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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 3406226

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3406226

“CASOS DE FAMÍLIA”: ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO PARA O CUIDADO INTEGRAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores:
Claudia Capellari ; Gímerson Erick Ferreira ; Vilma Constancia Fioravante dos Santos ; Edna Thais Jeremias Martins

Resumo:
Introdução: A adoção do modelo assistencial de Saúde da Família (SF) no Brasil, em 1994, propôs um novo arranjo organizativo do sistema de saúde[1], sugerindo a necessidade de novos perfis profissionais, cujas competências extrapolem o limiar das tradicionalmente experimentadas no contexto da formação, construindo modos mais horizontais de produzir cuidado. Considerado inovador na forma de integração entre a medicina clínica tradicional e a saúde pública, a partir do modelo de SF, a família passa a ocupar a agenda da Atenção Primária à Saúde (APS) e ser foco privilegiado das práticas de cuidado. Entretanto, um dos aspectos mais críticos deste modelo ainda consiste na escassez de pessoal preparado para atuar neste nível de atenção, visto que a maior parte dos processos formativos em saúde fundamenta-se, preponderantemente, em um modelo centrado na racionalidade biomédica, o qual remete, dentre outros aspectos, à limitação de discentes e docentes à dimensão biológica dos processos de saúde-doença e à lógica do atendimento “por demanda”[2]. Contudo, compete ao enfermeiro prestar cuidados de enfermagem compatíveis com as diferentes necessidades apresentadas pelo indivíduo, pela família e pelos diferentes grupos da comunidade[3], o que reafirma a necessidade de compreender o indivíduo a partir do seu contexto e dinâmica familiar, uma vez que esta permite pensar a família a partir dos múltiplos processos relacionais que nela se estabelecem: dos indivíduos entre si, e desses com o meio. Nesse sentido, visualiza-se na adoção de processos formativos que favoreçam a qualificação dos profissionais enfermeiros para o cuidado integral ao indivíduo e às famílias, um importante desafio da enfermagem atual, sendo necessário articular a formação destes profissionais com as exigências da organização do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda que o mercado seja preponderante na direção da organização curricular das graduações de saúde. Objetivos: Relatar a experiência da proposta metodológica “Casos de Família” em disciplinas práticas e estágios curriculares de Enfermagem na APS. Descrição metodológica: A estratégia de ensino-aprendizagem “Casos de Família” foi adotada pelos professores vinculados às disciplinas práticas e ao estágio curricular na APS, em um Curso de Enfermagem-Bacharelado de uma Instituição de Ensino Superior (IES) da região do Vale de Paranhana/RS. Os mesmos utilizaram metodologias e técnicas capazes de direcionar o processo formativo em campos de práticas e estágios, mediante uso de ferramentas que permitem o conhecimento e diagnóstico da família. Ao assistir determinado usuário, o discente é encorajado ao trabalho com a família que assume como responsável para prestar cuidados durante todo o semestre, descortinando a rede de relações com as quais este interage. A partir disto, edifica um histórico familiar ampliado deste usuário, mediante construção de genograma e ecomapa, identificando os ciclos de vida atuais de cada integrante da família nuclear, e estabelecendo suas vulnerabilidades e potencialidades, utilizando-se de instrumentos validados para estas atividades. Após, identificam os padrões de posição na família, poder e intimidade para o cuidado, estabelecendo os eixos que permitem pensar os diagnósticos de Enfermagem, com base em linguagens padronizadas. A partir dos diagnósticos elencados, definem-se os níveis de atuação (promoção, prevenção, cura, reabilitação ou paliação), estabelecendo os resultados esperados para os diversos ciclos de vida que são identificados na família, em associação aos diagnósticos definidos. Resultados: Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação do enfermeiro, que em seu texto enfatiza que o enfermeiro deve ser capaz de (re)conhecer os problemas/situações de saúde/doença mais prevalentes na região de atuação, conforme perfil epidemiológico, e neles intervir, identificando as dimensões biopsicossociais dos seus condicionantes e determinantes[3]; a estratégia Casos de Família propõe, a partir do trabalho com famílias, o engajamento do discente em uma relação de mútua colaboração com enfoque tanto no cuidado, no empoderamento para a resolução dos problemas e nas doenças da família, como na promoção da saúde e prevenção das doenças. A ênfase em práticas de enfermagem que vislumbrem o cuidado integral à família deu-se por considerar que o trabalho em SF ocorre por meio de intervenções ao longo de um determinado tempo, e valendo-se de estruturas e realidades do arranjo familiar, uma vez que a atuação da enfermagem em saúde coletiva tem foco sob os diferentes ciclos de vida da pessoa humana. Assim, a estratégia Casos de Família propõe um trabalho baseado na compreensão do funcionamento sistêmico do núcleo familiar e na construção de vínculos entre o profissional de cuidados primários e o grupo familiar. A partir do atendimento a um usuário nos serviços de APS, independente do ciclo de vida deste, o discente consegue visualizar os fatores condicionantes e determinantes daquele processo de saúde-doença, não somente em seus aspectos fisiopatológicos e genéticos, mas também em seu sistema de relações que configuram a estrutura familiar em que este se insere, fortalecendo a rede de apoio e de interações deste. Conclusão: Percebe-se, cada vez mais, a necessidade de articulação entre a formação de enfermeiros consoante às demandas organizativas do SUS. Faz-se urgentes medidas de intervenção que proponham mudanças nos currículos e práticas das instituições acadêmicas. É importante explicitar que todas as etapas, desde a escolha da família a ser abordada para a patilha do cuidado até a finalização do processo, são negociadas e acordadas com todos os membros da família, pois este é um trabalho cuja viabilidade só é possível na aceitação, parceria, vínculo e confiança. É uma etapa importante do trabalho, que possibilita a participação e desenvolvimento da capacidade de empatia e convencimento. Implicações para a Enfermagem: O desenvolvimento de propostas como esta vem a somar esforços no campo da saúde pela valorização da atenção voltada às famílias na APS, fortalecendo uma expertise da Enfermagem que foi constituída historicamente. Além disso, está-se fortalecendo a visibilidade da profissão diante da sociedade, ampliando as possibilidades de intervenção e diferentes dimensões do processo saúde-doença, voltando-se para o sistema familiar como um espaço importante para o cuidado longitudinal e integral. No que tange o processo formativo, está-se consolidando esta experiência como uma prática transversal às demais disciplinas, ou seja, conformar formas de fortalecer o processo de aprendizagem e ensino no âmbito do curso e estabelecer uma cultura de processos formativos mais horizontais e integrais.


Referências:
1. Paraíba PM, Silva, MC. (2015). Perfil da violência contra a pessoa idosa na cidade do Recife-PE. Rev Bras Geriat e Geront. 2015:18(2), 295-306. 2. Horta, WA. Processo de enfermagem. 16ª reimpressão. São Paulo (SP): EPU; 2005. 3. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº358/2009, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do processo de enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e dá outras providencias. Brasília (DF): COFEN; 2009. 4. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: Definições e Classificação 2015-2017 / NANDA International; Tradução Regina Machado Garcez. Porto Alegre (RS): Artmed; 2015.