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1405685 | ATRASO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL: TESTE CLÍNICO DE UM DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM PROPOSTO PARA A TAXONOMIA NANDA-I. | Autores: Juliana Martins de Souza. ; Nádia Proença de Melo |
Resumo: **Introdução**: A resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 358/2009 determina que o Processo de Enfermagem deve ser realizado, de modo deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, com cuidado profissional de Enfermagem1. O processo de enfermagem é uma ferramenta conceituada e estratégica de cuidado humano. Permite organizar, estruturar, planejar e implementar as ações e cuidados essenciais e individuais a cada pessoa, além de incentivar o profissional a buscar ações de avaliação da sua prática. É composto por cinco etapas: investigação, diagnósticos, planejamento, implementação e avaliação.1 O diagnóstico de enfermagem demonstra as necessidades de cuidado percebidas pelo enfermeiro diante daqueles que estão sob seus cuidados2. Na atenção à criança, o acompanhamento e promoção do desenvolvimento infantil (DI) é um eixo central de atenção às necessidades de saúde. Na versão atual da NANDA-I 3, não há diagnóstico específico para o fenômeno DI e um estudo brasileiro propôs novos diagnósticos relacionados a este fenômeno4. Tais diagnósticos foram validados por peritos, mas ainda não testados na prática clínica, tornando-se necessária sua validação clínica para garantir sua acurácia **Objetivo**: Verificar a prevalência das características definidoras do diagnóstico de Atraso no desenvolvimento infantil e testar a associação das variáveis propostas como fatores relacionados ao mesmo diagnóstico. **Descrição Metodológica**: estudo epidemiológico, de corte transversal, e abordagem quantitativa, em ambulatório de um Hospital Infantil estadual, de grande porte, em São Paulo - SP. A amostra foi calculada em 56 crianças, da população de zero a três anos de idade, em acompanhamento no ambulatório de especialidades do Hospital. Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEUSP (número: 2026677) e seguiu a resolução 466/2012. Os dados foram coletados no período de junho a outubro de 2017, em entrevista com familiar responsável, utilizando um roteiro com questões sobre: condições de inserção social, ambientais, de saúde materna, do nascimento e de saúde atual da criança, bem como aspectos de cuidado e estimulação no ambiente familiar. O roteiro de entrevista e seu manual de aplicação foram elaborados com base na revisão de literatura e nos componentes do diagnóstico. Ambos foram revisados por duas pesquisadoras antes da aplicação. Após a entrevista, foi aplicada a ficha de avaliação do desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos, da Caderneta de saúde da criança do Ministério da Saúde5. O desenvolvimento da criança foi classificado conforme a caderneta da criança, bem como segundo os diagnósticos de enfermagem propostos. As variáveis analisadas como características definidoras foram: Dificuldade/ Incapacidade em desempenhar habilidades típicas do grupo etário, Dificuldade/ Incapacidade em desempenhar habilidades motoras típicas do grupo etário, Dificuldade/ Incapacidade em desempenhar habilidades psicossociais típicas do grupo etário, Dificuldade/ Incapacidade em desempenhar habilidades da linguagem típicas do grupo etário, Dificuldade/ Incapacidade em desempenhar habilidades cognitivas típicas do grupo etário. As variáveis analisadas como fatores relacionados foram: Doenças crônicas, Doença aguda, Distúrbios genéticos, Distúrbios congênitos, Distúrbios sensoriais, Prematuridade e/ou baixo peso ao nascer, Uso de medicações na gestação, Uso de tabaco na gestação, Uso de álcool e drogas na gestação, Exposição a poluentes ambientais, Saúde mental materna alterada durante a gestação, Doença materna, Acompanhamento pré-natal, Exposição à violência doméstica, Desenvolvimento cognitivo dos pais prejudicado, Institucionalização, Estímulo à criança, Condições sociais, e Condições econômicas. Os dados foram transcritos no software IBM _Statistical Package for The Social Sciences_ (SPSS) 22, com a conferência de dois pesquisadores_, _e submetidos à análise descritiva e a teste de associação de variáveis por meio do Teste Qui-Quadrado de Pearson e do Teste de Fischer, permanecendo ao final as variáveis com p <0,05. **Resultados**: Foram avaliadas 59 crianças. Destas, 22 (37,3%) foram classificadas com o diagnóstico de Atraso no DI. A prevalência das características definidoras entre essas 22 crianças foi: 22 (100%) com Dificuldade ou Incapacidade em desempenhar habilidades típicas do grupo etário; 12 (54,4%) com Dificuldade ou Incapacidade em desempenhar habilidades motoras típicas do grupo etário; 11 (50%) com Dificuldade ou Incapacidade em desempenhar habilidades na linguagem típicas do grupo etário; e cinco (22,7%) com Dificuldade ou incapacidade em desempenhar habilidades cognitivas do grupo etário. A prevalência dos fatores relacionados foi: 3 (13,6%) crianças com Doenças crônicas; 4 (18,1%) com Doença aguda; 7 ( 31,8%) com Distúrbios genéticos; 12 (54,5%) com Distúrbios congênitos; uma(4,5%) com Distúrbios sensoriais, 8 (36,3%) com Prematuridade/baixo peso ao nascer, 3 (13,6%) crianças de mães com Uso de tabaco na gestação, 2( 9,09%) crianças de mães com Uso de álcool e drogas na gestação, 4 (18,1%) crianças de mães com Saúde mental materna alterada durante a gestação, 20 (90,9%) crianças com Acompanhamento pré-natal insuficiente, 3 (13,6%) crianças Desenvolvimento cognitivo dos pais prejudicado, uma (4,5%) criança institucionalizada, uma (4,5%) criança com Estímulo que a criança recebe inadequado, 9 (40,9%) crianças com Condições sociais inadequadas e 2 (8,3%) crianças com condições econômicas inadequadas. Quanto à associação das variáveis (fatores relacionados) ao diagnóstico de Atraso, foram confirmadas: Doenças agudas (<0,001), Distúrbios genéticos (0,009) e Distúrbios congênitos (0,008). Dois fatores não foram encontrados na amostra: uso de medicamentos na gestação e exposição a poluentes ambientais. **Conclusão:** As características definidoras propostas para o diagnóstico de Atraso no DI são fortemente relevantes na classificação da criança. Dentre os fatores relacionados ao diagnóstico de Atraso no DI, houve destaque para as doenças agudas e distúrbios genéticos e congênitos. **Contribuições para a enfermagem**: Os resultados apontam um importante alerta para a prática clínica pediátrica, particularmente quanto à associação de doenças agudas ao atraso no DI. Para uma prática específica, fundamentada e eficaz, o enfermeiro deve buscar constante aperfeiçoamento e conhecimento acerca dos instrumentos capazes de acompanhar e apoiar o desenvolvimento da criança. O diagnóstico de enfermagem sobre Atraso no Desenvolvimento Infantil é uma ferramenta útil para auxiliar o enfermeiro na identificação, vigilância, acompanhamento e encaminhamento das demandas necessárias da criança. Outros instrumentos disponíveis nos serviços de saúde para o acompanhamento da criança também contribuem para a assistência qualificada e de promoção da saúde da criança.
Referências: 1. Azeredo LG, Silva, RM, Lima AAA. Nurses and implementation of the Nursing Process: descriptive study. Online Brazilian Journal of Nursing. 2010 Abr; Volume 9 (1).
2. Vega MPG, Núñez JV. Percepciones sobre el estúdio de casos, como estratégia de aprendizaje, em estudiantes de enfermaría. Ciencia y enfermeira. 2012; Volume 18 (1): 111-123.
3- Kuiper RA, Pesut DJ. Promoting cognitive and metacognitive reflective reasoning skills in nursing practice: self-regulated learning theory. Journal of advanced Nursing. V. 45, n4, p. 381-391, 2004.
4- Barros ALBL de, [et. al.]. Processo de Enfermagem: guia para prática/ Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. São Paulo: COREn-SP, 2015. |