Prêmios
2717556 | CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: REPRESENTAÇÃOES DO SUS E EFEITOS DA FORMAÇÃO | Autores: Kenia Lara da Silva ; João André Tavares Álvares da Silva |
Resumo: **CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: REPRESENTAÇÃOES DO SUS E EFEITOS DA FORMAÇÃO**
**INTRODUÇÃO: **
As transformações que vêm ocorrendo no Sistema Único de Saúde (SUS) buscam
implementar um modelo de saúde incorporando noções de promoção da saúde e
integralidade para superar as práticas sanitárias fragmentadas. Para superar
estas práticas faz-se necessário formar profissionais com qualificação ética,
técnica e política na perspectiva do cuidado.
Nesse sentido, o ensino profissional técnico no SUS tem buscado valorizar as
vivências dos alunos nos processos de ensino-aprendizagem como forma de
estimular a busca de novos conhecimentos e o desenvolvimento da criatividade,
da criticidade e da competência, favorecendo a compreensão da realidade e as
possibilidades de transformá-la.
Apesar de todas as iniciativas e estratégias para promover a educação técnica
na saúde, e do esforço empreendido no âmbito do ensino para reorganizar os
processos formativos, verificam-se insuficiências e inadequações na formação
de profissionais técnicos para o SUS, indicando necessidade de avanços neste
campo. Parte dessa problemática refere-se à natureza essencialmente técnica
dos conteúdos nessa modalidade do ensino com direcionamento para o
desenvolvimento de habilidades que respondam às exigências do mercado de
trabalho. Torna-se, portanto, um desafio formar, na educação técnica
profissional, sujeitos com competência técnica e política, sem perder de vista
a problematização das vivências (3, 5).
Diante disso questiona-se como a formação técnica de enfermagem repercute no
SUS?
**OBJETIVO: **
Analisar representações acerca do SUS e repercussões da formação técnica de
enfermagem.
**DESCRIÇÃO METODOLOGIA: **
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa fundamentada no referencial
teórico da dialética((10, 11). Tomou-se como cenário o Curso Técnico de
Enfermagem da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG).
Participaram da pesquisa alunas egressas que concluíram o curso técnico de
enfermagem entre os anos 2012 e 2015 e estavam trabalhando como técnicas de
enfermagem no SUS durante o período de coleta de dados, bem como docentes que
lecionaram nas turmas concluídas no referido período.
Para a coleta de dados foram utilizadas a pesquisa documental e entrevistas
semiestruturadas a partir de roteiros específicos para egressas e docentes. Os
dados foram submetidos à Análise de Discurso Crítica (ADC)(12).
A pesquisa seguiu os princípios éticos dispostos na Resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde (9), que define as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
**RESULTADOS**
Os resultados indicam que a representação do SUS é marcada por construções
discursivas que reproduzem, em texto, construções histórico-sociais sobre o
sistema público de saúde que determinam o processo de trabalho em enfermagem.
São apresentadas as contradições presentes no sistema que saúde que
simultaneamente é cenário de prática profissional e objeto de estudo frente a
necessidade qualificação profissional específica para atuar nesse sistema.
Nesse sentido os efeitos da formação técnica em enfermagem são identificados
pela reprodução do discurso da política de saúde e de ordens de discurso que
determinam o processo de trabalho na enfermagem.
O SUS é representado no discurso dos atores sociais do Curso Técnico de
Enfermagem da ESP-MG como um sistema voltado para pessoas pobres. A partir de
suas vivências no trabalho, egressas e docentes constroem formações
discursivas em torno da ideia de que o SUS é um bom projeto mal executado. Os
aspectos considerados importantes para a formação do trabalhador do SUS, têm
origem nos textos das leis e políticas do SUS, revelando uma prática social
normativa institucional desse sistema.
Sob pontos de vista individuais, a formação técnica é reconhecida como
possibilidade de progressão na carreira e de reconhecimento pela equipe
multiprofissional, aspectos intrinsecamente relacionados à satisfação pessoal
com o trabalho. Os discursos indicam, ainda, uma influência da política de
saúde na formação e, consequentemente, na prática profissional.
Na dimensão particular da Enfermagem, os achados sugerem que a formação
técnica não acarretou mudanças na prática profissional em relação às funções
que as egressas realizavam antes do curso tendo em vista a organização do
processo de trabalho. Na perspectiva estrutural, na qual operam a determinação
política do trabalho e da formação na Enfermagem, os relatos indicam a
assimilação do discurso político da saúde, com menções diretas ao SUS como
política pública.
Como uma política pública de saúde, o SUS, se configura em campo de práticas
sociais, concretizando-se em cenário complexo do processo de trabalho em
saúde, no qual está inserido o profissional técnico de enfermagem. Dessa
forma, a produção de discursos sobre o SUS revela aspectos importantes a serem
considerados no processo de formação do Técnico de Enfermagem.
Os discursos de representação do SUS que circulam no Curso Técnico de
Enfermagem remetem diretamente à implantação do SUS inserido no movimento da
reforma sanitária brasileira, que foi determinado por opções ético-políticas
democráticas de defesa da saúde como direito social. Egressas e docentes,
anteriormente ao curso, já estavam inseridas sistema público de saúde como
trabalhadores. Portanto, as representações acerca do SUS aludem ao contexto
político, social e econômico de construção desse sistema, revelando
contradições de âmbito estrutural.
A representação do SUS a partir do Curso Técnico de Enfermagem é construída
também a partir de avaliações das egressas sobre o seu processo de trabalho na
equipe de enfermagem revelando aspectos do processo histórico de constituição
da Enfermagem como profissão. Ao enumerar as atividades que realizam,
materializa-se no discurso a divisão técnica e social do trabalho,
consequência do desenvolvimento da profissão sob influência capitalista
levando à dicotomia entre o executar e o planejar, bem como entre o cuidar e o
gerenciar (19, 20).
Entre regularidades e contradições estruturais e discursivas, o SUS é
representado como sistema ideológico, dinâmico e em construção, que determina
processos de trabalho dos profissionais técnicos de enfermagem.
Dialeticamente, o mesmo sistema que apresenta profissionais técnicos de
enfermagem atuando sem a devida qualificação se configura no principal
objeto/tema para a formação dos técnicos de enfermagem.
**Conclusão**
Os discursos indicam que os efeitos da formação repercutem com destaque na
dimensão singular. Entretanto, na dimensão particular, a formação técnica
repercute na reprodução do processo de trabalho fragmentado diante da
autonomia limitada das egressas sobre a organização do seu trabalho. Na
dimensão estrutural o curso repercute para egressas no conhecimento das
políticas de saúde.
Os discursos indicam a assimilação da política pública de saúde tanto para
egressas quanto para docentes, que se manifesta pela presença de termos
específicos nas formações discursivas, que variam da crítica que reconhece os
avanços do processo de construção do SUS à reprodução das hegemonias e
ideologias, que embora ocultas nos discursos, operam na determinação das
condições de organização do trabalho e da formação na Enfermagem e na saúde.
**Contribuições para a área da Enfermagem, saúde ou política pública**
O estudo permite refletir acerca da necessidade de investimentos formação e
qualificação técnica de enfermagem, considerando a parcela significativa de
profissionais atuando na assistência direta, que essa categoria representa.
Nesse sentido, torna-se oportuno o aprofundamento na reflexão das bases
teóricas que fundamentam o ensino técnico de enfermagem, compreendendo que
elas determinam imediatamente o processo pedagógico e mediatamente o processo
de trabalho. Assim, apresenta-se uma possibilidade de resignificar concepções
de trabalho e educação com vista à reconstrução da identidade do ensino
técnico de enfermagem fundado na relação teoria e prática.
Referências: 1. Raimondo ML, Fegadoli D, Méier MJ, Wall ML, Labronici LM, Raimondo-Ferraz MI. Brazilian scientifi c production based on Orem’s Nursing Theory: integrative review. Rev Bras Enferm [Internet]. 2012[cited 2018 Jan 04];65(3):529-34. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n3/v65n3a20.pdf
2. Coelho SMS, Mendes IMDM. From research to Nursing practice applying the Roy Adaptation Model. Esc Anna Nery [Internet]. 2011[cited 2018 Jan 03];15(4):845-850. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v15n4/a26v15n4.pdf
3. Melo RP, Lopes MVO, Araujo TL, Galvão MTG. Application of the Roy adaptation model on a pediatric client in a hospital environment. Cultura de Los Cuidados [Internet]. 2011[cited 2018 Mar 08];15(29):74-81. Available from: http://www.index-f.com/cultura/29pdf/29-074.pdf
4. Farsi Z, Azarmi S. Effect of Roy’s Adaptation Model guided education on coping strategies of the veterans with lower extremities amputation: a doubleblind randomized controlled clinical trial. Int J Community Based Nurs Midwifery [Internet]. 2016[cited 2018 Feb 27];4(2):127-36. Available from: https://pdfs.semanticscholar.org/95bc/1b8b2c4facc889d934318d87be044cbe52de.pdf
3. Fortes AN, Lopes MVO. [Level of adaptation based on the Roy model in mothers of children with Down Syndrome]. Invest Educ Enferm [Internet]. 2006 [cited 2018 Jan 31];24(2): 64-73. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/iee/v24n2/v24n2a07.pdf
4. Costa CPV, Luz MHBA, Bezerra AKF, Rocha SS. Application of the nursing theory of callista roy to the patient with cerebral vascular accident. Rev Enferm UFPE on line [Internet]. 2016[cited 2017 Dec 27];10(Supl. 1):352-60. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/10960/12282
5. Medeiros LP, Souza MBC, Sena JF, Melo MDM, Costa JWS, Costa IKF. Roy Adaptation Model: integrative review of studies conducted in the light of the theory. Rev Rene [Internet]. 2015[cited 2018 Jan 27];16(1):132-40. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/viewFile/1930/pdf
6. Roy C. Research based on the Roy Adaptation Model: Last 25 Years. Nurs Sci Quart. 2011;24:312-20.
7. Roy C. The Roy adaptation model. 3rd ed. Upper Saddle River, New Jersey: Pearson; 2009.
8. Silva RA, Oliveira-Kumakura ARS, Silva VM. Deglutição prejudicada. In: NANDA Internacional, Inc.; Herdman TH, Napoleão AA, Lopes CT, Silva VM, organizadoras. PRONANDA Programa de Atualização em Diagnósticos de Enfermagem: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2017. p. 9-60.
9. Martins AP, Canella DS, Baraldi LG, Monteiro CA. [Cash transfer in Brazil and nutritional outcomes: a systematic review]. Rev Saúde Pública [Internet]. 2013[cited 2018 Mar 11];47(6):1159-71. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4206093/pdf/rsp-47-06-1159.pdf
10. Dantas MAS, Pontes JF, Assis WD; Collet N. [Family´s abilities and difficulties in caring for children with cerebral palsy]. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2012[cited 2018 Feb 28];33(3):73-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n3/10.pdf
11. Duarte GA, Ramos RB, Cardoso MCAF. Feeding methods for children with cleft lip and/or palate: a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol [Internet]. 2016[cited 2018 Jan 24];82(5):602-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/bjorl/v82n5/1808-8694-bjorl-82-05-00602.pdf
12. Diniz MB, Silva RC, Zuanon ACC. [Childhood bruxism: a warning sign to pediatric dentists and pediatricians]. Rev Paul Pediatr [Internet]. 2009[cited 2018 Jan 04];27(3):329-34. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v27n3/15.pdf
13. Miamoto CB, Pereira LJ, Ramos-Jorge ML, Marques LS. Prevalence and predictive factors of sleep bruxism in children with and without cognitive impairment. Braz Oral Res [Internet]. 2011[cited 2018 Mar 04];25(5):439-45. Available from: http://www.scielo.br/pdf/bor/v25n5/11.pdf
14. Silva AB. Interferência da hiperextensão cervical na deglutição de crianças com paralisia cerebral. Campinas: São Paulo. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de Campinas; 2007.
15. Silva Netto CR. Deglutição na criança, no adulto e no idoso: Fundamentos para odontologia e fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 2003. p. 45-67.
16. Goldsmith S. What does our future hold? Prognosis of cerebral palsy: sistematic literature review. Develop Med Child Neurology [Internet]. 2010[cited 2017 Dec 23]52:41. Available from: https://insights.ovid.com/developmental-medicine-child-neurology/dmcn/2010/03/002/does-future-hold-prognosis-cerebral-palsy/63/00003434
17. Wilson E, Hustad K. Early feeding abilities in children with cerebral palsy: a parental report study. J Med Speech Lang Pathol [Internet]. 2009[cited 2018 Feb 02]: nihpa57357.
18. Pagliaro CL, Bühler KEB, Ibidi SM, Limongi SCO. Dietary transition difficulties in preterm infants: critical literature review. J Pediatr [Internet]. 2016[cited 2018 Jan 12]; 92(1):7-14.
19. Casagrande L, Ferreira FV, Hahn D, Unfer DT, Praetze JR. [Breast and bottle-feeding and the development of the stomatognathic system]. Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre [Internet]. 2008[cited 2018 Jan 12];49(2): 11-7.Available from: http://www.seer.ufrgs.br/RevistadaFaculdadeOdontologia/article/viewFile/3032/8282
20. Mosele PG, Santos JF, Godói VC, Costa FM, Toni PM, Fujinaga CI. Assessment scale of newborn sucking for breastfeeding. Rev CEFAC [Internet]. 2014 [cited 2017 Dec 22];16(5):1548-57. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v16n5/en_1982-0216-rcefac-16-05-01548.pdf
21. Bervian J, Fontana M, Caus B. Relationship among breastfeeding, oral motor development and oral habits - literature review. Rev Faculd Odontol [Internet]. 2008 [cited 2018 Jan 15];13(2): 76-81. Available from: http://download.upf.br/editora/revistas/rfo/13-02/14.pdf
22. Crestani AH, Souza APR, Beltrami L, Moraes AB Analysis of the association among types of breastfeeding, presence of child development risk, socioeconomic and obstetric variables. J Soc Bras Fonoaudiol [Internet]. 2012[cited 2017 Oct 22];24(3):205-10. |