E-Pôster
3215993 | A LICENCIATURA E A CONSTITUIÇÃO DO SER DOCENTE EM ENFERMAGEM | Autores: Maria Eduarda de Carli Rodrigues |
Resumo: **Introdução:** Após quase 30 anos da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), é evidente a permanência de uma formação baseada nos modelos biomédico de cuidado e transmissivo de ensino no Brasil. Ambas as concepções não contemplam as necessidades de saúde e tampouco as necessidades do ensino. Para que o futuro profissional de saúde desenvolva habilidades e competências descritas nos documentos orientadores e reguladores, é fundamental que se amplie sua formação para além de conteúdos específicos. Isso se aplica também à Enfermagem, cujos docentes devem ampliar conhecimentos e capacidades, com vistas a abordar conteúdos e utilizar estratégias de ensino que preparem os futuros enfermeiros de acordo com o perfil profissional almejado pelo SUS e orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem (DCNE) (BRASIL, 2001).
Contraditoriamente, boa parte dos enfermeiros professores ainda se insere na
docência de forma inesperada e sem formação pedagógica. Este aspecto evidencia
a concepção de “história natural da docência”, como se habilidades de ensino
fossem um dom que não necessita de reflexões sistemáticas para ser
desenvolvido.
As DCNs orientam, por sua vez, que a formação para a Enfermagem contemple
conteúdos pedagógicos para uma formação generalista, desarticulando, os cursos
de bacharelado e licenciatura, de forma que o segundo seja ofertado como
complementar e opcional. Isso resulta na não oferta da Licenciatura, fazendo
com que os cursos de graduação implementem conteúdos relativos as teorias de
ensino e práticas pedagógicas como parte de componentes curriculares do
bacharelado, dependendo de iniciativas locais.
A licenciatura, em contrapartida, representa uma forma estruturada de promover
a aproximação dos futuros enfermeiros com conteúdos pedagógicos, visto que, no
Brasil, ela tem como função a formação de professores capazes de mediar a
aprendizagem, utilizar tecnologias da comunicação, uso de metodologias
inovadoras, entre outras habilidades.²
**Objetivo:**** **Conhecer de que forma a licenciatura tem sido abordada nos estudos publicados sobre fatores da formação que influenciam o ser docente de enfermagem.** **
**Descrição Metodológica:** Recorte de revisão de literatura, que identificou como um dos elementos que influenciam o trabalho docente a licenciatura. Foram selecionados artigos a partir dos descritores Enfermagem, Ensino ou Educação Superior, Docência ou Formação entre 2001 e 2016. De um total de 2.226 estudos, 281 foram selecionados por meio da leitura dos títulos e resumos, 93 eram repetidos. Os 188 restantes foram submetidos a leitura flutuante. Aqueles dissonantes com os objetivos deste estudo foram excluídos, resultando em 26 estudos, destes, três artigos se referiam a licenciatura como um elemento influenciador da atuação docente.
**Resultados: **O primeiro estudo buscou analisar como os princípios das DCNs estão se concretizando nas universidades paranaenses. Quanto a formação pedagógica, dos nove cursos analisados, três universidades públicas mantém a licenciatura articulada em seus projetos pedagógicos seja como componente integral ou opcional do currículo. Alguns inseriram conteúdos pedagógicos em disciplinas, outros contemplam em seu perfil/objetivos, a dimensão pedagógica sem, contudo, inserir nenhum conteúdo/módulo que aborde esta questão. O texto revela uma preocupação com aproximações assistemáticas com conteúdos pedagógicos e problematizam se esses seriam o suficiente para preparar efetivamente o enfermeiro para docência.³
O segundo estudo buscou detectar e avaliar as mudanças na formação dos
profissionais de saúde a luz da legislação pertinente com ênfase nas DCNs.
Entre os resultados, os autores perceberam que alguns aspectos pedagógicos,
como a avaliação, são centrados na reprodução de conteúdos e atribuem esta
fragilidade ao fato da maioria dos professores do ensino superior não terem
sido preparados para a docência, ressaltando que apenas docentes com formação
em licenciatura demonstram ter conhecimentos referentes ao processo de ensino
aprendizagem. Evidenciaram, também, que os currículos dos cursos de graduação
possuem diferentes lacunas na formação de profissionais de saúde, consequência
das falhas na formação de professores universitários.4
O terceiro estudo buscou compreender a experiência do estudante que cursa a
licenciatura e o bacharelado em Enfermagem, concomitantemente. Os autores
identificaram: pouca clareza dos estudantes sobre a função da licenciatura;
para os sujeitos, há uma desarticulação entre as teorias de educação e o
ensino em enfermagem; pouca inserção dos estudantes em práticas de ensino; e,
carga horária desgastante. Mesmo com estes apontamentos, os estudantes
consideram vantajoso cursar a licenciatura já que ela propiciou conhecer
conteúdos e teorias pedagógicas, contribuiu para o desenvolvimento de
habilidades de comunicação, amplia o potencial de inserção no mercado de
trabalho e estimula o futuro enfermeiro a vislumbrar a carreira no ensino
superior.5
Nessa direção, é inegável que a licenciatura apresenta potencialidades, mesmo
diante de alguns desafios a serem superados, como o ensino transmissivo,
distanciamento entre conteúdos pedagógicos e Enfermagem. Caso o processo de
ensino-aprendizagem seja fundamentado em “estratégias pedagógicas que
articulem o saber, o saber fazer e o saber conviver, visando desenvolver o
aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver
juntos e o aprender a conhecer”, contribuirá não só para a formação de novos
enfermeiros professores, com compreensão mais ampliada do processo de
aprendizagem e da Enfermagem, como também na melhora da qualidade da formação
de futuros profissionais de saúde e do sistema de saúde como um todo.¹
**Conclusão:** Percebe-se que, mesmo com a desarticulação da oferta dos cursos de licenciatura e bacharelado, algumas escolas de Enfermagem permanecem com o ensino conjunto, o que representa uma potencialidade, visto que a primeira propicia conhecimentos referentes ao processo de ensino aprendizagem, comunicação, bem como favorece a inserção no mercado de trabalho e o estímulo a vislumbrar a docência no ensino superior. No entanto, evidencia-se que a licenciatura desarticulada dos conhecimentos da Enfermagem não possibilita aos estudantes a compreensão de sua relevância, resultando em uma participação passiva e sem maiores repercussões no trabalho docente. Nesse sentido, tanto a licenciatura quanto o bacharelado necessitam prever o desenvolvimento de habilidades pedagógicas, para além dos conhecimentos relativos aos conteúdos da enfermagem, favorecendo a formação de docentes, para atuar em todos os níveis de ensino.
**Contribuições para a enfermagem:** Repensar a função e as características da licenciatura em enfermagem significa investir na qualidade do ensino e na formação profissional, com vistas a formar profissionais aptos a atuar no SUS, em todas as suas dimensões, fortalecendo a categoria, o ensino e o sistema de saúde.
Referências: 1.Protocolo de Enfermagem: Volume 4. Florianópolis. Instituição: Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Saúde. Protocolo de Enfermagem. Acesso em: 16/03/2018. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/saude/index.php?cms=protocolos+de+enfermagem&menu=10
2. Ministério da Saúde. Político de Atenção Básica (PNAB). Portaria GM 2488. Brasília (DF), 2011.
3. CIPE Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem: Aplicação à realidade brasileira/ Organizadora: Telma Ribeiro Garcia: Artmed; 2015. |