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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 5743238

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5743238

COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR CRÍTICO REFLEXIVO: REFLEXÕES DOS DISCENTE DE UM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Autores:
Silvana Kempfer ; Juliana Martins Ferreira ; Luana Cláudia dos Passos Aires ; Christine Böhm da Costa

Resumo:
**Introdução:**A formação dos profissionais de saúde brasileiros é normalizada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Os egressos dos cursos da saúde são capacitados tecnicamente para o exercício da profissão, nos âmbitos público e privado. Neste contexto, é ainda frágil o preparo específico destes profissionais para exercer também a docência. Mesmo nos cursos de especialização, a ênfase da formação é frequentemente estritamente técnica. Com exceção da Enfermagem, cujas diretrizes orientam que o “Enfermeiro com Licenciatura em Enfermagem seja capacitado para atuar na Educação Básica e na Educação Profissional em Enfermagem”1. Esta lacuna deveria ser preenchida nos cursos de mestrado e doutorado dos diversos cursos da área da saúde. Para o pensador americano Donald Schön2 a práxis docente deveria ser acompanhada de momentos de prática reflexiva, aos quais denominou “Conhecer-na-ação”, “Reflexão-na-ação”, “Reflexão sobre a ação” e “Reflexão sobre as reflexões-na-ação”.Considerando tais aspectos, nossa reflexão foi norteada pelo seguinte questionamento: Quais competências os discentes de um curso de especialização _strictu sensu_ consideram necessárias para formar um professor crítico-reflexivo?**Objetivo: **Relatar as reflexões dos discentes de um curso de especialização _stricto sensu_ sobre o professor crítico-reflexivo a partir do círculo de cultura de Paulo Freire. **Descrição Metodológica: **Relato de experiência analítico reflexivo, realizado a partir das vivências na disciplina “Formação e desenvolvimento docente na saúde e na Enfermagem”, no período de agosto a dezembro de 2016. Esta disciplina é oferecida por um Programa de Pós-graduação em Enfermagem de uma Universidade pública de Santa Catarina, a qual aborda aspectos teóricos e filosóficos sobre o processo de formação do docente na saúde, a partir da análise e discussão das políticas da educação, bem como obras de autores clássicos e contemporâneos da pedagogia e filosofia nacional e internacional3-5. A ementa desta disciplina contempla conteúdos como: formação inicial e permanente do docente; Conhecimento pedagógico; Competências para a docência na área da saúde; Avaliação docente; e Professor crítico-reflexivo. A disciplina é realizada na forma de seminários, sendo que cada temática foi desenvolvida por um determinado grupo de alunos. A metodologia foi baseada na pedagogia problematizadora de Paulo Freire, participando: duas docentes (professoras doutoras) e nove discentes, sendo quatro doutorandas (duas da Enfermagem, uma da Saúde Coletiva e uma da Odontologia), três mestrandas (duas de Enfermagem e uma da Fisioterapia) e três alunas especiais do doutorado em Enfermagem. Inicialmente apresentou-se a metodologia Freiriana5, e a seguir, a turma foi instigada a refletir sobre a prática profissional docente, levantando palavras geradoras sobre como seria a atuação de um professor crítico-reflexivo. Cada aluna teve a oportunidade de escrever as palavras escolhidas em um cartaz, formando um conjunto de palavras-temas a serem desvelados pelo grupo condutor da aula. Deste modo iniciou-se o círculo de cultura, método que vem sendo utilizado em várias universidades do Brasil nos cursos de graduação e pós-graduação5. **R****esultados: 1) ****Investigação temática: **Os discentes e docentes foram convidados a escreverem algumas palavras relacionadas aos requisitos do professor crítico-reflexivo orientadas pela questão: “Para você quais são os requisitos para se tornar um professor crítico-reflexivo?”. Deste modo, iniciou-se a discussão do grupo e a investigação inicial dos principais temas geradores relacionados à temática. Nesta etapa surgiram os temas geradores: saber ouvir, questionar, escutar, dialogar, provocar o aluno à reflexão, interação, integrador, preparar, estudar e autonomia. Todos esses temas refletem a realidade dos participantes como docentes em formação. A partir deles ocorreram diálogos que permitiram a codificação e o desvelamento dos mesmos. Como resultado da reflexão nesta primeira fase,os dez temas iniciais foram sintetizados em três: autonomia, diálogo e reflexão. **2) Codificação e descodificação: **O diálogo nos Círculos de Cultura aconteceu de forma horizontal e amoroso, respeitando as necessidades e interesse de cada integrante do grupo. O momento foi repleto de relatos de experiência e calorosas reflexões e nesse fluxo, à medida que os temas foram emergindo, foram desvelados de acordo com o grau de interesse dos sujeitos envolvidos no estudo. Percebe-se que os temas geradores levantados no Círculo de Cultura, são fundamentais para formação de todos os docentes que desejam se tornar um professor crítico-reflexivo. O diálogo com os participantes permitiu a manifestação subjetiva dos desafios encontrados em se tornar um professor reflexivo e de caráter horizontal, frente a uma formação voltada para educação de depósito onde o discente se coloca de forma passiva em relação ao docente e absorve ou não as aulas ministradas, tirando suas próprias conclusões sem reflexão e diálogo. Na etapa da codificação e descodificação dos temas destacados nos Círculos de Cultura foi priorizada a questão: Como um professor pode se tornar um profissional crítico-reflexivo, e quebrar o paradigma da educação tradicional? A oportunidade de participar do Círculo serviu de alavanca para construção de novas possibilidades para a docência, a partir de educação com diálogo, autonomia e reflexão. **3) Desvelamento Crítico: **Esta fase ocorreu conforme os participantes foram se imergindo nas reflexões acerca do professor reflexivo. Observou-se que dos três temas codificados e descodificados as temáticas que mais se evidenciaram foram: as competências do professor crítico-reflexivo; Aprimorando o fazer educação; Construindo e desconstruindo paradigmas na educação. Assim, nessa etapa do Itinerário e pela aproximação das temáticas, os temas geradores foram sendo desvelados simultaneamente. Nesta fase de desvelamento estimulou-se que os participantes se empoderassem para a realização de aulas mais críticas, com alunos motivados estudarem com olhar das metodologias ativas. Nesse momento de retrospectiva os temas anteriormente codificados/descodificados foram devolvidos no Círculo para debate, buscando sua reflexão e problematização, para a tomada de consciência crítica e descoberta das situações limites. **Conclusão: **Concluiu-se que, além de dominar os conteúdos técnicos ministrados, o professor que atua na área da saúde precisa repensar constantemente sua prática para aprimorá-la e ser capaz de adaptar-se às situações cotidianas no ambiente acadêmico a fim de colaborar na formação de profissionais de saúde aptos a responder aos imprevistos da vida real. A mensagem especial que se procurou deixar é de que não existe uma receita pronta para formar um professor, pois esta formação é um processo de construção, fundamentado no diálogo, autonomia e reflexão na prática. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **As contribuições para a área de enfermagem, saúde ou política pública foram de que o professor crítico reflexivo corrobora para transformação na atuação profissional em Enfermagem, transcendendo ao modelo curativo e tecnicista. Tais mudanças implicam ainda em maior visibilidade política da profissão, bem como ao atendimento das necessidades da comunidade, ao passo em que o conhecimento científico é produzido. Ao mesmo tempo, colaboram para reduzir a lacuna de conhecimento sobre o professor reflexivo, tema emergente na nossa sociedade.


Referências:
Brasil, Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf. Acesso em 29/05/16http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf. Acesso em 29/05/16 Buchan J, Temido M, Fronteira I, Lapão L, Dussault G. Enfermeiros em função avançada: uma análise da aceitação em Portugal. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [internet]. 2013 [citado 2017, Ago 10];21 (esp): [10 telas]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21nspe/pt_06.pdf. Ito EE, Peres AM, Takahashi RT, Leite MMJ. O ensino de enfermagem e as diretrizes curriculares nacionais: utopia x realidade. Rev. esc. enferm. USP [Internet]. 2006 Dec [cited 2017 Mar 10] ; 40( 4 ): 570-575. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342006000400017&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342006000400017.