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5684551 | O CONCEITO DE GESTÃO DO CUIDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DA ENFERMAGEM: ANÁLISE REFLEXIVA | Autores: Pollyana Bortholazzi Gouvea ; Selma Regina de Andrade ; Adriano da Silva Acosta ; Betina Hörner Schlindwein Meirelles |
Resumo: **Introdução:** As novas demandas exigidas pelo exercício de cuidar do ser humano, o advento do Sistema Único de Saúde e as transformações no mundo do trabalho, colaboraram para o delineamento das DCN, com vistas à formação de profissionais aptos a atuarem de acordo com o contexto social e político vigente. Em função disso, a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Graduação em Enfermagem através da Resolução n.º 3, de 7 de novembro de 2001, definiu os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em enfermagem das instituições de Ensino Superior1. As DCNs estabeleceram o perfil de formação do egresso como enfermeiro generalista, humanista, crítico e reflexivo, qualificado para o exercício de enfermagem com base no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos, com capacidade de conhecer e atuar sobre os problemas/situações de saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional. Busca-se a ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões biopsicossociais dos seus determinantes e estabelecendo como foco da assistência de enfermagem a humanização, a integralidade e a competência técnico-científica1. Estas diretrizes curriculares para o curso de enfermagem adotaram perspectivas mais humanistas na formação do egresso, bem como se espera que as instituições universitárias, comprometidas com o destino dos homens, associem o máximo de qualificação acadêmica com o máximo de compromisso social, tendo em vista a superar a fragmentação do conhecimento até os dias atuais. Ao longo da trajetória histórica da enfermagem enquanto profissão, observa-se no campo da _práxis_, uma dicotomia entre gerencia e assistência de enfermagem, de modo que ambas eram vistas como atividades distintas e que suas práticas não poderiam ser associadas. Sustenta-se este fato, ao analisar, mesmo que superficialmente neste momento, a formação do próprio enfermeiro, o qual teve em suas disciplinas a separação dos conteúdos relacionados ao cuidado e a gerencia, tanto que em grande parte dos currículos têm-se disciplinas específicas voltadas somente para as ciências da administração e outras para o cuidado de uma forma geral. Esta evidente fragmentação de conceitos e práticas corroborou para a reprodução desta dicotomia no próprio ambiente de trabalho, visto que, frequentemente se observava os enfermeiros ditos “assistenciais” e os “gerenciais”. Assim, numa tentativa de aproximação destes “dois mundos”, surge o conceito de gerência do cuidado, com o intuito de unificar essas duas práticas que são, em si, a essência da enfermagem. **Objetivo: **Refletir acerca da inserção dos elementos norteadores que caracterizam a gestão do cuidado nas DCNs do curso de enfermagem. **Método: **Trata-se de uma reflexão teórica pautada sob o referencial do Pensamento Complexo de Edgard Morin, pois o pensamento complexo é um modelo sustentador que permite uma re/leitura e re/interpretação das ações que permeiam a enfermagem. Pautado neste referencial, alguns autores2 propõem a necessidade de compreensão da visão hologramática na perspectiva do gerenciamento em enfermagem, alinhada às demais competências preconizadas pelas bases legais que subsidiam a formação do enfermeiro. **Resultados e discussão: **Quando analisadas as competencias e habilidades esperadas descritas nas DCN atuais, verificou-se que ambas são destrinchadas em duas grandes esferas, sendo elas: Competencias Gerais e Competencias e Habilidades Específicas. Observa-se que o cuidado e a gerência estão divididos em eixos diferentes e que na descrição de cada um deles há um direcionamento para a assistência e para as ciências administrativas, respectivamente. Este direcionamento é tão palpável quando se lê, por exemplo, que na competência “administração e gerenciamento” as ações esperadas estão voltadas para o campo dos recursos humanos, físicos e materiais, não associadas e/ou distantes a prática do cuidado em enfermagem. Esta separação teórica entre o saber fazer (prática assistencial) e o saber administrar (prática gerencial) alimenta esta relação dicotomica, confundindo tanto aqueles que ensinam quanto aqueles que aprendem. Na contramão desta divisão teórica, a obra de Morin3, intitulada _Os Sete Saberes necessários à educação do futuro_, faz repensar a educação a partir da compreensão de que a dialógica é o meio para estruturação do conhecimento, a partir da concepção de que é necessário envolver todas as dimensões que cercam o ser vivo, aceitando as ambivalências, as contradições e as incertezas. Desta forma, sustenta-se a necessidade de consonância entre a assistência e a gerência à luz das competências e habilidades esperadas propostas na DCNs. Para Christovam, Porto e Oliveira4, o termo gerência do cuidado de enfermagem compreende a articulação entre as esferas gerencial e assistencial que compõem o trabalho do enfermeiro nos mais diversos cenários de atuação. Ele tem sido utilizado para caracterizar, principalmente, as atividades dos enfermeiros visando à realização de melhores práticas de cuidado nos serviços de saúde e enfermagem por meio do planejamento das ações de cuidado, da previsão e provisão de recursos necessários para assistência e da potencialização das interações entre os profissionais da equipe de saúde visando uma atuação mais articulada. A gerência do cuidado de enfermagem mobiliza ações nas relações, interações e associações entre as pessoas como seres humanos complexos e que vivenciam a organicidade do sistema de cuidado complexo, constituída por equipes de enfermagem e saúde com competências/aptidões/potências gerenciais próprias ou inerentes às atividades profissionais dos enfermeiros. A prática gerencial do enfermeiro envolve múltiplas ações de gerenciar cuidando e educando, de cuidar gerenciando e educando, de educar cuidando e gerenciando, construindo conhecimentos e articulando os diversos serviços hospitalares e para-hospitalares, em busca da melhor qualidade do cuidado, como direito do cidadão5. **Conclusões: **Diante dos avanços da ciência, torna-se necessário repensar a formação do enfermeiro, enquanto profissional criativo, flexivo e reflexivo, praticante de um cuidar pautado em conhecimentos científicos que valorizem as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, políticas e culturais, envolvidos pela dimensão de gerenciar. Pode-se perceber que a gestão do cuidado, em sua essencia, fez-se presente em vários momentos das DCNs, porém de forma implícita. A grosso modo, é evidente a separação entre administrar/gerenciar e cuidar enquanto competencias esperadas, subentende-se que ainda há a interpretação de que ambas atividades são divergentes. Contudo, após uma análise mais aprofundada e reflexiva é possível abstrair esta “primeira impressão” e desenvolver uma linha de raciocínio que contemple a gestão do cuidado, convergindo as duas práticas. **I****mplicações para a Enfermagem:** Em tempos de formulação de novas diretrizes, o desafio para enfermagem consiste em implementar a dialógica gerencia e cuidado na estruturação das novas DCNs, com vistas à formação de conteúdos integradores, que permitam aos futuros enfermeiros conciliar ambas práticas, facilitando o entendimento de que o _fazer_ gestão do cuidado é inerente ao _ser_ enfermeiro e que para alcançar este “ser” as práticas centradas na assistência e as práticas centradas nas ciências administrativas além de se comunicarem diretamente, podem ser convergentes em dado momento.
Referências: 1. Brasil, Mercosul. Disponível em: http://www.mercosul.gov.br/ Acessado em 20 de julho de 2016.
2. Figueiredo, N.M. Desenvolvimento e Avaliação de Coleções. Rio de Janeiro: Rabiskus, 1993.
3. Araújo, C.A. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre, 2006 , jan-jun 12:11-32.
4. Fleury, MTL, Mattos MIL. Sistemas educacionais comparados. Estud. av. [Internet]. 1991, vol.5, n.12 [cited 06 Ago 2014], pp. 69-89 . Available from: . ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141991000200006.
5. Cárdenas-Becerril, L. et al Presencia del pensamiento reflexivo y crítico en los currículos de Enfermería en Iberoamérica: Una visión cualitativa. >Atas CIAIQ2016 .Investigação Qualitativa em Educação/Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1. p. 128-137. 2016. Dsponivel em http://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2016/article/view/596/585 |