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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 4952571

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4952571

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO DA ENFERMAGEM EM HOSPITAIS PÚBLICOS

Autores:
Daiane Dal Pai ; Carine Vendruscolo ; Elisangela Argenta Zanatta ; Letícia de Lima Trindade

Resumo:
**Introdução**: Problemas na organização dos serviços, características e especificidades das atividades e do processo de trabalho no cenário hospitalar, entre outras fragilidades das condições de trabalho contribuem para ocorrência da violência contra os profissionais da enfermagem. Assim é preciso considerar as relações que se estruturam no espaço de trabalho e as influências que podem gerar repercussões na vida do profissional e na segurança do paciente. Nesse contexto emerge o assédio moral no trabalho, o qual também é reconhecido como intimidação e se refere ao comportamento ofensivo, humilhante, que desqualifica ou desmoraliza o trabalhador1, acontecendo de forma persistente e repetida, buscando rebaixar suas vítimas. O assédio moral ocorrente no ambiente laboral, também denominado de violência moral no trabalho, só se tornou visível recentemente quando se percebeu sua ocorrência no cotidiano de trabalho, principalmente nos locais em que há predomínio de atuação do gênero feminino. Este fenômeno, atrelado às características do trabalho desempenhado e às dificuldades inerentes ao trabalho, constituem fatores estressantes do cotidiano laboral2. Esse tipo de agressão afeta diretamente o desempenho profissional da enfermagem. Neste sentido, o problema desta pesquisa foi: como a equipe de enfermagem tem vivenciado a intimidação/assédio moral no trabalho no âmbito hospitalar? **Objetivo**: analisar os episódios de assédio moral no trabalho da enfermagem em um hospital públicos **Método**: estudo transversal quantitativo e qualitativo, realizado a partir do _Survey Questionnaire Workplace Violence in the Health Sector _com_ 198_ profissionais de enfermagem. Na segunda etapa do estudo foram realizadas entrevistas com 15 profissionais que sinalizaram na primeira etapa ter sofrido algum episódio de violência no trabalho nos últimos 12 meses. Selecionou-se enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem, com no mínimo um ano de serviço.  A coleta dos dados ocorreu no período de outubro de 2014 a novembro de 2017. As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão ou mediana e amplitude interquartílica e as categóricas foram descritas por frequências absolutas e relativas. Para comparar médias, o teste t-student para amostras independentes foi aplicado. Em caso de assimetria, o teste de Mann-Whitney foi utilizado, já para avaliar a associação entre as variáveis categóricas, os testes qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher foram utilizados. Para controle de fatores confundidores, a análise de Regressão de Poisson foi aplicada. O critério para a entrada da variável no modelo multivariado foi de que a mesma apresentasse um valor p<0,20 na análise bivariada. No entanto, permaneceram no modelo final apenas as variáveis com p<0,10. O nível de significância adotado foi de 5% (p=0,05) e as análises foram realizadas no programa SPSS versão 21.0. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas mediante orientação da Análise de Conteúdo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da HCPA (parecer n° 933.725) e o estudo contemplado com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (FAPESC), integrando também uma macro pesquisa desenvolvida em outros hospitais do Sul do país. **Resultados**: Do total da amostra (n=198), 40 (20,2%) sofreram assédio moral. Os trabalhadores que sofreram assédio moral eram de mais alta escolaridade. Quanto a função, eram mais enfermeiros, trabalhavam no turno da manhã, eram menos satisfeitos com o local de trabalho e mais preocupados com a violência no local de trabalho. Com ajuste pelo modelo multivariado, permaneceram associadas com o assédio moral: escolaridade, turno, satisfação com o local de trabalho e preocupação com a violência no local de trabalho. Profissionais com um ano a mais de escolaridade apresentam aumento de 20% na prevalência de assédio moral. Por outro lado, os que que avaliam um grau a mais na satisfação com o local de trabalho, apresentam redução de 23% na probabilidade de assédio moral. Ainda, para cada ponto a mais na escala de preocupação com violência no local de trabalho, há um aumento de 37% na probabilidade de sofrer assédio moral. Por fim, profissionais que trabalham no turno da manhã apresentam uma probabilidade 89% maior de assédio moral. Na etapa qualitativa confirmou-se que a maioria das vítimas deste tipo de violência indicou que o perpetrador não sofreu nenhuma consequência, e os poucos que responderam pela agressão foram punidos com advertência verbal. Quando o paciente ou seu cuidador foi o perpetrador, interromper o tratamento ou a transferência para outro setor foramas condutas mais comuns. Alguns profissionais não souberam se o evento teve consequências para o perpetrador, apesar do registro. As vítimas referiram que buscam não mudar suas condutas com os pacientes frente aos episódios, contudo, os múltiplos sentimentos de desgaste influenciam na sua satisfação no trabalho. **Conclusão**: o fenômeno da violência é mundialmente reconhecido, mas pouco analisado e enfrentado, especialmente no contexto da saúde. A pouca divulgação sobre o tema e dos estudos sobre intimidação/assédio moral, o não registro dos casos e pouco debate sobre o assunto e a não punição dos agressores contribuem para a banalização deste problema nos locais de trabalho, além de fortalecer a dificuldade de reconhecimento do que se caracteriza esse tipo de violência. Com base nos resultados encontrados salienta-se a importância de maior número de estudos nessa área, para conscientização das consequências desse ato para a saúde física, emocional e psicologia dos profissionais agredidos. Assim como sua influência na relação entre a equipe profissional e ainda o seu impacto sobre os cuidados de saúde prestados aos pacientes. Além da criação de novas propostas que busquem medidas de prevenção a violência no trabalho na área da saúde. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **essa pesquisa pode contribuir para que os profissionais de saúde, em especial da Enfermagem, gestores dos serviços de saúde, usuários e seus familiares  compreendam e se sensibilizem sobre o tema violência no trabalho, e potencialmente melhor compreendendo as repercussões do assédio moral, para que assim incluam nas suas estratégias de ação, mecanismos de debate e proteção dos profissionais da enfermagem ao fenômeno, e consequentemente uma melhor assistência aos usuários. Essa conscientização deve ainda permear os diálogos na formação acadêmica, local de orientação para os futuros profissionais dos serviços de saúde, os quais precisam estar atentos e auxiliarem a não replicar a cultura de violência, com vista a contribuir com a construção de ambientes de trabalhos mais saudáveis, que permitem um cuidado integral aos pacientes e a consolidação de medidas protetivas da saúde dos trabalhadores. REFERÊNCIA 1. Palácios M, et al. Relatório preliminar de pesquisa. Violência no trabalho no setor saúde – Rio de Janeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2002. 184 p. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2014. 2. Bobroff  MCC; Martins JT. Assédio Moral, ética e sofrimento no trabalho. Revista Bioética, 21(2):251-8, 2013. Palavras-chave: Violência. Assédio Moral. Saúde do trabalhador. Enfermagem. EIXO 2: Práxis da Enfermagem e Saúde da População TEMA 3: Processo de Enfermagem: referenciais teórico-metodológico, raciocínio clínico e sistemas de linguagem padronizada.


Referências:
Referências 1. Moura A, Liberalino FN, Silva FV, Germano RM, Timóteo RPS. SENADEn: expressão política da Educação em Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2006;59(SPE):441-53. 2. Ball SJ. Profissionalismo, gerencialismo e performatividade. Cadernos de Pesquisa. 2005;35(126):539-64. 3. Teixeira E, Fernandes JD, Andrade AC, Silva KL, Rocha MEMO, Lima RJO. Panorama dos cursos de Graduação em Enfermagem no Brasil na década das Diretrizes Curriculares Nacionais. Rev Bras Enferm. 2013;66(SPE):102-10. 4. Cellard A. A Análise Documental. In: Poupart J, Deslauriers J-P, Groulx L-H, Laperrière A, Mayer R, Pires ÁP, editors. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Coleção Sociologia. 4 ed. 2 reimpr. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes; 2017. p. 295-316. 5. PAILLÉ P, MUCCHIELLI A. L´Analyse Qualitative en Sciences Humaines et Sociales. 3 ed. Paris, FR: Armand Colin; 2012. 423 p.