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2262845 | DESAFIOS DO ENFERMEIRO NA COMUNICAÇÃO COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA | Autores: Sarah Lais Rocha ; Shirley Aviz de Miranda5 ; Débora Moreira Machado ; Carolina Maria Peixoto Farias ; Maicon de Araújo Nogueira |
Resumo: **Introdução**: Estima-se que no mundo, existam 360 milhões de pessoas com perda auditiva incapacitante. Essas pessoas podem apresentar surdez leve/moderada (perda auditiva de até 70 decibéis) ou surdez severa/profunda (perda auditiva acima de 70 decibéis). Os indivíduos com surdez severa/profunda enfrentam dificuldade de entender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana e de adquirir, naturalmente, o código da língua oral. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de surdos no Brasil chega a 344.206 casos(1). No campo da saúde a comunicação constitui um processo fundamental para a prestação de uma assistência qualitativa, pois envolve, além dos seus aspectos intrínsecos, a escuta de forma acolhedora, não apenas com o objetivo de transmissão de informações para um entendimento conceitual, mas atingindo a subjetividade dos indivíduos(2).O processo sócio histórico da pessoa com deficiência na sociedade é caracterizado por distintos momentos de exclusão, segregação, integração e inclusão. Esse último por sua vez, só teve início a partir da década de 1980 e ainda apresenta-se em intenso processo de discussão e construção. Nesse entendimento, surge a concepção de que a família e a sociedade devem adaptar-se às necessidades de todas as pessoas, tenham elas uma deficiência ou não, pois a pessoa com deficiência pode desenvolver e exercer sua cidadania com autonomia e liberdade (4). No Brasil, há grandes avanços legais nesse campo do saber. As leis conhecidas como Lei da Acessibilidade 10.098/00 e Lei de Libras 10.436/02 são conquistas importantes em prol dos direitos das pessoas com deficiência. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em 2006 pela Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece que cabe aos Estados assegurar “um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta da plena participação e inclusão”(3). De acordo com o código de ética do profissional Enfermeiro, em seu artigo segundo, é direito do enfermeiro “aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação a sua prática profissional”. E o artigo quinze destaca que o Enfermeiro tem o dever de ofertar uma assistência livre de preconceito de qualquer natureza. Portanto, apoiado pelo código de ética e pela lei Federal 10.436, o profissional da enfermagem tem o direito e fica implícito o dever de realizar um curso de formação em Libras, a fim de prestar uma assistência de qualidade às pessoas com deficiência auditiva(3). Diante do exposto emergiram as seguintes questões de pesquisa: quais os desafios e dificuldades da prática do Enfermeiro na comunicação com surdos nas ESF? Quais as estratégias que os Enfermeiros utilizam no atendimento a pessoa com deficiência auditiva? O estudo é relevante porque enfoca a comunicação entre o surdo e os profissionais de saúde, fenômeno que persiste como uma das dificuldades no processo de cuidar deste segmento social. Além disso, trás contribuições no sentido de gerar informações que possam nortear os profissionais em sua _práxis_ de atenção em saúde no cuidado a pessoas surdas, contribuindo dessa maneira com o planejamento local dos serviços. **Objetivo: **Identificar os desafios da prática do Enfermeiro no processo de comunicação com pessoas com deficiência auditiva nas Estratégias Saúde da Família (ESF). **Percurso metodológico: **Estudo descritivo, exploratório, na perspectiva da pesquisa qualitativa. O cenário para produção de dados foram as Estratégias Saúde da Família (ESF) de um Distrito Administrativo de Belém, Estado do Pará. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da Faculdade Metropolitana da Amazônia (FAMAZ), por meio do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 55403616.5.0000.5701, atendendo aos dispositivos legais contidos na Resolução no 466/2012 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Foram realizadas entrevistas junto aos Enfermeiros das ESF do Distrito, no período de abril a maio de 2016. A coleta de dados foi realizada por meio de roteiro semiestruturado de entrevista, onde os profissionais tiveram a oportunidade de discorrer sobre o tema. As entrevistas foram realizadas com 12 profissionais considerando o critério de saturação de ideias(4). **Resultados e Considerações Finais: **O cuidado de enfermagem é um componente fundamental no sistema de saúde, que apresenta os seus reflexos a nível, local, regional e nacional e, por isso, também motivo de crescentes debates e ressignificações(5). O presente estudo demonstrou diversas fragilidades no atendimento ao paciente com deficiência auditiva. No que se refere ao conhecimento dos Enfermeiros sobre LIBRAS, todos informaram conhecer o curso, no entanto somente dois possuíam essa formação, e encontravam dificuldades em atender esses pacientes por não possuírem vivencias práticas com esse público. No contexto do atendimento ao paciente com deficiência auditiva, dois profissionais referiram não conseguir realizar o atendimento ao usuário, os outros nove utilizam escrita, mímicas, leitura labial e gestos como práticas frequentes na comunicação com pessoas com deficiência auditiva. Surpreendentemente uma Enfermeira relatou que usaria “o grito”como alternativa para tentar se comunicar com o paciente. Nesse ultimo caso podemos observar o despreparo e insegurança do profissional no manejo desses pacientes, ficando evidente a falta de capacitação dos Enfermeiros. **Conclusão: **Os resultados evidenciaram conhecimento insuficiente dos Enfermeiros acerca da Libras e que os Enfermeiros apresentaram grande dificuldade no atendimento às pessoas com deficiência auditiva. Este déficit de conhecimento demonstrou ser determinante e uma barreira importante de comunicação que compromete a qualidade da assistência de enfermagem no atendimento as pessoas com deficiência auditiva. A comunicação é um instrumento básico de enfermagem, e um importante elemento no cuidado.Identificamos que mesmo os Enfermeiros que possuíam a formação em Libras, encontram dificuldades no processo de comunicação com pessoas com deficiência auditiva,justificado pela falta prática, dessa forma reiteramos a importância da inclusão do componente curricular no desenho do curso de graduação em enfermagem desde os anos iniciais como componente curricular transversal, onde o estudante possa consolidar tal conhecimento nos anos subsequentes. Os discursos apontam a necessidade de treinamento e capacitação dos profissionais. Consideramos que as mudanças nesse campo são tímidas, mas é inegável que elas existem. Nesse ínterim, algumas propostas podem ser colocadas em prática em curto e médio prazo, como levar a discussão acerca da comunicação com pessoas com deficiência auditiva aos espaços de práticas de saúde, IES e sociedade em geral, com objetivo de suscitar discussões acerca do tema de maneira mais incisiva. Mesmo fazendo o uso de estratégias para conseguir estabelecer uma comunicação eficaz com os pacientes com deficiência auditiva, os Enfermeiros enfrentam grandes dificuldades nesse contexto. Contudo existem grandes avanços no sentido de integrar a Libras nos desenhos curriculares dos cursos de graduação em saúde mesmo como disciplina optativa e melhorar a prestação do cuidado voltado para esse público. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **É inegável a importância desse componente curricular na formação dos profissionais de saúde, considerando a importância do conhecimento e domínio da Libras na formação do Enfermeiro, possibilitando um atendimento seguro e humanizado. Acerca da comunicação na praticas dos Enfermeiros, emergiram algumas contribuições. Todos os participantes relataram que esta se apresenta prejudicada, mas seria facilitada com a presença de um acompanhante ou intérprete.
Referências: 1-CEZAR, Pâmela Kurtz; ARPINI, Dorian Mônica; GOETZ, Everley Rosane. Registros de Notificação Compulsória de Violência Envolvendo Crianças e Adolescentes. Notificação da Violência na Infância e Adolescência., Santa Maria, RS - Brasil., v. 37, n. 2, p.432-445, maio 2017.
2-CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CONANDA. Parâmetros de Funcionamento dos Conselhos Tutelares. Brasília, DF – Brasil., outubro 2001.
3-BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação de Saúde. Viva: instrutivo de notificação de violência doméstica, sexual e outras violências/Ministério da Saúde. Brasília, DF- Brasil., 2011. 72 p. Série F. Comunicação e Educação em Saúde.
4-BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Banco de Dados Epidemiológicos Interno e Virtual do Hospital Regional de São José - HRSJ. São José, SC- Brasil., 2017. |