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5246822 | A PROBLEMATIZAÇÃO COMO RECURSO PEDAGÓGICO APLICADO AO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO DO CURSO DE ENFERMAGEM | Autores: Tânia Maria Alves Bento ; Ana Paula Miyazawa ; Daniela do Carmo Kabengele |
Resumo: **A PROBLEMATIZAÇÃO COMO RECURSO PEDAGÓGICO APLICADO AO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO DO CURSO DE ENFERMAGEM**
_Ana Paula Miyazawa_
Tânia Maria Alves Bento
Daniela do Carmo Kabengele
A formação dos profissionais da saúde vem passando por transformações ao longo
das últimas três décadas, ocasionadas tanto pela modificação do perfil
demográfico e epidemiológico da população como pela necessidade de se
fortalecer a ideia de um modelo assistencial que tem como foco a relação entre
os fatores sociais e o processo saúde-doença. Entre as particularidades do
mundo contemporâneo que fomentam a discussão sobre as mudanças na formação dos
profissionais da saúde, podem ser mencionadas a velocidade na produção do
conhecimento, o avanço tecnológico e a globalização da comunicação que diminui
a distância e favorece o intercâmbio entre diferentes culturas1. No entanto,
ressalta-se o distanciamento do setor educacional das discussões das reformas
no setor saúde, o que acarreta uma inadequada formação de profissionais, já
que os cursos de graduação e pós-graduação não formam o aluno para as
necessidades do Sistema Único de Saúde. As instituições formadoras ainda se
baseiam no conhecimento da tecnologia de alta complexidade e nas
especialidades, perpetuando modelos tradicionais de seleção de conteúdos2.
Neste contexto, Crivari3 afirmam que para superar o modelo assistencial
vigente, a formação deve ser centrada na promoção da saúde, no processo de
trabalho, na interdisciplinaridade, no desenvolvimento de habilidades para a
ação social, a fim de formar ao mesmo tempo, bons profissionais e bons
cidadãos. A capacidade de articular conhecimentos, de saber buscar informações
para resolução de problemas, de mediar conflitos e de reconhecer a influência
da realidade social de uma comunidade no processo saúde-doença é considerada
característica fundamental para que o profissional de saúde atue com
autonomia, baseando suas decisões cotidianas na sua própria reflexão crítica.
Por isso, considerando a necessidade de estimular precocemente a capacidade
reflexiva dos estudantes, o estágio curricular pode ser considerado um momento
propício para se utilizar metodologias que favoreçam a tomada de decisões mais
acertada para uma dada situação em determinado momento. A utilização de
metodologias ativas constitui um desafio para as instituições de ensino
preocupadas em formar sujeitos críticos e reflexivos corresponsáveis pelo
próprio processo de aprendizagem. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi
descrever a experiência de se utilizar a metodologia da problematização como
método pedagógico aplicado ao estágio curricular do Curso de Enfermagem.
Trata-se de um relato de experiência produzido a partir da introdução da
metodologia da problematização nas atividades desenvolvidas durante o estágio
curricular de uma instituição particular de ensino superior localizada no
município de Maceió. O cenário onde se desenvolveu a experiência de utilizar a
metodologia da problematização foi uma Unidade de Saúde da Família na qual
foram realizadas 440 horas da disciplina Estágio Curricular Supervisionado I
do Curso de Enfermagem. A metodologia da problematização propõe o uso de
problemas reais identificados pelos próprios atores sociais como foco de
estudo e intervenção4. No primeiro momento os estudantes foram familiarizados
com a metodologia da problematização que até aquele momento, não pertencia ao
conjunto de práticas pedagógicas desenvolvidas durante o curso. No segundo
momento os estudantes foram estimulados a observar atentamente a realidade da
comunidade e da Unidade de Saúde em que se desenvolveu o estágio curricular
obrigatório de forma a propiciar o registro sistematizado das experiências que
vivenciaram, com o objetivo de se focalizar um determinado tema. A observação
crítica realizada propiciou a reflexão sobre a situação de saúde da população,
para assim possibilitar a identificação do que se apresentou como preocupante,
inconsistente, contraditório ou insatisfatório e que impulsionou um estudo
mais aprofundado por parte do estudante. A reflexões desencadeadas pelas
situações vivenciadas pelo estudante foram de extrema importância pois não
remeteram apenas a sua dimensão cognitiva, mas principalmente à dimensão
compreensiva, já que para entender uma situação, o estudante foi encorajado a
avaliá-la levando em conta outros elementos constituintes, como recursos
materiais ou humanos. No terceiro momento foi iniciada a fase de _teorização
_onde cada estudante buscou informações para ajudar a identificar a origem dos
problemas identificados por cada um deles, utilizando fontes científicas, de
modo a propiciar a análise e discussão sob diferentes pontos de vista. As
informações obtidas individualmente foram registradas, posteriormente
discutidas com os demais estudantes e avaliadas quanto a suas contribuições
para a resolução do problema. Assim, puderam ser utilizadas diferentes fontes
de informação, bem como diferentes ângulos de análise, permitindo a
identificação da melhor forma de explicar o _problema_, possibilitando, na
etapa seguinte, a definição das _hipóteses de solução_ para este. O processo
de discussão, reflexão e comparação possibilitou ao estudante reforçar
posições concebidas anteriormente ao aprofundar o entendimento sobre o tema ou
reformular as posições iniciais a partir de uma nova compreensão a respeito do
_problema_. Após a fase de _teorização_, os estudantes estabeleceram hipóteses
para os problemas levantados, o que exigiu análise crítica da situação
escolhida fazendo-se necessário conhecer não só os fatores envolvidos no
_problema_, mas também aqueles necessários para o desenvolvimento das
resoluções. No decorrer da implementação das atividades, observou-se que a
problematização favorece a transformação dos estudantes em atores sociais
capazes de exercer a reflexão crítica da realidade, contribuindo para a
superação daquilo que precisa ser mudado. Sendo assim, pode-se considerar que
embora o resultado prático dependa dos conteúdos a serem trabalhados, a
metodologia da problematização oferece subsídios para a formação de um
profissional com competência técnica-científica e caráter transformador
necessário para exercer uma assistência de enfermagem de qualidade.
PALAVRAS CHAVE: Problematização, Ensino, Enfermagem.
REFERÊNCIAS
1 Schaurich D, Cabral FB, Almeida MA. Metodologia da problematização no ensino
em enfermagem: uma reflexão do vivido no PROFAE/RS. Esc Anna Nery Rev Enferm.
2007;11(2):318-24.
2 MATTOS, R. A. de. Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a humanização
das práticas de saúde. **Interface (Botucatu)**, Botucatu , v. 13, supl. 1,
p. 771-780, 2009.
3 CRIVARI, M. M. F. A dimensão educativa do processo de trabalho de
enfermeiro: competências a serem desenvolvidas na graduação. Londrina, 2008.
Mestrado (Educação) – Universidade Estadual de Londrina
4 Berbel NN. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas:
diferentes termos ou diferentes caminhos? **Interface - Comunic Saude Educ**.
1998;2(2):139-54.
Referências: 1- Ulisses F; Genoveva S. Aprendizagem Baseada em Problemas no ensino superior. São Paulo: Summus, 2009.
2- Rideout E. Transforming Nursing Education Through Problem-Based Leraning. Canada: Jones and Bartlett Publishers, 2001.
3- Carvalho V. Sobre Enfermagem: Ensino e Perfil Profissional. 1 edição. – Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2006. |