3- prática de enfermagem; 4- pesquisa e evidências; 5- comunicação, colaboração e trabalho em equipe; 6- profissionalismo e princípios ético-legais; 7- monitoramento e avaliação; 8- gestão, liderança e defesa dos direitos5 (tradução nossa). Cada domínio é formado por uma competência central (essencial) e demais competências relacionadas, e complementado pelos conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para seu desenvolvimento. CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM A competência entre profissionais de enfermagem pode ser entendida como níveis esperados de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a prática eficaz do cuidado. Seu desenvolvimento está fortemente relacionado à qualidade do cuidado e à segurança do paciente, e por estas razões tem despertado o interesse de governantes e responsáveis por instituições de saúde ao redor do mundo. Uma educação de qualidade é a base para a formação de profissionais competentes, e assegurar que enfermeiros de educação possuam as competências necessárias para desempenhar suas atividades é uma tarefa demasiadamente complexa, pois requer abordagens diferenciadas no sentido de acompanhar o ritmo acelerado das mudanças nos serviços de saúde, tais como: a evolução das práticas assistenciais, o lançamento de novas tecnologias e a consolidação da prática baseada em evidências. Estes desafios demandam que enfermeiros de educação possuam conhecimentos, habilidades e atitudes que os permitam, entre outras coisas, planejar, organizar, executar e avaliar ações de educação em enfermagem. O NECC é fruto de um estudo multicêntrico sobre as competências essenciais do enfermeiro de educação, construído e validado por especialistas de diversos países. Esta publicação representa um importante instrumento para auxiliar instituições de saúde a organizarem seus programas de educação permanente em enfermagem, uma vez que norteia as práticas de seu principal facilitador. A relevância do tema, demonstra que uma análise mais aprofundada do NECC se faz necessária, no sentido de explorar os domínios cognitivos propostos e as competências relacionadas a cada um deles. Espera-se que este trabalho seja um incentivo à realização de novos estudos acerca das competências de enfermeiros de educação, apontando inclusive, para a necessidade de tradução e adaptação cultural do NECC à realidade brasileira. A ampla discussão do tema confere potencial de contribuir para a melhor organização e gestão de recursos humanos em enfermagem, fomentando a melhoria da qualidade do cuidado, das condições de trabalho e da satisfação e desenvolvimento profissional.


Referências:
1. Ministério da Saúde(BR). Portaria n. 2, de 28 de setembro de 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0002_03_10_2017.html 2. Caderno de boas práticas para organização dos serviços de atenção básica: Critérios e padrões de avaliação utilizados pelo Sistema QualiAB [recurso eletrônico] / Organização e autoria Elen Rose Lodeiro Castanheira ... [et at.]. - Botucatu : UNESP-FM, 2016. Disponível em: http://www.abasica.fmb.unesp.br/doc/CADERNO.pdf. 3. Samoto AK. Avaliação da qualidade dos serviços de Atenção Básica, segundo modelo de atenção, na Região de Saúde do Rio Pardo-SP. Dissertação(mestrado) – Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2013.