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4182244 | O ACADÊMICO DE ENFERMAGEM NA GESTÃO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA | Autores: Carine Vendruscolo ; André Lucas Maffissoni ; Franciely Daiana Engel |
Resumo: **Introdução: **as funções do enfermeiro no mundo do trabalho ultrapassam os limites do tecnicismo e do cuidado centrado no ser biológico. Em todos os campos de atuação e, sobretudo, na Atenção Primária à Saúde (APS), atividades de gestão e gerenciamento, de promoção da saúde, de educação popular e permanente fazem parte do cotidiano dos profissionais. Para desempenhar tais funções, há a necessidade de que o enfermeiro desenvolva competências como o raciocínio crítico e a reflexão a partir da prática. Desde 2001, com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais1, as instituições de ensino vêm produzindo importantes transformações nos projetos pedagógicos dos cursos, no sentido de integrar o ensino, o serviço e a comunidade nos processos de ensino-aprendizagem, com o objetivo de oferecer os conceitos teóricos e práticos indispensáveis para o desenvolvimento dessas competências. Neste sentido, o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) representa uma das estratégias para potencializar a _práxis _do enfermeiro, ainda no processo formativo, considerando que o acadêmico realiza grande parte de suas atividades em conjunto com os trabalhadores do serviço. Desta forma, é oportunizado ao estudante um processo prévio de atuação como enfermeiro, com a realização de ações de modo mais autônomo e aperfeiçoando suas habilidades na área da gestão e da educação para usuários e para outros profissionais da equipe da APS, como os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Cabe ao enfermeiro supervisionar, articular e promover atividades de educação permanente para os ACS2, assim, é essencial aproximar os futuros enfermeiros da realidade de trabalho dos ACS, com vistas à construção de saberes que possam subsidiar sua prática profissional. **Objetivos: **relatar o desenvolvimento de uma atividade realizada com ACS de um município do Oeste Catarinense e suas contribuições para a formação acadêmica. **Descrição metodológica: **trata-se de um relato de experiência acerca de uma atividade desenvolvida com 91 ACS de um município do Oeste de Santa Catarina, durante o ECS do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A intervenção ocorreu com os ACS em seis Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo realizado um único encontro em cada UBS, com duração média de três horas. O foco da atividade foi refletir sobre as relações interpessoais e suas influências no ambiente de trabalho, com foco nas relações entre ACS e equipe de Saúde da Família e entre ACS e comunidade. A necessidade de trabalhar esse tema especificamente com os ACS emergiu a partir de uma demanda do próprio município, que enfrentava dificuldades para dialogar sobre o tema com estes profissionais. O desenvolvimento da atividade foi pautado por metodologias ativas de aprendizagem. No decorrer das práticas, procurou-se colocar os participantes em posição de seres de experiências, que não são neutros com e no mundo, e, em decorrência disso, são capazes de ensinar ao mesmo tempo em que aprendem e trocar experiências, agregando saberes. Deste modo, os encontros foram conduzidos por meio de quatro dinâmicas, nas quais os participantes puderam expor suas concepções e percepções sobre o local de trabalho, fragilidades e potencialidades nas relações entre os sujeitos e possibilidades de transformações e melhorias. **Resultados: **nos instantes iniciais da atividade foi identificada certa resistência dos ACS sobre a abordagem do tema. O convite à reflexão sobre suas próprias atitudes no local em que desempenham suas funções e as repercussões causadas por elas na produção da saúde, fez aflorar elementos que não se esgotam no “ser profissional”, pois invadem a singularidade de cada pessoa: desejos, preocupações, angústias e incertezas. Esses aspectos são subjetivos, de difícil mensuração e demandam sensibilidade para discussão, tanto por parte dos profissionais, quanto pelo facilitador. Percebeu-se que a ocorrência de conflitos na relação entre ACS e demais profissionais e entre ACS e comunidade está intimamente relacionada ao sentimento de desvalorização das funções deste trabalhador. Notou-se carência de atividades de estímulo e reflexão com as ACS por parte da gestão. As ACS possuem um trabalho diferenciado dos demais profissionais que compõem a Estratégia Saúde da Família (ESF), pois atuam no seio da comunidade, adentrando espaços íntimos das famílias adscritas, as quais, muitas vezes, não compreendem a importância de suas visitas e dificultam a realização das visitas domiciliares, função inerente ao processo de trabalho. Diante disso, julga-se fundamental que esses trabalhadores sejam assistidos pela gestão municipal de modo mais equânime e compreensivo, de tal modo que se sintam mais valorizados e possam produzir no ambiente de trabalho e na sociedade movimentos micropolíticos em prol de maior reconhecimento de suas atribuições. No que concerne à avaliação da intervenção, foi aplicado um questionário com perguntas fechadas e espaço para descrição de sugestões e/ou observações. Os resultados obtidos demonstram que 100% das ACS classificaram como “muito bom” a temática abordada. Em relação às dinâmicas utilizadas, todas foram classificadas nos padrões “muito bom” ou “bom”. Além disso, salientaram a importância de que tais encontros sejam ofertados com maior frequência e também aos outros profissionais da equipe de ESF. Cabe ainda destacar que o uso das metodologias ativas pelo acadêmico se mostrou um importante dispositivo disparador para os diálogos e reflexões, o que favoreceu o protagonismo acadêmico na condução da atividade. Assim, a atividade contribuiu para a formação acadêmica à medida que foi necessário resgatar experiências e conhecimentos aprendidos ao longo da graduação, e colocá-los em prática. **Conclusão: **observa-se que grande parte dos desafios nas relações entre as ACS e demais profissionais e, entre ACS e comunidade, está relacionada com a desvalorização das funções desse profissional. A realização de outras atividades como essa podem amenizar os processos de estresse e conflito, em virtude de promover o diálogo e a reflexão, além de estreitar relações entre gestores e ACS. **Contribuições para a Enfermagem**: o desenvolvimento da atividade contribuiu de modo relevante para compreender a dinâmica das relações no mundo do trabalho e vivenciar a realidade do exercício profissional. A inserção do estudante de enfermagem no serviço constitui uma experiência fundamental para identificar os dilemas presentes no cotidiano dos serviços de saúde. Quando somos aproximados da prática, percebemos que o enfermeiro se depara com diversas situações de difícil manejo, para as quais geralmente não há resolução pronta descrita em teoria. As relações interpessoais e a gestão de conflitos podem ser consideradas questões complexas, que exigem do enfermeiro competências para além do domínio e destreza técnica, permeando questões relacionadas aos saberes e fazeres do trabalho em equipe, ao vínculo e à humanização.
Referências: 1. Dias IMÁV, Terra AAA, Machado JR de O, Reis VN dos. Sistematização da assistência de enfermagem no gerenciamento da qualidade em saúde. Revista Baiana de Enfermagem, 2011; 25(2): 161-172.
2. Conselho Federal de Enfermagem (Brasil). Código de ética enfermagem: resolução COFEN nº 358/2009. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html. Acesso em: 15 mar. 2018.
3. Grossi ACM, Silva JÁ, Marcon SS, Oliva APV. Sistematização da assistência de enfermagem: percepções de enfermeiras. Cienc Cuid Saude, 2011; 10(2):226-232.
4. Mangueira S de O, Lima, JTS, Costa SL de A, Nóbrega MML, Lopes MV de O. Implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem: opinião de uma equipe de enfermagem hospitalar. Revista Oficial do Conselho Federal de Enfermagem, 2012; 3:135-138.
5. Prefeitura Municipal de Santa Maria – RS. Notícias sobre o PA do Patronato. Disponível em: http://www.santamaria.rs.gov.br/saude/index.php?secao=noticias. Acesso em: 15 mar. 2018. |