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2005004 | AS TENSÕES EMOCIONAIS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM TEÓRICO E PRÁTICO DA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO: ESTUDO SOCIOPOÉTICO | Autores: Cláudia Mara de Melo Tavares ; Thainá Oliveira Lima ; Lucas Marvilla Fraga de Mesquita |
Resumo: **Introdução:** Pesquisas feitas para identificar e analisar as percepções e os sentimentos do aluno do curso de graduação em enfermagem, com relação à sua formação como pessoa/ profissional revelam que a formação acadêmica é centrada em conhecimentos técnico-científicos, voltados especialmente ao atendimento das necessidades daqueles que serão assistidos, sem considerar a pessoa que os assiste, além de sinalizar que a trajetória acadêmica é permeada por vários sentimentos e emoções que aparecem em função das experiências ocorridas ao longo dela1. Os estudantes têm necessidades de aprendizagem, não só ao nível da gestão das emoções dos clientes, mas também ao nível do seu mundo interno2. A abordagem educativa em vigor, especialmente no que se refere ao currículo de graduação em enfermagem, e por que não dizer em outras áreas da saúde, parece-nos desafiadora em relação aos níveis de realidade e de percepção. O grande desafio da educação deste século está em aliar o desenvolvimento científico e tecnológico à expansão da consciência do ser humano sobre as dimensões pessoais e transpessoais de sua existência e seu papel como cidadão planetário3 Importa ainda salientar que a qualidade dos cuidados será fortemente marcada pelas atitudes e pelos comportamentos de quem cuida e que, o desempenho profissional competente requer um saber mobilizar, integrar e transmitir os conhecimentos adquiridos no âmbito da formação, o que poderá ser possibilitado pelo desenvolvimento de competências mediante novas oportunidades pedagógicas durante a formação inicial. Com essa perspectiva, a formação passa a ter outros significados que não aqueles atribuídos pelas dimensões científicas, pois é preciso sentir a necessidade de se recuperar um ser humano que seja capaz de voltar a cultivar suas paixões, seus instintos e sua emoção. **Objetivo**: Discutir com os graduandos de enfermagem suas vivências socioemocionais durante o curso de graduação em enfermagem, considerando o ensino teórico- prático e o estágio curricular. **Descrição Metodológica**: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, na perspectiva sociopoética. A sociopoética é uma abordagem do conhecimento do ser humano e da sociedade, que transforma poeticamente a realidade em estudo para compreendê-la. Como método de pesquisa - visa à produção de subjetividade, utilizando a sensibilidade, a criatividade e a relação com o outro4. O cenário foi a Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense e os participantes - 10 estudantes do curso de graduação, tendo como critérios de inclusão: estudantes dos últimos períodos da graduação, regularmente matriculados e que aceitaram participar da pesquisa e de exclusão alunos ouvintes, monitores da disciplina de saúde mental/psiquiatria, alunos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, vinculados à pesquisa da área de saúde mental/ psiquiatria (pois são alunos que teoricamente tem maior interação com a temática). A produção dos dados foi realizada por meio do dispositivo do grupo-pesquisador, um quadro dentro do qual diversas técnicas podem ser desenvolvidas, onde o pesquisador usa um “tema orientador” como ponto de partida para chegar àquilo que ele quer5. Nele, cada participante está ativo em todas as etapas da pesquisa (produção de dados, leituras analíticas e transversais desses dados, socialização...) e pode interferir no devir da pesquisa. Os aspectos éticos foram respeitados, sendo o projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob o nº 1.772.228. O tratamento dos dados valeu-se da contra-análise, própria da sociopoética, é um momento dialógico, onde não se trata de saber quem tem razão no caso de divergências entre co-pesquisadores e facilitadores e sim de ampliar as visões, introduzindo mais diferenciação. “O diálogo exige uma relação horizontal onde não haja hierarquização de saberes, onde estes possam se encontrar, se expressar, serem trocados e refeitos” e análise temática de conteúdo. **Resultados:** Como resultado sugiram as seguintes categorias: As tensões emocionais no processo de aprendizagem teórico e prático da formação, a dimensão socioemocional nas relações interpessoais e a necessidade de autoconhecimento emocional para lidar com estas relações, o apoio emocional docente na realização do estágio curricular, a insegurança e o medo dos discentes diante da finalização da formação. Os depoimentos dos alunos ressaltam a importância de uma melhor articulação entre teoria e prática para melhor aprendizagem e fixação de conteúdos, posteriormente esta articulação poderá auxiliar no alivio da tensão emocional, visto que as falas apontam certa insegurança e preocupação com a qualidade da formação do profissional enfermeiro devido ao modelo de ensino instituído/disseminado. Seriam necessárias outras formas de ensino e aprendizagem? As falas também apontam sentimentos de ansiedade, medo, frustração, insegurança, tristeza e impotência, relacionados às situações difíceis enfrentadas pelos alunos junto aos pacientes, a equipe de saúde, professores e demais colegas. No momento em que a graduação vai chegando ao fim, estes sentimentos tornam-se acentuados. É possível dizer que o desenvolvimento das competências socioemocionais para lidar com estas tensões emocionais não é formalmente mobilizado na formação do enfermeiro. No desenvolvimento da pesquisa observamos que o próprio dispositivo do grupo-pesquisador e a abordagem sociopoética constituíram em estratégia para a valorização da abordagem socioemocional com estudantes de provocando a mobilização das competências socioemocionais entre os participantes, o que mostra que dispositivos simples e que demandam pouco tempo podem ser adotados no curso de graduação para engendrar processos de desenvolvimento de competências socioemocionais. **Conclusão:** Este estudo possibilitou analisar o desenvolvimento das competências socioemocionais dos estudantes de enfermagem, verificou a inexistência de conteúdos na graduação voltados para a temática e os prejuízos desta condição. Os alunos acreditam na importância e ênfase aos aspectos emocionais e no benefício que isto pode resultar para a formação em enfermagem. Através das categorias analisadas foi possível perceber a inexistência de orientações sobre as emoções no curso de graduação em enfermagem por parte dos docentes, também o currículo do curso não apresenta conteúdos, disciplinas ou atividades que apontem para este tema. **Contribuições/implicações para a Enfermagem**: Considera-se que estudos como este contribuem para uma análise ampliada das questões que envolvem a formação do enfermeiro. Acredita-se ser possível com esta pesquisa, contribuir com parâmetros que norteiem o processo ensino-aprendizagem das emoções em saúde. Com base nas discussões implementadas propõe-se mudanças, sugerindo abertura de novos espaços de discussão e de interação do tema no currículo do curso de graduação em enfermagem.
Referências: 1. Campos RMC, Ribeiro CA, Silva CV, Saparolli ECL. Consulta de enfermagem em puericultura: a vivência do enfermeiro na Estratégia de Saúde da Família. Rev Esc Enferm USP 2011; 45(3):566-74.
2. Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis. População 2014. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/sistemas/saude/unidades_saude/populacao/uls_2014_index.php
3. Brasil. Câmara dos Deputados. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Lei n. 7498, de 25 de junho de 1986. Brasília, 1986.
4. Conselho Federal de Enfermagem. Dispõe sobre a consulta de Enfermagem. Resolução n. 159, de 19 de abril de 1993. Rio de Janeiro, 1993.
5. Conselho Federal de Enfermagem. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providencias. Resolução n. 358, de 15 de outubro de 2009. Rio de Janeiro, 2009.
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