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2728426 | IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE EM ENFERMAGEM | Autores: Carla Natalina da Silva Fernandes ; Maria Conceição Bernardo de Mello E Souza |
Resumo: Para constituir uma identidade profissional docente se põem em questão a
mobilização de muitas experiências, saberes, subjetividades que são
influenciadas por vários contextos desde os pessoais aos profissionais, os
aspectos políticos e históricos, e das relações que estabelecem entre si,
sobretudo na tensão e no conflito, pois não se trata apenas de transpor as
identidades de enfermeira para professora. Neste estudo para a compreensão da
identidade profissional utilizaremos o referencial proposto por Dubar(1-2). O
**objetivo **desta pesquisa foi investigar as relações entre formação
pedagógica e o processo de construção da identidade docente dos professores
que atuam em cursos de graduação em enfermagem nas instituições públicas e
fundações municipais de ensino superior no estado de Goiás. **Tratou-se de uma
pesquisa qualitativa** de natureza descritiva e exploratória, realizada em
todas as instituições de ensino superior públicas do estado de Goiás, foram
selecionados os cursos de enfermagem mais antigos das instituições,
localizados nas cidades de Goiânia, Ceres, Rio Verde e Goiatuba. Participaram
da pesquisa onze professores de cursos de enfermagem, enfermeiros, com mais de
três anos de atuação na docência. O presente estudo faz parte de uma pesquisa
matriz, que buscou investigar o processo de construção da identidade docente
entre professores enfermeiros. O processo de coleta de dados ocorreu entre
setembro e dezembro de 2014. Como recurso para a obtenção dos dados foi
utilizada a entrevista semi-estruturada. A análise de dados foi fundamentada
pela análise de conteúdo de Bardin(3). A pesquisa foi aprovada pelo
CEP/EERP/USP, parecer n. 711.121. **Resultados e Discussão**: **Caracterização
do perfil das docentes em enfermagem: **Foram atribuídos nomes fictícios para
as participantes como mecanismo de garantia do anonimato. Como características
de aproximação verificou-se que todas as participantes são mulheres, com o
estado civil de casada para sete em onze participantes, e ter filhos para oito
participantes que tem entre um e três filhos. A idade das participantes variou
entre 58 e 28 anos, sendo a média de 37,9 anos. Em relação a formação tem-se
oito participantes com graduação em enfermagem realizada em instituições
públicas de ensino superior. Quanto à qualificação acadêmica das participantes
tem-se três doutoras, duas mestres e seis especialistas. Sete das
participantes são efetivas nas instituições de ensino e quatro trabalham com
vínculo de contrato temporário. O tempo de experiência na docência
universitária entre as professoras variou entre três e 35 anos, representados
no ciclo de vida profissional docente tem-se seis professoras na fase de
estabilização; quatro na fase de diversificação e questionamento e duas na
fase de distanciamento afetivo e desinvestimento(4). A fase de estabilização é
marcada pelo comprometimento com a profissão, consolidação pedagógica sendo
comum a manifestação de agrado em relação ao trabalho trazendo um significado
de pertença a profissão e o aumento da sua competência pedagógica(4). Seis
participantes têm mais de um vínculo empregatício, articulando geralmente
trabalho na docência e serviços de saúde, o que por um lado pode favorecer a
ampliação de experiência inclusive para aplicação no ensino, pode também
denunciar a incapacidade das participantes manterem-se financeiramente como
docente, a fragilidade dos vínculos empregatícios e a sobrecarga de atividades
realizadas pelas participantes. **Trabalho docente:** **Ingresso e formação:
**Para a maioria das participantes destacou- se a contingência como fator que
motivou o ingresso na profissão evidenciando a falta de planejamento para o
ingresso na profissão, prevalecendo como justificativa o acaso por meio do uso
de expressões como “caí de paraquedas”, ou ainda como uma determinação divina
com o uso da expressão “Deus trilhou meu caminho”. Como representa a fala: _Eu
nunca pensei que eu ia ser docente, eu acho que quase todo mundo cai um pouco
de paraquedas né, porque eu caí de paraquedas, também [...]. (Joana). _Apenas
três, em onze participantes, manifestaram planejamento e interesse prévio em
ingressar na profissão docente no ensino superior em enfermagem. Nessa
perspectiva, a docência pode ser vivida como algo natural, nato, herdado ou
ainda como escolha divina. O que por consequência provoca angústias de
identificação profissional até mesmo para lidar com provocações utilizadas no
cotidiano, que não privilegiam a docência como profissão, aumentando as
incertezas e angústias do trabalhador, como evidenciado: _[...] Mas, acho que
para o enfermeiro é fácil a gente ser professora assim de [...]Eu sempre fui
as duas coisas parece, educadora e enfermeira. Por isso que eu falo, parece
que a gente é educadora sempre, não é?. (Lia). _Compreender o sentido e o
significado da profissão está diretamente ligado ao processo de constituição
da identidade profissional, sendo que para as docentes participantes a
compreensão que se tem sobre a motivação para o ingresso na profissão ainda se
dá, sobretudo numa valorização maior da identidade social virtual e dos atos
de atribuição do que para os atos de pertença(1). Assim os reflexos dessa
compreensão são percebidos também no modo que vivenciam os processos de
formação em docência já que uma parte delas não consegue elaborar um sentido
positivo e de desenvolvimento profissional aos processos formativos que
participaram especialmente os oferecidos (em sua maior parte em condição
obrigatória) pelas instituições em que trabalham, como indicam: _Quando a
gente entra na universidade, a gente faz aquele curso de formação mas, naquele
momento. Mas, particularmente, não achei que fez tanta diferença, você estuda
algumas coisas, vê algumas novidades, mas não foi um curso de formação assim
com uma carga horária mais expressiva eu nunca fiz não. (Sofia).
_**Considerações finais:** Importantes elementos influenciam na educação e na
formação do professorado como as mudanças aceleradas no campo da cultura,
conhecimento científico, modelos de organização social e política, meios de
comunicação de massas e tecnologias, modelos de educação e papel docente
(multitarefa) e sobretudo as mudanças no papel do Estado com sua crescente
desregulação por meio de lógica mercantilista e neoliberalista, complementado
pelo neoconservadorismo implicado nas políticas educacionais(5). O contexto do
trabalho docente influencia diretamente as práticas formativas e a prática
pedagógica dos professores, podendo repercutir em inovação e mudança, ou em
casos reversos em desacreditação da formação profissional como mecanismo de
transformação no trabalho docente. Desse modo reforça-se a relevância da
formação pedagógica que antecede ao ingresso na profissão e durante toda sua
permanência no trabalho. Este estudo revela as fragilidades das condições de
acesso e permanência no trabalho docente uma vez que a formação pedagógica
ainda é pouco valorizada pelos profissionais e pelas instituições de ensino
superior.
Referências: 1. Manual para operacionalização das ações educativas no SUS. Educação em saúde planejando as ações educativas (teoria e prática). São Paulo: CVE; 1997.
2. RIBEIRINHOS da Amazônia. In: PORTAL da Amazônia. Disponível em: . Acesso em: 12 de agosto de 2017.
3. Brasil. M.S. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. 1 ed. Brasília: MS; 2013.
4. Paiva C. Novos critérios de diagnostico e classificação da diabetes mellitus. Med. Int 2001; 7(4): 234-238. |