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2410580 | REQUISITOS DE AUTOCUIDADO NO DESVIO DE SAÚDE PARA A PESSOA COM DOENÇA RENAL EM DIALISE PERITONEAL | Autores: Giovana Batista Leite Veloso ; Kátia Renata Antunes Kochla ; Fernanda Gabriela Barbosa ; Yasmim Fracaro ; Maria Elisa Brum do Nascimento |
Resumo: **INTRODUÇÃO: **O autocuidado para a pessoa com doença renal crônica em diálise peritoneal circunscreve uma experiência desafiadora e exige uma compreensão mais profunda de como essa alteração de saúde afeta estruturas físicas, psicossociais e interage no funcionamento integral da pessoa. A diálise peritoneal é um procedimento diário para a limpeza do sangue realizado com auxílio de um cateter abdominal permanente pelo qual é introduzido o líquido de diálise1. A pessoa nessa condição realiza seu tratamento no domicilio e conta com apoio da equipe multidisciplinar, principalmente o enfermeiro que é o responsável pela capacitação destas pessoas para prover o monitoramento da sua condição de saúde e executar seu autocuidado2. Orem define requisito de autocuidado de desvio/alteração de saúde como condições decorrentes de doenças ou medidas médicas em relação ao diagnóstico com o propósito de recuperação, reabilitação e controle da doença quando o indivíduo em estado patológico necessita adaptar-se a tal situação3. Assim, o autocuidado realizado no domicilio com auxílio dos familiares configura um sistema parcialmente compensatório que capacita à pessoa e/ou desenvolvimento de práticas de cuidado e produz reforço positivo e segurança4 Frente a este contexto o estudo teve como questão norteadora: quais os requisitos de autocuidado que a pessoa com doença renal crônica utiliza frente à doença e o tratamento de diálise peritoneal? E como **objetivo** descrever os requisitos de autocuidado a partir da teoria de orem para a pessoa com doença renal em diálise peritoneal. **MÉTODO:** Estudo descritivo, exploratório e qualitativo com 15 participantes vinculados a um Serviço Ambulatorial na área de nefrologia em Curitiba, Paraná. Os participantes foram escolhidos por conveniência, com indicação dos profissionais do serviço de nefrologia e a partir do cadastro da instituição de referência na área. Incluídas pessoas adultas, entre 20 e 59 anos, com diagnostico de doença renal crônica, ambos os sexos, com boa comunicação oral, que realizam seu próprio tratamento dialítico no domicilio. Excluídos aquelas que necessitam de auxílio do familiar ou cuidador para prover o cuidado, internados e ou com complicações clínicas no período do estudo. A coleta de dados ocorreu entre junho e setembro de 2016, por meio de entrevista individual semiestruturada, pelo primeiro e segundo autor, com auxílio de formulário próprio e questões com enfoque nas situações enfrentadas, complicações, apoio recebido, atividades realizadas, atividades de vida diária, realização do autocuidado. A aplicação foi realizada, após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, em duas vias e uma delas disponibilizada ao participante. As entrevistas foram previamente agendadas, gravadas e transcritas, realizadas em local reservado no serviço de referência. Os dados foram registrados em mídia eletrônica, com auxílio de um diário de campo para evitar lapsos de esquecimento, considerando critérios de registro como clareza, fidedignidade e legibilidade. As informações foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo e categorização temática5. A análise verificou-se 169 unidades de registro que abordaram os desvios de autocuidado. Em atendimento ao respeito e cuidado ético aos participantes do estudo, o mesmo foi submetido à aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Positivo sob o CAAE 56612916.3.0000.0091. **RESULTADOS:** Os requisitos universais de desvio de saúde abrangem condições decorrentes da doença ou medidas, cuidados clínicos para reabilitar, recuperar e controlar a doença3. Entre estes elementos a medicação, os cuidados higiênicos e medidas clínicas como parte do tratamento consistem em categorias necessárias para manter a saúde frente à doença. Outros requisitos como o controle e adaptação, a condição da doença, a depressão, o transplante conforma recursos que se impõem a pessoa e interagem com o autocuidado. O uso de muitas medicações pode gerar confusão e consiste em uma medida clínica difícil de seguir, fazendo com que muitas vezes a adesão seja comprometida. O medicamento torna-se um fardo, pois exige seguir horários e cuidados específicos quanto a sua administração. Em relação aos cuidados e medidas higiênicas, a limpeza é imperativa a fim de evitar infecção e por vezes a experiência de agravos ligados à higiene reflete nos hábitos atuais. Entre as complicações do tratamento, a peritonite ou infecção da cavidade abdominal assusta e cursa com sofrimento físico e medo, fazendo com que a pessoa sinta o incomodo e a fragilidade do organismo. As medidas higiênicas formam um conjunto de técnicas e ritos que embasam o autocuidado domiciliar dialítico. Controle e adaptação fazem parte do ritual no tratamento de diálise peritoneal como o tempo de máquina e os preparativos para o procedimento diário, o qual exige disciplina no autocuidado. Essa dinâmica é muitas vezes difícil de seguir e a pessoa se apropria gradativamente da experiência. Também implica em escolhas como ser cauteloso, fazer com atenção e zelo passo a passo. A manutenção do tratamento de diálise peritoneal é uma condição da doença que produz impacto econômico que caba por exigir ajustamentos no orçamento familiar. Esse aspecto do tratamento compõe uma condição da doença aliada ao controle que gera um ônus inesperado e nem sempre a família consegue manter, fazendo com que esta realize adaptações sem prejudicar o tratamento. O tratamento diário e por tempo prolongado é cansativo, leva a pessoa com doença renal em diálise peritoneal ao confronto cotidianamente o inevitável, a terapêutica que os mantém vivos, em que muitos relatam acostumar-se, mas não aceitam tal condição. Para estas pessoas submeter-se ao tratamento é ruim, perde a liberdade, limita o convívio na sociedade e produz negatividade sobre si mesmo. A ruptura de hábitos antes comuns, e o entrave na vida social são motivos de preocupação e ansiedade. **CONCLUSÕES:** Foi possível observar que o processo de adaptação da pessoa com doença renal ao tratamento de diálise peritoneal é árduo envolto a dificuldades e experiências. O conhecimento dos requisitos de autocuidado mostra que a diálise peritoneal enquanto tratamento permite a pessoa obter uma liberdade condicionada relacionada a restrições e adaptações na qual ela busca manter a saúde e o bem-estar. Neste aspecto, a presença efetiva dos enfermeiros pode contribuir auxiliando-os a identificar situações problema que necessitam de suporte, esclarecendo dúvidas, reforçando potencialidade e habilidades além de intervir para atender demandas específicas individuais. **CONTRIBUIÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA ENFERMAGEM:** Considera-se que as ações do enfermeiro aqui sugeridas propõem educar e cuidar, centrada no autocuidado conforme a teoria de Orem, para o seguimento integral da pessoa com doença renal, promovendo estratégias para ouvir, acolher, manter a dignidade e facilitar meios para atenuar o sofrimento e as crises. A teoria de Orem nos permitiu compreender a importância do autocuidado e evidenciar sua relevância para a prática assistencial, auxiliando na construção de novos conhecimentos.
Referências: REFERÊNCIAS
1.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.
2.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.
3. Silva JV. et al. Teoria de Enfermagem do Déficit do Autocuidado – Dorothea Orem. In.: Braga CG, Silva JV (Org.). Teorias de enfermagem. São Paulo: Iátria, 2011. pp. 85-103.
4. Taylor GS. Teoria do déficit do autocuidado. In: Tomey AM, Alligood MR. Teóricas de Enfermagem e a sua Obra: modelos e Teorias de Enfermagem. 5. ed. Loures (PT): Lusociência; 2004. pp. 211-235. |