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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 4715151

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4715151

JOVENS HOMOAFETIVOS E SAÚDE MENTAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM

Autores:
João Marcos Werner ; Carine Vendruscolo ; Maria Luiza Bevilaqua Brum ; Andréa Noeremberg Guimarães ; Gabriel Deolinda da Silva de Marqui

Resumo:
**Introdução**: O termo homoafetividade no Brasil é usado - inclusive em documentos oficiais - para designar as relações entre pessoas do mesmo sexo, com vistas a regularizar direitos através da afirmação jurídica de um sentimento positivado (1). No entanto, a história demonstra que a forma como a sociedade reagiu frente à homoafetividade acabou por estigmatizá-la, situação que continua ainda na atualidade. Para contribuir com a redução dessa problemática foi instituído no Brasil o “Programa Brasil Sem Homofobia” e a “Política de Assistência Integral à saúde da população de **Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais **- LGBT” (2). Todavia, no Brasil e no mundo, a população LGBT ainda enfrenta uma enorme dificuldade frente às diversas formas de violência e discriminações vivenciadas em relação a sua orientação sexual (3). Diante dessa realidade, emergiu o interesse de investigar jovens homoafetivos, motivado pela inquietação de que estes estão suscetíveis ao sofrimento psíquico relacionado à sua orientação sexual. Destaca-se o fato de a literatura científica ser escassa de materiais sobre essa temática, especialmente na área de enfermagem e saúde mental. Desta forma, este estudo foi realizado com vistas a contribuir para a reflexão de enfermeiros e acadêmicos de enfermagem,  acerca da Consulta de Enfermagem a essa população e das suas vulnerabilidades. **Objetivo**: Conhecer como jovens homoafetivos enfrentam situações que afetam sua saúde mental. **Descrição metodológica: **Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina. Foi realizada em duas instituições de ensino superior de Santa Catarina com 19 jovens homoafetivos. As informações foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas, interpretadas seguindo os passos da análise de conteúdo. **Resultados:** Dos participantes, 12 eram homens e sete mulheres, suas idades variaram de 18 anos a 23 anos. Todos referiram ser estudantes, 15 faziam Curso de Graduação em Enfermagem, um de Ciências Sociais, um de Letras, um de Ciências da Computação e um de Matemática.  As três categorias organizadas a partir das falas dos participantes foram: 1) O descobrir-se homoafetivo e a construção do ser, 2) A aceitação da homoafetividade e 3) Relações sociais e aspectos religiosos. Observa-se nas falas dos jovens que o descobrir-se homoafetivo é um processo difícil para o individuo, principalmente por que as pessoas estão embasadas no modelo heterocêntrico e, por conseguinte, o homoafetivo é criado dentro desse padrão enquanto integrante do grupo social família. Essa cultura interfere na saúde mental dos homoafetivos, sobretudo no momento em que se autodescobrem com tal. A autoceitação da homoafetividade na maioria dos participantes do estudo ocorreu na transição da fase de adolescente para jovem adulto sendo marcada por um cenário conturbado em seus entornos, e a aceitação nos grupos sociais foi e continua sendo permeada por sofrimento psíquico pela exclusão e atos de desprezo que acontecem de modo acentuado, inclusive no meio familiar. Alguns pais buscam mascarar a situação e não tocam no assunto, tornando para o homoafetivo um ambiente familiar hostil e preconceituoso decorrente do modelo de sociedade conservadora e de aspectos religiosos. Os jovens homoafetivos demonstraram que esperam da família a união e o amor incondicional, no entanto, identificaram a inflexibilidade quando o assunto é a homoafetividade e, logo se sentem intimidados diante deste contexto, o que torna mais difícil o processo de autoaceitação. Em alguns casos esta aceitação nem chegou a acontecer. São poucos os pais que aceitaram a orientação sexual dos filhos e os acolhem. Quando isso acontece, estes se sentem fortalecidos para os enfrentamentos de vida que experienciam. Outro grupo social que se mostrou relevante e intimamente ligado ao homoafetivo é o de amizades. Estar inserido em um grupo social de amigos para os entrevistados torna-se um desafio. Além do processo de autodescobrir-se e aceitar-se enquanto homoafetivo, existe a questão de assumir-se perante seus amigos, entretanto, por vezes, por medo de exclusão social, o homoafetivo veste uma máscara heterossexual para ser aceito. Há amigos que aceitam e outros que não, no entanto, com o passar do tempo, estes últimos acabam aceitando o homoafetivo, naturalmente. No cenário atual, o constrangimento, o preconceito, a discriminação e a exposição social ainda são fatores comuns na vida de homoafetivos. Foram relatadas experiências de violência verbal e física por parte de familiares, amigos, colegas de trabalho, professores universitários, profissionais da área da saúde e pessoas desconhecidas nos espaços públicos. Ainda, foram percebidos aspectos religiosos que reforçam a repressão, mas também o acolhimento. **Conclusão:** A pesquisa mostrou que as relações intra e inter pessoais do jovem homoafetivo estão intimamente ligadas ao seu estado psíquico, uma vez que nas narrativas muitos participantes descreveram que os enfrentamentos sociais e aspectos religiosos interferem de maneira significativa no processo de descobrir-se e de aceitar-se. O jovem, antes criança e adolescente, deve desconstruir o modelo heterocêntrico e despir-se de máscaras e/ou fantasias heterossexuais carregadas de sofrimento. É importante conhecer esse processo pelo qual passam muitos jovens homoafetivos, construindo uma visão despida de preconceito destes grupos sociais vulneráveis. Nesse ponto, vale lembrar que a enfermagem é uma profissão que tem como ferramenta importante de trabalho a humanização do atendimento, além da equidade e integralidade, como suportes para intervir e cuidar de pessoas vulneráveis. **Contribuições/implicações para a Enfermagem:** Este estudo demonstra que despir-se de preconceitos, olhar para o diferente com respeito, estar aberto ao diálogo, entre outros dispositivos, podem parecer atitudes simples, mas que, na sociedade atual, ainda são questões para serem aprimoradas e incansavelmente, colocadas em discussão. Além de conhecer as questões que envolvam os homoafetivos, é importante salientar que haja novos estudos para alimentar as bases de dados científicos e gerar informações sobre essa temática, envolvendo também a outra parcela de indivíduos que envolvem a sigla LGBT, que além de gays e lésbicas, integrantes desse estudo, compreende também bissexuais, travestis e transexuais, parcela importante e com significativa vulnerabilidade social. Tratam-se de tecnologias complexas que atendem as necessidades de pessoas que estão em construção e para as quais um sinal de afeto pode ser determinante. Dessa forma, ao realizar a Consulta de Enfermagem, o enfermeiro precisa reconhecer aspectos relacionados à esta e outras condições de vulnerabilidade, para intervir com responsabilidade e ética.


Referências:
Victora CG, Aquino EM, Carmo Leal M, Monteiro CA, Barros FC, Szwarcwald CL. Maternal and child health in Brazil: progress and challenges. Lancet. 2011; 377(9780):1863-76. Carvalho Elisabete Mesquita Peres de, Göttems Leila Bernarda Donato, Pires Maria Raquel Gomes Maia. Adherence to best care practices in normal birth: construction and validation of an instrument. Rev. esc. enferm. USP [Internet]. 2015 Dec [cited 2018 Mar 09]; 49(6):889-897. Pasche DF, de Albuquerque Vilela ME, Martins CP. Humanização da atenção ao parto e nascimento no Brasil: pressupostos para uma nova ética na gestão e no cuidado. Tempus Actas Saúde Colet. 2010;4(4):105-17. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70; 2011.