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2818726 | INOVAÇÕES NO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NOS SERVIÇOS EXTRA-HOSPITALARES: DESAFIOS PARA FORMAÇÃO PROFISSIONAL | Autores: Gabriel Rodrigues Vieira ; Claudia Mara de Melo Tavares ; Andréa Damiana da Silva Elias ; Lucas Marvilla Mesquita ; Américo de Araujo Pastor Junior |
Resumo: **Introdução:** A Reforma Psiquiátrica tem contribuído para a efetivação de uma nova política pública de assistência aos pacientes psiquiátricos e a construção de tecnologias inovadoras de cuidar. O processo de Reforma Psiquiátrica ainda está em curso no Brasil e demanda a construção de novos modos de estar diante da pessoa em adoecimento, instituindo práticas inovadoras de inclusão social e desinstitucionalização. Desde a implantação em 2001 da Lei Paulo Delgado1 - que define o direito da pessoa portadora de transtornos mentais de ser tratada em serviços comunitários de saúde mental, restringindo a internação destes pacientes - a desospitalização se tornou um processo regulado e substitutivo. A atenção centrada nos hospitais vem sendo substituída progressivamente por serviços extra-hospitalares, sendo o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) o principal equipamento comunitário disponível. Em face da enorme demanda por atenção em saúde mental e em consonância com a política pública de saúde no Brasil, reforça-se a necessidade do aumento da cobertura de Estratégia Saúde da Família (ESF) e a articulação de pessoal especializado em Saúde Mental nos demais dispositivos de atenção em saúde, como os serviços hospitalares, ambulatoriais e comunitários do Sistema Único de Saúde (SUS)2. A inovação é um desafio para os profissionais de saúde mental, pois implica na desconstrução de práticas de objetivação da doença mental e (re) construção de práticas que considerem as alteridades3. O modelo tradicional de ensino em saúde centrado na doença, com sua busca pela verdade no interior do sujeito, preocupado com o manejo de técnicas e tecnologias, contrasta com o modelo de atenção em saúde preconizado no SUS, havendo necessidade de mudanças na formação profissional. Este não é um problema apenas para o sistema de formação no Brasil. A lacuna quanto a profissionais habilitados para superar o chamado _mental health gap_ têm sido amplamente discutidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)2. Este estudo tem como **objetivos: **identificar inovações no cuidado à pessoa em sofrimento mental nos serviços extra-hospitalares; apontar os desafios contemporâneos das inovações implementadas nos serviços de saúde para formação profissional em enfermagem. **Metodologia:** Trata-se de um trabalho de revisão integrativa de literatura, entre 2011-2017, onde através da sistematização e ordenamento dos resultados foi possível sintetizar o conhecimento produzido sobre o tema em estudo. Responderam ao critério de inclusão e exclusão da pesquisa 29 artigos. **Resultados: **Foi possível localizar práticas inovadoras no cuidado à pessoa em sofrimento mental nos artigos encontrados. Estas inovações estão relacionadas aos seguintes aspectos: trabalho em equipe multiprofissional, características dos cenários de trabalho, trabalho em rede, trabalho no território, trabalho direcionado a família, inserção social da pessoa em sofrimento mental, inclusão da comunidade no cuidado e educação comunitária, valorização do contexto social, construção de vínculos, conquista da cidadania, conquista da autonomia, economia solidária/empreendedorismo, comunicação terapêutica, grupos terapêuticos, terapia alternativa e itinerâncias. As inovações apresentadas guardam relação teórica com a perspectiva da clínica ampliada, com os princípios do SUS e com o paradigma da complexidade. Embora insuficientes para atender as necessidades de atenção em saúde mental, a sustentabilidade das inovações produzidas nos dispositivos assistenciais é frequentemente ameaçada por problemas gerais associados ao financiamento da política de saúde, problemas gerenciais, instabilidade dos contratos de trabalho e falta de profissionais preparados para lidar com os desafios contemporâneos da atenção em saúde mental. Além disso, a identidade profissional dos enfermeiros ainda está ligada aos saberes e práticas tradicionais, em uma visão hospitalocêntrica e distante da política de promoção da saúde mental. Há necessidade de capacitação, enfatizando saberes e práticas que devem ser mobilizados de acordo com as diretrizes da política nacional de saúde mental - escuta qualificada, criatividade nos cuidados, habilidades para mobilizar recursos do território, trabalho interdisciplinar4. No campo do ensino, o referencial pedagógico das metodologias ativas e das competências, definido como mobilização de recursos pessoais e do meio para agir eficazmente em um determinado contexto, é apontado como mais adequado para operar mudanças na perspectiva dos desafios contemporâneos da atenção em saúde mental. Preparar o aluno pra mobilizar saberes e habilidades relacionadas à cidadania e a inclusão social é uma exigência das próprias diretrizes curriculares para formação do enfermeiro. A perspectiva teórica dialética do processo saúde-doença é uma forma de superação do modelo clássico de intervenções baseadas na sintomatologia, hegemônico no ensino na saúde5. **Conclusão:** Após a análise dos artigos foi possível concluir que processos inovadores de atenção à pessoa em sofrimento mental são elaborados cotidianamente nos serviços extra-hospitalares de saúde mental. As práticas implementadas não são inovadoras apenas por estarem em um lugar ideológico diferente, mas por serem práticas diferentes, de reconstrução do modelo assistencial, inseridas no processo em curso de reforma psiquiátrica, o que favorece a constante reflexão sobre a própria prática profissional e a necessidade de criação de novas formas de cuidar. A maioria dos cuidados tidos como inovadores neste trabalho fazem parte do cotidiano da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo orientados pela perspectiva da clínica ampliada e do SUS. O principal desafio contemporâneo da atenção em saúde mental para o ensino de enfermagem é a adequada formação dos profissionais numa perspectiva ampliada de saúde. O ensino deve valorizar o estreitamento das relações interpessoais entre profissionais, cidadãos e demais atores sociais, permitindo compreender que a produção de cuidados precisa ocorrer mais perto da vida concreta das pessoas, com maior flexibilidade nas decisões e resolução de problemas, em prol da cidadania, favorecendo o crescimento individual e coletivo. **Contribuições/implicações para a Enfermagem:** A literatura demonstra que os transtornos mentais representam um problema de saúde global, exigindo formas ampliadas e criativas de cuidar, capazes de responder a complexidade das exigências presentes no processo de viver. A lacuna quanto a profissionais habilitados para superar o _gap_ de cuidados em saúde mental requer novas orientações para formação do enfermeiro. Inovações no processo de formação do enfermeiro tornam-se fundamentais para enfrentar os desafios contemporâneos da saúde mental global.
Referências: Referências:
Freitas, EV. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
Wold GH. Enfermagem Gerontológica. Tradução de Ana Helena Pereira Correia et al. Rio de Janeiro, Elsevier, 2013.
Berger L, Mailloux-Poirier D. Pessoas Idosas: uma abordagem global. Tradução: Madeira MA et al. Lisboa: Lusodidacta; 1995. |