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4928799 | DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ENFERMEIROS PEDIATRAS: REFLEXÃO SOBRE AS CIRCUNSTÂNCIAS QUE LEVARAM A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM PEDIÁTRICA | Autores: Isaura Setenta Porto ; Tania Cristina Franco Santos ; Suely Lopes de Azevedo ; Cássia Barbosa Reis ; Aline Silva da Fonte Santarosa de Oliveira |
Resumo: Ao longo do tempo, os docentes da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) e de
outras instituições foram titulados no nível de Mestrado. Esse novo perfil
favoreceu a formação do pensamento crítico-reflexivo, com evidentes reflexos
no preparo profissional com competências diferentes. No bojo da Reforma
universitária, promove-se alteração que estabeleceu novo currículo mínimo para
o ensino de graduação, aprovada através do Parecer 163/72 e Resolução 4/72 do
Conselho Federal de Educação. Até então, o currículo vigente datava de 1962 e
estava centrado nas clínicas especializadas, tendo os hospitais como centros
hegemônicos de assistência à saúde1. Porém, com aprovação do Parecer 163/72,
conhecido como o currículo das habilitações, a EEAN e as demais instituições
de ensino superior da enfermagem passam a ter como um novo direcionador do
processo de formação2. Esse currículo compreendia três partes: Pré-
profissional; tronco profissional e as habilitações, divididas em: Enfermagem
de Saúde Pública; Enfermagem Obstétrica e Enfermagem Médico Cirúrgica. Os
campos de prática da enfermagem pediátrica eram os hospitais vinculados à
universidade e de forma integrada ao conteúdo teórico. Nessa linha de
reflexão, o espaço da prática era favorável ao convívio com estudantes de
Medicina e de outros cursos que formavam profissionais que participam da
equipe de saúde nas unidades hospitalares. A rigor, a história dos cuidados à
saúde da criança acompanha a evolução do conceito e tratamento social
conferido à infância no seio da sociedade, bem como a trajetória da ciência,
da tecnologia e de dados epidemiológicos referentes à mortalidade infantil, em
seus primeiros meses de vida. Assim, as transformações socioculturais,
econômicas, políticas e tecnológicas ocorridas no século XX influenciaram a
medicina de modo geral e a Pediatria em particular, refletindo-se nos
requisitos e demandas referentes aos cuidados e, portanto, à formação em
Enfermagem. Em relação à assistência específica à criança, além da
insuficiência numérica e sub-utilização de enfermeiros, cabe ressaltar a falta
de estudos adicionais ao Curso de Graduação em Enfermagem para permitir um
preparo mais profundo nos problemas relacionados à infância, suas necessidades
prioritárias, os fatores de equilíbrio da saúde da criança e os recursos
assistenciais que podem ser utilizados para maior eficácia das ações de
enfermagem4. Dessa forma, as instituições responsáveis pela formação em
enfermagem mobilizaram-se no sentido da atualização de conhecimentos e
habilidades profissionais da categoria. Entre outras estratégias, promoveram
cursos de especialização, no intuito de corresponder às demandas da
assistência. **Objetivo**: Descrever as circunstâncias que determinaram a
criação do Curso de Especialização em Enfermagem Pediátrica na EEAN. O suporte
teórico da pesquisa baseou-se nos conceitos de violência simbólica, habitus e
campo, formulados pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. **Metodologia**:
Estudo descritivo, reflexivo, apoiado em procedimentos da história oral, entre
outras fontes documentais. Na investigação baseada na história oral, as
principais fontes são as primárias, que consistem em informações pessoais,
baseadas em vivências, experiências, ou outras dimensões individuais e
coletivas, as quais não poderiam ser obtidas por outros meios3. Com esses
subsídios, no desenvolvimento da coleta de dados e informações para a
pesquisa, recorreu-se ao acervo documental dos cursos Lato Sensu arquivados no
setor de pós-graduação da EEAN e à Hemeroteca, plataforma online do Acervo
Digital da Biblioteca Nacional e a fontes pertencentes ao acervo do Centro de
Documentação da Escola Anna Nery (CEDOC/EEAN), que foi criado para recuperar a
memória dos principais movimentos da enfermagem na História Contemporânea do
Brasil. A seleção do corpus documental ocorreu entre agosto de 2014 e dezembro
de 2015. Quanto aos aspectos éticos e legais, o estudo atendeu as exigências
do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, nos termos da Resolução
n.º 466/2012, que orienta as pesquisas com seres humanos, obtendo aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa da EEAN / Hospital Escola São Francisco de Assis,
no dia 13 de abril de 2015. **Resultados**: As variáveis do contexto sócio-
político e ideológico brasileiro impulsionaram o desenvolvimento científico e
tecnológico das políticas públicas de atenção integral à saúde da criança, o
que refletiu decisivamente na criação da pós-graduação em estrito e lato sensu
e na reformulação curricular no nível de graduação, com a inserção das
habilitações em Enfermagem. A formação do enfermeiro na área pediátrica
restringe-se, ao ensino ministrado no Tronco Profissional comum, cuja carga
horária variava de uma para outra Escola, de 160 a 250 horas de atividades
teórico-práticas4. Essa evolução também se refletiu na qualificação e
titulação do corpo docente, bem como nas escolhas de enfermeiras quanto à
especialização nos diversos níveis de formação. Os dados obtidos e as
informações apresentadas propiciaram vigorosos alicerces à hipótese de que, na
senda teórica defendida por Pierre Bourdieu, a formação especializada tende a
ser vislumbrada como reforço à atuação qualificada no exercício profissional
da docência e nos campos de prática. **Conclusão:** Na trajetória empreendida
desde meados do Século XX, de conquista de espaço na luta de poder no seio da
equipe de saúde, de ampliação de capital científico, profissional e cultural,
propiciando, aos egressos e docentes os conhecimentos necessários às novas
demandas de assistência à criança, com destaque ao enfrentamento do elevado
índice de mortalidade materno-infantil, a EEAN empreendeu estratégias para
criação do curso de especialização de enfermagem pediátrica em 1985. Dessa
forma, as iniciativas, estratégias e motivações subjacentes à criação do Curso
de Especialização em Enfermagem Pediátrica da EEAN refletem demandas do
contexto político e da evolução técnica e científica referentes aos cuidados à
criança. **Implicações do estudo**: Os principais resultados propiciam
subsídios a outras pesquisas e iniciativas críticas, no intuito de aprimorar a
formação e prática de enfermeiras na área Pediátrica, o que favorece o
atendimento dos direitos das crianças no que se refere à prevenção,
preservação e qualidade de saúde. A produção científica em Enfermagem ainda
apresenta lacunas referentes à Especialização em Enfermagem Pediátrica, com
seus desdobramentos contemporâneos, principalmente tomando-se como fontes os
protagonistas do processo de formação na área.
Referências: 1. ALBA, Lucia and B. L. de Barros... [et al] – Processo de Enfermagem: guia pratico / Conselho Regional Enfermagem de São Paulo: COREN-SP, 2015, 1e, 113p. ISBN 978-85-68720-01-1. https://issuu.com/rozepedroso/docs/sae-web.
2. ALVIM, ALS. O Processo de Enfermagem e suas Cinco Etapas . Rev. Enfermagem em Foco. 2013 ; e-ISSN: 2357-707X i-ISSN: 2177-4285. http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/viewFile/531/214.
3. HOCKENBERRY, J. M. and WILSON. D. [et al] – Wong, manual clínico de enfermagem pediátrica ;[tradução Antonio Francisco Dieb Paulo...et al] . – Rio de Janeiro :Elsevier, 2012. 346p. ; il., 28 cm.
4. SILVA, J. P. and GARANHANI. M. L. [et al] – Sistematização da Assistência de Enfermagem na graduação: um olhar sob o Pensamento Complexo . Rev. Latino-Am. Enfermagem. [online]. jan.-fev. 2015 ; 23(1):59-66. http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n1/pt_0104-1169-rlae-23-01-00059.pdf.
5. SOSSELA, Cláudia Roberta and SAGER, Fábio. A criança e o brinquedo no contexto hospitalar. Rev. SBPH [online]. 2017, vol.20, n.1, pp. 17-31. ISSN 1516-0858. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582017000100003. |