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4356162 | Estímulos e comportamentos da Deglutição prejudicada em crianças com disfunções neurológicas | Autores: Renan Alves Silva ; Vivivane Martins da Silva ; Rosely Leilany dos Santos ; Marcos Venícios Oliveira Lopes |
Resumo: Introdução: Em meio aos avanços da enfermagem enquanto profissão e ciência,
surge a necessidade de estabelecer marcos conceituais que fundamentem a sua
organização e sistematização do processo de trabalho a fim de compreender
diversas questões para que o cuidado seja qualificado, eficaz, eficiente e
seguro. Um dos modelos que possibilita o alcance de resultados foi proposto
pela Sister Callista Roy. Nessa concepção, o enfermeiro executa papel de
mediador ou facilitador para a promoção da adaptação positiva do cliente
desenvolvendo o processo de enfermagem estruturado em seis fases, a saber:
avaliação de comportamento, avaliação de estímulos, diagnóstico de enfermagem,
estabelecimento de metas, intervenção e avaliação. A estruturação dessas
etapas permite o cuidado de enfermagem sistematizado e voltado para a
adaptação do paciente frente as limitações impostas pela situação clínica. Com
isso, permite assistir a pessoa como um sistema holístico e adaptável; na
qual, verifica-se portas de entradas e saídas que manifestam por respostas
adaptativas e inefetivas. Inúmeras são as necessidades adaptativas dos
indivíduos a depender da situação clínica e contexto específico de cuidar.
Destaca-se as disfunções neurológicas que desencadeia diversos problemas
adaptativos, nos quais repercutem diretamente nas atividades cotidianas do ser
cuidado e na dinâmica e estrutura familiar. Os problemas são originados dos
subsistemas cognitivo e regulador, quando não são se deparam com estratégias
de enfrentamento suficientes para adaptar ao contexto de cuidar. Desse modo,
esses comportamentos são mais evidentes em crianças com disfunções
neurológicas, como a encefalopatia crônica não progressiva e microcefalia;
visto que, observa-se a necessidade de adaptação tanto das crianças e das mães
a sua nova condição de vida. Estudo salienta que promover a nutrição de forma
adequada é a segunda necessidade humana fisiológica defendida pela teórica
para promover boa adaptação ao ambiente em que vivemos. Uma das respostas
ineficazes vivenciadas pelas crianças que atinge diretamente a integridade
psicológica, espiritual, social e familiar é Deglutição prejudicada. Com isso,
torna-se imprescindível conhecer as relações entre os estímulos e os
comportamentos de adaptação desse diagnóstico. Objetivo: analisar a associação
entre os estímulos e os comportamentos do diagnóstico de enfermagem Deglutição
prejudicada em crianças com disfunções neurológicas. Método: estudo
transversal, realizado em serviço de estimulação precoce, com 82 díades. Os
critérios de inclusão foram possuir idade entre um ano e 11 anos 11 meses 29
dias; apresentar diagnóstico médico de Encefalopatia crônica não progressiva
ou Microcefalia. Os critérios de exclusão foram: estar realizando nutrição por
meio de cateter nasogástrico ou nasoenteral; ter submetido à gastrostomia,
jejunostomia ou ileostomia como via transitória ou permanente de alimentação;
apresentar fenda labiopalatina e laringomalácia. Utilizou-se um instrumento do
tipo formulário baseado nos comportamentos do diagnóstico de enfermagem
Deglutição prejudicada classificados a partir das características definidoras
da NANDA Internacional; bem como, dados sociodemográficos, clínicos e
alimentares das crianças e variáveis sociodemográficos dos cuidadores
.Utilizou-se teste de associação estatística e de diferença de médias de Mann-
Whitney entre a presença do estímulo e os comportamentos do referido
diagnóstico de enfermagem. Adotou-se o nível de significância de 5%.
Resultados: Ao associar as variáveis sociodemográficas e os comportamentos
encontraram-se resultados estatisticamente significantes entre: a renda
familiar e a _deglutição fragmentada_, visto que, crianças com renda familiar
de até um salário mínimo apresentam quatro vezes mais chance de desenvolver
deglutição fragmentada (OR: 4,397, IC 95%: 1,31-14,73; p=0,017). Estado civil
do cuidador apresentou relação estatística com a presença do comportamento _os
alimentos caem da boca_, visto que, crianças cuidadas por pessoas casadas
apresentaram mais episódios de queda de alimentos do que as cuidadas por
cuidadores solteiros, aumentando em 10 vezes mais a chance desse comportamento
(OR: 10,071, IC 95%: 1,15-88,04; p=0,018). Observou-se que crianças que não
foram amamentadas exclusivamente até o sexto mês apresentam nove vezes mais
chance de manifestar episódios de _refluxo nasal_ durante a avaliação (OR:
9,28, IC 95%: 2,14 - 40,16, p=0,005). Diferenças estatisticamente
significantes de idade foram identificadas em indivíduos que apresentavam
_bruxismo_ (postos médios 50,69 vs 37,23, p= 0, 017) ou _hiperextensão
cervical_ (postos médios 51,73 vs 38,20, p=0,027). Crianças com estes
comportamentos eram mais velhas do que as que não manifestaram. Crianças que
apresentavam _deglutições múltiplas_ (postos médios 36,15 vs 53,02, p=0,03),
_fechamento incompleto dos lábios_ (postos médios 38,46 vs 50,33, p = 0,048),
_refeições longas com pequena consumação_ (postos médios 38,28 vs 49,76,
p=0,049), _elevação inadequada da laringe_(postos médios 39,16 vs 55,13,
p=0,032) ou _refluxo nasal_ (postos médios 23,65 vs 43,98, p= 0,011) eram mais
novas. No tocante a idade do cuidador, observou-se diferença estatisticamente
significante ao se comparar crianças com e sem _bruxismo_ (postos médios 31,75
vs 46,03, p=0,011). Os cuidadores de crianças com bruxismo eram em média mais
jovens; já cuidadores de crianças com _refluxo nasal_ (postos médios 59,40 vs
39,01, p=0,011) eram mais velhos. Em relação à escolaridade, encontrou-se que
cuidadores de crianças com _posição alterada da cabeça_ (postos médios 38,70
vs 51,44, p=0,042), _hiperextensão cervical_ (postos médios 29,85 vs 45,26,
p=0,011) ou _refluxo nasal_ (postos médios 26,30 vs 43,63, p=0,028) tinham
menor escolaridade. Relação contrária foi encontrada para a _falta de
mastigação_ (postos médios 38,55 vs 26,05, p=0,006), em que cuidadores de
crianças com falta de mastigação eram em média mais escolarizados. A duração
da amamentação exclusiva apresentou diferença estatística significante entre a
presença e a ausência dos seguintes comportamentos: _infecções respiratórias
recorrentes_ (postos médios 46, 44 vs 32,47, p= 0,006), _evidência observada
de dificuldade de engolir_ (postos médios 45,59 vs 36,01, p=0,05), _recusa em
alimentar-se_ (postos médios 50,29 vs 37,86, p=0,021), _falta de ação para
formar o bolo alimentar_ (postos médios 46,06 vs 34,76, p=0,023), _falta de
mastigação_ (postos médios 36,53 vs 27,88, p=0,036), _formação lenta do bolo_
(postos médios 46,06 vs 34,76, p=0,023) e _incapacidade para esvaziar a
cavidade oral_ (47,64 vs 34,73, p=0,008). Nesse sentido, crianças com estes
comportamentos tinham em média maior tempo de amamentação exclusiva. Já as
crianças com o comportamento _alimentos são empurrados para fora da boca_
(postos médios 34,73 vs 46,06, p=0,023) tinham menor tempo de amamentação
exclusiva. As diferenças de médias e as associações permitiram identificar os
estímulos que favorece o desencadeamento de comportamentos inefetivos. Desse
modo, evidenciou-se dois estímulos focais a serem considerados na adaptação, a
saber: a disfunção neurológica (encefalopatia crônica não progressiva e
microcefalia) e o grau de comprometimento motor. Estabeleceu-se como estímulos
contextuais: a renda familiar, o estado civil, a idade da criança, a idade do
cuidador, a escolaridade do cuidador. Dois estímulos residuais foram
existentes e podem de tal modo afetar a situação. No entanto, não se consegue
mensurar os seus efeitos: o aleitamento materno não exclusivo e a duração da
amamentação em meses inferior ao recomendado, apesar do estabelecimento na
literatura. Verifica-se que, os estímulos focais aumentam a condição de
susceptibilidade para o desenvolvimento do diagnóstico interferindo na
recuperação do estado de saúde. Ainda, os contextuais favorecem a manutenção
dessa condição quando não modificados. Conclusão: Esse estudo possibilitou
predizer os estímulos e os comportamentos favorecendo reconhecer os mecanismos
de adaptação dos subsistemas cognitivos e reguladores.
Referências: 1. SILVA, E. G. C; OLIVEIRA, V. C; NEVES, G. B. C; GUIMARÃES, T. M. R. O conhecimento do enfermeiro sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem: da teoria à prática. Rev. Esc. Enf. USP, v.45, n.6, 2011.
2. DELL’ACQUA, M. C. Q.; MIYADAHIRA, A. M. K. Ensino do processo de enfermagem nas escolas de graduação em enfermagem do Estado de São Paulo. Rev. Latino-am Enf. v. 10, n. 2, dez. 2002.
3. TANNURE, Meire Chucre. PINHEIRO, Ana Maria. SAE: Sistematização da Assistência de Enfermagem. 2a Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
4. PEREIRA, A; SANTOS, R. Análise do raciocínio clínico do graduando em Enfermagem na aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem. J Health SciInst, 2012.
5. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2015-2017 / [NANDA Internacional]; organizadoras: Herdman H, Kamitsuru S; tradução: Garcez RM; revisão técnica: Barros ALBL et al. Porto Alegre. Artmed, 2015 |