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2113326 | A INTERDISCIPLINARIDADE COMO FERRAMENTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS | Autores: Selma Regina de Andrade ; Wagner Ferreira Monteiro ; Giane Zupellari dos Santos Melo ; Cimeire de Oliveira Ferreira |
Resumo: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO FERRAMENTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM UMA
UNIVERSIDADE PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
**Introdução:** A interdisciplinaridade é entendida como uma ação, uma vivência entre os profissionais de diversas disciplinas que reflete a permeabilidade de conceitos e os modos de se relacionarem1. Ações realizadas de forma interdisciplinar são consideradas estratégias de se alcançar à integralidade do cuidado. Porém trabalhadores da saúde encontram dificuldades na reorientação do modelo assistencial na saúde para esta formatação, quando a lógica do processo de trabalho está centrada na doença. Sendo assim, as mudanças nos paradigmas do modelo de atenção a saúde devem se iniciadas na formação profissional. Neste sentido a aplicação da interdisciplinaridade como estratégia no ensino sugere a superação do modo de pensar dicotômico e estimula o pensamento marcado pela articulação entre os saberes disciplinares e seus contextos2. A Escola de Ciências de Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (ESA/UEA) dispõe na matriz curricular dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia uma disciplina denominada Estagio Rural em Saúde Coletiva (ERSC), que é desenvolvida em municípios do interior do Estado do Amazonas, quando acadêmicos dos três cursos permanecem entre 45 e 60 dias inseridos na comunidade, desenvolvendo ações de atenção básica em saúde. Esta disciplina tem como objetivo conscientizar acadêmicos, dos referidos cursos, sobre a importância do desenvolvimento do trabalho em saúde coletiva de forma integrada entre os três cursos, e para se alcançar tal objetivo esta disciplina utiliza a interdisciplinaridade como ferramenta de ensino-aprendizagem. Diante deste contexto, se faz necessária discutir o entendimento dos acadêmicos que cursam a disciplina ERSC sobre a interdisciplinaridade como ferramenta de aprendizagem, para levantar a efetividade desta para a proposta, podendo ainda este estudo contribuir para instrumentalizar professores que se utilizam esta ferramenta, no processo de ensino-aprendizagem. Assim, este estudo apresenta como questão norteadora: Como acadêmicos contextualizam a interdisciplinaridade no processo de ensino aprendizagem da disciplina ERSC? **Objetivo****:** Avaliar a interdisciplinaridade como processo de ensino-aprendizagem em saúde coletiva na disciplina ERSC da ESA/UEA. **Descrição metodológica**: Estudo descritivo com abordagem qualitativa. Realizado na ESA/UEA, localizada em Manaus, Amazonas. Os participantes do estudo foram acadêmicos finalistas dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia regularmente matriculados na disciplina ERSC no segundo semestre de 2017. Foram entrevistados nove alunos, sendo três de cada curso. A coleta de dados foi realizada em duas etapas: A primeira aconteceu entre primeiro e seis de outubro de 2017, antes dos participantes se deslocarem o municípios onde o estágio foi desenvolvido, nesta entrevista os participantes foram entrevistados sobre o seu conhecimento sobre a interdisciplinaridade e sobre a importância dessa ferramenta no contexto do ensino-aprendizagem de saúde coletiva na disciplina ERSC. Já a segunda etapa aconteceu entre os dias onze e quatorze de dezembro de 2017, quando os mesmos participantes retornaram do estágio, neste momento lhes foi questionado se o desenvolvimento de ações de saúde de forma interdisciplinar influenciou de alguma forma o seu pensamento sobre o tema. Para as entrevistas foi utilizado em roteiro de entrevista semiestruturada e gravador de voz digital. Foram incluídos no estudo acadêmicos dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia matriculadas na disciplina ERSC da ESA/UEA no segundo semestre de 2017. A análise dos dados seguiu três etapas da análise de conteúdo, sendo: 1) pré-análise, com leitura minuciosa das entrevistas, organização do material e formulação de hipóteses; 2) exploração do material, pelo processo de codificação, que permitiu atribuir significado às informações coletadas; e 3) tratamento e interpretação dos dados, para a compreensão das informações relevantes e alcance dos objetivos do estudo3. A partir da análise de conteúdo foi possível formar duas categorias temáticas, sendo estas: O conhecimento sobre interdisciplinaridade; e a importância da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem. Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos o estudo atendeu as recomendações contidas na Resolução 466/2012 e foi aprovada pelo Comitê e Ética e Pesquisa da UEA com parecer n° 1.354.995 de 07/12/2015. **Resultados: **A análise dos resultados permitiu a criação de duas categorias que responderam a questão de pesquisa e os objetivos propostos. Na primeira categoria, “O entendimento sobre interdisciplinaridade” percebeu-se que para os acadêmicos dos três cursos a interdisciplinaridade, como ferramenta de ensino-aprendizagem, está limitada a junção desses cursos para o desenvolvimento de disciplinas da fase inicial dos cursos, como o que foi colocado pelo acadêmico: “_é como a gente aqui, quando fomos inseridos na ESA. Na ESA tem vários cursos, né? e a gente tem aquele começo que estuda várias disciplinas juntos, tanto enfermagem, odontologia e medicina, então é mais essa relação, esse conteúdo tudo que abrange a área da saúde, que a gente precisa ter esse conhecimento. Então acho que é mais essa relação de proximidade e de trabalho que a gente tem e que a gente pode fazer...E2”_. Na segunda categoria, “A importância da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem”, os acadêmicos demonstraram, na primeira entrevista, que apesar de saber os conceitos do termo, eles não enxergam a interdisciplinaridade como ferramenta de aprendizagem, como pode ser verificada nesta fala: “_eu não sei como vai ser nosso trabalho lá, porque a gente tinha que ter isso mais do início e eu só vim ver mais isso aqui no final... acaba que no final do curso o aluno percebe que ele ficou centralizado só naquela parte da ciência e não viu mais do ser humano... O2”, _porém na segunda entrevista os acadêmicos demonstram maior entendimento sobre a importância da atuação conjunta das disciplinas e o quanto é difícil incluir esse pensamento no processo de trabalho dos profissionais. “_Então o conceito para mim continua o mesmo, mas o que mudou foi ver que isso não é tão claro para os profissionais... é muito bonito na teoria, que realmente se todo mundo começar a trabalhar dessa forma as coisas vão fluir melhor, mas ainda precisa acontecer na prática, porque ainda tem muito conflito de interesses, divergência de opinião e acaba que isso afeta o atendimento que a gente oferece ao paciente...M2_” **Conclusão:** A interdisciplinaridade é uma importante ferramenta para atingir a integralidade do cuidado, porém ela é pouco explorada no processo de ensino-aprendizagem, o que reflete negativamente processo de trabalho de profissionais de saúde que mantém uma visão dicotômica dos saberes e do ser humano. Para que a interdisciplinaridade seja efetivamente praticada é necessário que a academia passe a praticar um diálogo que possibilite o enriquecimento das varias disciplinas da saúde. **Contribuições para a Enfermagem:** A enfermagem tem se esforçado para unir saberes e discutir conhecimento com outras áreas, porém por vezes ela é colocada aquém da comunicação de ideias e da integração dos conceitos epistemológicos dos saberes. Assim, a interdisciplinaridade é uma ferramenta poderosa para evidenciar o potencial da enfermagem no grupo de trabalho, mostrando que esta disciplina pode ser a que mais contribui para a integralidade do cuidado. Referências: 1. Reis ML, Medeiros M, Pacheco LR, Caixeta CC. Evaluation of the multiprofessional work of the family health support center (nasf). Texto Contexto Enferm 2016 [cited 2018 mar 15];25(1):e2810014: Available from: [http://www.scielo.br/pdf/tce/v25n1/pt_0104-0707-tce-25-01-2810014.pdf. 2](http://www.scielo.br/pdf/tce/v25n1/pt_0104-0707-tce-25-01-2810014.pdf.%202). Severo SB, Seminotti N. Integralidade e transdisciplinaridade em equipes multiprofissionais na saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva. 2010; 15(1):1685-98. 3. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011. 229p.
Referências: 1 Brasil. Resolução nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Diário Oficial da União 09 nov [Internet]. 2001 [cited 2017 Oct 29]. Available from: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
2 Lima TC, Paixão FRC, Cândido EC, Campos CJG, Ceolim MF. Estágio curricular supervisionado: análise da experiência discente. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2014 Feb [cited 2017 Oct 10];67(1):133-140.Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n1/0034-7167-reben-67-01-0133.pdf.
3 Bardin, L. Análise de conteúdo. 3ª reimpressão da 1ª edição de 2016. São Paulo: Edições 70, 2016.
4 Benito GAV, Tristão KM, Paula ACSF, Santos MA, Ataide LJ, Lima RCD. Desenvolvimento de competências gerais durante o estágio supervisionado. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2012 Feb [cited 2017 Nov 16];65(1):172-178. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v65n1/25.pdf |