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4107402 | COMPONENTES ESSENCIAIS DA CAPACITAÇÃO EM SAÚDE INDÍGENA PARA ENFERMEIROS | Autores: Sonia Rejane de Senna Frantz ; Vania Marli Schubert Backes ; Maria Luiza Carvalho de Oliveira ; Nair Chase da Silva |
Resumo: INTRODUÇÃO: Na área da saúde, o programa de capacitação deve ter como
referência as necessidades de saúde da população, da gestão e do controle
social para qualificar as práticas de saúde e a educação dos profissionais.
Nossa experiência mostrou a rara participação das equipes nas atividades de
planejamento, a descontinuidade das ações, e a realização das capacitações por
categoria profissional em detrimento da interdisciplinaridade que contempla as
equipes de trabalho como conjuntos de profissionais. O desenvolvimento e a
realização das pessoas no ambiente de trabalho são considerados fatores de
correlação com a produtividade, e os trabalhadores são visualizados como
sujeitos capazes de transformar a realidade contribuindo para a melhoria do
serviço(1). A preocupação com a realização dos processos educativos para os
recursos humanos vem sendo referendada desde 1963, na ocasião da III
Conferência Nacional de Saúde. O processo de capacitação e educação dos
profissionais deve ser contínuo, adequando a assistência às peculiaridades
locais e regionais(1). Desse modo, em todas as áreas da saúde, inclusive na
enfermagem, o processo de educação permanente em saúde transcende ao
aperfeiçoamento técnico, ao possibilitar aos sujeitos-trabalhadores buscarem
sua autonomia, cidadania, bem como resgatar sua multidimensionalidade(2).
Diante dessas observações, surgiu o interesse em realizar o presente estudo
sobre a capacitação para enfermeiros que atuam no Distrito Sanitário Especial
Indígena Manaus - DSEI/MAO. OBJETIVO: Identificar os componentes essenciais da
política de formação para enfermeiros que atuam em área indígena por meio da
opinião desse grupo de profissionais. DESCRIÇÃO MÉTODOLÓGICA: Trata-se de uma
pesquisa descritiva de cunho qualitativo que teve como campo de estudo o
Distrito Sanitário Especial Indígena Manaus – DSEI de Manaus, mas cuja área de
abrangência congrega dezenove municípios do estado do Amazonas. Os sujeitos da
pesquisa foram enfermeiros e a coordenadora pedagógica que trabalham no DSEI
Manaus. A técnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada,
seguindo um roteiro de entrevista sobre o objeto da pesquisa. Foram convidados
a participar os enfermeiros que trabalham diretamente na assistência à saúde
indígena e que tinham participado de, no mínimo, uma capacitação referente à
saúde indígena. Do total de 21 enfermeiros, 12 participaram da pesquisa. Os
dados coletados nos documentos e nas entrevistas foram transcritos e
analisados, de acordo com as etapas descritas por Bardin. A interpretação se
deu através da análise dos dados coletados confrontados com a literatura. O
projeto obedeceu à Resolução 466/2012 que trata de normas de pesquisa com
seres humanos. Foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa - CEP da
Universidade Federal do Amazonas para parecer e aprovado no dia 14/11/2012 sob
o CAAE 09893112.2.0000.5020. **RESULTADOS: **Para identificar quais os
componentes essenciais para a capacitação em saúde indígena na opinião dos
enfermeiros foi realizada a seguinte pergunta: _o que não pode faltar em uma
capacitação para enfermeiros que atuam em área indígena?_ A análise das falas
permitiu-nos identificar cinco categorias discutidas a seguir: São elas: a) a
prática associada à teoria; b) a valorização da vivência dos profissionais em
área indígena; c) abordagem antropológica da questão indígena como enfoque nas
capacitações, d) organização dos processos educacionais e e) o compromisso da
equipe envolvida no processo de capacitação. **A prática associada à teoria**
- A importância da prática concomitante a contextualização da teoria é
importante para a formação de enfermeiros, pois implica em um processo que
ultrapassa a acumulação do saber e trabalha para o desenvolvimento de um
profissional que esteja em contato com a realidade da profissão de modo a
poder associar a teoria e a prática. Introduzir conteúdos práticos nas
capacitações vai ao encontro de estudos que afirmam que não se deve
desvincular o teórico-prático das atividades educativas tanto na formação do
enfermeiro quanto em treinamentos de atualizações(3). **A valorização da
vivência dos profissionais em área indígena** - é algo necessário a ser
considerado na elaboração da capacitação tendo em vista que o conhecimento
advém da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando,
que se concretiza através de análise crítica dessa realidade(4). A Política
Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas – PNASPI ressalta que a
capacitação dos recursos humanos para a saúde indígena deve priorizar a
adequação das ações dos profissionais às especificidades, observando a
realidade vivida(5). Portanto, levar em consideração a vivência dos
enfermeiros em área indígena nas capacitações é atender a PNASPI, formando
profissionais participativos, conscientes e transformadores da realidade.
**Abordagem antropológica da questão indígena como enfoque nas capacitações**
os profissionais de saúde indígena devem olhar as diferenças das populações
assistidas. De acordo com a PNASPI a capacitação da EMSI deve conter um
conteúdo que contemple conceitos antropológicos com uma análise do perfil das
etnias, uma vez que a atuação do enfermeiro nas comunidades se modifica de
acordo com a mudança dos costumes indígenas(5). Os enfermeiros relatam a
necessidade de enfatizar a abordagem ao indígena, considerando crenças e
costumes da sua etnia. **Organização dos processos educacionais -** a
necessidade de acesso à literatura que auxilie no conhecimento que extrapole a
questão técnica da enfermagem para ancorar-se na especificidade das populações
indígenas. O material didático adotado contribuiu no processo de aprendizagem,
denotando a necessidade de materiais pedagógicos específicos para cada
categoria profissional. Portanto, oferecer material didático escrito ajuda os
enfermeiros a atualizar o conhecimento, bem como é utilizado como uma forma de
estímulo para desenvolver a busca pelo crescimento profissional com a leitura
individual sobre o assunto. **O compromisso da equipe envolvida no processo de
capacitação **- Observa-se que o compromisso é um elemento essencial para a
execução das capacitações, mas não se restringiu a uma categoria profissional.
Os entrevistados enfatizam a importância do compromisso com a atividade
abrangendo tanto para os coordenadores, como os instrutores e os
participantes. Comprometimento significa empenhar-se, adquirir
responsabilidades, refere-se a engajamento, agregamento e envolvimento no
trabalho. CONCLUSÃO: Em relação aos componentes essenciais da política de
formação para os enfermeiros que atuam em área indígena, um dos elementos mais
citado é a atividade prática concomitante a teorização durante a capacitação.
Como as atividades de capacitação estão voltadas para a implantação e
desenvolvimento das ações de saúde os enfermeiros julgam necessária a inclusão
da prática na atividade de capacitação. Como elemento essencial os enfermeiros
relatam a organização dos processos educacionais apontando, primeiramente,
para a oferta de material didático específico para saúde indígena. Em segundo,
a participação de toda equipe de enfermagem é sugerida pelos entrevistados
como uma questão essencial nas capacitações voltadas para os enfermeiros de
saúde indígena. Em terceiro, a regularidade no processo de capacitação também
é relatada como componente essencial, com solicitações de períodos fixos de
capacitação como trimestral ou semestral. Um quarto apontamento diante da
organização das capacitações é o aumento da frequência, justificada por menos
de duas atividades nos últimos cinco anos. A descontinuidade prejudica a
eficácia das atividades educativas, por isso, a regularidade e frequência das
capacitações para os enfermeiros do DESEI/MAO são pontos a serem organizados
para o alcance do objetivo final desejado, ou seja, a melhoria da assistência
à saúde da população indígena. CONTRIBUIÇÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: As
capacitações nos serviços de saúde devem ter como base a vivência da equipe de
enfermagem, fator considerado essencial para a política de formação dos
profissionais.
Referências: 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
2. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 358/2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem [Internet]. [citado em 2010 Jul 14]. Disponível em: http://www.portalcofen.gov.br/Site/2007/materias.asp?ArticleID=10113§ionID=34.
3. Diagnóstico de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2015-2017. Porto Alegre: Artmed; 2015.
4. Bulecher, G.M.; Butcher, H.K.; Dochterman, J.M.C. NIC - Classificação das Intervenções de Enfermagem. Tradução da 5° edição. 2015. |