Prêmios
5470076 | A INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM ENTREVISTA MOTIVACIONAL E O AUTOCUIDADO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO | Autores: Paula Vanessa Peclat Flores ; Ana Carla Dantas Cavalcanti |
Resumo: **Introdução: **As doenças cardiovasculares são a principal causa morte no mundo. Dentre elas, a insuficiência cardíaca tem sido apontada como um importante problema de saúde pública e considerada como uma nova epidemia com elevada mortalidade e morbidade(1). Estudos realizados na última década apontam que o tratamento das doenças crônicas é complexo, exigindo mudanças no estilo de vida. O enfermeiro tem importante papel na promoção do autocuidado e planejamento de intervenções de enfermagem para melhores resultados em saúde(2). Os sistemas de linguagem padronizadas mais conhecidos no mundo, caminham de encontro com o avanço do conhecimento e da necessidade em pautar o cuidado em saúde em evidências científicas. A inclusão de intervenções de enfermagem, testadas e efetivas nestes sistemas de linguagem padronizadas é essencial. Até o momento, nos dois sistemas de linguagem padronizadas mais conhecidos do mundo, Classificação Internacional para Prática de Enfermagem (CIPE®) e Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC), não dispomos da intervenção de enfermagem entrevista motivacional. A necessidade de mudança comportamental inspirou a testagem da entrevista motivacional como intervenção de enfermagem para pacientes com insuficiência cardíaca3. Estudos conduzidos nos EUA demonstram resultados efetivos da entrevista motivacional, como uma abordagem a ser utilizada em pacientes com insuficiência cardíaca para melhora da qualidade de vida, atividade física, transição do hospital para o domicílio e diminuição da readmissão hospitalar(4). Apesar disso, a entrevista motivacional ainda não havia sido testada enquanto uma possível intervenção de enfermagem para melhor o autocuidado em pacientes com insuficiência cardíaca crônica, acompanhados em duas clínicas especializadas em insuficiência cardíaca, no Brasil e no Uruguai. **Objetivo:** Analisar a efetividade da entrevista motivacional no autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca crônica. **Descrição metodológica:** Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, 143 pacientes recrutados, onde grupo intervenção e controle, foram acompanhados por 60 dias nos dois centros, Brasil e Uruguai. Em ambos os centros, foram incluídos pacientes com diagnóstico médico de insuficiência cardíaca independente da etiologia, fração de ejeção normal ou diminuída, maiores de 18 anos com classes funcionais I-III _New York Heart Association_ (NYHA) e que estavam em atendimento presencial com as equipes multiprofissionais nas clínicas especializadas incluídas nesta pesquisa. Foram excluídos pacientes com sequelas neurológicas cognitivas auto relatadas ou identificadas durante a consulta multidisciplinar. A amostra foi calculada pelo programa WinPepi 11.65, com base em um estudo piloto. Que indicou inclusão de 116 pacientes, sendo 29 em cada subgrupo. A randomização foi realizada por sequência simples, gerada por computador e um pesquisador, que não aplicou a intervenção, ficou responsável pela alocação. O grupo intervenção recebeu três consultas por entrevista motivacional a cada 30 dias; o grupo controle manteve acompanhamento convencional. A variável de desfecho foi o autocuidado, avaliada pelo _Self Care Heart Failure Index 6.2_(5), antes e após a intervenção, nos dois centros. No Brasil, foi utilizada a versão traduzida e validada para português do questionário _Self Care Heart Failure Index_, versão 6.2. e no Uruguai, o mesmo questionário foi adaptado transculturalmente por esta equipe de pesquisa, conforme preconizam diretrizes metodológicas. Análise dos dados foi realizada por média, mediana, frequência simples, qui-quadrado, Teste-t, Mann Whitney e Wilcoxon. O cálculo do tamanho de efeito foi realizado pelo_ d__-de-Cohen_, sendo assim, possível descrever os efeitos observados como grandes (>0,8), médios (0,2-0,7) ou pequenos (<0,2). Esta pesquisa foi aprovada pelo Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) pelo Parecer 2.404.683, assim como foi registrada no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC), sob número RBR-6fp5qt. **Resultados:** Dos 143 pacientes recrutados, 130 foram inseridos no estudo e 118 permaneceram até o final. A amostra global (Brasil + Uruguai) contou com 118 pacientes, sendo 59 no grupo controle, 24 (40,7%) do sexo feminino e 35 (59,3%) do sexo masculino; no grupo intervenção, um total de 59 pacientes, sendo 32 (54,2%) do sexo feminino e 27 (45,7%) do sexo masculino. A escala de manutenção do autocuidado para amostra global apresentou _d de Cohen _0,6723 e p-valor (<0.001), indicando efeito médio e significante. No manejo do autocuidado da amostra global, o valor do _d de Cohen _foi 0,5086 e p-valor (0,187), o que significa médio efeito porém não significante, podendo sugerir que as pesquisas futuras necessitam de maior poder. Na confiança do autocuidado da amostra global, a intervenção pode ser considerada de alto efeito (d de Cohen=0,9877) e p-valor (<0.001), indicando grande efeito da intervenção, com significância, devido o valor do _d de Cohen _ser maior do que 0,8. De acordo com os valores preconizados estatisticamente, considera-se que em estudos futuros, pacientes que receberem a entrevista motivacional, excedam o valor médio de um grupo controle, nas seguintes proporções: Manutenção do autocuidado (75%), Manejo do autocuidado (69%) e confiança do confiança do autocuidado (84%), considerando os valores do _d de Cohen_. **Conclusão:** Os dados deste estudo mostraram que a entrevista motivacional é efetiva na melhora do autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Mesmo com poucas evidências de que conselhos de estilo de vida específicos ou habilidades de autocuidado melhorem a qualidade de vida ou o prognóstico, fornecer essa informação tornou-se um componente-chave da educação para o autocuidado em insuficiência cardíaca, sobretudo, quando há a possibilidade de incluir uma intervenção de enfermagem nos sistemas de linguagem padronizadas, que tem seu efeito comprovado. Este estudo apresentou como limitação o não cegamento, em detrimento à impossibilidade de cegar um estudo, onde paciente e interventor são capazes de identificar a aplicação da intervenção. O estudo não foi estratificado em relação ao gênero. Sugere-se, além da realização de novos estudos multicêntricos em outros continentes, com a finalidade de possibilitar a construção novas evidências através de metanálises, a incorporação da intervenção de enfermagem entrevista motivacional nos sistemas padronizados de linguagem. **Contribuições/implicações para enfermagem: **Poucas intervenções de enfermagem específicas foram identificadas e aplicadas com sucesso na prática clínica para o autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca, valorizando a identificação desta intervenção, que apresentou-se efetiva diante os dados avaliados. Uma vez que a implementação do autocuidado depende do paciente, a padronização da intervenção de enfermagem entrevista motivacional em sistemas de linguagem reconhecidos internacionalmente é vital para uma assistência através de intervenção comprovada.
Referências: 1. Küchemann BA. Envelhecimento populacional, cuidado e cidadania: velhos dilemas e novos desafios. Soc. estado. 2012; 27(1): 165-180. 2012.
2. Villela PB, Klein CH, Oliveira GMM. Evolução da mortalidade por doenças cerebrovasculares e hipertensivas no Brasil entre 1980 e 2012. Arq Bras Cardiol. 2016; 1 (107): 26-32.
3. Terént A, et. al. Stroke unit care revised: who benefits the most? A cohort study of 105 043 patients in Riks-Stroke, the Swedish Stroke Register. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2009; 80: 881-887.
4. Silva GM, Seiffert OMLB. Educação continuada em enfermagem: uma proposta metodológica. Rev Bras Enferm. 2009; 62 (3): 362-6. |