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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 1733441

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1733441

ESPIRITUALIDADE E SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA NA PÓS-GRADUAÇÃO EM UMA UNIVERSIDADE

Autores:
Raniele Araújo de Freitas ; Lucivalda Barbosa Santos ; Halanna Carneiro Guimarães Bastos Moura ; Isabella Batista Pires ; Tânia Maria de Oliva Menezes

Resumo:
**Introdução:** Pesquisas científicas vêm demonstrando que a espiritualidade representa um aspecto importante na vida humana, e que as conquistas do modelo biomédico de ensino e práticas de saúde não conseguem, por si só, acessar a dimensão espiritual e sua interferência no processo saúde-doença. Olhar a pessoa de forma integral tem contribuído para que a dimensão espiritual seja considerada como parte do ser humano e, cada vez mais, a(o) enfermeira(o) tem se tornado sensível ao cuidado espiritual, ao ser chamado a atender a essa necessidade1. A espiritualidade perpassa por uma reflexão, é uma busca pessoal sobre o significado da vida e a relação com o sagrado ou o transcendente, que não necessariamente está vinculada a uma religião2. Contudo, as pessoas podem ter fé e crenças individuais, sem se voltar a um Deus, ou às atividades específicas de uma religião. Religião é um sistema organizado de crenças e práticas desenvolvidas para facilitar a proximidade com o transcendente3. Os profissionais da saúde sabem da relevância, porém, não incluem o cuidado espiritual nas práticas diárias, seja por despreparo profissional, deficiência na formação, ou, por não terem a consciência da sua própria espiritualidade1. Atualmente, observa-se o crescente interesse dos profissionais de saúde em aprofundar as discussões e as pesquisas sobre a temática da espiritualidade, apesar das dificuldades dessa abordagem. **Objetivos:** 1. Descrever a experiência na disciplina Espiritualidade e Saúde em uma pós-graduação de uma universidade pública; 2. Descrever aspectos discutidos sobre como os discentes/enfermeiros compreendem a espiritualidade e a sua aplicabilidade na prática profissional. **Descrição metodológica:** Trata-se de um relato de experiência de vivências na primeira turma da disciplina optativa ENFC12-Espiritualidade e Saúde, ofertada pelo programa de pós-graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia. As aulas presenciais ocorreram as terças-feiras, por duas horas, nos meses de maio a setembro de 2017, totalizando 34 horas. A primeira turma aconteceu sob a coordenação de uma docente, que vem desenvolvendo estudos e pesquisas na área da espiritualidade e religiosidade há dez anos, com a orientação e defesa de iniciação científica, dissertações de mestrado e teses de doutorado. **Resultados: **Durante as aulas foram discutidos artigos e produções científicas sobre a temática, além de confecções de resenhas, estudos sobre as diversas religiões e produções de seminários. As reflexões feitas pelos estudantes da disciplina permitiram debates dos seguintes tópicos emergentes: 1. Os termos espiritualidade e religiosidade são frequentemente utilizados como sinônimos e estão intimamente relacionados, porém apresentam significados diferentes. A religiosidade envolve um conjunto de crenças, e práticas dogmáticas, que se alicerçam em uma tradição acumulada, com seus símbolos, rituais, e explicações próprias acerca da vida e da morte, e pode ser um caminho para a dimensão espiritual. Já a espiritualidade é universal e não se limita a práticas religiosas, mas envolve valores pessoais e íntimos, constituindo-se naquilo que impulsiona a vida e, como tal, promove o crescimento pessoal e a ressignificação das experiências vividas e existenciais, norteando o sentido da vida4; 2. O aprofundamento das reflexões promovidas em sala de aula permitiu que os discentes constatassem que, para uma boa formação profissional e desenvolvimento de habilidades, é necessário transcender o modelo biomecânico de ensino, indo além das medidas terapêuticas e curativas, para incorporar um sentido amplo do cuidar; 3. Os enfermeiros citaram alguns tipos de intervenções referentes ao cuidado espiritual mais utilizados na prática clínica, como: ter empatia, oferecer apoio religioso, falar de Deus, fazer orações com o paciente, permitir o uso de alguns objetos ou adornos religiosos, permitir visitas ao templo religioso e de pessoas religiosas, oferecer missas, cultos e passeios em área de convívio, prestar assistência à família do paciente, além de oferecer a ela informações acerca do estado de saúde do paciente; 4. Os planos de cuidado de algumas (uns) enfermeiras(os) da turma foram descritos como hierarquizados, com prioridade as necessidades fisiológicas do paciente2. Apesar da importância dada à dimensão espiritual e da responsabilidade da(o) enfermeira(o) no atendimento a essa necessidade, esse cuidado quando aconteceu, na prática clínica dos discentes, foi de forma assistemática e muito associada às manifestações religiosas, ou demandas trazidas pelo paciente; 5. Os discentes evidenciaram que, quando a pessoa é acometida por doenças graves, apresenta perdas e comprometimento da capacidade funcional, está na terminalidade da vida, entre outras situações, é o momento que ela recorre a espiritualidade, e assim, o profissional sente mais facilidade e conforto em acessar essa dimensão; 5. A falta de conhecimento1 para lidar com a espiritualidade no cuidado ao paciente, o desconforto em abordar esses aspectos na prática clínica e a organização do processo de trabalho, devido a demanda do tempo para as atividades assistenciais somada ao medo do paciente, e demais colegas de trabalho, acharem a abordagem não científica foram as principais dificuldades citadas pela turma. **Conclusão:** A aplicabilidade dessa temática na prática clínica da(o) enfermeira(o) sofre influência direta da sua própria espiritualidade e religiosidade, da sua formação profissional e do receio das repercussões da abordagem desses aspectos diretamente aos pacientes. Durante a formação de Enfermagem, poucos momentos proporcionam reflexões sobre questões existenciais e aspectos não biológicos do ser humano. Oportunizar espaços de discussão sobre o papel da espiritualidade no processo saúde-doença, desde o início da formação dos profissionais de enfermagem e nas ações de educação permanente, pode contribuir para o resgate da essência do cuidado integral. **Contribuições/implicações para a Enfermagem: **Disciplinas específicas sobre a temática Espiritualidade e Saúde na graduação e na pós-graduação é um grande desafio a conquistar nos currículos de Enfermagem, pois tem grande relevância para a formação das enfermeiras(os). Estimular os discentes a pesquisar sobre a temática, visualizar a espiritualidade como necessidade humana básica, ampliar os debates sobre Espiritualidade e Saúde nas universidades e estimular a criação da linha Espiritualidade e Saúde nos grupos de pesquisa contribuem para a valorização da dimensão espiritual do paciente, e assim, o profissional de saúde estará influenciando no bem-estar da pessoa cuidada, na satisfação com a vida, no otimismo, dentre outros aspectos, além de contribuir para a autoestima e enfrentamento das doenças, o que pode levar à melhoria da qualidade de vida e a ressignificação do sentido da vida.


Referências:
Referências 1.Lacombe F, Heilborn G. Administração: princípios e tendências. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 2.Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento da teoria fundamentada. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.