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1755620 | PORTFÓLIO REFLEXIVO E INTROSPECÇÃO MORINIANA – ALGUMAS APROXIMAÇÕES | Autores: Marcela Jossani Ferreira Polo ; Juarez Coimbra Ormonde Júnior ; Mara Regina Rosa Ribeiro ; Leonara Raddai Gunther de Campos ; Luciana Portes de Souza Lima |
Resumo: **INTRODUÇÃO:** O portfólio reflexivo configura-se como potente metodologia ativa que possibilita a livre expressão de conhecimentos, análises crítico reflexivas, sentimentos, emoções experienciadas, bem como dificuldades, facilidades e reações às metodologias e interações estabelecidas no processo de formação1. Assume características particulares e diferenciadas, justamente por seu caráter ‘artesanal’ e criativo, que leva impressa a marca pessoal do seu autor. Partimos da perspectiva de que o movimento introspectivo provocado pela construção de portfólios pode ser explicado a partir da perspectiva moriniana de autoética. Em Morin, a autoética comporta os processos de autoanálise, autocrítica, tomada de responsabilidade, todos imbricados, e que consistem em uma ética para si próprio, mas que está fluentemente relacionada à ética para e com o outro2. A elaboração de portfólios suscita o exercício frequente da auto-observação / autoanálise e autocrítica, assumindo o caráter de auto-exploração, no qual se passa a identificar as próprias potencialidades, fragilidades, e lacunas de conhecimento, dentre outros. A análise desse elemento introspectivo que constitui a construção de portfólios, bem como de suas repercussões levou-nos a identificar similaridades com a perspectiva moriniana de autoética. **OBJETIVO:** Analisar interfaces entre a perspectiva moriniana de auto ética, e o movimento introspectivo derivado do uso do portfólio reflexivo. **MÉTODO:** Trata-se de ensaio teórico desenvolvido a partir da experiência de facilitação da aprendizagem com o uso de portfólio reflexivo em disciplina de metodologia do ensino superior de um mestrado acadêmico, programa de pós-graduação em enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso. Os alunos participantes são estimulados a registrar suas percepções, sentimentos, emoções, reflexões e conhecimentos, e de modo particular, seu processo introspectivo e metacognitivo ao longo da mesma. Os facilitadores dessa experiência igualmente registram suas percepções em diário, de modo a sistematizá-las para posterior compartilhamento. A análise dos dados dos diários provocou a reflexão teórica sobre as similaridades entre o elemento introspectivo adotado na construção de portfólios, e a autoética em Morin, resultando na presente construção. **RESULTADOS:** Na perspectiva moriniana, a civilização atual experimenta o individualismo e, contraditoriamente, a pouca capacidade autocompreensiva, ou seja, apesar das vivências ampliadas consigo mesmo, o ser humano utiliza pouco os recursos de autoanálise, que compreendem o ‘pensar bem’ e o ‘pensar-se bem’. A autoanálise constitui, portanto, processo ético de “exercício permanente da auto-observação”1:94, o que leva à consciência de si, à identificação de cavernas e necessidades interiores, tanto emocionais, sociais, teóricas, e também naturalmente à consciência do estar com o outro, repaginando nosso egocentrismo. O eu constitui-se a partir da interpretação do olhar do outro, nesse esforço de autocompreensão, tornando-se também, atividade extrospectiva. Esse exercício de autoanálise é extremamente difícil, demanda grande atividade reflexiva, e se praticado com estabilidade, pode levar a estado de “constante vigilância sobre si mesmo” 1:95. Essa conjectura autoética moriniana coaduna-se com o movimento instigado pela construção de portfólios, pois ao fazer registros reflexivos sobre as vivências na disciplina, e de modo particular, sobre como se percebem nessas vivências – sentimentos e pensamentos, provoca exatamente a autoobservação pelos alunos, processo no qual podem por vezes, cair em armadilhas como a autojustificação, ou seja, a transferência de responsabilidade ao outro sobre suas próprias fragilidades e imperfeições. Novo elemento teórico em Morin é aqui evidenciado – a autoanálise somente acontece quando o sujeito é capaz de autocrítica, de tomar consciência de suas próprias carências / insuficiências, e constitui-se em elemento fundamental da abertura ao outro. A autocrítica na construção de portfólios pressupõe a humildade em reconhecer e principalmente em predispor-se a compartilhar com os facilitadores, os erros, carências, necessidades, num processo recursivo de autoanálise, autocrítica e autocompreensão. Estimulada pedagogicamente pode-se levar à incorporação dessas práticas, constituindo-se, portanto, em elemento fundante da formação para a vida profissional – quer seja como enfermeiro ou como futuro docente. Esse exercício pelo aluno, de outro lado, exige do facilitador, habilidade para apoiar os desdobramentos individuais de tais práticas, e à análise acerca da necessidade de lançar mão de ajuda especializada, em alguns casos. A autoética comporta ainda a ética da liberdade, da tolerância, da compreensão e da cordialidade. O portfólio precisa levar os sujeitos a ampliar sua capacidade de fazer escolhas, e a agir com liberdade nesse processo, ainda que se refira a escolhas possíveis, uma vez que no processo interativo, a liberdade implica em múltiplas dependências. Igualmente espera-se o exercício da tolerância, que em geral provoca sofrimento, e consiste em aceitar o que não está de acordo com suas convicções, ideias, crenças e valores. Morin nos adverte que a tolerância “é difícil para o sujeito de convicções”1:106 e implica em usar argumentos, compartilhar pensamentos e conhecimentos, sem se exaltar. Esse processo exige maturidade pelo sujeito, ao construir seus portfólios, e evolui à medida que as construções avançam, em contínua (re)leitura pessoal e interpessoal. A ética da compreensão, que pressupõe o uso efetivo da comunicação, também carece da predisposição subjetiva pelo sujeito, ou seja, comporta um olhar sobre as situações cotidianas, buscando desvelar seus determinantes, reunindo informações que possam ajudar nessa construção. Comporta também a busca pela compreensão do outro implicado, buscando entender como ele vive, suas necessidades e potencialidades, de modo a não reduzi-lo a apenas algumas de suas características. Tal compreensão torna-se fundamental, em práticas pedagógicas, no processo avaliativo de alunos3. Cabe ao facilitador a busca pelo conhecimento de elementos constitutivos da vivência do sujeito, de modo a auxiliá-lo no processo de superações necessárias. Por último temos a ética da cordialidade que consiste em criar redes de respeito ao outro, e que se expressam, em sua face social, por meio da cortesia, e em sua face individual, pela cordialidade. Nas interações pedagógicas esse elemento ganha extrema importância, de modo a evitar que comunicações ríspidas ou intimidadoras minem o processo de facilitação. Compete ao facilitador, a habilidade para construir relações pedagógicas amistosas, oferecendo espaços de liberdade e desenvolvimento da autonomia do educando, o que somente têm lugar, em ambientes regados por cortesia e cordialidade. **CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: **O estudo traz característica sobre o uso do portfolio que pode colaborar para embasar a utilização dessa ferramenta nas práticas de ensino e no cotidiano da enfermagem. **CONCLUSÃO:** Concluímos que há pertinência entre a introspecção engendrada nos portfólios reflexivos e a autoética moriniana, de modo que a utilização desse referencial pode contribuir para o planejamento pedagógico dessa atividade, de modo a facilitar aos alunos participantes da disciplina, a prática da autoanálise, autocrítica e autocompreensão. Considera-se que esse exercício é necessário à prática profissional, em especial em profissões de interação, como é o caso da enfermagem. Fazer a opção pedagógica por utilizar portfólios reflexivos nessa perspectiva, exige maior preparo e acompanhamento pelo facilitador, que igualmente realiza esses exercícios introspectivos e extrospectivos, num processo contínuo de fazer-se / tornar-se educador.
Referências: 1 SOUZA WEA et AL. RELATO DE EXPERIÊNCIA: TESTES RÁPIDOS DE HIV E SÍFILIS NA ATENÇÃO BÁSICA. Seminário Nacional de Diretrizes de Enfermagem na Atenção Básica em Saúde, São Luís, 2016.
2 ARAUJO GM ET AL. ACONSELHAMENTO PRÉ-TESTAGEM RÁPIDA: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE. Espaço Ciência e Saúde. v 05, n 01. 2017.
3 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Constituição (2005). Portaria nº 34/SVS/MS, de 29 de julho de 2005. Uso de Testes Rápidos Para Diagnóstico da Infecção Pelo Hiv em Situações Especiais.. Brasília.
4 PEREIRA RTA; FERREIRA V. A Consulta de Enfermagem na Estratégia Saúde da Família. Revista Brasileira Multidisciplinar, [S.l.], v. 17, n. 1, p. 99-111, jan. 2014. ISSN 2527-2675. Disponível em: . Acesso em: 19 mar. 2018.
5 Prefeitura de Florianópolis. Gerência de Atenção Primária. Boletim Informativo Atenção Primária - Testes Rápidos. ed.04, Florianópolis 2018. |