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3406226 | “CASOS DE FAMÍLIA”: ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO PARA O CUIDADO INTEGRAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA | Autores: Claudia Capellari ; Gímerson Erick Ferreira ; Vilma Constancia Fioravante dos Santos ; Edna Thais Jeremias Martins |
Resumo: Introdução: A adoção do modelo assistencial de Saúde da Família (SF) no
Brasil, em 1994, propôs um novo arranjo organizativo do sistema de saúde[1],
sugerindo a necessidade de novos perfis profissionais, cujas competências
extrapolem o limiar das tradicionalmente experimentadas no contexto da
formação, construindo modos mais horizontais de produzir cuidado. Considerado
inovador na forma de integração entre a medicina clínica tradicional e a saúde
pública, a partir do modelo de SF, a família passa a ocupar a agenda da
Atenção Primária à Saúde (APS) e ser foco privilegiado das práticas de
cuidado. Entretanto, um dos aspectos mais críticos deste modelo ainda consiste
na escassez de pessoal preparado para atuar neste nível de atenção, visto que
a maior parte dos processos formativos em saúde fundamenta-se,
preponderantemente, em um modelo centrado na racionalidade biomédica, o qual
remete, dentre outros aspectos, à limitação de discentes e docentes à dimensão
biológica dos processos de saúde-doença e à lógica do atendimento “por
demanda”[2]. Contudo, compete ao enfermeiro prestar cuidados de enfermagem
compatíveis com as diferentes necessidades apresentadas pelo indivíduo, pela
família e pelos diferentes grupos da comunidade[3], o que reafirma a
necessidade de compreender o indivíduo a partir do seu contexto e dinâmica
familiar, uma vez que esta permite pensar a família a partir dos múltiplos
processos relacionais que nela se estabelecem: dos indivíduos entre si, e
desses com o meio. Nesse sentido, visualiza-se na adoção de processos
formativos que favoreçam a qualificação dos profissionais enfermeiros para o
cuidado integral ao indivíduo e às famílias, um importante desafio da
enfermagem atual, sendo necessário articular a formação destes profissionais
com as exigências da organização do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda que o
mercado seja preponderante na direção da organização curricular das graduações
de saúde. Objetivos: Relatar a experiência da proposta metodológica “Casos de
Família” em disciplinas práticas e estágios curriculares de Enfermagem na APS.
Descrição metodológica: A estratégia de ensino-aprendizagem “Casos de Família”
foi adotada pelos professores vinculados às disciplinas práticas e ao estágio
curricular na APS, em um Curso de Enfermagem-Bacharelado de uma Instituição de
Ensino Superior (IES) da região do Vale de Paranhana/RS. Os mesmos utilizaram
metodologias e técnicas capazes de direcionar o processo formativo em campos
de práticas e estágios, mediante uso de ferramentas que permitem o
conhecimento e diagnóstico da família. Ao assistir determinado usuário, o
discente é encorajado ao trabalho com a família que assume como responsável
para prestar cuidados durante todo o semestre, descortinando a rede de
relações com as quais este interage. A partir disto, edifica um histórico
familiar ampliado deste usuário, mediante construção de genograma e ecomapa,
identificando os ciclos de vida atuais de cada integrante da família nuclear,
e estabelecendo suas vulnerabilidades e potencialidades, utilizando-se de
instrumentos validados para estas atividades. Após, identificam os padrões de
posição na família, poder e intimidade para o cuidado, estabelecendo os eixos
que permitem pensar os diagnósticos de Enfermagem, com base em linguagens
padronizadas. A partir dos diagnósticos elencados, definem-se os níveis de
atuação (promoção, prevenção, cura, reabilitação ou paliação), estabelecendo
os resultados esperados para os diversos ciclos de vida que são identificados
na família, em associação aos diagnósticos definidos. Resultados: Em
consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação do
enfermeiro, que em seu texto enfatiza que o enfermeiro deve ser capaz de
(re)conhecer os problemas/situações de saúde/doença mais prevalentes na região
de atuação, conforme perfil epidemiológico, e neles intervir, identificando as
dimensões biopsicossociais dos seus condicionantes e determinantes[3]; a
estratégia Casos de Família propõe, a partir do trabalho com famílias, o
engajamento do discente em uma relação de mútua colaboração com enfoque tanto
no cuidado, no empoderamento para a resolução dos problemas e nas doenças da
família, como na promoção da saúde e prevenção das doenças. A ênfase em
práticas de enfermagem que vislumbrem o cuidado integral à família deu-se por
considerar que o trabalho em SF ocorre por meio de intervenções ao longo de um
determinado tempo, e valendo-se de estruturas e realidades do arranjo
familiar, uma vez que a atuação da enfermagem em saúde coletiva tem foco sob
os diferentes ciclos de vida da pessoa humana. Assim, a estratégia Casos de
Família propõe um trabalho baseado na compreensão do funcionamento sistêmico
do núcleo familiar e na construção de vínculos entre o profissional de
cuidados primários e o grupo familiar. A partir do atendimento a um usuário
nos serviços de APS, independente do ciclo de vida deste, o discente consegue
visualizar os fatores condicionantes e determinantes daquele processo de
saúde-doença, não somente em seus aspectos fisiopatológicos e genéticos, mas
também em seu sistema de relações que configuram a estrutura familiar em que
este se insere, fortalecendo a rede de apoio e de interações deste. Conclusão:
Percebe-se, cada vez mais, a necessidade de articulação entre a formação de
enfermeiros consoante às demandas organizativas do SUS. Faz-se urgentes
medidas de intervenção que proponham mudanças nos currículos e práticas das
instituições acadêmicas. É importante explicitar que todas as etapas, desde a
escolha da família a ser abordada para a patilha do cuidado até a finalização
do processo, são negociadas e acordadas com todos os membros da família, pois
este é um trabalho cuja viabilidade só é possível na aceitação, parceria,
vínculo e confiança. É uma etapa importante do trabalho, que possibilita a
participação e desenvolvimento da capacidade de empatia e convencimento.
Implicações para a Enfermagem: O desenvolvimento de propostas como esta vem a
somar esforços no campo da saúde pela valorização da atenção voltada às
famílias na APS, fortalecendo uma expertise da Enfermagem que foi constituída
historicamente. Além disso, está-se fortalecendo a visibilidade da profissão
diante da sociedade, ampliando as possibilidades de intervenção e diferentes
dimensões do processo saúde-doença, voltando-se para o sistema familiar como
um espaço importante para o cuidado longitudinal e integral. No que tange o
processo formativo, está-se consolidando esta experiência como uma prática
transversal às demais disciplinas, ou seja, conformar formas de fortalecer o
processo de aprendizagem e ensino no âmbito do curso e estabelecer uma cultura
de processos formativos mais horizontais e integrais.
Referências: 1. Paraíba PM, Silva, MC. (2015). Perfil da violência contra a pessoa idosa na cidade do Recife-PE. Rev Bras Geriat e Geront. 2015:18(2), 295-306.
2. Horta, WA. Processo de enfermagem. 16ª reimpressão. São Paulo (SP): EPU; 2005.
3. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº358/2009, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do processo de enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e dá outras providencias. Brasília (DF): COFEN; 2009.
4. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: Definições e Classificação 2015-2017 / NANDA International; Tradução Regina Machado Garcez. Porto Alegre (RS): Artmed; 2015. |