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1903904 | CUIDADO DE ENFERMAGEM EM REABILITAÇÃO: UMA LACUNA NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO | Autores: Cristiane M. Roos ; Luciana Neves da Silva Bampi ; Adriana Dutra Tholl ; Soraia Dornelles Schoeller ; Rosane Gonçalves Nitschke |
Resumo: **Introdução: **A deficiência é uma condição humana e faz parte do cotidiano de 23% da população brasileira. Com o envelhecimento populacional, estima-se que com as incapacidades, a necessidade de um cuidado qualificado seja ainda mais urgente. O impacto da incapacidade e da deficiência no quotidiano das pessoas e das famílias é limitante. Estas ficam vulneráveis às barreiras atitudinais e arquitetônicas, além das repercussões físicas, psíquicas e sociais, que geram transtornos e desconfortos múltiplos. De acordo com o Relatório Mundial sobre a Deficiência1, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de deficiência, dentre os quais, cerca de 200 milhões experimentam dificuldades funcionais consideráveis. Nos próximos anos, a deficiência será uma preocupação ainda maior porque sua incidência tem aumentado. Isto se deve ao envelhecimento da população e ao risco maior de deficiência na população de mais idade, bem como ao aumento global de doenças crônicas, tais como: diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e distúrbios mentais. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), somente 2% das pessoas portadoras de deficiência recebem assistência adequada na América Latina; e adverte que a situação pode piorar, a menos que os profissionais de saúde se tornem mais capacitados e preocupados com o tema2. **Objetivo: **Desenvolver estratégias de ensino que permitam ao aluno de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem, elaborar competências para o cuidado de Enfermagem em reabilitação às pessoas com limitação/deficiência e para suas famílias. **Descrição Metodológica: **Trata-se de um relato de experiência que envolve alunos da Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Residência Multiprofissional do Hospital Universitário da UFSC. Na Graduação de Enfermagem, na disciplina “Processo do Viver Humano I”, primeira fase, convida-se um Enfermeiro para relatar a sua vivência em um Centro de Reabilitação, pontuando seus limites e portências no cuidado em reabilitação. Na disciplina “Fundamento de Enfermagem”, terceira fase, desenvolve-se técnicas específicas para o cuidado de pessoas com deficiência física. Na disciplina “Processo de Viver Humano II”, quarta fase, a turma é levada ao Centro Especializado de Reabilitação (CER) para uma aula expositiva-dialogada, onde se discute o cuidado de Enfermagem de reabilitação no quotidiano das pessoas com deficiência e suas famílias, tendo a presença do Grupo de Apoio às Pessoas com Lesão Medular – GALEME, que compartilha suas histórias de vida, sublinhando a importância do Enfermeiro no seu processo reabilitação e ressocialização, além de uma visita técnica ao CER e a Oficina Ortopédica. Na disciplina “Saúde mental”, na sexta fase, é discutida a deficiência intelectual e a reabilitação por meio de uma aula expositica-dialogada. Na Pós-Graduação em Enfermagem e nos Tópicos Isolados da Residência Multiprofissional do HU/UFSC, busca-se trabalhar também com os conteúdos e estratégias já relatadas, bem como as oficinas “sentir a deficiência”, na qual o aluno experimenta a simulação de um tipo de deficiência. **Resultados: **O cuidado de Enfermagem em reabilitação agrega conhecimento à formação do Enfermeiro, confere um posicionamento frente às inequidades em saúde, de (co)responsabilidade no processo educativo e emancipatório, ampliando a consciência de cidadania das pessoas com deficiência, sobretudo acrescentando qualidade de vida para estas pessoas. A reabilitação, enquanto processo de desenvolvimento de potencialidades das pessoas com incapacidades e deficiências é uma expressão da Promoção da Saúde. Busca o movimento pela vida, caracterizado pela autonomia nas atividades da vida diária, estimulando as pessoas pelas suas potencialidades, identificando recursos próprios para seguir em frente, despertando a importância para o autocuidado. Tem o intuito de minimizar as complicações e, com isso, diminuir reinternações, aumentar a expectativa de vida pós-lesão, facilitar a reinserção do indivíduo na sociedade, melhorando assim, a qualidade de vida dessas pessoas, primando pelo envelhecimento ativo. Entretanto, a incorporação das ações de reabilitação em rede está aquém do estabelecido pelas políticas de saúde do SUS. No Brasil, a política desenvolvida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vem primando pela prevenção e promoção da saúde da população. Em franco processo de consolidação, o SUS vem se apoiando nos princípios doutrinários: universalidade, equidade, integralidade; e organizativos: descentralização, resolutividade, regionalização, hierarquização e participação popular3 Contudo, esse sistema apresenta fragilidades no que concerne àqueles segmentos sociais mais vulneráveis, a exemplo daquele constituído pelas pessoas com deficiência. Neste sentido, seguimos não percebendo a urgente necessidade da curricularização desta área do conhecimento na formação do Enfermeiro. As iniciativas aqui apresentadas, embora pontuais e restritas a eventos isolados, têm se mostrado impactantes na percepção do aluno, de modo a despertar o interesse pela área e buscar o aprofundamento do conhecimento nos Grupos de Pesquisa como o Laboratório de Pesquisa, Ensino e Tecnologia em Saúde, Enfermagem e Reabilitação - (RE) HABILITAR e o Laboratório de Pesquisa e Estudos sobre Enfermagem, Quotidiano, Imaginário e Família de Santa Catarina – NUPEQUISFAM-SC. Com a participação nos grupos de pesquisa, percebe-se que o desenvolvimento de estudos com a temática deficiência e reabilitação em Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrado e Tese de Doutorado, tem crescido progressivamente, bem como a participação nos projetos de extensão voltados para o cuidado às pessoas com deficiência, consolidando o tripé ensino, pesquisa e extensão. Neste pensar têm-se como aliada as Diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência e a Portaria 793/2012 que, em parceria com o Ministério da Educação, recomendam a inclusão de componentes curriculares nos cursos de graduação das profissões na área da Saúde, enfocando a prevenção, atenção e reabilitação às pessoas com deficiência, o fomento de projetos de pesquisa e extensão nessa área do conhecimento, a qualificação de recursos humanos e a reorganização dos serviços. **Conclusão:** O atual cenário brasileiro nos indica que é preciso fomentar currículos que possibilitem o cuidado de reabilitação, possibilitando a reorganização e integração dos serviços de saúde, sobretudo, fortalecendo dos princípios e diretrizes do SUS. **Contribuições/Implicações para a Enfermagem: **O cuidado de Enfermagem em reabilitação constitui um tema relevante para a Enfermagem contemporânea, pois envolve o domínio de um conhecimento pouco abordado em seus diversos níveis de formação profissional, de forma a enfocar a orientação no autocuidado, buscando a autonomia de decisão e de execução da pessoa, assim como envolver familiares, no processo de cuidar nos diferentes níveis de atenção à saúde.
Referências: 1. Andrade SR, Piccoli T, Ruoff AB, Ribeiro JC, Sousa FM. Fundamentos normativos para a prática do cuidado realizado pela enfermagem brasileira. Rev. Bras. Enferm. 2016;69(6):1082-90. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0228
2. Conselho Federal de Enfermagem. Resoluções. Brasília. [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; Available from: http://www.cofen.gov.br/categoria/legislacao
3. Cellard A. Análise documental. In: Poupart J, Deslauriers JP, Groulx LH, Laperrière A, Mayer R, Pires À. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Vozes; 2012. p. 295-316. |