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SENADEn - ISSN: 2316-3216 || SINADEn - ISSN: 2318-6518 • ISSN: 2318-6518
Resumo: 1726987

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1726987

A PERCEPÇÃO DOS ENFERMEIROS FRENTE Á MORTE NA UTI PEDIÁTRICA

Autores:
Fernanda Matilde Gaspar ; Rebeka Gonçalves Bastos

Resumo:
**Introdução:** A morte é um acontecimento natural e inevitável durante a vida. Embora seja um evento que faça parte do ciclo natural da vida, algumas pessoas tendem a rejeitá-la e ignorá-la, afastando esse pensamento da possibilidade de separação de sua família e amigos. A morte de um paciente pode gerar um sentimento de tristeza, fracasso, frustração e estresse pela perda, mesmo sendo um processo presente e constante no cotidiano do enfermeiro dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), porém quando se trata da morte de uma criança, esse sentimento se torna mais forte, causando angústia e dor pela morte precoce. Quando se cuida de uma criança, a chance do profissional de enfermagem envolver-se e criar um vínculo são muito maiores, ainda mais quando a aproximação é intensa, gerando um sentimento de afeto e carinho pela família ou quando representa a situação como se fosse o próprio filho. Nesse caso, o sentimento de perda torna-se pior, provocado pelo luto. Ao enfrentar a morte de uma criança, o enfermeiro percebe na maioria das vezes, que apesar de todos os cuidados e procedimentos realizados, a criança não sobreviverá. Essa experiência, inclui todas as dúvidas, inseguranças e incertezas, o que permite rever os conceitos e sentimentos desse profissional em relação a morte, possibilitando uma reflexão fundamental à criação de estratégias para o próprio enfrentamento1. A escolha do presente tema foi em função da percepção sobre a situação vivenciada pelos familiares de crianças que experimentaram abruptamente a morte precoce de seus filhos na UTI Pediátrica e a dificuldade dos profissionais diante deste cenário. **Objetivo:** Compreender as percepções e sentimentos dos enfermeiros no processo de morte da criança na UTI Pediátrica em uma Instituição Privada na Baixada Santista. **Metodologia:** A pesquisa teve caráter exploratório e descritivo de abordagem qualitativa. Foi realizada em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em uma instituição hospitalar privada de grande porte na Baixada Santista. Estudo realizado com seis enfermeiros da UTI Pediátrica, após aprovação do CEP da Fundação Lusíada, com aplicação de duas questões fechadas e uma aberta que norteou a pesquisa. Para compreensão das falas foi utilizado análise de conteúdo, como forma de interpretar e analisar os dados coletados. **Resultados:** Após leitura, transcrição e agrupamento das falas, foram identificadas quatro categorias que compuseram a trajetória das enfermeiras que vivenciaram o processo de morte da criança. A primeira categoria: “Dificuldade em lidar e aceitar a morte”, apresentaram os relatos das enfermeiras sobre a realidade vivenciada pela equipe que atuam em UTI Pediátrica. Tal vivencia, traz alguns sentimentos e percepções como a dor e a tristeza, mesmo na presença de uma prática com um preparo profissional, ainda sim, existe a dificuldade em lidar e aceitar a morte. A segunda categoria encontrada: "Vivenciando as estratégias de enfrentamento na morte" demonstrou que em algumas situações o enfermeiro vislumbrou a possibilidade de ocorrer pensamentos relacionados a morte da criança, como: "eu tenho que ser forte", "eu tenho que ser fria", "eu não preciso me envolver", estas crenças podem soar como indiferença por parte do profissional. Para alguns profissionais de enfermagem que trabalham em UTI, a morte faz parte da rotina, sendo entendida como algo natural. Esse sentimento de indiferença pode ser percebido como um mecanismo de defesa e proteção, para tentar de alguma forma minimizar esse acontecimento. É de suma importância lembrar que pelo fato da rotina dentro de uma UTI ser muito corrida, ela impõe à enfermeira a opção de não ter tempo para trabalhar esses sentimentos, vivenciando essa perda após o plantão 2.  A terceira categoria: "Minimizando a dor na perda", quando afirmaram que uma das maneiras mais importantes para se manter uma relação de confiança entre o profissional e o paciente é a empatia. Além de nosso lema primordial ser o cuidar, é necessário desenvolver uma relação empática.  Para o crescimento dessa empatia, evidencia-se a preocupação com o sofrimento da família, criando um vínculo afetivo 3. A essência do cuidar do enfermeiro envolve todos os cenários da prática assistencial, inclusive a morte. Algumas intervenções do enfermeiro durante a morte da criança poderão contribuir para a diminuição do sofrimento das famílias. A última categoria desvelada foi "Percebendo a necessidade do acolhimento da família na morte"; é um fato que o local da UTI é considerado um ambiente frio, desesperador, que causa medo, ansiedade e instabilidade emocional, ainda mais quando se trata de uma criança. Entretanto, o acolhimento para essa família é algo essencial. O papel o enfermeiro não é somente observar essa família no momento difícil da morte, mas se colocar no lugar dela, é fundamental o processo de acolhimento e fornecer assistência adequada. A família deve ser cuidada e acolhida por todos. Para o profissional de enfermagem, é imprescindível no processo da perda, que a sua essência seja baseada na arte do cuidar e o cuidado, não sendo direcionado somente à criança que se foi, como também a família que ficou sendo o acolhimento primordial nesse momento tão difícil. **Considerações Finais:** Neste estudo mostrou que independente da experiência profissional e do tempo de trabalho, o enfermeiro tem dificuldade em lidar e aceitar a morte, e isso é bom, pois nos mostra que antes de tudo, são seres humanos cheios de sentimentos e fraquezas. A resistência dos profissionais está relacionada ao fato desse acontecimento não fazer parte do processo natural da vida, gerando sentimentos de dor, frustração e impotência. Esses sentimentos devem existir, porém eles não podem interferir em seu profissionalismo e sim servir como impulso para salvar outras vidas. Foi identificado que o processo de dar a notícia do óbito aos pais é o momento mais difícil e complicado, pois envolve a reação emocional e o controle dessa situação, devendo ser transmitida com cautela, pois, para os pais a experiência é algo relatado pela literatura como uma vivência insuportável no processo da morte. Assim, esta pesquisa reforçou juntamente com as evidências da literatura, a essência do cuidado está presente em todos os cenários, ou seja, incluir o nascer e o morrer. O profissional enfermeiro atuante em UTI Pediátrica deve ter um olhar voltado para a família como um todo, transmitindo segurança, apoio e conforto a todos, além de proporcionar um ambiente acolhedor. O acolhimento é uma das intervenções que o enfermeiro poderá realizar, durante o manejo da morte de uma criança, como forma de minimizar o sofrimento da família. Sugere-se novas pesquisas com esta temática para contribuir com uma assistência individualizada às crianças e suas famílias no processo do morrer.


Referências:
1.Lacombe F, Heilborn G. Administração: princípios e tendências. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.