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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 4319412

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4319412

DIFICULDADES DOS ENFERMEIROS PARA ACOLHER E ATENDER AS NECESSIDADES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT

Autores:
Samara Calixto Gomes ; Helen Luci de Menezes Silva Santos ; Nayara Santana Brito ; Caik Ferreira Silva ; Glauberto da Silva Quirino

Resumo:
O Sistema Único de Saúde considerado o maior sistema universal de saúde do mundo e melhor política pública já instituída no Brasil, surgiu na busca de garantir assistência universal à população brasileira. Neste contexto, a Atenção Primária à Saúde configura-se a porta de entrada dos usuários ao sistema de saúde. Para a Política Nacional de Humanização, o acolhimento é uma das diretrizes norteadoras do cuidado na Atenção Primária à Saúde. Nesse seguimento, o acolhimento se faz fundamental para fortalecer as relações entre equipes e usuários na perspectiva da confiança, compromisso e vínculo. Ele possibilita que o atendimento em saúde, desempenhado pelos profissionais, principalmente, às populações vulneráveis, seja humanizado e, com isso, mais sensível às demandas e especificidades de cuidado de grupos populacionais minoritários, sujeitos a sofrerem preconceitos e discriminações nos serviços de saúde, a exemplo da população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Ademais, para que isso seja efetivado na prática, se faz preciso que os profissionais em exercício nas equipes da Estratégia de Saúde da Família reconheçam a necessidade de estarem habilitados à prestarem uma assistência universal, equânime e de qualidade. Assim, objetiou-se descrever as dificuldades referidas pelos enfermeiros para acolher e atender as necessidades de saúde da população LGBT. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória com abordagem qualitativa. O estudo teve como cenário as 14 equipes da Estratégia Saúde da Família do município de Várzea Alegre, no Estado do Ceará, Brasil. A pesquisa foi desenvolvida tanto nas estratégias da zona urbana como da zona rural, visto que assim possibilitou um maior resultado na obtenção dos dados da sua pesquisa. Foram entrevistados dez enfermeiros, que contemplavam o critério de inclusão de estar atuando na Unidade há no mínimo, seis meses. Justifica-se como ausentes, quatro profissionais, onde dois não aceitaram participar da pesquisa e outros dois, não estiveram presentes no ato da entrevista, durante três visitas consecutivas, encaixando-se portanto, nos critérios de exclusão. Para a coleta utilizou-se a entrevista semiestruturada, utilizando um gravador de áudio, na qual fez-se as seguintes perguntas: "Quais as dificuldades que o Sr/a encontra para acolher a população LGBT e suas necessidades de saúde?” e “O Sr/a possui alguma capacitação para atender esse público?”. Os dados obtidos foram organizados por meio do Discurso do Sujeito Coletivo, no qual a informação foi classificada por meio de expressões-chave que representam as principais respostas para a questão formulada. A partir desta identificação, as expressões-chave foram agrupadas, compondo um conjunto de pensamentos ou ideias que a coletividade expressou. Posteriormente, as ideias centrais foram identificadas, também reunidas por semelhança, formando os discursos coletivos em primeira pessoa do singular. A pesquisa foi realizada em consonância com a resolução 466/12, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri por meio do parecer de número 2.364.827. Ao questionar os enfermeiros sobre quais as dificuldades encontradas para a realização do acolhimento à população LGBT e suas necessidades de saúde, surgiram duas ideias centrais: _“Não tenho dificuldades”_ (ideia central 1) e _“Não há abertura/Preconceito/Despreparo_” (ideia central 2). Na Ideia Central 1, expressa na preleção coletiva composta pelo conjunto de pensamentos e ideias dos entrevistados, resultando no seguinte discurso: _“Até agora eu não tive nenhuma dificuldade. Até mesmo pela demanda ser muito rara... Não é uma coisa que acontece com frequência. Não é algo que a gente vivencia, pelo fato deles não procurarem o PSF. Quando aparece é mais homossexual. Lésbica é mais difícil, mas acredito que por mim o acolhimento é igual e sem preconceitos, até porque a gente não distingue”_, evidencia a ausência dessa população na busca pelos serviços de saúde, aumentando sua vulnerabilidade. De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNSILGBTT), aponta uma maior vulnerabilidade ao vírus HIV para gays e bissexuais masculinos, associando essa condição diretamente às atitudes homofóbicas à qual estão expostos, principalmente os mais jovens. A impossibilidade de manifestar sua orientação sexual perante a sociedade, muitas vezes acaba desviando-os ao exercício clandestino da sexualidade. Essa situação os leva a frequentar lugares e situações desprovidos de condições favoráveis à prevenção de doenças. Na ideia central 2, expressa no seguinte discurso: _“As pessoas já chegam aqui com preconceito, de chegar e falar. As dificuldades, as vezes está no próprio paciente. Muitas vezes a família tem aquela questão do estigma, da sociedade não aceitar, de ser rejeitado. Tento atender sem descriminalizar, mas as vezes a própria pessoa que chega até o serviço ela já vem vestida de preconceito por todos os lados. Esse preconceito que ela sofre em todos os espaços. Então a pessoa apresenta uma resistência para você conseguir chegar e abordar todas essas questões. Acho que falta um pouco de preparo de nós profissionais”_, há uma evidência de que o desconhecimento e despreparo profissional colabora com o distanciamento dessa população aos serviços de saúde. A vulnerabilidade recorrente pela ausência dos serviços de saúde, também encontra-se no sofrimento decorrente da discriminação e preconceito recebido pela sociedade. Ao serem questionados sobre terem recebido alguma capacitação para atender esse público, todas os enfermeiros foram enfáticos ao declararem que nunca haviam recebido nenhuma informação ou formação para prestar uma assistência adequada para esse público, resultando na ideia central _“Não”,_ relatada no seguinte discurso: _“Não há capacitação nessa área”, _deixando claro que a responsabilidade pela ausência de ações voltadas à essa população encontra-se no despreparo dos profissionais. A partir desses resultados, pode-se compreender que o acolhimento se configura como um grande desafio na elaboração de um cuidado integral voltado para Atenção Primária. A “ausência de dificuldades” da assistência, encontra-se no desconhecimento dos profissionais em relação às Políticas voltadas especificamente ao cuidado dessa população, evidenciando uma urgência em capacitações permanentes sobre a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, que possam assegurar uma assistência de qualidade. O passar dos anos, a rotina corrida e burocrática, torna-se um obstáculo para os profissionais enfermeiros buscarem uma educação continuada. Por outro lado, a Universidade apresenta-se como um importante fator formador e transformador de futuros enfermeiros atuantes na assistência à saúde dessa população. Os profissionais de enfermagem têm desempenhado um importante papel na questão da educação em saúde, uma vez que esta ação consiste em uma ferramenta essencial para a prevenção, orientação e desmistificação de conceitos e tabus que acabam afastando essa população de uma assistência à saúde e, consequentemente, aumentando os riscos de vulnerabilidade destes.


Referências:
1. Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução no 358, de 15 de outubro de 2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados. Diário Oficial da União 23 out. 2009; (203): 368. 2. Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução no 429, de 30 de maio de 2012. Registro das ações profissionais no prontuário do paciente, e em outros documentos próprios da enfermagem, independente do meio de suporte tradicional ou eletrônico. Diário Oficial da União 19 set 2012; (182):120. 3. Truppel TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo AS, Crozeta K. Sistematização da assistência de enfermagem em unidade de terapia intensiva. Rev. bras. enferm. 2009 Abr;62(2):221-227. 4. Varela GC, Fernandes SCA, Queiroz JC, Vieira AN, Azevedo VRCA. Sistematização da assistência de enfermagem na estratégia saúde da família: limites e possibilidades. Ver. Rene. 2012;13(4):816-24.