E-Pôster
4564276 | O PROCESSO DE ENFERMAGEM EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL II: RELATO DE EXPERIÊNCIA. | Autores: Rafael de Abreu Lima ; Kardene Pereira Rodrigues ; Elza Lima da Silva ; Arlene de Jesus Mendes Caldas ; Flávia Baluz Bezerra de Farias Nunes |
Resumo: Introdução: Novos modelos de atenção à saúde mental foram adotados a partir da
reforma psiquiátrica brasileira tendo como fundamento as mudanças na política,
práticas e saberes, crenças e legislação1. As transformações sucederam
desdobramentos no campo da assistência com a necessidade de reorganização do
processo de trabalho dos profissionais de saúde1. A enfermagem com o objetivo
de rompimento com o paradigma da tutela desenvolve raciocínio lógico
compreendendo a complexa relação dos aspectos psíquicos, sociais e políticos2.
Os enfermeiros enfrentam dificuldades nos novos modelos de assistência em
saúde mental, como o CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) por sua
formação centrada no modelo tradicional de psiquiatria3. As mudanças no ensino
de enfermagem em saúde mental devem ser permeadas pela criatividade,
sensibilidade, imaginação e intuição. O enfermeiro precisa de pensamento
aberto, que contemple a reflexão3. Consequentemente, é essencial o Processo de
Enfermagem (PE) para o estabelecimento do cuidado de forma autônoma pelo
enfermeiro, qualificando e contribuindo para o Projeto Terapêutico Singular3.
Reconhecer a experiência individual do sofrimento psíquico em todos os
contextos, além de apenas a sintomatologia psicopatológica requer a aplicação
do PE3. A aplicação do PE facilita o estabelecimento da relação terapêutica,
sendo esta entendida como uma tecnologia do cuidado de enfermagem que
possibilita o reconhecimento das experiências de vida do paciente. A relação
terapêutica se configura como a questão central da ação do enfermeiro em saúde
mental4. O posicionamento do enfermeiro como agente terapêutico junto as
pessoas em sofrimento psíquico podem se dá pelo PE3 Objetivo: Relatar
experiência de aplicação do Processo de Enfermagem durante prática
supervisionada em um Centro de Atenção Psicossocial II. Descrição
Metodológica: Trata-se de um relato de experiência docente na prática
supervisionada da disciplina de Saúde Mental do curso de graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão. Ocorreu no período de
30/10/2017 a 15/12/2017 no Centro de Atenção Psicossocial II no município de
São Luís – Maranhão. Os grupos de prática supervisionada eram compostos por
até 06 alunos. Os alunos foram orientados previamente sobre a aplicação do PE
durante a prática supervisionada, com a solicitação das seis etapas: Histórico
de Enfermagem, Diagnóstico de Enfermagem, Plano Assistencial, Prescrição de
Enfermagem, Evolução e Prognóstico5. Após aplicação de cada etapa foram
estabelecidas rodas de conversa para discussão de cada caso. Cada aluno foi
orientado a registrar as suas dificuldades em cada etapa e socializar nas
rodas de conversa ao final de cada prática supervisionada. As rodas de
conversa aconteceram em uma sala privativa disponibilizada pelo serviço. Os
alunos tinham a oportunidade de na primeira etapa do PE atuarem com bastante
autonomia, sendo observados a uma certa distância pelo docente, que se
posicionava no fundo da sala e não fazia intervenções durante a produção do
histórico, incentivando o estabelecimento de vínculo para a construção da
relação terapêutica. Os alunos utilizaram como referência para produção do
histórico o modelo proposto por Wanda Horta5. Resultados: No primeiro dia os
alunos conhecem a infraestrutura física do CAPS II, bem como, a equipe
multiprofissional responsável pelo atendimento das pessoas acometidas por
transtornos mentais. Os alunos são estimulados a utilizarem a roda para se
apresentarem e ao mesmo tempo conhecerem as pessoas a quem o cuidado será
dispensado, ao final da roda devem indicar com qual pessoa os mesmos irão
aplicar o PE durante o período de prática. Após a escolha, cada aluno realiza
a abordagem individual com objetivo de realizar a primeira etapa do processo,
o histórico de enfermagem, através de um roteiro sistematizado para o
levantamento de dados significativos para que os problemas possam ser
identificados. Observa-se a dificuldade nos alunos na entrevista mesmo
dispondo de um roteiro estruturado, seja pelo temor de aproximação da pessoa
com transtorno mental, seja por prospectar que o transtorno mental impede das
pessoas contarem suas próprias histórias. A segunda etapa do PE de enfermagem
é solicitada aos alunos com o objetivo que os mesmos identifiquem as
necessidades afetadas e o grau de dependência das pessoas com transtorno
mental. Nesta etapa os alunos apresentam novamente dificuldade pelo
desconhecimento das necessidades básicas psico-sócio-espirituais afetadas e
forte influência do modelo biológico. A terceira etapa do PE se torna muito
difícil para que o aluno a faça com autonomia, por não consegui determinar de
maneira global a assistência de enfermagem. Na quarta etapa do PE os alunos
devem produzir um roteiro diário de cuidados, a prescrição de enfermagem. Os
alunos referem que o fato da maioria das ações efetivadas no CAPS II não serem
medicalizadas ou que utilizem tecnologias duras, dificulta o pensar, pois
estas devem ser operacionais. Na quinta etapa do PE, a evolução de enfermagem,
sendo que esta deve ter uma periodicidade que atenda a assistência específica,
a evolução das pessoas com transtorno mental exigem que seja de curto, médio e
longo prazo, pois a ações medicalizadas e não medicalizadas costumam surtirem
efeitos a médio e longo prazo, os alunos referem a dificuldade de
identificarem as alterações, pelo motivo da doença mental poder apresentar
subjetividades e singularidades mais acentuadas. A sexta etapa do PE, o
prognóstico de enfermagem, os alunos estimaram a capacidade da pessoa com
transtorno mental atender suas necessidades básicas apoiados pelo Projeto
Terapêutico Singular, ferramenta utilizada no contexto da saúde mental.
Conclusão: Ensinar o PE no contexto da Saúde Mental é um grande desafio a
categorização advinda do modelo biológico centralizado no hospital. O PE está
internalizado apenas como a sistematização do cuidado dentro do contexto
hospitalar clínico. O ensino do PE no contexto da saúde mental é essencial
para a relação enfermeiro-usuário do CAPS, na desconstrução do modelo
biomédico e enfoque na singularidade, sedimentando um cuidado ampliado.
Contribuições para a Enfermagem: A utilização do PE na disciplina de Saúde
Mental contribui para formação de um enfermeiro que consiga estabelecer
relação terapêutica com as pessoas com transtornos mentais, além de demarcar e
reafirmar a necessidade da presença do enfermeiro na equipe multiprofissional
nos Centros de Atenção Psicossocial.
Referências: 1. Bruno LSX, Santos I, Almeida RF, Clos AC, Santos MTS. Características individuais e clínicas de clientes com doença renal crônica em terapia renal substitutiva. Rev enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2014 mai/jun; 22(3):314-20.
2. Freire LBV. Autocuidado e cuidado de dependente em diálise peritoneal ambulatorial contínua: um estudo da Teoria de Orem. 180 f., il. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
3. Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução Nº 358 do Conselho Federal de Enfermagem, de 15 de outubro de 2009 (BR). 2009 [citado 21 jan 2016]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
4. Castro MC, Fuly PS, Garcia TR, Santos ML. Subconjunto terminológico CIPE® para pacientes em cuidados paliativos com feridas tumorais malignas. Acta Paul Enferm. 2016; 29(3):340-6.
5. Bezerra MLR, Ribeiro PRS, Sousa AA, Costa AIS, Batista TS. Diagnósticos de enfermagem conforme a teoria do autocuidado de Orem para pacientes em tratamento hemodialítico. Rev. Ciênc. Ext, 2014; 8 (1): 60-81. |