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Resumo: 3211624

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3211624

O PROCESSO DE TRABALHO DA ENFERMAGEM NUM PROGRAMA DE ATENÇÃO AO ALCOOLISTA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores:
Lucas Queiroz Subrinho ; Flávia Batista Portugal ; Adriana Batista da Macena

Resumo:
O PROCESSO DE TRABALHO DA ENFERMAGEM NUM PROGRAMA DE ATENÇÃO AO ALCOOLISTA: RELATO DE EXPERIÊNCIA **Introdução: **O consumo de álcool e outras Substâncias Psicoativas (SPAs) vêm assumindo uma posição de destaque no mundo. O protagonismo deve-se ao aumento do consumo na população e aos seus impactos em diversos níveis da sociedade.  No Brasil, cerca de 10% da população é dependente do álcool, contudo um número bem maior de pessoas enfrenta problemas decorrentes do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tais como: acidentes de trânsito, situações de violência, perda de emprego, desestrutura familiar, dentre outros(1). Uma série de fatores como a   vulnerabilidade genética, o padrão de consumo, as características individuais, biológicas, psicológicas e sócio-culturais podem influenciar o consumo abusivo e o estabelecimento da Síndrome de Dependência do Álcool (SDA). As complicações clínicas da SDA mais comuns são: desnutrição, hepatopatias, infecções, miopatia, hipertensão arterial e outras. Também podem se manifestar complicações psiquiátricas como o _Delirium Tremens_, alucinose alcoólica, encefalopatia, déficits cognitivos e depressão. Ao reconhecer os referidos problemas, o tratamento do alcoolismo é um desafio para os diferentes setores, especialmente, à saúde e à assistência social. As condutas no tratamento diferem em cada caso, ações de promoção da saúde em campanhas educativas e na atenção primária são recomendadas para aquelas pessoas que possuem um padrão de consumo nocivo, enquanto, para aqueles com diagnóstico da SDA, o encaminhamento para serviços especializados é a proposta mais adequada.(2) **Objetivo:** Descrever sobre o processo de trabalho da equipe de Enfermagem no Programa de Atenção ao Alcoolista (PAA) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). **Metodologia:** O PAA-HUCAM-UFES foi criado em 1985, como serviço de referência no estado do Espírito Santo, para atenção integral ao consumidor de álcool e seus familiares. No Programa, a abordagem ao alcoolista é realizada por uma equipe multiprofissional, na lógica do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede compartilhada de cuidados(3). Atualmente, a equipe conta com médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo e seus respectivos acadêmicos da graduação e/ou pós-graduação e residentes, que desenvolvem atividades de estágio curricular, extra-curricular (extensionistas) e/ou aperfeiçoamento profissional (APF). A intervenção é realizada em quatro etapas: _1ª)_ _Entrevista Serviço Social (ESS)_ de forma individualizada e/ou com familiares, para levantamento de sua história de vida, das complicações nas áreas familiares e sociais e confecção da autobiografia; _2ª)_ _Consulta Médica (CM)_, com anamnese clínica, exame físico e solicitação de exames laboratoriais de rotina para SDA e demais exames complementares; _3ª)_ _Consulta de Enfermagem (CE)_ realizada pelo enfermeiro e/ou acadêmicos de enfermagem. Na CE é realizado o Processo de Enfermagem, com a Sistematização da Assistência de Enfermagem para minimizar as consequências (físicas, psíquicas e sociais) da síndrome de abstinência alcoólica e/ou de dependência alcoólica, nas suas modalidades - leve, moderada ou grave. No processo de trabalho da enfermagem são utilizadas estratégias de prevenção da recaída, educação em saúde, reinserção social dos usuários e projeto terapêutico individual, tendo como suporte folderes (informativos e formativos), manual (educativo e técnico) sobre o álcool e outras SPAs, bem como o apoio dos grupos de ajuda mútua, como os Alcoólicos Anônimos (AA), a Pastoral da Sobriedade (PS), o Amor Exigente (AMOREX), dentre outros.(4) O papel da equipe de enfermagem é desenvolver uma ação educativa, valorizando o sujeito no processo do tratamento, auxiliando-o na sua conscientização, motivando-o para mudanças e, o mais importante, estimulando-o para protagonizar cotidianamente os enfrentamentos necessários para um novo estilo de vida saudável. _4ª) Consulta Psicológica:_ intervenção individual e/ou grupal para monitoramento dos transtornos mentais relacionados ao álcool, bem como suas consequências nos diversos aspectos da vida humana. **Resultados: **São realizadas no PAA-HUCAM-UFES, 36 consultas semanais e 144 mensais (primeira vez e retornos), nas segundas-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras. Os usuários podem ser atendidos por um ou mais profissional da equipe e permanecem em seguimento por um período de 12 a 24 meses no Programa, de acordo com a gravidade e/ou comorbidades de cada caso. Dentre os alcoolistas, 74% são do sexo masculino, na faixa etária de 45-54 anos (28,7%). O grau de escolaridade é o ensino fundamental incompleto (9,4%). 44,2% não trabalham, e dentre os trabalhadores, 12,7% estão de licença devido motivos relacionados ao álcool. A faixa etária inicial de consumo é de 15-17 anos (27,6%). Os problemas de enfermagem detectados foram: o alcoolismo, o sedentarismo, as alterações alimentares, a codependência, os distúrbios na sexualidade, na situação funcional, no sono/repouso, ausência de lazer, conflitos familiares e sociais, autocuidado precário, alterações na hidratação e eliminações, baixa auto-estima, restrição de atividades sociais, negação da doença, processos alérgicos, ansiedade e solidão. **Conclusões: **A atenção integral e multiprofissional proposta pelo PAA objetiva a recuperação da saúde física, mental e social do usuário. O propósito fundamental da enfermagem é o cuidar, centro de todo o processo de de trabalho que será desenvolvido pelo “ser enfermeiro” no cotidiano de suas práticas. Desenvolveu-se no PAA um conhecimento construído a partir do cuidado direto, com formação de um vínculo de confiança e um estímulo a exercer o seu papel no mundo de forma proativa. Durante 33 anos de funcionamento do Programa, a enfermagem tem se preocupado em aperfeiçoar suas ações, mediante as necessidades originadas pelo alcoolismo-doença, apoiada em pressupostos teórico-metodológicos fundamentais à prática, são eles: 1º) Assistir às Necessidades Humanas Básicas – NHB (Horta, 1979), tornando-o independente, quando possível, pelo ensino do autocuidado, atuando na manutenção, promoção e recuperação da saúde;  2º) Promover o autocuidado, que significa ter cuidado consigo mesmo, promover a co-responsabilidade do indivíduo pelos cuidados de saúde (Orem, 1959) e 3º) Estabelecer um relacionamento interpessoal, terapêutico e humanizado que possibilite troca de experiências pela comunicação dialógica e horizontal em busca do respeito mútuo e acolhimento do usuário (Peplau, 1952)(5). **Contribuições para a Enfermagem: **Assim, encontramos no processo de trabalho da enfermagem no PAA-HUCAM-UFES, contribuições que possibilitam compreender qual a concepção que o indivíduo tem sobre o alcoolismo e sua própria saúde, a percepção sobre a ingestão de álcool e o impacto da dependência para si próprio, seus familiares e amigos e como abordar a negação da compulsão e a resistência ao tratamento mediante “trocas de experiências” do “beber” e “parar de beber” integrando valores, costumes, modelos e símbolos sociais que levam a formas específicas de condutas e práticas. Percebemos ainda que deixar a SDA exige trabalho – individual, e coletivo. Requer apreender o real significado da vida, do existir e do existir com saúde.


Referências:
1 Swyanne Macêdo Gois . Para além das grades e punições: uma revisão sistemática sobre a saúde penitenciária. Ciênc. saúde coletiva. Rio de Janeiro , v. 17, n. 5, p. 1235-1246, 2012 . Disponível em: . Acesso em 01 nov. 2017. 2 Luis André Turri. Principais problemas dentro do sistema prisional brasileiro. Jus Navigandi, empresa atuante na área de edição de publicações. Teresina, 2016. Disponível em: . Acesso em: 04 out. 2017. 2 Brasil. Ministério da Justiça. levantamento nacional de informações penitenciárias. departamento penitenciário nacional. 2014a. disponível em: acesso em: 02 ago.2017. 4 Maria Fernanda Lima-Costa; Sandhi Maria Barreto. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 12, n. 4, p. 189-201, dez. 2003 . Disponível em: . acesso em 02 nov. 2017. 5 Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Direito à saúde: Saúde no sistema pris http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/567-sas-raiz/dapes/saude-no-sistema-prisional/l4-saude-no-sistema-prisional/10545-direito-a-saude>. Acesso em: 28 set. 2017.ional. 2014d. Disponível em: < 6 Espírito Santo. Secretaria de Estado da Justiça. Informe técnico. Comissão especial para elaboração dos instrumentos preparatórios e necessários à seleção e contratação de organização social de saúde. Espírito Santo, 236p. 2016. Disponível em:. Acesso em 02 nov. 2017. 7 Anne Caroline Luz Grüdtner da Silva;, Nazaré Otília Nazario; Daniel Costa Lima,. Atenção à saúde do homem privado de liberdade [recurso eletrônico].Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2015. 65 p. Disponivel em: . Acesso em: 02 nov. 2017.