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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 3766532

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3766532

VIVER COM LESÃO MEDULAR NO QUOTIDIANO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE ENFERMAGEM

Autores:
Fabiana Faleiros Santana Castro ; Maria Lígia dos Reis Bellaguarda ; Adriana Dutra Tholl ; Luizita Henckmaier ; Rosane Gonçalves Nitschke

Resumo:
**Introdução: **A lesão medular é um dos mais graves acometimentos que pode afetar o ser humano e com enorme repercussão física, psíquica e social, que vem se tornando mais frequente pela estreita relação com o aumento da violência urbana, dentre os quais, os acidentes de trânsito e as agressões por arma de fogo/arma branca, que vêm liderando o número de registros dos atendimentos às pessoas com trauma raquimedular1. Ao sofrer uma lesão medular, a pessoa tem o seu quotidiano modificado repentino e drasticamente pela deficiência física adquirida, caracterizada pela mobilidade física reduzida, déficit de sensibilidade, alterações geniturinárias, gastrointestinais, circulatórias, além da sua vida no âmbito social, afetivo e psicológico, tornando-o vulnerável às complicações que limitam o processo de reabilitação e sua reinserção social. A família, por sua vez, sofre paralelamente com esse processo de mudança. Cuidar de pessoas com deficiência e suas famílias, nos ambientes domésticos ou institucionalizados, constitui tema relevante para a Enfermagem contemporânea2, pois envolve o domínio de um conhecimento pouco abordado em seus diversos níveis de formação profissional, não obstante as frequentes demandas nos contextos de prática assistencial que requerem intervenções do Enfermeiro junto às pessoas e suas famílias. **Objetivo: **Compreender o quotidiano da pessoa com lesão medular e analisar dos desafios e perspectivas da Enfermagem contemporânea. **Descrição Metodológica: **Trata-se de um estudo interpretativo, de natureza qualitativa, realizado em um Centro Especializado de Reabilitação. Foram sujeitos deste estudo 12 pessoas com lesão medular e 09 familiares, totalizando 21 participantes. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, a partir de um roteiro semiestruturado distinto para cada grupo de sujeitos da pesquisa, que foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra para posterior análise. As entrevistas ocorreram entre os meses de janeiro e março de 2014, na própria unidade (07), no domicílio das pessoas (14), com duração aproximada de 90 minutos, mediante agendamento prévio. Realizaram-se também, entrevistas coletivas, adotando como estratégia, duas oficinas sendo um encontro com as pessoas com lesão medular e outro com as famílias, com a finalidade de validação dos dados. Para o agrupamento e organização dos dados, utilizou-se o software Atlas.ti©. Como método de análise, utilizou-se o modelo sugerido por Schatzman e Strauss, guiado pelo olhar da Sociologia Compreensiva e do Quotidiano de Michel Maffesoli. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, sob n° 424.007. **Resultados:** Após o processo de análise dos dados, chegou-se a duas categorias: O quotidiano da pessoa com lesão medular e o papel do Enfermeiro na reabilitação de pessoas com lesão medular. Ao se conhecer o quotidiano da pessoa com lesão medular, constata-se que há um período, na qual a pessoa passa por estágios de assimilação entre o antes e o depois da lesão medular, caracterizado pela transição do estado de independência para o estado de dependência. O antes da lesão medular está associado à vida que se tinha, ao que se fazia, “munido” de liberdade, independência e prazer; enquanto que o depois da lesão medular está vinculado ao processo inicial da lesão, reportada a experiência vivida no contexto hospitalar, nos centros de reabilitação e no domicílio, caracterizado pelo estado de choque, dor física e psicológica, revolta, dependência e resistência. O quotidiano que envolve o início da convivência com a situação de lesão medular  é marcado pelo choque da notícia, ainda em âmbito hospitalar, de que a pessoa perdeu os movimentos e a sensibilidade dos membros superiores e/ou inferiores e que necessitará de uma cadeira de rodas para locomoção,  havendo  a impressão de estar morto, mas continuar vivo, sem referência, como é relatado pelas pessoas: “_Receber a notícia que eu não iria mais andar foi um choque. (E10)”_; “[...] _me tiraram a vida com a notícia. (E4)”_. Tais sentimentos negativos estão ligados à perda do corpo bonito e saudável, da privacidade, do papel social, da vergonha, da sensação de incapacidade e autocontrole das necessidades fisiológicas e do autocuidado. Ficar na cama, significa dependência de cuidados para troca de fralda, higiene pessoal, estando associado à regressão da  auto imagem e à perda da identidade. _“__A pior fase foi ficar na cama, usando fralda, fazendo as necessidades ali, dependendo de tudo. (E10)”. _Entregar-se ao desafio de aceitar a realidade incontornável da vida, vivenciando o ritual de morte e renascimento diário, possibilita a construção de recursos para seguir em frente, vivendo o ritmo do corpo preciso, que se mostra transfigurando o ritmo da vida. A aceitação da vida3 possibilita o reconhecimento de si mesmo, mais maleável, declarado, forçosamente contraditório, mas que encontra formas mais astuciosas de olhar a vida. A reabilitação tem efeito liberdade, pela sua maneira estruturante de ensinar que a sabedoria de viver e conviver com a deficiência física, não é buscar a estabilidade, mas o movimento, o desafio, a autonomia de decidir sobre a própria vida e de executar o que se deseja com autonomia  _“Depois que eu comecei a reabilitação, [...] comecei a sair e ter a minha liberdade, novamente. [...]hoje, não tem o que eu não possa fazer. Só não posso subir uma escada, o que eu quero fazer eu faço. (E1)”_. Neste sentido, esse processo do estado de dependência para o estado de independência se dá por meio da reabilitação, que é um processo de experimentação do corpo que promove a autonomia pela aprendizagem da reutilização do corpo, passando pelo processo de reconhecimento da situação e adaptação, tendo como facilitadores uma equipe multidisciplinar, dentre os quais o Enfermeiro tem grande atuação na reabilitação dessas pessoas. No que diz respeito o papel do Enfermeiro na reabilitação de pessoas com deficiência, constata-se uma (d)eficiência dos profissionais de saúde, sobretudo o Enfermeiro,  no cuidado às pessoas com lesão medular e suas famílias, a qual  transita pela falta de reabilitação precoce no ambiente hospitalar, causando complicações evitáveis, pela falta de orientação sobre os serviços de referência e  as políticas de saúde, bem como pelo atendimento inespecífico na Atenção Primária à Saúde (APS), como expresso no relato a seguir:  _“[...] eles são generalistas, me dão auxílio nas outras áreas (entrega de materiais), mas não há profissionais que tirem minhas dúvidas sobre o meu problema. (E6_)”, caracterizando assim, uma lacuna na formação do Enfermeiro.** Conclusão:** O vivido no quotidiano das pessoas com lesão medular nos indica que é preciso fomentar currículos que possibilitem o cuidado de reabilitação, de modo que os profissionais das Instituições de Saúde (Hospitais/Centros Especializados de Reabilitação/Unidades Básicas de Saúde) possam estar integrados. Neste sentido, urge repensar um novo olhar sobre a formação dos profissionais da saúde, inovando o fazer pela transversalidade do cuidado de reabilitação no ciclo vital humano. **Contribuições/Implicações para a Enfermagem: **O cuidado de Enfermagem de reabilitação confere um posicionamento frente às inequidades em saúde, de (co)responsabilidade no processo educativo e emancipatório, ampliando a consciência de cidadania das pessoas com deficiência, sobretudo acrescentando qualidade de vida para estas pessoas.


Referências:
1. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues DD, et al. Updating of the Brazilian guidelines for chronic heart failure - 2012. Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl 1):1-33. [acesso em 31 dez 2017]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2012000700001&lng=en&nrm=iso&tlng=en 2. Qavam SM, Sahebi A, Shohani M, Balavandi F, Qavam R, Tavan H. Investigating the Effect of Education on Self-Care among Chronic Heart Failure Patients Admitted to Shahid Mostafa Khomeini Hospital of Ilam. Global Journal of Health Science. 2017; 9(5): 79-84. [acesso em 08 jan 2018]. Disponível em: http://www.ccsenet.org/journal/index.php/gjhs/article/view/60956/34273 3. Riegel B, Dickson VV, Garcia LE, Creber RM, Streur M. Mechanisms of change in self-care in adults with heart failure receiving a tailored, motivational interviewing intervention. Patient Education and counseling. 2017; 100(2): 283-288. 4. Riegel B, Masterson Creber R, Hill J, Chittams J, Hoke L. Effectiveness of Motivational Interviewing in Decreasing Hospital Readmission in Adults With Heart Failure and Multimorbidity. Clin Nurs Res. 2016; 25 (4): 362-77. 5. Ávila CW, Riegel B, Pokorski SC, Camey S, Silveira LC, Rabelo-Silva ER. Cross-cultural adaptation and psychometric testing of the Brazilian version of the Self-Care of Heart Failure Index version 6.2. Nursing Research and Practice. 2013: 1-6. [acesso em 06 jan 2018]. Disponível em: https://www.hindawi.com/journals/nrp/2013/178976/