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2394921 | BRICOLAGEM – UMA METODOLOGIA ATIVA DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM ENFERMAGEM | Autores: Mara Regina Rosa Ribeiro ; Leonara Raddai Gunther de Campos ; Marcela Jossani Ferreira Polo ; Juarez Coimbra Ormonde Junior ; Luciana Portes de Souza Lima |
Resumo: **Introdução**: Os movimentos de mudança na formação em saúde avançam de forma acentuada, caracterizando-se na contemporaneidade, pela utilização de diversificadas metodologias de ensino-aprendizagem, resultantes de (re)interpretações de algumas já consolidadas, ou mesmo de novas proposições, de modo a atender à complexidade imanente aos perfis profissionais almejados. O “descompasso entre os modelos educacionais prevalentes e as demandas por formação de profissionais abertos para a mudança e inovação”, remetem à necessidade de delineamento de novas propostas de ensino-aprendizagem ativas, com desenho flexível, que permitam o desenvolvimento da criatividade, de capacidade crítico reflexiva, e de adaptabilidade às novas situações, em constantes mudanças1:9. Buscamos neste artigo apresentar e fundamentar teórica e metodologicamente nova proposta de metodologia ativa, denominada bricolagem, que tem por pressuposto a multireferencialidade, o que nos leva a sair da zona de conforto das metodologias já descritas, e avançar para novas perspectivas, com design aberto e desfecho imprevisível, tendo como porto seguro os necessários aportes teóricos de sustentação2. **Objetivo**: Apresentar e fundamentar teórica e metodologicamente a Bricolagem, como nova proposta de metodologia ativa. **Metodologia**: Estudo qualitativo de caráter reflexivo, resgata as bases teóricas conceituais das metodologias ativas e da bricolagem com a finalidade de propor uma inovação metodológica no ensino de enfermagem. **Resultados**: Debruçamos-nos sobre a base conceitual e destacamos os seguintes principais elementos caracterizadores das metodologias ativas – adotam a concepção de aprendizagem significativa; há mudança nos papéis desempenhados por professores e alunos; usam a problematização como estratégia para construção de conhecimentos em sala de aula; adotam a avaliação formativa; prezam pela articulação entre teoria e prática; têm intenção de ampliar a capacidade criativa e crítica dos participantes; almejam aproximar as interações em sala de aula, motivo pelo qual trabalham em pequenos grupos, para citar algumas.1,3 Já o conceito de bricolagem foi inserido no meio acadêmico a partir da adaptação do antropólogo francês Lévi-Strauss que o discutiu como sendo o conhecimento guiado pela intuição e curiosidade humana4. Historicamente, a palavra de origem francesa _bricolage_, em português bricolagem, refere-se à produção de materiais ao acaso, utilizando diversas ferramentas e todo e qualquer material que estiver disponível à mão, de forma aleatória a criar um novo sentido a algo, ou atribuir nova função a determinado objeto5. Já consolidada e bastante difundida como método de pesquisa, delineia-se assim a nova proposta denominada Bricolagem, que se solidifica também como metodologia ativa de ensino-aprendizagem, sendo desenvolvida em dois ciclos e 7 atividades, cujos movimentos passamos a descrever: **Primeiro Ciclo - O processo criativo** envolve desde o trabalho individual prévio ao encontro, até a partilha do projeto, e tem como foco a criação e seu compartilhamento. Abarca as seguintes atividades: _Leitura prévia_ - trata-se de movimento individual de leitura de artigo(s) científico(s) versando sobre o tema a ser tratado em sala de aula, resultante de busca em bases de dados, realizada pelos alunos; _Mural de Palavras_ - estratégia realizada no grande grupo, que neste momento intenciona levantar o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema; _POETA_ - também desenvolvida no grande grupo, pode ser um vídeo, texto, imagem, ou outro recurso que irá funcionar como elemento que possa produzir sentidos aos participantes, de modo a inseri-los na temática, e simultaneamente estimulá-los a prosseguirem nas atividades; _Projeto criativo_ - a turma é dividida em pequenos grupos compostos por até cinco alunos. Nesta atividade podem-se adotar duas estratégias – ou disponibilizar todo o material para que os grupos se apropriem do que irão utilizar, ou entregar um kit para cada grupo. Em ambas as formas, são oferecidos materiais diversos – desde produtos de papelaria, recicláveis, artesanato, artigos de festa, dentre outros. Aos grupos é descrita a missão de formular a partir desse material, um projeto que envolva o tema escolhido para a atividade. Espera-se que trabalhem em equipe e, servindo-se da criatividade, produzam um projeto, usando os materiais disponibilizados; _Compartilhamento dos projetos_ - os grupos compartilham seu projeto, problematizando seu processo criativo, a organização do conhecimento e as ideias para sua concretização, constituindo-se em momento para discutir o caminho do pensamento adotado por cada equipe. **Segundo Ciclo - Síntese de aprendizagens** - tem como foco o compartilhamento de aprendizagens, tanto relacionadas ao tema em estudo, como também as de ordem pessoal, derivadas da experiência. Compreende as seguintes atividades: _POETA_ - novo componente disparador, podendo ser um vídeo, texto, imagem, ou outro elemento, que produza sentidos sobre as aprendizagens; _Roda de conversa_ - estratégia de partilha das aprendizagens, de formato livre, embora todos os integrantes sejam estimulados a participar. Na roda de conversa os projetos são revisitados, desta feita revelando sentimentos, percepções e significados atribuídos à sua criação. O caminhar da roda é livre, de modo que os participantes possam tratar dos aspectos que mais impactaram ou mesmo incomodaram na experiência. _Narrativa_ - também é solicitado aos alunos à elaboração de narrativa sobre a atividade, em momento posterior e individualmente, de forma que no exercício da escrita, possa registrar a atribuição de significados ao vivido - percepções e significações desencadeadas pela vivência nesta metodologia ativa, bem como as possibilidades de sua utilização na prática pedagógica. Essas narrativas irão compor o portfólio reflexivo dos participantes, permitindo revisitar a experiência, de modo à constantemente aprimorá-la. **Conclusões**: A bricolagem, conforme apresentada, constitui-se como metodologia ativa de ensino-aprendizagem, e apresenta como potencialidades - o despertar da criatividade e autonomização dos sujeitos, propicia o trabalho em equipe, o compartilhamento e colaboração grupal, a ampliação da capacidade de raciocínio crítico e reflexivo, e o deslocamento da centralidade do processo para os alunos. Sua principal fragilidade reside no fato de que pode ser aplicada a algumas temáticas, não alcançando ampla utilização. **Contribuições para enfermagem**: É uma opção potente para trabalhar, inclusive com alunos de graduação, a construção de projetos de educação em saúde, educação permanente em saúde, além das demais indicações já apresentadas. **Referências Bibliográficas**: 1. Lima VV, Padilha RQ (orgs.). Reflexões e inovações na educação de profissionais de saúde. Volume I. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018. 2. Rodrigues CSD et al. Pesquisa em educação e bricolagem científica: rigor, multirreferencialidade e interdisciplinaridade. Cadernos de pesquisa [Internet]. 2016 out/dez [citado 2018 fev 12]; 46(162):966-82. Available from: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010015742016000400966&script;=sci_abstract&tlng;=pt](http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742016000400966&script=sci_abstract&tlng=pt) 3. Bacich L, Moran J. Metodologias ativas para uma educação inovadora – uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. 4. Lévi-Strauss C. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Papirus Editora; 2005. 5. Kicheloe JL, Berry KS. Pesquisa em educação: conceituando a bricolagem. Porto Alegre: Artemed; 2007.
Referências: REFERÊNCIAS
1. Botelho OC. Misoginia, Discriminação e Submissão da Mulher nas Religiões Tradicionais [Internet]. Uberlândia; 2014. [acesso em 2018 mar 05]. Disponível em: https://observadorcriticodasreligioes.wordpress.com/2014/01/01/misoginia-discriminacao-e-submissao-da-mulher-nas-religioes-tradicionais
2. Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 82 p.
3. Coelho CC. Mulheres rebeldes: breve história da mulher e seu corpo[Internet]. Sant´Ana do Livramento: Clair Castilho Coelho; 2011. [acesso em 2018 fev 12]. Disponível em: http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2011/04/breve-historia-da-mulher-e-seu-corpo.html
4. Coelho CC. Mortalidade materna: comove, mas não mobiliza [Internet]. Sant´Ana do Livramento: Clair Castilho Coelho; 2013. [acesso em 2018 fev 26]. Disponível em: https://claircastilhos.wordpress.com/author/mairacastilhos/
5. Conselho Federal de Enfermagem (Brasil). Resolução COFEN- nº.358, de 15 outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências [acesso em 2018 fev 20]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html |