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5188975 | FACILIDADES E DIFICULDADES NA REALIZAÇÃO DAS VISITAS DOMICILIARES NO ÂMBITO DO NÚCLEO DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA | Autores: Fabiane Ferraz ; Nandara Pradella ; Franklin Cipolato ; Thales Macarini Sasso |
Resumo: **Introdução: **a visita domiciliar (VD) no âmbito do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) é um instrumento facilitador na abordagem ao usuário e família em seu contexto sociocultural e pode ser definida como um conjunto de ações voltadas para o atendimento em saúde, proporcionando cuidados que vão além do espaço limitado à Unidade de Saúde (1). **Objetivo:** identificar as facilidades e dificuldades que as equipes do NASF possuem na realização de VD, evidenciando a importância dessa ferramenta para a promoção da saúde e prevenção de doenças, na lógica de um cuidado integral. **Método:** trabalho derivado de uma pesquisa multicêntrica, descritivo-exploratória, caracterizada como um estudo de métodos mistos, tendo como proponente a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), com a participação de outras cinco universidades de Santa Catarina e representantes da Secretaria de Estado da Saúde. As informações foram produzidas a partir da análise de entrevistas coletivas realizadas com cinco equipes do NASF de diferentes macrorregiões de saúde de SC e expressam as facilidades e as dificuldades vivenciadas no seu processo de trabalho. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Pesquisa da UDESC, sob parecer n. 1.812.835/2016. **Resultados: **os nasfianos destacaram que as VD são realizadas a partir de demandas das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) e que os casos problemáticos na comunidade são trazidos, inicialmente, pelas Agentes Comunitárias de Saúde. Para a efetividade das VD, na maioria das vezes, são realizadas, anteriormente, reuniões de matriciamento com as equipes da ESF, sendo que a frequência da reunião depende da organização de cada Unidade de Saúde. O objetivo das reuniões é discutir os casos complexos, a necessidade da visita, além de criar estratégias em âmbito multiprofissional para interferir e buscar soluções. Uma das dificuldades salientadas pelos nasfianos para efetivação da visita foi à falta de veículos para a condução da equipe até o domicilio do usuário, sendo, frequentemente, adiada em vista disso, ou realizada mediante, a utilização do próprio automóvel do profissional. É consenso que para realizar uma boa VD é necessário que ocorra a capacitação dos profissionais dentro do NASF, para que a equipe multiprofissional saiba como atuar. No decorrer da produção das informações desta pesquisa, chamaram atenção às colocações sobre o fato de o Ministério da Saúde ter criado o Programa, mas não instrumentalizado as equipes de forma suficiente, sendo que os próprios profissionais (do NASF e das equipes de ESF), a comunidade e os usuários, não estão qualificados o suficiente para dizer qual é o papel do NASF e qual seria a importância de esses profissionais realizarem VD. Isso contribui para a visão curativista do usuário sobre a saúde, levando-o a buscar atendimento pelo médico, tencionando medicamentos e exames. Esse olhar desvaloriza o trabalho multiprofissional e integral dos profissionais que atuam na ESF e no NASF. Muitas vezes, as visitas domiciliares são realizadas com mais frequência do que o necessário, por que a Unidade Básica não possui infraestrutura adequada para receber os usuários. Nesse sentido, vale destacar a importância de repensar as diretrizes do NASF, bem como o fomento à educação permanente das equipes, tanto do NASF quanto das ESF, tendo em vista o reconhecimento do papel de cada uma na Atenção Primária, sobretudo para a resolubilidade e para a regulação da assistência nesse nível de assistência, bem como a sua articulação com a Atenção Secundária (especializada). Em relação às facilidades, foi destacada a importância da VD com apoio de profissionais nasfianos, de diversas áreas, abrangendo conhecimentos de diferentes e complementares categorias. Entretanto, essas são diretrizes que orientam também o trabalho da ESF, daí a necessidade de uma redefinição e/ou esclarecimento sobre os papéis de cada dispositivo. Embora a visita domiciliar esteja se consolidando como estratégia efetiva para criar vínculo entre os profissionais das equipes da ESF com a comunidade, os resultados deste estudo têm nos inquietado quanto a confusão existente entre atribuições dos profissionais da ESF e nasfianos no que tange à visita. Acreditamos que o NASF deva ser acionado pelas equipes quando há necessidade de um cuidado especializado às famílias e à comunidade. Fora isso, a prioridade de atuação do NASF é para apoio/suporte matricial às equipes, inclusive para realizarem as VD. Isso não quer dizer que os nasfianos não possam/devam fazer visitas. Contudo, sua conduta precisa estar pautada no planejamento da Clinica Ampliada, Projetos Terapêuticos e suporte às equipes de SF. Dessa maneira, criam-se oportunidades para discussão de casos entre nasfianos e equipes da SF, com vistas a dialogar sobre soluções plausíveis de problemas da comunidade adscrita (2). **Conclusão**: as dificuldades para a realização das VD limitam os objetivos dessa ferramenta. Fica evidente a confusão de atribuições do NASF e da ESF. A falta de estrutura física e material adequado, como o automóvel próprio para o deslocamento das equipes, foi o principal problema citado, seguido pela falta de qualificação dos profissionais e de conhecimento do trabalho do NASF pela comunidade, a crença em um modelo curativista, sem a compreensão de que o profissional que atua na Atenção Primária não realiza o seu trabalho sozinho. Salienta-se a importância dos gestores de saúde proporcionarem condições e recursos suficientes para atender as demandas das VD, além de possibilitarem a formação para a sua realização, sobretudo para compreenderem quando e de que maneira, efetivamente, os nasfianos devem realizar as visitas. **Contribuição/implicação para a enfermagem: **o enfermeiro tem grande responsabilidade na realização das VD pelo NASF por, juntamente com outros profissionais, generalistas que compõem as ESF, auxiliar no planejamento e acompanhar tais visitas. A formação de enfermagem, voltada para o Sistema Único de Saúde, tendo conhecimentos sobre a VD como ferramenta de trabalho na Atenção Primária, foi referida nas entrevistas como importante apoio para o NASF. Uma visita no âmbito do NASF só se justifica se envolver, em alguma instância, o enfermeiro e demais membros da equipe de ESF. Com esse movimento interdisciplinar, a VD permite construir interações entre os indivíduos, em sua comunidade, dentro do seu domicílio, através de instrumentos que aproximam a equipe e o usuário, contribuindo com a prática de promoção da saúde, com a integralidade e com a resolubilidade no SUS (1).
Referências: 1. Cardoso MCA. O trabalho como determinante do processo saúde-doença. Tempo Social, revista de sociologia da USP. 2015; 27(1): 73-93.
2. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução 311/2007. Aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem; 2017 [acesso em: 07 mar 2018]. Disponível em: http: //se.corens.portalcofen.gov.br/codigo-de-etica-resolucao-cofen-3112007.
3. International Council Nurses (ICN). Closing the Gap: Millennium Development Goals. Geneva; 2013 [acesso em: 07 mar de 2018]. Disponível em: http://www.ordemenfermeiros.pt/publicacoes.
4. Silva MJ, Souza EM, Freitas CL. Formação em enfermagem: interface entre as diretrizes curriculares e os conteúdos de atenção básica. Rev bras enferm. 2011; 64(2):315-21.
5. Ortega BCM, Cecagno D, et al. Formação acadêmica do profissional de enfermagem e sua adequação às atividades de trabalho. Rev. Latino-Am. Enfermagem maio-jun. 2015; 23(3):404-10. |